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[Livro] The Double Me - 4x10: Couldn't You Just Die? [+18]

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4x10:Couldn't You Just Die?
“Bíblico demais para pessoas como nós”.
  
Patrick voltou ao seu lugar com uma xícara de café e uma pequena colher de mistura. Do outro lado da mesa, Jensen levantou o olhar apenas o suficiente para notar que não se tratava de uma bebida alcoólica.
— Cafeína? — Perguntou ao pai.
— Não fique tão impressionado — Alocou a colher em cima do guardanapo. — Pretendo cumprir minha promessa, apesar do pouco crédito que você e seu irmão dão a mim.
Jensen nunca pensou que ouviria aquilo outra vez. Na noite em que o pai prometera não ingerir mais bebidas alcoólicas, Jake riu tanto que acabou expelindo refrigerante pelo nariz, e Jensen deixou a mansão antes que criasse expectativas que pudessem iludi-lo. Era bom saber que Patrick levava seu relacionamento a sério depois de uma vida inteira afirmando que sua alma gêmea era uma garrafa de whisky Glenfarclas 1955.
— É uma ideia em progresso — Lhe disse.
Avaliando-o com o olhar, pela primeira vez desde que chegou, Patrick teve a impressão de que Jensen não era o mesmo. Via inquietação, palidez, cansaço e olheiras nada elegantes de quem não dormia há vários dias. Poderia até afirmar que estava mais magro desde a última vez que o vira na mansão McPhee, há três dias.
— Se sente bem? — Perguntou ao filho.
— Melhor impossível — Jensen ironizou o quanto pôde.
— Se está com dificuldades para dormir, posso pedir que lhe receitem um remédio.
— Está tudo bem, só preciso desacelerar um pouco.
— Como preferir. No próximo semestre você estará em Dartmouth, esta é a hora certa para desacelerar.
— Eu acho — Jensen assentiu contra sua vontade.
O próximo semestre... como poderia pensar tão adiante se o agora consumia toda sua energia? Seu pai nunca iria entender.
Patrick McPhee era muito mais que um político bem-sucedido e um pilar de patrimônio milionário da alta sociedade. Para os tabloides só precisava mentir; palavras vazias de incentivo eram tudo o que precisavam. Mas todos os dias voltava para casa com um homem frio e estrategista, não aquele que fora ensinado a ver em público. Não se surpreenderia se, qualquer dia desses, Patrick confessasse que nunca fora capaz de amar nada além do dinheiro. Então como poderia compreender o estado de total desesperança? A lembrança de ver nos olhos de alguém o quanto o decepcionou e ter que nada será como antes?
A vida continuaria em Dartmouth, ou estaria apenas cedendo a uma existência conveniente para não decepcionar mais ninguém? Tic tac, podia ouvir. Era o som de sua mente prestes a detonar.
— Convidei Devlin e sua esposa para um jantar na mansão — Disse Patrick. — Ele é um sociopata medíocre que coleciona esposas troféus como se as pensões milionárias que paga a cada uma delas trouxesse vigor a seu estandarte, mas não será difícil convencê-lo de que é bem-vindo em nossa casa para que você prossiga com sua vida acadêmica. Há males que vêm para o bem, eu suponho. 
— Jantar com o reitor? Não sei se é uma boa ideia.
— Sua recuperação já lhe deu um ano livre de obrigações; essa é sua única chance de estar em Dartmouth até o próximo semestre. Não se preocupe, logo tudo isso estará terminado.
Jensen refutou com um suspiro. De repente, tudo estava em câmera lenta. Piscou calmamente os olhos, engoliu em seco e obrigou-se a manter a concentração. A vista começou a embaçar; a audição falhou logo em seguida, fazendo com que todos os sons fossem abafados a derredor.
— [...] Nada disso importará daqui a seis meses — Ouviu Patrick dizer como parte de um discurso incompreensível. — Só preciso me certificar de que tudo ocorra como o planejado. Está me ouvindo? Jensen?
Não posso desmaiar, Jensen pensou. Recomponha-se.
— Sim — Respondeu ao pai com tudo o que tinha. — Estou ouvindo.
— Perdão, minha intenção não é pressiona-lo. Que tal começarmos outra vez? Diga-me, como está seu irmão?
— Jake está... ele continua no Canadá... esquiando... eu acho.
— Espero que já esteja de volta até o dia de ação de graças. Nate também se juntará a nós este ano?
Era demais para uma manhã. Aquela menção... Jensen pagaria um preço imediato por ela.
 — Obrigado, mas há algo que eu preciso fazer agora — Disse a Patrick, a voz em falhas.
— Está tudo bem?
— Sim — Jensen levantou abruptamente. — Ligue-me para informar sobre o jantar.
Patrick o teria impedindo se já não tivesse partido antes mesmo de começar a questionar.
Com a pressa que estava, Jensen acabou ignorando dois cumprimentos nos corredores para trancar-se no banheiro mais próximo. Respirou fundo, correu até a pia e ligou a torneia. A respiração ofegante o preocupava; era difícil enxergar, e ouvir, e pensar. Suas mãos tremiam, e logo o corpo inteiro chacoalhava.
Ataque de pânico.
— Fique calmo — Pediu a si mesmo num murmúrio.
Lavou o rosto, fechou a torneira e fitou o espelho. Algo havia mudado em sua aparência, além do que sentia por dentro. Agora contava com olheiras e uma palidez inquietante. Claro, mal havia dormido quatro horas nos últimos três dias, ou sequer comido o suficiente para se manter de pé.
Fechou a torneira, enxugou o rosto e debruçou-se sobre a pia com a ajuda dos braços. Então começou a caminhar de um lado para o outro, ofegante cada vez mais. Chorou por um breve momento, contra sua vontade, e apenas por cinco segundos. Mas os olhos ficaram vermelhos mesmo assim.
O que eu faço agora? Perguntava-se a cada palpitação acelerada. A verdade era que viver sua pequena morte não deixava brechas para escapatória enquanto estivesse no mundo real.
Nada que não pudesse resolver do seu próprio jeito.
Cinco minutos depois saiu de lá, com o rosto inchado e os olhos comichando de sono. Pegou o carro no estacionamento e dirigiu até o flat dos Foster, no Upper East Side. A surpresa em encontrar móveis novos sendo levados à antiga sala de estar o fez ficar parado no elevador mais tempo do que deveria. O que estava acontecendo?
— O sofá maior deve ficar de costas para a vidraça. Alinhe-o a extremidade do carpete— Kerr ordenou aos trabalhadores. E então notou Jensen deixando o elevador, dez minutos depois de ser anunciado pelo porteiro. — Herdeiro McPhee — Cumprimentou. — Não me leve a mal, mas você parece péssimo.
— Bem, eu estou.
— Desculpe por não atender suas ligações. Como você pode ver, disponho de tudo, menos tempo livre.
— O que está acontecendo?
— Mia não contou? — Kerr estava surpreso. Ou não tão surpreso, já que o laço que unia Jensen à família Strauss fora quebrado de uma vez por todas. — Isso não importa. Quer algo para beber?
— Tudo bem, só vai levar um minuto. A sós, se for possível.
— Claro.
Kerr deixou suas pranchetas no sofá menor, já em posição, e guiou Jensen até seu quarto. Desde o primeiro momento, Jensen teve a impressão de estar sendo reprovado pelo amigo antes mesmo de fazer seus pedidos. A sós, com a porta trancada, seus temores foram confirmados.
— Diga-me que não está aqui pelos meus comprimidos — A voz de Kerr soava como um ultimato.
— Eu poderia dizer, mas estaria mentindo.
— Este não é você. E se espera que eu coopere com seus planos, é melhor repensar sua visita.
— Tudo o que peço é que me dê o que preciso em troca do meu dinheiro — Jensen ergueu várias notas de cem com apenas dois dedos. — Não é assim que funciona?
— Não preciso do seu dinheiro. Quanto ao que você acha que precisa, vai descobrir muito em breve que está errado.
Jensen debochou com um ar de risos.
— Eu esqueci. Precisarei fodê-lo até que fique suscetível a meus pedidos, como nos velhos tempos. É isso o que você quer?
— Você está assim tão desesperado?
— Sinta-se à vontade para me diagnosticar, contanto que tenhamos um acordo.
Kerr já tinha uma resposta preparada; e arriscaria usá-la, deliberadamente, se não soubesse com quem estava lidando. Não precisava que Jensen lhe dissesse como se sentia se podia ver com os próprios olhos. Não era mais ele mesmo, tampouco o Jensen de anos atrás, embora tenha trazido de volta seu vocabulário supérfluo. Este alguém atormentado, que tomou suas vontades, só pensava em escapar.
Kerr nunca poderia mantê-lo por perto sem saber até onde iria em sua busca do não-estar.
— Você ganhou — Abriu a gaveta mais próxima e tirou, debaixo dela, um pequeno envelope transparente contendo seis pílulas. Ofereceu-o a Jensen esticando o braço, e depois recuando para ter a última palavra. — Se fizer algo estúpido, eu saberei.
— Bem, — Tomou o envelope dele. — O problema é meu — E caminhou em direção a porta.


Antes que partisse, Kerr chamou seu nome, obrigando-o a parar a e ouvir em frente a porta.
— Você está bem? — Perguntou.
Por que todos vivem me perguntando isso? Jensen pensou. E então já tinha uma resposta preparada.
Yes, I’m fucking fantastic.
Ou estaria muito em breve.
Saindo do flat dos Foster, entrou em seu carro e tomou dois comprimidos de uma vez. Dirigiu a um bar qualquer, sem ver o nome, e pediu cinco doses seguidas, sem o acompanhamento. Conheceu pessoas novas, como consequência. E talvez tenha pago tanto as suas bebidas quanto a de todas elas. Bem, dinheiro não era algo com que deveria se preocupar. Todos partiam, inclusive Nate, mas o dinheiro de seu pai era o único que ficava.
Saiu bêbado do bar ao meio dia e dirigiu em direção ao litoral. Dentro do carro pôde chorar e se despedaçar o quanto precisava sem que ninguém estivesse olhando. A música no rádio lembrava ele, o cheiro da praia lembrava ele, olhar-se no espelho lembrava ele. Dessa vez não tinha mais para onde correr. Que tal ligar mais trinta vezes para ver se ele atendia? Aparecer na sua porta, implorando para ser ouvido? Ajoelhar novamente seria o mínimo que poderia fazer em nome do que sentia, ou não teria mais chances?
Tudo parecia um borrão de frustrações. Decidiu permanecer em frente à praia, dentro de seu carro. Parecia tão fácil desaparecer junto das ondas e ser levado embora. O que diriam se realmente o fizesse?


Mia e Frank chegaram à mansão Ridell ao cair da noite. Enquanto os empregados cuidavam da bagagem, a nova hóspede foi levada a um pequeno tour pela propriedade, apenas para que soubesse onde encontrar tudo o que precisava. E então chegou a hora de conhecer seu quarto. Grande, confortável e capitalistamente decorado, assim como cada aresta que analisara de seu novo lar. Era impressão sua ou Frank havia preparado tudo com antecedência para surpreende-la?
— Este é o quarto de hóspedes número um— Frank lhe disse. — Está do seu agrado?
— Sim — Mia tirou o casaco, ainda analisando o que via. — É ótimo.
— Mas não é “casa”. Entendo como deve ser.
— Não — Virou para encará-lo. — Eu gostei. Obrigada por estar fazendo isso.
— Somos uma família agora.
Não tão rápido, Mia pensou. Um dia, quem sabe. Vai ter que deixar de lado a pose de patriarca heteronormativo primeiro.
— Precisa de alguma coisa? — Frank perguntou.
— Acho que não — Jogou a bolsa no chão e sentou-se na beira da cama.
O olhar não negava; estava pensando em tudo o que a levou às portas da mansão Ridell como uma pedinte. É claro, Frank não pensava desse jeito. Nenhum dos filhos da mulher que amava seria um pedinte aos seus olhos, e os ajudaria sempre que precisassem. Infelizmente, nada mudaria o fato de que muita coisa lhes foi tirada. Não estavam melhores que ela e sua mãe quando moravam no Brooklyn e precisavam pagar aluguel para viver numa espelunca, ou estavam? Os lençóis de sua cama eram de seda, pelo menos, e nunca faltaria whisky importado para afogar as mágoas.
Gostaria que todos os empregados da mansão Strauss pudessem dizer o mesmo. O que farão agora que não há mais casa para servir? Talvez tenham que voltar para suas próprias espeluncas no Brooklyn e para seus alugueis absurdos. Tudo por causa de Theon. Sempre por causa de Theon.
— O que vai acontecer com nossos empregados agora que a mansão não nos pertence mais? — Ela quis saber.
— Não se preocupe, me certificarei de que todos sejam bem recompensados por seus serviços e encontrem novos empregadores.
— Okay — Assentiu para ele, o olhar distante.
E novamente o celular começou a vibrar. Era a quinta ligação perdida de Andy; nem mesmo ele teria tanto a dizer no momento em que ela nada deseja ouvir. Cancelou a chamada de novo, e por precaução, desligou também o aparelho.
— Senhor Ridell, estamos prontos para servir o jantar — Disse uma das empregadas, parada em frente a porta.
 Frank checou rapidamente seu relógio de pulso.
— Bem, gostaria que seus irmãos se juntassem a nós, mas parece que eles têm outros planos. Devemos?
— É claro.
Àquela altura, Mia desistiria da própria herança por um pouco de comida.
Desceram os dois juntos logo em seguida, direto para a sala de jantar. Assim como na mansão Strauss, Mia pôde ver um grande número de artefatos decorativos, que incluíam pinturas, vasos ornamentados e pequenas esculturas de mármore que provavelmente foram adquiridas em leilão. Então Frank era um fã da extravagância... aprovado.
Como prato principal, a jovem Letina Giacomo havia preparado salada de verdes com carpaccio de figos, papardelle de camarão e tangerina. E para sobremesa, creme de mangas com nozes e vinho do porto. Com a ajuda deste cardápio e a agradável ópera tocando na vitrola do fundo da sala, foi fácil esquecer qualquer intimidação que a companhia de Frank antes lhe proporcionava. Era uma pena que ele gostasse de falar.
— Sabe quando Judit estará de volta? — Perguntou à Mia. — Ela não atende minhas ligações há dias.
— Que estranho... — Mia franziu a testa por um breve momento. O que Judit mais gostava de fazer em viagem era ligar para a família e saber tudo o que acontecia em sua ausência. Para não ter atendido as ligações de Frank... — Deve ter esquecido de carregar seu smartphone. Tente ligar para o hotel onde está hospedada.
— Farei isso — Passou o guardanapo pelos lábios. — Mas talvez eu só esteja sendo superprotetor. Desde que aqueles ataques começaram, tenho me preocupado mais do que deveria.  
— Judit não é uma de nós, duvido muito que seja um alvo.
— Uma de nós? — Frank tossiu duas vezes, quase entalado com a própria comida. — Isso significa que você é... lésbica? — Tomou um gole de vinho para voltar ao normal.
Mia não tinha certeza de como deveria interpretar sua reação. De padrasto amável e compreensível, poderia vê-lo se transformar num crítico moralista? Neste caso, a verdade cairia bem como uma luva.
— Podemos colocar deste jeito. Algum problema?
— Não, não, não, não — Ele logo recobrou a compostura. — Não me entenda mal, só estou surpreso em saber. Perdoe-me, devo ter dado a entender que desaprovo ou estou decepcionado. Odiaria se pensasse isso de mim.
— Você está mesmo se esforçando, não é?
— Honestamente? Se há vinte anos alguém me dissesse que era gay, eu levaria horas para entender que existem pessoas completamente satisfeitas em ir de encontro com tudo o que aprendi como “normal”. Mas hoje não há nada que me impeça de enxergar com mais clareza. É óbvio, minha criação fundamentalista fará com que eu me surpreenda de vez em quando, mas sim, eu me esforço para ser a pessoa que cada um de vocês precisa que eu seja. É o mínimo que eu posso fazer.
Mia estava impressionada. Ele era bom com palavras, disso tinha certeza. Se eram honestas, só o tempo poderia dizer.
— Seria um ótimo discurso para sua campanha — Ela sorriu, roubando uma risada amigável dele também.
— Certamente. Meu partido tem planos maravilhosos para esta cidade, Mia — Contou enquanto preparava uma nova garfada. — Nossa prioridade agora é identificar os agressores responsáveis por todos esses ataques. Nova York já é perigosa demais por ser a maior cidade do mundo, a última coisa que precisamos é de um grupo de motoqueiros homofóbicos que aterroriza nossos filhos.
Mia hesitou para processar a informação. Como Frank sabia sobre os motoqueiros? Kerr havia tirado dinheiro do próprio bolso para impedir que a mídia noticiasse seu ataque. Quando contaram o ocorrido na mansão, para que todos soubessem, nem Nate e muito menos Mia ou Alex mencionaram os motoqueiros. “Kerr foi atacado ontem à noite. É o mesmo grupo homofóbico que atacou Alex e Jensen há algumas semanas” — Foram as exatas palavras de Nate. Frank não deveria saber de nenhum detalhe da noite do ataque, a não ser que...
— Mia? Algo errado? — Ele indagou.
— Não — E ela tratou de colocar sua máscara convincente para evitar suspeitas. — Ainda é difícil falar a respeito. O jeito como ele foi encontrado... quase não acreditei que os responsáveis eram humanos.
— Eles são. Mas nada os impede de também serem monstros.
— Eu sei.
Mia levou sua taça de vinho aos lábios e fitou Frank com o canto dos olhos, através do embaço do cristal. Ele sabia demais para alguém que não estava envolvido. Ou talvez, sabia demais por outro motivo.


A festa havia se tornado um delírio embaçado aos olhos de Nate. De bodyshots a pista de dança, também foi dos lábios de fulanos a disputas de doses, vencendo os dois primeiros com sua rapidez e uma tolerância inacreditável. A música agitada afagava como poesia, e naquela noite, sentiu-se o mais brilhante dos poetas, com a vida sob as rédeas das batidas e de letras coesivas à vida noturna. Graças a Aaron Versace — e seu incontestável talento para torrar dinheiro —, saboreava uma festa privada em uma cobertura do Upper East Side, de onde só sairia quando conseguisse esquecer seu nome.
Seus lábios estavam prontos outra vez, assim como a multidão; pegou uma pitada de sal e passou a língua sobre a trilha de vodka no corpo da jovem loira em cima de mesa, começando pela virilha e terminando entre seus seios. A multidão ao redor não poupava de gritos de incentivo. Bem, esta não era a primeira vez de Nathaniel Strauss.


Com uma garrafa de whisky em suas mãos, marchou até o banheiro da suíte principal. Abaixou-se e vomitou no vaso, em três jorros grotescos que o deixaram fraco demais para se levantar — ou até mesmo para manter os olhos abertos. Podia ouvir, abafadamente, a música que tocava do outro lado da porta. Stay High, ele reconheceu. E um sorriso brotou em seus lábios em nome da grande ironia.
  — Apenas me deixe em paz! — Ouviu uma voz feminina dizer.
Logo em seguida a porta do banheiro se abriu. Uma garota de cabelos curtos e batom negro estava diante de si; um pouco confusa, se pudesse confiar em suas impressões alcoolizadas.
— Você está bem? — Ela perguntou. Tudo nela parecia intimidador; talvez fosse o que chamavam de “góticos” nos países de terceiro mundo.
— Sim — Respondeu-lhe numa voz arrastada.
A garota trancou a porta e caminhou até o espelho. Mexeu nos cabelos, arrumou o decote e então retocou a maquiagem pesada. Parecia um tanto desconfortável em ter que dividir o banheiro com um bêbado quase inconsciente deitado sobre o vaso, porém nada disse.
— Precisa de uma pílula? — Perguntou a ele enquanto fechava seu batom.
— LSD? Por favor.
— Aqui — Ela abaixou para entregar-lhe um dos comprimidos azuis que tirara da bolsa. — Vai fazer você se sentir melhor.
Nate aceitou de bom grado, e assim ela partiu. Quais as chances da pílula lhe levar para o país das maravilhas antes de desmaiar? Contava com isso, mesmo em função de expectativas vazias.
Dez minutos depois, decidiu que era hora de retornar para seu paraíso. Puxou a descarga, levantou do tapete e saiu pela porta. O clima havia mudado desde a última vez em que estivera na sala de estar. Ao invés de músicas eletrônicas, que agitavam a pista de dança, o DJ havia optado por baladas lentas e jogos de luzes roxas avermelhadas que referenciavam tanto o amor quanto a luxúria; ou talvez a ambos.
Seria luxúria, então. Porque não havia nada melhor.
Marchou até o sofá maior e sentou-se ao lado de um casal aos beijos. Fitou o ambiente como um todo por alguns instantes, pensando, imaginando, cedendo a escuridão. Aonde Jensen está? Perguntou-se. De novo. De novo. E de novo. Até não mais reconhecer a festa ao seu redor. Seu mundo era ali, naquele sofá, e a única coisa além do seu vazio era a paixão avassaladora que transbordava ao seu lado.
Com a cabeça deitada sobre o encosto, virou os olhos para o casal. Beijavam-se com tanto desejo, tanto furor... Nate só conseguia pensar no quanto queria o mesmo. E se a vontade emanava poderes, teria.
Puxou a moça de cabelos ruivos para seus braços e a beijou. Não havia porque impedi-lo; estava bêbada, perdida nas fantasias dos comprimidos que tomara e nos lábios ardentes de seu companheiro, que iam das bochechas ao pescoço, do pescoço aos ombros, dos ombros aos seios avantajados prestes a ultrapassar a barreira do sutiã. Era uma diversão a três, casual e isenta de culpas, da vontade de seus próprios corpos. Não se conheciam, nem precisavam se conhecer.
Quando sua vez acabou, o outro rapaz pegou de volta sua companheira. Então Nate avançou para a pequena porção de cocaína que havia em cima da mesinha de centro. Uma tragada e seu nariz começou a pinicar, conforme a mente clareava. A garota voltou os lábios para ele enquanto o outro a masturbava, logo no momento em que o celular de Nate começara a tocar.
— Theon — Disse ao atender.
— Nathaniel — Theon hesitou para decifrar todos os ruídos que escutava no fundo. — Espero não estar atrapalhando alguma coisa.
— É exatamente o que você está fazendo agora — Suspirou de cansaço. A garota continuava beijando-o no pescoço, mesmo ele insistindo em parar.
— Perdoe-me, não tenho intenção de afasta-lo de sua rotina, mas esta é uma ocasião especial. Junte-se a mim para um jantar e eu prometo que discutiremos abordagens mais sutis.
A primeira resposta de Nate foi um ar de risos incrédulo.
— Você espera mesmo que eu aceite seu convite?
— Honestamente? Não. Por isso me certifiquei de que você não tivesse escolha.
— Quer que eu jogue seu novo jogo?
— Só se for de acordo com as minhas regras. Seria uma pena me privar de sua companhia agora que seu pai e sua mãe estão desaparecidos, não acha?
Nate sentiu o ar lhe faltar aos pulmões repentinamente.
— O que você disse?
— É um novo jogo; chama-se “Faça o que eu digo” — Theon revelou. —  Se quiser ver seus pais outra vez, terá que vencer.
— Você está blefando.
— Estou?
Theon aproximou o celular de Simon e Judit, amarrados a uma cadeira.
— Nate, não faça o que ele diz! — Judit exclamou.
— Chame a polícia! — Gritava Simon.
Era o bastante para deixar Nate em estado de alerta. Levantou-se do sofá abruptamente, como se tivesse sido expulso. Não seus pais. Theon poderia machucar qualquer um, não seus pais.
— Eles não têm respeito algum a seu anfitrião — Theon sorriu.
— Deixe-os ir. Faço o que quiser, mas deixe-os ir.
— Neste caso, tudo o que você precisa fazer é vir até a mansão Strauss. Estaremos esperando por você. Chame a polícia e eu prometo que o deixarei órfão até a meia noite — E encerrou a chamada.
Nate fitou o nada, ainda com o celular nas mãos. O começo do fim; estava finalmente acontecendo.
Saiu correndo pela porta e pegou seu carro no estacionamento. Dirigiu imprudente, a toda velocidade que podia, até finalmente chegar ao local do acerto de contas. Então era na mansão Strauss que Nathaniel e Theon iriam se enfrentar pela última vez? Nate não sairia sem seus pais, e Theon não os deixaria ir sem completar seu ciclo de vingança.
Os portões se abriram assim que ele deixou o carro. Os novos empregados da mansão esperavam-no lado a lado no jardim, uniformizados de preto e branco, com as mãos para trás e o olhar fixo no nada. Não se mexiam ou esboçavam qualquer reação. Olhando em seus olhos monótonos, Nate temia que nada humano lhes restara.
Prosseguiu pelo jardim, ignorando-os, e finalmente chegou a porta da mansão. Outro robô sem alma vestido de preto permitiu sua entrada; porém, desta vez, este também fora instruído a indicar-lhe um caminho. Em silêncio, apontou para a porta da direita. Tudo estava em seu lugar, como a família Strauss havia deixado antes de partir, exceto... a sala de jantar. Theon modificara quase toda a decoração da tapeçaria aos artefatos, deixando que apenas a cor das paredes prevalecesse.
E ele, claro, havia tomado posse da cadeira do patriarca, na ponta da mesa. Um sorriso lhe encheu os lábios quando viu Nate passar pela porta.
— Nathaniel, seja bem-vindo.
Nate olhou para ele, depois para a mesa de jantar, depois para o restante do local. Era tudo confuso demais.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu moro aqui — Theon passou o guardanapo pelos lábios. — A mansão Strauss é minha mais nova aquisição.
— Não é verdade. Ela irá a leilão apenas daqui a quinze dias.
— Um homem influente como eu não precisa esperar. Essa é a grande vantagem em ser um De Beaufort.
— Então você tomou minha casa, meu dinheiro, minha empresa e agora está com meus pais... Parabéns. Nem eu mesmo teria pensado em um plano melhor para me vingar.
— Seus métodos de colegial estão mesmo ultrapassados. Sente-se, por favor — Theon fez um gesto com a mão direita para a cadeira ao lado.
Nate ficou quieto. Qualquer coisa que dissesse, qualquer movimento que fizesse, poderia terminar com suas mãos em volta do pescoço de Theon.
— Não me faça essa desfeita — Theon insistiu. — Você bem sabe o quanto eu aprecio a cordialidade.
— Por que você simplesmente não morre?
— Isso é muito bíblico da sua parte — Levantou-se da mesa. — Quase até afetivo, se ignorarmos o seu desejo de me apunhalar. Então são negócios antes do prazer?
— Liberte meus pais. Agora.
Theon mostrou um sorrisinho arrogante.
— Me desculpe, as regras do jogo não estão claras? Você não está em posição de exigir.
— O que você quer?
— Agora? Quero apenas que me siga.
— Por quê?
— Porque fazer o que eu digo é a maneira mais fácil de se reencontrar com seus pais. É claro que ainda podemos fazer da maneira difícil, se hoje você estiver se sentindo um pouco mais masoquista que ontem.
Mesmo a espera do pior, Nate aceitou segui-lo. Saíram da sala de jantar e caminharam pelos próximos dois corredores até que enfim chegassem às escadas que levavam ao porão. Nate não lembrava a última vez em que fora tão longe na própria mansão. Talvez aos dez anos, brincando de esconde-esconde. Talvez aos sete, novamente sonâmbulo. Isso realmente não importava mais. Porque o porão que conhecera, assim como a sala de jantar, já não existia. O que antes era feito de caixas de papelão e velharias agora era um corredor incrivelmente branco, com duas portas lado a lado. Nate podia sentir o cheiro de tinta fresca.
Como um sanatório, pensou. Era o lugar perfeito para manter seus pais.
— Eles estão aqui?
— Veja por você mesmo — Theon fez um gesto para que abrisse a primeira porta.
Desconfiado, Nate decidiu que prosseguiria com cautela. Primeiro deu um passo à frente, depois colocou a mão na maçaneta. O que iria encontrar do outro lado? Estava prestes a descobrir.
A porta foi aberta num movimento rápido, apenas para libertar uma terrível escuridão. Quando Theon apertou nos interruptores, Nate percebeu que estava numa sala totalmente vazia, senão pelos pequenos televisores alocados num pedestal de mármore, no centro.  As imagens em preto e branco, a cada passo à frente, revelavam sua reprodução através de câmeras de vigilância que gravavam a rotina de Judit e Simon, cada um preso em uma cela diferente.
Os olhos de Nate se encheram de lágrimas.
— São eles... Eles não estão aqui!
Então Theon o acertou com um globo de neve na cabeça, fazendo-o cair desorientado no chão. Arrastou-o pelo braço até a extremidade da sala e prendeu uma corrente em volta de cada um dos seus pulsos. Graças a pancada, Nate mal teve a chance de reagir.
— O que você está fazendo? — Arregalou os olhos.
— Reivindicando o que é meu por direito — Mostrou-lhe as chaves para que as visse guardadas no bolso do paletó. — Agora podemos ficar juntos para sempre.
— Theon... Não!
— Aproveite a companhia dos seus pais. Seremos apenas nós e eles por um longo período.
Theon caminhou em direção a porta, sereno e impassível diante dos gritos histéricos de Nate. Nada lhe dava mais prazer que tê-lo ao seu lado... e infringir-lhe dores capazes de destruí-lo de dentro para fora.
— Não faça isso! — Nate continuava gritando. — Por favor, não me deixe aqui!
— Desculpe, Nate — Theon virou para encará-lo, os olhos dominados por uma glória doentia. — O jogo acabou.
Então fechou a porta. E tudo ruiu a medo e gritos de pavor.


A noite de Mia fez-se em um bom livro de ficção científica, um fone de ouvido e a cama confortável de seu novo lá. Ou pelo menos, era isso que queria fazer Frank acreditar. Assim que o viu deixar seu quarto, revelou sua roupa de caça por baixo do roupão e seguiu-o. Primeiro pela mansão, depois para o lado de fora. Bastou Frank sair com a limusine para pegar seu carro escondido entre as árvores e começar a missão.
Mia não sabia por quanto tempo o escoltou pelas rodovias dos Hamptons e de Manhattan. No começo, Frank parecia não ter um destino em mente; ia e vinha pelas mesmas ruas, parava nos mesmos tráfegos. Estava procurando por alguém ou tentando despistar qualquer curioso que pense em segui-lo? Mia adoraria vê-lo tentar.
Com uma hora e meia de viagem, finalmente uma mudança de curso. A limusine seguiu para o norte, passou pela ponte do Brooklyn e parou próximo a um ferro velho de Little Poland.
Meia hora se passou num piscar de olhos enquanto esperavam, mas nada mudou. A limusine não se moveu do lugar, e Mia estava bem longe de desistir. Se Frank não estivesse envolvido com os The Judges, como sua intuição lhe dizia, estava prestes a descobrir quantos cadáveres guardava dentro do armário para que tenha saída de sua própria casa e dirigido a um bairro altamente perigoso.
Enfim outro carro chegou. A surpresa estava lá, diante dos seus olhos, na forma de um pássaro branco em um fundo alaranjado. Faith Ministry, a possível entidade religiosa que financiava os ataques terroristas dos The Judges. Assim como Kerr afirmou, o emblema estava nas duas portas traseiras do outro carro. Um homem careca cheio de joias de ouro havia acabado de sair do veículo para adentrar a limusine de Frank.
É ele, Mia pensou. Foi ele durante todo esse tempo, e tudo não passou de um plano para nos liquidar.
Queria vomitar, enfrenta-lo cara a cara, fugir enquanto podia e atirar em sua cabeça, tudo ao mesmo tempo. Faria isso um dia, ninguém poderia negar-lhe o prazer. Mas primeiro precisava desmascará-lo.
Seu celular, de repente, apitou com uma nova mensagem de Andy.
“Atenda o celular! Algo aconteceu” — Ela dizia.
— O que foi? — Perguntou para ele em uma chamada.
— É Alex, ele está no hospital. Venha assim que puder.
Mia suspirou profundamente. Se Frank estava de alguma forma envolvido com Alex, a retaliação começaria num piscar de olhos.

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4x11: Woke Up With a Monster (02 de Abril)
Finalmente chegamos a etapa final do livro. Os últimos seis capítulos serão decisivos para muitos personagens (principalmente para Nate e Thayer). Em breve vocês descobrirão quem vive, quem morre, quem mantêm a sanidade e quem enlouquece. Já se perguntaram o que Theon é capaz de fazer a Nate agora que o tem nas suas mãos?
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4 comentários:

  1. PROTECT NATE AT ALL COSTS
    Mas, sério, não esperava nunca por essa reviravolta com o Frank, bem que eu percebi que ele estava bonzinho demais.
    Tô ansioso pra saber o que o Theon vai fazer com o Nate, já prevejo torturas angustiantes, e não aceito isso.
    Mia precisa juntar o pessoal numa busca pra salvar o Nate. Se pararmos pra pensar ela é a única Strauss que está em condições de salvar a família, e ainda precisa lidar com o primo nojento da Amber e os The Judges, ou seja, muita responsabilidade sobre seus ombros. Acho que os próximos episódios vão definir muito os traços da personalidade dela.
    Jensen indo de mal a pior, tô temendo bastante pelo futuro do personagem. Assumo que estou com um pouco de medo dele voltar a ser o garoto mimado de antes.
    Alex hospitalizado, nenhuma novidade sobre ele por aqui, então não tem muito o que comentar.
    Mais um episódio ótimo e que me fez ficar morrendo de vontade pra semana que vem. Até lá.

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    1. Acabou que Nate tinha razão, né? Tanto Frank quanto Tara não passavam de golpistas querendo se aproveitar dos pais dele pra destruir a família. Nathaniel profeta, apenas hahahaha.
      E você tem razão sobre a Mia. Ela é a única capaz de salvar os irmãos e acabar com a ameaça dos The Judges. Ainda faltam 6 capítulos, então talvez isso não aconteça logo de imediato.
      Sobre Nate e Theon, realmente vai rolar umas coisas bem pesadas. Quero saber mesmo o que vocês acham sobre, então, até semana que vem \o

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  2. EU TO É MORTO!!!!!!!!
    Não pude comentar o capítulo passado, mas estou aqui pra me redimir. O capítulo anterior foi completamente destrutivo de todas as formas possíveis. Não só para os personagens, pra nós também. O que foi Alex encontrando Thayer naquela situação? Meu coração se espatifou. Gente, tô amando essa dinâmica de quase "troca de personalidade" entre os gêmeos. Sério, dá até pra achar que eles trocaram de lugar (saudades lentes) hahaha. Admio que não gostava tanto da Mia antes, mas agora estou completamente apaixonado por essa badass. Quem diria que Frank estaria por trás dos financiamentos? Eu estava lendo em público e quando cheguei a parte em que Mia (muito esperta, por sinal) começa a desconfiar não pude segurar um som de surpresa muito bem pronunciado que chamou a atenção de todos na pizzaria para mim. Quero me impedir de falar sobre Jensen até porque acho que alguns vão julgar o que ele fez, mas acho que ele só está procurando uma forma de colocar a dor pra fora, é válido. No final da parte dele podemos ver o quanto o golden boy ainda sofre por ter perdido Nate. Isso é amor, gente!!! Acorda, Nova York! Falando em Nate, que bagaça, hein? Eu secretamente desejava que entre ele e Theon rolasse uma pegação cheia de ódio à la Blair e Chuck em cima do piano, mas quando se mantém os pais do inimigo como reféns é bem difícil. Já sei que Nate vai sofrer pacas.
    PS: Paradoxo do dia: ainda bem que faltam só 6 capítulos. Que droga que faltam SÓ 6 capítulos.
    PS: Acho que quando você mencionou "casa" você se referia a "home", então acho que "lar" se encaixaria melhor.
    PS: Sua escrita ❤❤❤❤❤❤❤❤❤

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    1. Senti sua falta no capítulo anterior, mas tentei colocar na minha cabeça que você também tem uma vida e nem sempre vai poder vir aqui hahaha.
      Nate e Alex trocaram mesmo. Agora Nate ta igual um cordeirinho enquanto o Alex destroi tudo e todo mundo. É claro que essa foi minha intenção desde o começo xD
      Menino, o que aconteceu nessa pizzaria? Qual barulho você fez? Socorro hahahahaha. A Mia é uma rainha mesmo. Esse livro 2 serviu para que ela se firmasse como uma Strauss de verdade (tanto que agora é ela quem tem o poder para salvar os irmãos e acabar com os The Judges). Acho ela muito parecida com a Freya de The Originals. Chegou aos 40 minutos do segundo tempo e só na temporada seguinte se firmou de verdade na família (mesmo que ainda seja um pouco avulsa em certos plots).
      Não vou mentir, Nate está prestes a sofrer bastante. O próximo capítulo é bem pesadinho, espero que não confundam The Double Me com OZ HAEHAEIUHAEIAUEHAEIU
      Até semana que vem (se você tiver um tempinho) <3

      PS: Você está certo sobre a "casa". É que na hora da revisão às vezes a gente nem nota essas coisas haha.

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