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[Livro] The Double Me - 4x12: Into the Inferno [+18]

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4x12:Into the Inferno
Olho por olho”.
  
Theon deslizou um dedo banhado a álcool sobre os lábios de Nate. O cheiro fez com que seu refém despertasse instantaneamente em uma confusão mental.
— Finalmente — Theon sussurrou-lhe enquanto se afastava.
Bastou tentar se mover para que Nate percebesse suas condições. Sentado em uma cadeira de madeira, com os braços amarrados nas extremidades, pouco protesto poderia fazer quanto ao que Theon estava planejando.
— O que é isso?
— Coloquei um sedativo em seu café da manhã e pedi para que Jensen e Thayer o amarrassem — Vendo-o forçar os nós, sentiu que precisava intervir. — Não tente estragar o bom trabalho que fizeram. É a única maneira de ter certeza que você assistirá ao show.
Um enorme feixe de luz tomou conta da parede à frente de Nate quando os projetores foram ligados. Havia um de cada lado fazendo com que, preso em sua cadeira, estivesse no centro. Uma vista excepcional para um show de horrores que apenas Theon desfrutaria.
— Você aprova? — Theon perguntou. — Foi tudo ideia da minha mãe.
— Sim, a vagabunda depravada de meia idade que acoberta as monstruosidades do filho.
Theon gargalhou.
— Você espera que eu perca a compostura e defenda a honra da minha mãe? Sinto muito, mas não vai acontecer. Antes mesmo de você comer sua primeira papinha, eu já a chamava de vagabunda.
— Complexo de édipo? — Nate provocou.
E finalmente conseguiu ver desgosto nos olhos de Theon, embora o sorriso ainda estivesse lá.
— Você está assim tão desesperado para ver minha surpresa? Depois da noite de ontem, esperava que tivesse voltado a si. Não é sensato provocar um psicopata com um controle remoto em mãos.
A noite passada; Nate lembrava tão bem que era como se ainda estivesse acontecendo. O barulho de suas peles se chocando uma contra a outra; o gosto de sangue, suor e lágrimas;  a falta de ar, a pressão em sua garganta... seus gritos. A mansão inteira os ouviu, e mesmo assim, nada fizeram para impedi-lo. Havia uma vida cheia de traumas e arrependimentos para um jovem com um extraordinário instinto de sobrevivência que encontrasse forças para lutar de volta e escapar. Mas em função da única hipótese remanente, a noite passada seria a última coisa em que iria pensar em seu leito de morte. Não demoraria muito, se Theon fosse inesperadamente misericordioso.
— Faça o que tem que fazer — Nate lhe disse. — Sabemos que não posso impedi-lo.
— Sei que esta não é a primeira vez que você saboreia a impotência. O Nate de quatro anos atrás perdia em muito pouco para o Nate de agora, amarrado em uma cadeira no meu porão. Bem, não podemos dizer que você não teve a sua chance para reverter o quadro. Mas às custas de quem? — Theon iniciou a apresentação com um clique no controle remoto. Uma foto de Amber aparecia em destaque, ao lado de todos os atributos acadêmicos e econômicos oferecidos pela linhagem Foster. — Amber Foster tinha apenas quinze anos quando foi convencida pelo melhor amigo, Jensen McPhee, a filmar uma de suas relações sexuais com o amante, Justin Priestly. Para que ela estivesse em sua lista de vingança, é óbvio que se importou com sua colaboração parcial neste evento desprezível. Nem passou pela sua cabeça que Amber estava sendo manipulada por jovens delinquentes que estabeleceram uma espécie de hierarquia juvenil, fazendo com que todos pensassem que estavam acima do bem e do mal; e pior, incentivando-os a cometer delitos para alimentar a falsa esperança de que, um dia, esses jovens oprimidos poderiam se tornar como eles.
— O que você está fazendo?
— Estou exemplificando meu ponto de vista — Theon sorriu. Quando apertou o segundo botão, uma página da internet se abriu. — Este vídeo foi gravado por um convidado que estava presente no aniversário dos Hotéis Strauss, ano passado. Está lembrado? Foi nessa noite que você divulgou um vídeo montagem mostrando uma série de momentos privados de Amber para que Nova York inteira assistisse. É claro, ela era a garota do vídeo na noite em que você flagrou Jensen e Justin juntos. Era de se esperar que fosse castigada de acordo com seu crime.
Nate não sabia como proceder. Tinha razão, era um show de horrores. E as intenções de Theon permaneciam um mistério.
— Ter um caso com o professor? — Theon continuou. — Bem, Amber realmente merecia ser punida pelos erros que cometeu. O que ela não merecia era ser torturada, físico e psicologicamente, por um jovem de dezoito anos que achava ter o mundo a seus pés por causa de um rostinho bonito e uma herança bilionária. Ela contou à polícia que você a obrigou a comer uma caixa inteira de doces para que pudesse filmar sua bulimia em ação. É claro, você os tinha em suas mãos graças a propina que pagava com o meu dinheiro. Já era de se esperar que Amber estivesse totalmente a mercê dos seus planos doentios.
Sem palavras, a única resposta de Nate veio em um olhar fulminante que dissecava Theon como prestes a explodir em chamas. Estava tudo mais claro agora que Amber fora transformada em uma vítima indefesa. Ele está usando minha vida contra mim, pensou. E apenas porque sabe que me arrependo de tudo.
— Nada a dizer a seu favor? — Theon insistiu. — Bem, talvez você queira explicar porque destruiu a carreira profissional de Kerr aos olhos dos maiores músicos da elite mundial e o fez ser espancado na cadeia. — Mais um clique e a foto de Kerr apareceu na projeção junto de seus atributos. — Quer dizer, ele colocou drogas entre seus pertences para que você tivesse problemas em Paris. Mas quantas horas você ficou detido até Lydia pagar sua fiança? Duas? Três? Não importa. Depois você voltou para sua cobertura e para os milhões que seus pais depositavam todos os meses em sua conta visando seu bem-estar financeiro. A pergunta é: Para onde Kerr iria voltar, se nada lhe restou? Até mesmo seu pai você deu um jeito de tirar do país para que os Foster’s se sentissem desamparados enquanto você os consumia como um parasita. Espero que tenha algo a dizer agora.
— Vai se foder, não vou entrar no seu jogo. Enquanto você faz sua palestra educativa, irei apenas aproveitar o conforto do meu assento.
Theon gargalhou. Esplêndida era a atuação de Nathaniel Strauss quando a razão irrefutável contrariava seus méritos. Poderia se defender, como esperava que fizesse. Então por que não estava se defendendo? Por que não se importava em fazer um discurso heroico sobre arrependimento? A única conclusão à qual Theon conseguia chegar era que o monstro ainda estava ali e não havia se arrependido o bastante.
Ótimo. Assim poderia saborear sua resistência com mais alento.
— Admiro sua perseverança — Lhe disse. — Só não vejo como ela poderia ajuda-lo agora — No próximo clique, uma foto de Gwen apareceu. — Esta é Gwenett Strauss, sua querida irmã. Ou não tão querida, sabendo que você é o responsável por isso — Agora era uma foto de sua deformidade que estava em destaque.


Nate, finalmente, mostrava-se afetado pelo que via.
— Eu fiz meu dever de casa, Nathaniel — Theon prosseguiu. — De acordo com o laudo médico, Gwen teve 81% do rosto desfigurado após a sua brincadeira. Pelo menos 69% desses ferimentos podem ser revertidos através de cirurgias plásticas; quanto aos outros 31%, bem, acho que você também fez seu dever de casa antes de partir para o ataque. Gwenett precisa de no mínimo quarente e três cirurgias para recuperar o que pode de seu rosto. O problema é que, por serem procedimentos perigosos, só pode realizar duas delas por mês. Aí está o resultado de sua vingança: Uma jovem modelo deformada de maneira irreversível, que possivelmente cometerá suicídio. É claro, se descartarmos a possibilidade de passar o resto da vida enclausurada em um manicômio. É essa sua ideia de justiça, Nathaniel?
Nate engoliu em seco. Suava frio, respirava ofegante, mexia os dedos dos pés obsessivamente como em uma crise nervosa prestes a eclodir.
— Ela me machucou primeiro... — Sussurrou sem querer.
— Isso é verdade. A única diferença é que a você foi oferecida uma segunda chance. Foi traído pelo namorado, sofreu um acidente que deixou suas pernas temporariamente paralisadas e foi expulso do país? Bem, só precisava voltar a andar, encontrar outro namorado e fazer uma vida para você longe de tudo e todos que o machucaram. Você foi capaz de oferecer o mesmo a ela, ou estava sedento demais para finalizar sua vingança que nem pensou nas consequências?
— Eu me importo com ela. Eu pago suas cirurgias, eu vou visita-la, eu...
— E você acha que isso é o bastante? — Theon deu um passo à frente. — Tudo o que Gwen deseja é ter sua vida de volta. Se você não pode dar a ela o que lhe tomou, suas desculpas servirão apenas para que você consiga dormir à noite. Aliás, como você consegue depois de ter feito isso... — Clicou mais uma vez em seu controle remoto e duas fotos de Justin apareceram; uma do anuário do colégio, outra do registro forense, mostrando seus restos mortais.
O que antes Nate achava ter sobre controle, agora havia caído sobre suas costas. Sentia o coração acelerar a cada batimento, a respiração mais ofegante a cada inalar. Não havia como lutar contra o que estava diante si; morte, dor e sofrimento. Estava lá quando tudo aconteceu, quando Justin colocou a arma em sua boca e atravessou a vidraça com o impacto. Podia ouvir o barulho do disparo e a voz de Jensen agonizando pela vida.
Theon estava ganhando.
— Sabe o que eu descobri? — Caminhou até a parede para ficar mais perto da imagem projetada. — Justin teve 87% dos seus ossos fraturados na queda, inclusive aqueles que restaram de seu rosto após o disparo. Seu pai mal conseguiu reconhece-lo quando olhou para aqueles restos triturados. Sabia que sua tia que mora em Santorini sofreu uma parada cardíaca quando soube da notícia? Por pouco não deixou este mundo para reencontrar o sobrinho.
As primeiras lágrimas apareceram nos olhos de Nate como um brilho tímido, que ganhava intensidade conforme Theon passava as imagens. Tantas fotos, de tantos ângulos, mostrando a mesma tragédia. Até que enfim uma lágrima caiu.
— O que é isso sem seus olhos? — Theon caminhou em sua direção, um passo intimidador de cada vez. — É remorso? Arrependimento? Culpa? Porque honestamente, terei dificuldades em chamar de lágrima. — Voltou a posição inicial, já com outro discurso em mente. — Bem, talvez haja um pequeno detalhe que devemos considerar em relação ao ocorrido. Estou ciente da condição psicológica que acompanhou Justin da infância a sua juventude; começando pelo afogamento criminoso de Christian Richmond e terminando, talvez, pelo atropelamento de Jensen McPhee. Sim, Justin era um dos quarenta e sete serial killers atualmente ativos nos Estados Unidos, de acordo com um levantamento nada promissor. Graças a você, este número foi reduzido para quarenta e seis. Talvez você tenha feito um favor a sua pátria trocando seus remédios e convencendo seu pai a interna-lo numa clínica do outro lado do mundo, no fim das contas.
— Justin era um monstro... ele nunca pararia de machucar as pessoas enquanto vivesse... mas isso não quer dizer que merecia morrer.
— Ou pelo menos, não por sua causa, estou certo? Se morresse em função de outros eventos, tudo bem dizer adeus a nosso querido Dexter. Uau, seu mecanismo de aversão a culpa é uma máquina poderosíssima. Espero que você não se importe que eu prossiga com o último assunto a ser abordado.
Àquela altura, Nate faria qualquer coisa para que o show terminasse — incluindo enfrentar a última surpresa que fora guardada para o final. Era melhor ficar quieto em sua rendição.
— Você acredita mesmo que este foi todo o mal que já causou? — Theon indagou. — Amber, Kerr, Gwen, Justin... qual a importância do que aconteceu com todos eles perto do destino cruel que sofreu meu pai? — Outro clique no controle remoto fez com que a foto de Carlisle aparecesse na projeção. — Carlisle De Beaufort, imperador do minério europeu. O maior filho da puta que eu já conheci em toda minha vida. Batia em mim e na minha mãe, humilhava os empregados, saia com prostitutas. Isso só para começar.
— Theon...
— Você pode achar que eu o odiava por tudo o que fez a mim e minha mãe passarmos... — Theon o interrompeu. Não tirava os olhos do pai, sentado em sua poltrona, com o terno e a gravata com que havia conquistado o mundo num passado não tão distante. — Confesso que durante muito tempo, eu realmente o odiei. Mas ele era meu pai; me ensinou tudo o que eu sei hoje sobre ser um De Beaufort, um filho responsável, e um homem. Imagine minha surpresa ao chegar em casa, após passar dois meses internado em um hospital, e encontra-lo desse jeito — Um último clique fez com que uma foto de registro forense viesse à tona na projeção.
Nate soluçou amargamente quando percebeu o que lhe estava diante.
— Quer saber a história toda? — Theon virou para encarar as fotos do pai. — Meu pai estava envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro com a máfia chinesa e húngara. Ele se comprometeu em esconder uma parte do arrecadado enquanto as investigações aconteciam, mas você o roubou antes que a transação fosse concluída. Eles o mataram dois meses depois, sabendo que se não receberam seu dinheiro em dois meses, era porque nunca mais o receberiam.
“Eu saí do hospital naquele dia e fui para o apartamento de Camille. Ela me ajudou a comprar roupas e a fazer minhas malas. Sempre foi tão atenciosa que até pensamos em nos casar temporariamente para evitar suspeitas. Bom, nunca aconteceu. Depois daquela noite, nada poderia acontecer”.
“Lembro de ter ouvido uma estranha canção de ópera tocando do lado de dentro assim que cheguei à varanda. Entrei com cuidado, e também curioso, porque Carlisle De Beaufort, o grande lobo solitário, detestava música alta; até mesmo as que apreciava. Chamei por ele várias vezes, mas não obtive resposta. Chamei pelos empregados, e os resultados se mostravam nulos outra vez. Então caminhei até a sala de jantar, de onde vinha o som. Ele estava sentado no assento privilegiado da ponta de mesa, usando seu termo preferido e a gravata roxa.... Cortaram sua garganta de orelha a orelha e o deixaram lá por dois dias. Foram tão teatrais... se a intenção era traumatizar quem o encontrasse, então posso afirmar que eram criminosos muito bem-sucedidos”.
“Eu menti para você. Minha vida não terminou quando você me deixou, mesmo que a morte tenha se tornado a solução mais viável para não ter que lidar com um sentimento tão avassalador. Minha vida terminou quando entrei naquela sala e vi que meu herói tinha se transformado em uma casca vazia que nada podia fazer contra o inevitável. Você mentiu para que pudesse se aproveitar de mim, mas se tivesse ficado ao meu lado, fugiríamos com o dinheiro de qualquer maneira, e meu pai não teria como escapar. Seu destino esteve selado desde o momento em que encontrei você naquela galeria até chegar o dia de enfrentar as consequências”.
Nate estava chorando em sua cadeira quando finalmente virou para ele. Podia dizer que se arrependia amargamente de tudo, mas nada disso traria seu pai de volta, nem faria com que Nathaniel Strauss o amasse outra vez.
— Eu não o culpo, Nate — Disse Theon, aproximando-se vagarosamente. — Sou tão culpado quanto você. Mas preciso que compreenda a relação entre você e a ruína em que minha vida se transformou. Ontem, eu o tive como sempre quis. Hoje você aprenderá algo diferente. Tudo o que precisa fazer é repetir o que eu disser. “Eu não mereço ser privilegiado...” — Hesitou para ouvir a resposta. Quando não veio, começou a gritar. — Fale! Agora!
— Eu não mereço ser privilegiado...
— “Eu não mereço ser feliz”.
— Eu não mereço ser feliz — Nate replicou.
— “Eu não mereço viver”.
— Eu não mereço viver...
— Ótimo — Theon sorriu. — É o bastante por ora. Agora vá dormir, não quero que se atrase para o jantar de hoje à noite.
De novo dividiriam a mesa para mais um show de intrigas. Dessa vez, Nate não tinha certeza qual dos dois era o verdadeiro monstro.


O dia amanheceu agitado nos corredores do Liberty County Hospital com a chegada de dois detetives do departamento de homicídios da polícia de Nova York; Charles Keller, de trinta e dois anos, e Mark Randall, um recém viúvo de quarenta e nove. Com Cameron detido, o próximo passo seria tomar o depoimento de acusação de Alex Strauss para dar continuidade ao processo... dependendo do que ele estava disposto a compartilhar.
Era tarde demais para voltar atrás? Mia e Thayer estavam lá desde às seis; enquanto o Detetive Keller falava ao celular, em frente a porta do quarto, o Detetive Randall esperava de braços cruzados na poltrona ao lado. Um público difícil que Alex não tinha certeza se poderia convencer.
— E aqui estamos — Disse a Thayer. 
  — Você não precisa fazer isso agora se não quiser — Thayer tocou delicadamente sua mão em cima do leito.
— Eu preciso. Ele não pode se safar dessa.
— Cameron está trancafiado numa cela neste exato momento. Quando chegar a hora de pagar pelo que fez, pagará. Sua saúde deveria ser prioridade agora.
— Eu estou bem, não se preocupe. Estou pronto para isso.
E então o Detetive Keller estava de volta. Guardou o celular no bolso do paletó marrom e sentou-se na poltrona ao lado do parceiro.
— Perdoe-me pela interrupção — Disse a Alex. — Podemos começar agora.
— Diga-nos tudo o que aconteceu, Senhor Strauss — Pediu o Detetive Randall.
Alex suspirou em preparo. O show iria começar.
— Para que entendam o que aconteceu, preciso contar como tudo começou.
— Não tenha pressa — Contornou Keller, encorajando-o.
— Há algumas semanas, quando minha mãe assumiu publicamente seu relacionamento com o Senhor Ridell, Cameron e eu começamos a sair juntos como um favor a nossos pais, que queriam a família inteira unida. Ele me levou para assistir a algumas corridas, e até viajou conosco para Wilmington, de última hora. Ele me deixava louco no começo, mas nos últimos dias nos aproximamos de uma maneira que, honestamente, acabou me pegando desprevenido — Notando o desconforto de Thayer, Alex decidiu desacelerar. — Ficamos juntos por algum tempo, sem que ninguém soubesse, mas então descobri a verdade.
 “Cameron foi o responsável pelo término do meu namoro; ele contratou um paparazzo para tirar fotos minhas e dele cheias de falsas insinuações para que eu fosse acusado de traição. Há dois dias o flagrei pagando com sexo pelas fotos que foram tiradas. Eu o confrontei, nós brigamos, eu disse que iria expô-lo ao pai só para que soubesse que seus atos não ficariam impunes... E ele me acertou dois socos no rosto. Depois pediu desculpas, me arrumou gelo para o sangramento e meu deu dois analgésicos. Bem, pelo menos eu achava que eram analgésicos”.
“Por algumas horas tudo estava bem. Fui para casa, depois vim ao hospital ver Thayer, apenas para ser expulso pelo meu irmão graças as armações de Cameron. Então fui para o apartamento de Thayer, procurando descanso. A cocaína que Cameron me deu ainda estava em meu bolso, e eu... sinto muito pelo que vou dizer, mas nos últimos meses as coisas têm estado tão difíceis que a única maneira de escapar é... — Suspirou. — As drogas ajudavam quando eu precisava. Esse foi o meu erro”.
Ambos os detetives tomaram seu tempo para autuar as informações. A história coincidia com os fatos e os relatos de outras testemunhas; só restava saber uma última coisa.
— Então você ingeriu cocaína por vontade própria? — Perguntou Randall.
— Podemos colocar dessa maneira, mas eu diria que um viciado não tem escolha quanto a isso.
— Viciado? — Mia tomou à frente com sua primeira indagação.
— Sinto muito — Alex lhe disse. — Sei que deveria ter contado. Desde que chegamos de Wilmington estou indo a reuniões com um grupo de abstinência de East Village — Virou novamente para os detetives. — A única pessoa a quem contei foi Cameron, durante uma bebedeira. Ele sabia que eu estava tentando parar, é por isso que ele... os médicos me disseram quando eu acordei. Ingerir cocaína e anfetaminas é como uma sentença de morte. Eu não sabia que ele iria fazer tudo isso só para impedir que seu pai soubesse. Eu nem contaria de verdade, só estava tentando deixa-lo com medo.
— Se ele temia que isso acontecesse, por que divulgou as tais fotos comprometedoras de vocês? — Perguntou Keller.
— Eu não sei, as fotos não passavam de insinuação. Mas com os problemas que já tínhamos, foram o bastante para tudo acabar — Alex encontrou o olhar sereno de Thayer, ao seu lado. Estava lá, apoiando-o como se não tivesse sido o mais prejudicado em todo o ocorrido. Ele nunca saberá a verdade, era uma promessa que morreria para cumprir.
— Acho que é o bastante — Mia disse. — Alex precisa descansar agora.
Os dois detetives estavam mentalmente de acordo.
— Tudo bem, só mais uma pergunta — Disse Keller. — Aonde podemos encontrar seus amigos do grupo de abstinência?
— Nossas reuniões acontecem três vezes por semana; nas quartas, nas sextas e aos domingos. Janine é a líder, devem falar com ela.
Agora sim tudo estava esclarecido. Ambos os detetives agradeceram pela colaboração de Alex e partiram alguns instantes depois. O plano funcionou, no fim das contas.
— Por que eles querem falar com as pessoas do seu grupo de abstinência? — Thayer perguntou logo em seguida. — Eles pensam que você está mentindo?
— Estão apenas checando os fatos — Mia garantiu. — Ter seus amigos do grupo depondo no julgamento poderia ajudar.
— Espera, haverá julgamento?
Alex contava com isso.
— Só de pensar sinto vontade de passar os próximos meses neste hospital — Fingiu-se desconfortável, apenas para manter as aparências.
Enquanto ouvia os cochichos do casal recém atado, Mia tentava decidir qual o momento exato de compartilhar tudo o que sabia — ou se deveria compartilhar alguma coisa, em primeiro lugar. Frank não gostaria de saber que o filho seria acusado por tentativa de assassinato. Assim que estalasse os dedos, não só ele, como o resto de sua quadrilha, transformariam o julgamento em um massacre.
— Preciso ir — Disse a eles. — Nate não atende o celular, acho que sei onde encontra-lo.
— E Judit? — Alex indagou.
— Continua incomunicável. Lydia está tentando entrar em contato com os outros investidores para receber notícias.
— Okay. Quando souber de alguma coisa, me avise.
— Eu irei — Ela garantiu antes de deixar o quarto.
E finalmente Thayer e Alex se viram de companhias. Sem enfermeiras, médicos, pacientes, visitas ou detetives investigando uma tentativa de assassinato. De tão raro, aprenderam a fazer valer os momentos a sós.
— Você está bem? — Thayer perguntou.
— Sim, eu acho. Só queria ter uma oportunidade para nunca mais lembrar do que aconteceu.
— Você fez a coisa certa. Tente pensar dessa forma.
Baby steps?
Baby steps.
Os dois sorriram ao mesmo tempo. Thayer aproveitou o momento para roubar-lhe o pequeno beijo que esperou a manhã inteira.
— Vamos passar por tudo isso — Deitou-se ao lado dele na cama e colocou os braços a sua volta. — E quando estiver tudo bem, venderemos nossa história para algum estúdio cinematográfico. É algo que os cinemas não podem perder.
— Definitivamente.
Alex o avaliou discretamente com o olhar, aproveitando o momento em que ele se distraia com o controle remoto e a TV no outro lado do quarto. Se soubesse a verdade, se soubesse que tudo não passava de uma vingança pessoal, tinha certeza que nunca mais o teria tão próximo. Que bom ter decidido não dizer uma só palavra a custo de sua alma.


A ordem lhe foi dada. Tome banho e vista as roupas que separei para o jantar especial de hoje à noite, Theon dissera. E ali estava Nate, no assento privilegiado do outro lado da mesa, usando réplicas dos trajes que escolhera para o evento em que fora apresentado ao pai de Theon como um amigo de longas datas. Esperar era tudo o que lhe restava, uma vez que as amarras prendiam seus pulsos à cadeira e não poderia ir a lugar algum.
Theon, seu anfitrião, tinha acabado de chegar para dar continuidade a seu delírio.
— Perdoe-me pelo atraso — Disse conforme acomodava-se no assento que antes pertencia a Simon Strauss. — Você bem entende o quanto a vida empresarial pode ser imprevisível em certas noites — Quando percebeu que não teria resposta, decidiu continuar. — A roupa lhe caiu bem, se me permite dizer. Acho que estamos pontos — Virou para uma das empregadas. — Gwenett, por favor.
— Como irei comer? — Nate levantou uma das mãos na altura que suas amarras permitiam.
— Não irá, pelo menos por enquanto. Depois da noite passada, não tenho certeza do que você seria capaz se tivesse talheres ao seu alcance.
— Eu quero voltar para o porão.
— Mas a noite ainda nem começou. Obrigado — Agradeceu a empregada que serviu-lhe. — Temos tanto para conversar. Diga-me, gostou da surpresa desta manhã? Sei que minha mãe é engenhosa, mas dessa vez pode ter se igualado a mim.
Nate apenas abaixou a cabeça.
— Ela não é uma estupradora — E então o fitou com o desprezo em sua forma suprema.
Theon sorriu cheio de desgosto, por mais que tentasse manter a atitude.
— Péssima escolha de palavras. Não há problema em reivindicar o que é meu.
— Nunca foi seu, por isso você quer tanto.
— Vá em frente, diga que nunca me amou e que tudo não passou de um jogo. Estou pronto para ouvir seu discurso desesperado.
— Eu não me importo — Nate recostou-se na cadeira, assumindo uma falsa derrota.
  — Você me fará companhia neste jantar pelas próximas duas horas. É uma ótima oportunidade para dizer tudo o que tem guardado dentro de você.
Nate elevou os olhos para encará-lo, depois voltou as coxas. Bastava olha-lo para se perder na mesma dor sufocante daquela noite. Às vezes bastava abrir os olhos e perceber que ainda estava aqui, sendo obrigado a vive-la. Nunca passaria, nunca seguiria em frente. Então por que ainda lutava?
— Naquela noite você me machucou de uma maneira que nunca me deixará ser eu mesmo outra vez. É tudo no que eu consigo pensar, é tudo o que eu consigo sentir. Não preciso de um jantar de celebração para admitir que você venceu. Sim, você venceu. Agora deixe-os ir e fique comigo.
— Isso será um problema. Algo me diz que Simon se entregará a justiça caso seja liberto, e isso faria com que os Strauss ficassem ricos outra vez. Entende minha hesitação?
— Tudo bem — Nate continuou. — Fique comigo e com Simon de garantia, mas liberte minha mãe.
— Ela diria a polícia o que está acontecendo se fosse liberta, portanto, não poderia mais manter você ao meu lado. Mas é bom saber que é de sua mãe que você gosta mais. Esta preferência será crucial para os eventos de hoje à noite. Gwenett, vinho, por favor — Pediu a empregada, e ela prontamente atendeu-lhe.
Nate pôde sentir a insinuação debaixo de sua pele.
— Por favor, não a machuque.
— Eu sou um monstro — Theon exclamou, a taça de vinho em mãos. — Nós monstros não somos conhecidos por pensar racionalmente ou sentir remorso.
— Meu deus, deixe-os ir! — Nate gritou, histérico. — Por que você está fazendo isso? Eles não têm nada a ver com a gente!
— Você está certo, são apenas danos colaterais. E a função deles é não lhe dar escolha.
Contra a vontade, Nate viu-se outra vez em prantos.
— Não chore — Theon lhe disse. — Eles serão bem tratados, de acordo com o seu comprometimento.
E então a Nate só restava um último recurso.
— Você não sabe da verdade... — ergueu a cabeça para olha-lo nos olhos. — Persiste em suas conclusões precipitadas, mas o que realmente quer é me ouvir dizer. Acha que fará alguma diferença se souber? Não fará. Você nunca entenderia do quanto eu estava disposto a abrir mão para tomar de volta tudo o que me pertencia. Eu amei você, Theon. Amei tanto que a única maneira de me proteger na guerra que estava por vir era destruindo-o. Você era minha única fraqueza, a única coisa entre mim e a justiça. Precisei fazer uma escolha, e no final, escolhi errado. Tão errado... queria ter sido corajoso o bastante para ficar ao seu lado. Queria ter podido deixar o passado para trás e seguir em frente. Nenhum deles estaria morto... nenhum deles estaria morto se eu apenas o tivesse deixado me fazer feliz.
Por um momento Theon encarou o nada, entrelaçando as lembranças de um passado distante e o anseio de tudo o que poderia ter sido. Bastava Nate ter entrado ao seu lado no avião para que o destino de ambos fosse completamente diferente. Uma viagem pelo mundo, um apartamento na Itália e três crianças; dois meninos e uma menina. Aonde foi que esse sonho se perdeu?
— Isso era tudo o que eu queria — Theon lhe disse, pensativo. — Até mesmo agora, a única coisa em que consigo pensar é em deixa-lo ir, me trancar no escritório e atirar na minha própria cabeça por tudo o que o fiz passar — empunhou sua taça de vinho e caminhou até a vidraça atrás de seu assento, de onde podia contemplar o jardim da mansão. — Mas agora é a minha vez de fazer a escolha errada.
— Não precisa ser desse jeito.
— Quando você vai entender que não há como voltar atrás? — Caminhou em direção a ele, um passo por vez. — Para que você estivesse aqui, agora, a minha mercê, tive que me tornar o monstro que você temia. E agora até eu temo o que sou capaz de fazer em nome dos meus ideais. Eu menti por você. Roubei por você. Matei... por você. E faria tudo de novo para tê-lo ao meu lado — Deu um ar de risos nervoso, como se gostasse do tormento em que se encontrava. — Você pode não ver agora, mas foi para o melhor. Quentin faria qualquer coisa para nos impedir de ficar juntos. Ele sabia demais, eu precisei... eu precisei fazê-lo parar.
— Ai meu deus...
— Juro que não queria machuca-lo. Fui ao seu hotel para conversar... então as coisas saíram do controle, assim como aconteceu com Nicolai. Eles tiveram que morrer, Nate. Com eles aqui, eu nunca teria uma chance de traze-lo de volta. Agora estamos prontos para recomeçar. Primeiro você precisa ser punido, é claro. E então poderemos ter a vida que sempre sonhamos.
Ao tentar toca-lo, Nate recuou cheio de hostilidade.
— Fique longe de mim, seu doente filho da puta!
Agora lhe dava toda a razão. Theon fora longe demais para que pudesse ser salvo por sua consciência. Se nem mesmo o amor da sua vida tinha voz para pará-lo, ninguém o teria.
— Você matou eles! — Nate gritava; quanto mais alto, melhor entendia a verdade. — Você matou! Você é um assassino!
— Entendo que esteja aborrecido, isso faz parte do processo — Disse Theon, caminhando de um lado para o outro. — Sei que estou fazendo muito mais que simplesmente obriga-lo a pagar pelos crimes que cometeu. Acima de tudo, estou me divertindo com a sua transição. É por isso que se chama vingança, não justiça. A vingança é baixa, insensata. A justiça é humana, ou o mais próximo disso que podemos imaginar. Se você me perguntar, direi que nada pode ser tão gratificante quanto um “olho por olho”. Entende o que eu digo?
A resposta de Nate veio através do olhar. Ódio, indignação e desprezo.
— Tomarei isso como um sim— Theon continuou. — Vê minha deformidade? Para ser justo, teria que ferir igualmente em sua autoestima. Assim o mundo inteiro deixaria de conhecer Nathaniel Strauss pela sua beleza estonteante e passaria a relacionar seu nome a uma grande tragédia. Tentador, preciso dizer. Se ao menos eu tivesse coragem de arruinar o trabalho extraordinário de Deus... — Aproximou-se dele para tocar seu rosto. Dessa vez, Nate não pôde escapar de suas carícias. — Como eu poderia? Olhe para você, perfeito até em decadência. Não tenho o direito de negar este privilégio nem a você e nem a mim — voltou a caminhar pela sala, envolto a seu raciocínio. — É claro, há os seus semelhantes. Alex e Mia estavam no topo da minha lista para substitui-lo, mas são tão idênticos a você que nunca me atreveria a toca-los. Vocês três são como pinturas que devem ser apreciadas em sua juventude eterna. Se eu realmente quisesse colocar em prática a minha definição de “olho por olho”, havia apenas uma pessoa capaz de me proporcionar o prazer. Ela está pronta? — Perguntou a Kerr, o segurança negro de cabeça raspada.
— Sim senhor — Ele respondeu.
— Traga-a para nós, por gentileza.
Nate olhou de um lado para o outro em busca de respostas. Só entendeu o que estava acontecendo quando viu Judit sendo escoltada à força para o ocupar o lugar de Theon à mesa; os braços amarrados nas costas e uma mordaça cobrindo os lábios. Quando seus olhos se encontraram, Nate viu o verdadeiro desespero.
O que você está fazendo? O que você quer com ela?
— Não estava prestando atenção à conversa? — Theon posicionou-se atrás da cadeira, com as mãos sobre os ombros de sua mais nova convidada. — Judit está aqui para tomar o seu lugar. Nada mais justo que obrigar a mulher que o abandonou por ser você mesmo a tomar suas dores. Ela é uma boa mãe, no fim das contas.


— Theon, por favor! Machuque a mim, não ela. Eu imploro. Eu mereço.
— Muito nobre da sua parte. É uma pena que eu já tenha tomado a minha decisão.
— Não, por favor. Deixe-a em paz!
Ignorando-o, Theon estendeu a mão para que Kerr lhe entregasse a tesoura de ferro que guardara no paletó. Olhava para ela com admiração, quase hipnotizado por sua beleza destrutiva.
— O problema da piedade, Nathaniel, é que todos a cobiçam, mas ninguém é capaz de retribui-la — Alocou a mão sobre o queixo de Judit para deixa-la imóvel. — Neste mundo, apenas uma coisa é real... a dor.
E acertou a ponta da tesoura no olho esquerdo a matriarca Strauss. Nate gritou com todas as forças de seus pulmões, testemunhando o rastro de sangue que escorria pelo rosto da mãe e fazia-se em manchas avermelhadas em seu vestido branco. Theon não podia mais ouvir seus pensamentos, e também não fazia questão. O monstro dentro de Nate não morreria em silêncio.
— Olho por olho — Sussurrou, satisfeito.
O estado emocional de Nate lhe era indescritível. Debatia-se na cadeira, escravizado por um choro compulsivo que o fazia gritar até que o ar lhe faltasse, apenas para repetir o ciclo de novo e novo. Talvez nem pudesse ouvir os grunhidos de dor de sua mãe, que venciam a mordaça banhada em sangue sobre seus lábios.  
— Agora sempre que você olhar para ela, lembrará de mim. Kerr, leve-a embora. Certifique-se de que não morra.
— Não! Não! Não! Não! — Nate contestou.
Com a ajuda do segurança Jensen, Kerr fez um curativo no olho ferido de Judit e escoltou-a para fora, com ela em uma cadeira de rodas. Agora o assento privilegiado era todo de Theon outra vez.
— Não seja tão dramático — tomou um gole de vinho. — Um dia você me agradecerá por isso.
— Por quê? — Nate perguntou aos soluços, quase sem voz. — Por quê?
— Porque você partiu meu coração. Acredite, eu o farei se arrepender disso todos os dias.
Nate gritou furioso uma última vez. Theon precisava morrer; e em breve, o prazer seria todo seu. 


O jantar de boas-vindas a Sergei Devlin fora marcado para às sete da noite, no ilustre salão da mansão de Patrick McPhee. Às oito, após inúmeras doses de whisky — e de conversas amigáveis —, o anfitrião decidiu que já haviam esperado o suficiente. Pediu licença para um de seus convidados e seguiu para a calmaria da porta da cozinha, com o celular na orelha.
— O jantar começou — Disse em mensagem. — Aonde você está? Venha para casa agora ou nem se preocupe mais em voltar.
Mal sabia ele que este era exatamente o plano.
Jantar de boas-vindas? Taças de vinho? Dartmouth? Jensen já estava a caminho de deixar tudo isso para trás. Comprou uma passagem de avião para Singapura, no horário da tarde, e agora seguia para a estação de embarque, em posse de duas malas e uma mochila. Seu destino ainda era incerto; se encontraria ou não sua mãe, teria que contar com a sorte.
A primeira advertência para o voo das vinte e uma horas estava sendo reproduzida pelos alto-falantes enquanto caminhava. Seu celular tocou três vezes seguidas, então decidiu desliga-lo para evitar interrupções. O mundo inteiro que estava deixando para trás não merecia mais sua atenção, nem uma justificativa de sua parte. Nate, acima de qualquer outra pessoa, não podia saber do que estava prestes a fazer.
A segunda advertência fora reproduzida alguns minutos depois, enquanto esperava sentado. Levantou-se a procura de alguém que pudesse lhe dar informações e começou a caminhar. Uma voz familiar, de repente, chamou seu nome.
— Jensen, o que você está fazendo? — Andy perguntou.
— Como você me encontrou?
— GPS — Ergueu o celular para que ele visse. — Kerr tem me ensinado alguns truques.
— Neste caso, sinto muito por não poder comparecer ao casamento de vocês — E logo voltou a caminhar.
— Espere, aonde você está indo?
— Singapura, não que seja da sua conta.
Andy apressou os passos para interceptar seu caminho.
— Hey, J, pare. Você sabe que essa não é a solução. Você não pode simplesmente desistir.
— Não temos intimidade o bastante para que você me diga o que fazer.
— Talvez não, mas ainda sou seu amigo. E estou dizendo que fugir dos seus problemas não vai ajudar em nada.
Jensen coçou a nuca, inquieto.
— Por isso evitei as despedidas, sabia que vocês tentariam me convencer do contrário. Agora será que pode sair da minha frente ou precisarei obriga-lo?
— Se você quiser ir, não vou impedi-lo. Só peço que me ouça antes.
Definitivamente era pedir demais. Jensen o empurrou para o lado e continuou sua trajetória.
Deixado para trás, Andy sabia que só teria uma chance se fosse direto ao ponto.
— Jensen, preciso da sua ajuda. É sobre Nate. Acho que ele pode estar com problemas.
Jensen sentiu sua ferida latejar. Nada a respeito de Nate lhe deixava escolha, muito menos quando seu instinto natural ainda era protege-lo de tudo o que podia. Precisava ceder, só um pouquinho... ou não precisava?
— Meu avião está para decolar. Você tem quinze minutos.
— Não aqui, Venha.
Caminharam juntos pelo salão até encontrarem o banheiro masculino mais próximo. Assim então estavam sozinhos para conversar.
— Nate foi a uma festa privada no apartamento de Aaron Versace há duas noites— Andy lhe contou. — Liguei para ele diversas vezes, mas ontem ele passou o dia inteiro sem atender. Encontrei Aaron na cafeteria e ele disse que Nate foi embora às pressas de sua festa após receber uma ligação misteriosa.
— Qual o problema nisso?
— Ontem descobri que os Strauss tiveram que deixar a mansão e agora ela pertence a Theon De Beaufort, que adquiriu antes mesmo de ir a leilão. É exatamente aonde o GPS do celular de Nate informa que ele está, há dois dias.
Jensen precisou de alguns instantes para ligar os pontos.
— Você acha que eles podem estar... juntos?
— Não, acho que o que está acontecendo é bem pior que isso. Alex e Mia estão no hospital, preciso da sua ajuda.
Refletindo sobre sua escolha, Jensen ouviu a terceira e última advertência de embarque para o seu voo. Era sua última chance de esquecer o passado e começar uma nova vida... a não ser que Nate ainda quisesse fazer parte dela.
E queria, mais do que qualquer outra coisa. Pediria de joelhos mil vezes como Jensen fizera para tê-lo de volta, se ainda havia qualquer chance do universo acha-lo merecedor.
Quando o jantar acabou, Theon o levou ao salão de música para que o ouvisse tocar piano. Nate foi obrigado, ainda amarrado em uma cadeira, a manter o silêncio absoluto enquanto ele finalizava sua variante pessoal de Madre Maria de Mozart.
 — Esta foi a primeira canção que aprendi a tocar — Revelou a Nate. — Com o tempo fiz minhas próprias alterações. O que você achou?
Mas nada lhe foi dito.
— Perguntei o que você achou, Nathaniel — Insistiu, em tom severo.
— Adorável — Nate respondeu-lhe, contra sua vontade.
— Eu sabia. Não há quem resista a meu talento.
De repente o segurança Jensen apareceu em frente a porta.
— Senhor, peço desculpas pela interrupção, mas há dois jovens no portão que alegam estar aqui para ver o Senhor Nate.
— Sério? Eles disseram seus nomes?
— Andy e Jensen, Senhor.
Nate conhecia muito bem aquele olhar de moleque travesso que Theon ostentava. Ele quer brincar. Quanto mais peças pudesse manusear, melhor seria o prêmio quando vencesse o jogo.
— Mande-os entrar.
— Não! — Nate contestou. — Por favor, não os machuque! Por favor, eu imploro!
— Você quer relaxar? — Deixou o piano e caminhou em direção a ele para tirar suas amarras. — Vamos jogos um novo jogo. Chama-se “Bitches Don’t Talk”. Diga ou dê a entender que algo está acontecendo dentro desta mansão e eu perfurarei o outro olho de sua mãe. Agora levante e seja um bom menino, estarei ouvindo tudo do outro lado da porta.
Nate nem precisava dizer que estava de acordo.
Andy e Jensen chegaram logo em seguida, acompanhados por dois seguranças. O sorriso presunçoso de Theon dizia que estava tudo bem, mas os olhos tristes e enrubescidos de Nate contavam uma história completamente diferente. Vendo os dois lado a lado, era como se Theon pudesse sugar sua energia estando apenas a um metro de distância.
— Bem-vindos, cavalheiros — Theon os recebeu. — Estão aqui pela festa?
— Eu vou matar você! — Jensen exclamou, avançando para cima.
A única coisa entre seus dedos e o pescoço de Theon eram os braços de Andy e do Segurança número um, que o impediam de sair do lugar.
— Jensen, pare! — Nate pediu.
Embora todos tenham feito o mesmo, só se viu livre do acesso de raiva depois que ouviu o namorado dizer.
— Senhor McPhee, não há motivos para não sermos civilizados — Theon deu um passo à frente. — Afinal, esta é minha casa, e todos vocês são bem-vindos nela.
— Jensen, o que você quer? — Nate perguntou.
— Estou aqui por você. O que está acontecendo?
— Nada está acontecendo, você precisa ir embora.
Nate olhou para baixo, Jensen olhou para Theon, e Theon olhou para a cara amarrada que Andy sustinha.
— Tudo bem, acho que isto não é da minha conta. Estarei na outra sala se precisarem de mim — Cinco segundos depois, Theon havia partido junto de seus seguranças.
E para Nate, de alguma forma, não tê-lo por perto estava longe de ser um alívio. Theon poderia conter suas palavras se estivesse dentro da sala. Fora dela, predominava o instinto de sempre dizer a verdade a Jensen, não importava as consequências.
— Nate, o que você está fazendo aqui? — Jensen perguntou. — O que está acontecendo?
— Nada, estávamos jantando juntos.
— Ele está mantendo você aqui contra sua vontade? É isso?
— Não — Nate caminhou até a janela. De costas para ele, poderia mentir melhor... e chorar tanto o quanto precisasse. — Estou aqui porque eu quero. Theon está me fazendo companhia.
— Você realmente espera que eu acredite nisso depois de tudo o que ele fez?
— Acredite no que quiser. Eu terminei com você, lembra? Não lhe devo explicações.
Jensen assentiu calado. Ele está fazendo isso de novo, pensou. Está me afastando de todas as maneiras que pode para me proteger.
— Não importa o que tenha acontecido. Eu te amo, nunca vou desistir de você. Se isso estraga seus planos, me desculpe.
— O que você quer de mim? — Nate perguntou em tom acusador, de frente para ele. — Eu pedi para que me deixasse em paz. Saia daqui, volte para sua vida, esqueça que um dia me conheceu. Você merece o melhor. Sinto muito, esse melhor não sou eu.
— Não é você falando, é ele. Me diga, o que ele tem contra você para que se submeta a isso? Olhe para si mesmo. Eu posso ver nos seus olhos o quanto você está sofrendo.
— Não pense que entrar aqui e jogar declarações de amor ao vento vai mudar alguma coisa. Eu estou vivendo em um maldito inferno, e é exatamente o que eu mereço, é exatamente aonde eu deveria estar! Nem você e nem ninguém pode me salvar disso.
Com tudo o que havia a dizer, Jensen foi até ele.
— Você está errado — Tentou segurar seu rosto com as duas mãos, mas logo o viu recuar. — Você não merece isso...
— Não! Não! Não! Eu não quero ouvir! Você não entende!
— Por favor, deixe-me explicar.
— É o bastante, Senhor McPhee — Disse Theon, na porta do salão. — Acho que está na hora de ir embora.
Jensen implorava a Nate com os olhos cheios de lágrimas. Nem isso era capaz de fazê-lo reagir.
— Você o ouviu — Nate dera sua última palavra. E a Jensen já não restavam motivos para ficar.
Ele partiu ao lado de Andy, com os seguranças de Theon a seguir seus passos. Os seguranças da sala de jantar, Alex e Quentin, vieram logo depois para levar Nate de volta ao porão. A noite havia oficialmente terminado. Pelo menos para o que dizia respeito a Nathaniel Strauss.
Quando os seguranças retornaram, Theon pediu que deixassem o salão de música, trancou-se para dentro e descontou toda sua fúria nos objetos que encontrava. Quadros, vasos, tapete, bebidas, todos vieram abaixo, aos pedaços. Até mesmo o piano, que tanto o confortava, já não lhe serviria para nada. O que precisava fazer para que Nate e Jensen deixassem de se amar, se já havia aberto mão de tudo o que podia?
— Não é justo! Não é justo! Não é justo! — Gritava sem parar.
Por que ele não me amou desse jeito? Por que ele não me amou desse jeito? — Pensava a ponto de explodir.


Em um momento de calmaria, sentou-se em meio aos destroços como uma criança perdida. Apenas meia hora depois estava pronto para encarar o mundo real outra vez. Pediu para que os serviçais limpassem a bagunça e desceu ao porão. Encontrou Nate de joelhos no chão de sua cela, encarando a parede. Mesmo sem poder enxerga-lo, tinha certeza que estava chorando.
E era verdade. Uma lágrima parada jazia na bochecha de Nate; o olhar perdido, os lábios entorpecidos. 
— Eu vou morrer aqui, não é? — Perguntou num sussurro.
Theon pôs uma mão sobre seu ombro esquerdo.
— Sim — Disse a ele. — Nós iremos.

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4x13: You Know What They Do to Guys Like us in Prison (16 de Abril)
Não sei se é uma boa notícia, mas o capítulo da semana que vem não será focado no drama entre Nate e Theon; será quase inteiramente dedicado ao julgamento do Cameron. Algumas semanas vão se passar, mas não se preocupem, isso não vai influenciar negativamente a trama.
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