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[Livro] The Double Me - 4x07: Baby Listen, Please, I'm Not on Drugs [+18]

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4x07:Baby Listen, Please, I'm Not on Drugs
Você é viagem o bastante para mim”.
  
Nate freou o carro a poucos metros de acertar a vidraça da portaria do hospital. Enquanto tentava tirar Thayer do banco do passageiro, três paramédicos correram com uma maca para dar-lhe assistência.
— Por favor, ajudem. Ele não está respirando! — Pediu desesperado.
— O que aconteceu? — Perguntou a mulher de cabelos ruivos que tentava fixar uma máscara de oxigênio no rosto de Thayer. Estavam caminhando para dentro, com Nate ao lado.
— Ele tem leucemia. Eu o encontrei...
— Há quanto tempo ele está inconsciente?
— Eu... Eu não sei — Tentou raciocinar, mas nada além do medo lhe fazia sentido. — Algumas horas. Talvez a noite inteira...
E de repente viu-o numa crise de convulsão. Thayer tremia dos pés à cabeça, prestes a entrar em colapso.
— Ele está convulsionando — Disse o paramédico de barba e cavanhaque.
— Chamem o Doutor Weil, agora mesmo! — Ordenou a jovem de cabelos ruivos.
Ao chegarem a ala emergencial, Nate foi interrompido por um dos paramédicos.
— Senhor, não poderá passar.
— Eu não vou deixá-lo! — Nate insistiu.
— Faremos tudo o que pudermos.
— Saia da minha frente!
— Por favor, senhor — Uma das enfermeiras o abordou. — Você pode esperar no saguão. Há alguém para quem deseja ligar?
Àquela altura, já havia perdido Thayer de vista. Seus olhos se encheram de lágrimas; não havia mais motivos para lutar. O que teria acontecido se não o tivesse visitado no apartamento para saber se tudo saíra como o planejado na noite passada? Ainda estaria sangrando naquele chão, sem ter como pedir ajuda? E aonde estava Alex?
— Ele não pode morrer... — Implorou para o universo. Ou talvez só estivesse pensando alto.
— Venha — A enfermeira tentou guia-lo colocando uma mão em seu ombro esquerdo. — Eu o acompanho até o saguão...
— Solte-me! — Nate a empurrou.
Caminhou depressa pelo corredor por onde havia chegado e escorou-se na parede mais próxima. Alex não estava com seu celular quando saiu para encontrar Thayer, então era inútil tentar contatá-lo. Depois do último jantar em família, Thayer não poderia mais contar com os Van Der Wall. Ele está completamente sozinho, Nate ideou. Não posso ficar aqui em fazer nada.
Tirou o celular do bolso e clicou no primeiro nome que lhe veio à mente.
— Nate? — Travis perguntou, em tom surpreso.
— Algo aconteceu. Eu preciso que você me ouça. 


Era quase meio dia quando Alex enfim decidiu que já havia dormido o suficiente. Afastou os lençóis, levantou da cama e caminhou até a cozinha, seguindo o cheiro delicioso de ovos cozidos e a voz arrastada de Cameron. Encontrou-o em frente ao fogão, sem camisa, usando uma mão para segurar a espátula e a outra para manter o celular na orelha. Era uma vista a se apreciar.
— É claro, pai — Cameron disse. — Estarei lá. — E encerrou a chamada. Tinha acabado de notar Alex indo a seu encontro. Persistia invejável, mesmo com roupas duas vezes maiores para o seu tamanho e os cabelos atrapalhados. — Hey, você acordou.
— Acordei há algum tempo, só decidi ficar na cama — Alex se debruçou no balcão para ver melhor a frigideira. Havia ovos, bacon, e um pouco mais de orégano do que seu gosto ditava. — O que é isso?
— Café da manhã.
— Frank o ensinou?
— Não, ele apenas gritou comigo — Em um movimento ligeiro virou os ovos para o outro lado. — Então pedi para nossa governanta me ensinar.
Outch. Alguém tem problemas com o papai. Isso quase o faz parecer humano.
— Quase — Cameron sorriu malicioso.
Em meio a troca de olhares, ouviram o bipe da torradeira. Alex circulou o balcão e pegou um prato na pilha da esquerda. De tão quente, a primeira torrada acabou caindo de sua mão.
— Merda... — Resmungou.
— Deixe comigo — Cameron o abordou por trás, delicadamente, até que Alex pudesse sentir o calibre em sua cueca. Pegou a torrada no balcão, colocou em cima do prato e mordeu sua orelha em meio a suspiros. — Eu sei o que estou fazendo...
Alex fechou os olhos; não havia mais como resistir. Virou a cabeça e encontrou seus lábios, mesmo de costas, com as mãos de Cameron percorrendo seu abdome por baixo da camiseta. Não se contentavam apenas em provar-se; beijavam-se além, de olhos fechados, das bochechas ao queixo, do queixo ao pescoço.
Agora frente a frente, Cameron o colocou sentado no balcão. Alex envolveu-o entre suas pernas num movimento rápido e o agarrou com as duas mãos para o beijo que seu corpo ansiava. Haviam sorrisos entre as carícias, arrepios ao simples toque; seus volumes, de baixo das roupas, pareciam travar uma batalha ardente prestes a sair do controle.
E então o celular de Cameron começou a tocar. Teria ignorado em nome do que pensava em fazer com a boca de Alex se não soubesse que tinha um compromisso.
— Merda...
— Deixe tocar — Alex insistia em beija-lo.
— É meu pai.
— Foda-se ele.
— Ele quer me ver...
— Agora?
Ambos sabiam que não havia escolha. Cameron afastou-se dele de uma vez, dando um grande suspiro.
— Sim — Esticou-se para pegar o celular. — Infelizmente, ninguém diz não a Frank Ridell.
Daddy issues. Eu te disse — Alex pulou do balcão e caminhou até o sofá, onde havia deixado suas roupas.
— Vai sair?
— Preciso malhar um pouco. Já faz um tempo.
— Ou você podia vir comigo.
O olhar incrédulo de Alex ratificava as suspeitas.
— Para ser apresentado ao seu pai como seu amante ou como se fosse nosso primeiro encontro?
— Como meu novo meio-irmão. Ele não aprecia esse lance de incesto moral.
— Okay, mas eu dirijo.
Cameron sorriu, sem deixar claro se a resposta era sim ou não.
— Coma alguma coisa. Volto logo.
Cameron entrou e saiu do quarto em tempo recorde, e logo estava de volta para que comessem juntos. Tomaram banho, mudaram de roupa, e desceram de elevador até o estacionamento. Foram mais de vinte e cinco minutos de estrada do edifício de Cameron ao restaurante Ridell’s, onde Frank havia passado a manhã inteira tentando resolver as pendências de sua campanha. Passaram pelas mesas, pela cozinha e por dois corredores estreitos até chegarem ao escritório.
Knock knock — Cameron abriu a porta.
Seu pai caminhava de um lado para o outro com o celular na orelha. Parecia irritado e distraído, como sempre fora quando não estava tentando impressionar Judit.
— Eu deveria simplesmente acreditar em sua palavra? — Dizia. — Há uma razão para que Colbert tenha desistido de sua campanha prematuramente.
— Pai...?
— Cameron — Notou-o parado em frente a porta, ao lado de Alex. — Não, é meu filho — Afastou o celular da orelha por alguns instantes. — Preciso terminar esta ligação. Me espere aqui.
Cameron só teve tempo de sussurrar um “mas” antes do pai sair pela porta por onde havia entrado. Agora era apenas ele e Alex no luxuoso escritório de Frank Ridell. Havia peles de animais, pinturas harmônicas, uma adega cristalina em mesclagem a uma estante de livros, e talvez um pouco mais de tudo o que o dinheiro público podia comprar.
— Então... Quer uma bebida? — Cameron perguntou.
— Estou bem — Alex caminhou até o sofá preto, a sua direita. Analisava o novo ambiente com curiosidade enquanto tirava seu casaco.
Era sofisticado, como já se podia esperar de um Ridell. Ou talvez exageradamente aceitável para uma família que só agora conhecia Nova York. O que havia de tão interessante naquela pintura, atrás da mesa principal, que mostrava um garoto nu segurando uma cruz? Alex talvez tivesse que participar de um dos cultos da igreja de Frank para compreender.
De qualquer maneira, não era ali que planejava passar a manhã. Podia ouvir a voz alterada de Frank do outro lado da porta. E se esticasse a cabeça para o lado, veria sua imagem na transparência distorcida da vidraça da porta, andando de um lado para o outro com o celular na orelha.
— Então, o que aconteceu? — Cameron recostou-se na mesinha de bebidas, do outro lado da sala. Mesmo distante, agora estava frente a frente a Alex.
— Não sei se entendi.
— Há dois dias você disse que era comprometido e não podia me dar uma chance. O que aconteceu para que você mudasse de ideia?
— Você quer mesmo falar sobre isso?
— Ficaremos aqui por um tempo. Por isso precisava da companhia.
Alex suspirou.
— Antes de vir para Nova York eu vivia com Denise, minha mãe adotiva, e sua filha Tina. Não tínhamos dinheiro para fazer qualquer coisa que não fosse ter uma vida normal, mas nos amamos como uma família de verdade em todos os natais, todo ação de graças, e todos os dias. Quando nos colocava para dormir, Denise sempre dizia: “Não nascemos para ser especiais como eles, mas nascemos. E agora vivemos”. Acreditei nisso durante a vida inteira, a cada prova que eu fazia, a cada sonho que planejava antes de dormir. Então descobri que era um Strauss, e de repente eu era especial, eu poderia fazer a diferença. Estou cansado de tentar dizer a mim mesmo que nada mudou e que ainda sou Alex Bennett, porque isso não é verdade. Eu sou Alex Strauss. E mesmo que as pessoas que eu amo não entendam, eu continuarei sendo.
— Eu entendo — Cameron deixou escapar um sorriso admirado. — Mas você está sozinho agora.
— Estou.
 — É por isso que ainda está aqui, comigo?
— Estou aqui porque você não entende... Mas ao contrário de todas as pessoas da minha vida, também não dá a mínima para nada disso.
— Você tem razão.
Cameron deu dois passos à esquerda e tomou posse das chaves que Frank esquecera em cima de sua mesa. Seu pai andava tão preocupado com a candidatura que só lembraria de ter deixado seu tesouro na mira dos piratas quando fosse tarde demais para se prevenir.
— Quer dar uma volta de Lamborghini? — Balançou as chaves em frente ao rosto. Alex só precisou sorrir em concordância, como quem nunca dizia não a uma grande aventura.
Saíram do escritório de Frank pela janela e correram pela área de serviço, esbarrando nos funcionários que circulavam com caixas de comida. Já no Lamborghini, Alex foi o primeiro a assumir a direção. Levou Cameron no banco do passageiro até Hamptons Bay, onde participaram do último racha, e depois de volta à cidade, onde quase chamaram a atenção de uma viatura policial.
Quando chegou a vez de Cameron, foram levados a área suburbana de Nova York para que aproveitassem as estradas de terra. A música, a paisagem e a velocidade completavam-se como se fossem feitas uma para a outra. O passado já não importava; em meio a adrenalina, Alex sentia que estava em boas mãos. 


— Estou aqui — Disse Amelia, transparente em seu tom de voz. — Você pode falar.
Andy respirou fundo. O que viria a seguir exigiria tudo de si.
— Eu tinha nove anos quando vim à Nova York pela primeira vez. Meu pai trouxe a mim e meus primos em sua pick up nada elegante; dizia que esta era uma ótima oportunidade para aprendermos como funcionava os negócios da família, se quiséssemos seguir seus passos. Foi uma viagem divertida, eu me lembro. Cantamos músicas country durante o caminho inteiro, compramos hambúrgueres e batatas fritas no Mc Donalds... eu estava feliz pela primeira vez desde que meu avô faleceu. Mas então tudo mudou.
“Em uma de suas entregas, meu pai nos deixou em seu carro dizendo que voltaria em dez minutos. É claro, ele demorou um pouco mais que o combinado. E pra passar o tempo, eu e meus primos decidimos brincar de desafios. Desafiei Shelley a colocar o dedo no nariz e depois na boca. Depois desafiei Carl a xingar a próxima pessoa que passasse na calçada. Era apenas uma brincadeira inocente de crianças, como já era de se esperar”.
“Então Michael, meu primo mais velho, me desafiou a ir para o banco do motorista e tentar mover o carro. Eu disse tantas vezes que já havia aprendido a dirigir que acabou se tornando o grande desafio da nossa tarde”.
“Fiz como ele pediu; sentei no banco do motorista, coloquei as mãos no volante e tentei dirigir. Mas algo saiu do controle, e quando eu percebi, havia batido no carro a nossa frente. Um homem saiu de dentro da loja e começou a gritar. O carro era seu, pelo que havia entendido. E ele era o cliente do meu pai”.
“Não havia mais nada que pudéssemos fazer. Os serviços do meu pai foram dispensados, e eu... Eu apanhei. ‘Cada centavo importa se quisermos construir o império Boyd’, ele dizia. Era o suficiente para ele achar que tinha o direito de me tirar sangue pelo nariz. Então eu corri, o mais rápido que pude, e totalmente sem direção. Meus primos tinham acabado de me ver apanhar, era uma vergonha que eu não ficaria para saborear”.
“Não lembro quando tempo passei na estrada. Só lembro de ter chegado ao Central Park, em frente aos colégios de elite. Haviam dezenas de garotos e garotas com uniforme, caminhando de um lado para o outro. Alguns deles me viram e se afastaram com o olhar de desprezo. Outros nem me notaram. E por que notariam, se eu era um simples filho de fazendeiro, que usava roupas velhas e corria de sandálias de borracha pela avenida? Não fazia sentido, não é? Eu sei. E eu me perguntei: ‘Por que eu sou tão diferente de todos eles? Por que não podemos estudar na mesma escola? Por que eles não gostam de mim?’. Eu sabia as respostas... só era mais fácil ignorá-las.
“A verdade é que eu sempre quis ser um deles. E naquele momento, queria muito mais. Talvez não estivesse sangrando se tivéssemos tudo e não precisássemos do dinheiro de pessoas tão arrogantes”.
Amelia assentiu em silêncio. Palavras iam e vinham dentro de sua cabeça; talvez algumas delas pudesse oferecer conforto a seu paciente.
Andy Boyd, vinte anos de idade, herdeiro de Preston Boyd, um dos fazendeiros mais ricos do estado. Esteve parcialmente envolvido nos escândalos das famílias Priestly, Foster e Strauss, tendo sido clicado por vários paparazzi ao lado do herdeiro da Strauss International. Graças à internet, pôde desenvolver um perfil psicológico bastante fiel a tudo que lhe dizia respeito. Isso não era o bastante? Não conhecemos uma pessoa até que esteja sentada em nosso consultório, sua mãe costumava dizer. Andy Boyd talvez comprovasse a importância de todos os seus ensinamentos.
— Como é a relação com seu pai hoje em dia? — Perguntou a ele.
— As coisas melhoraram. Bem rápido, na verdade. Muita coisa ficou para trás, só é difícil esquecer.
— É sempre assim, não é? — Mostrou um sorriso simpático.
— Acho que sim— Andy sorriu de volta, um pouco mais tímido que o normal diante de uma bela mulata. Ela é linda, pensou. Nem parece ser filha de uma criminosa.
Antes que Amelia pudesse continuar,, o telefone tocou.
— Preciso atender. Poderia esperar cinco minutinhos?
— Tudo bem — Andy tentou disfarçar a lágrima que escorria dos olhos.
— Obrigada. Volto logo — E saiu pela porta.
Andy contou até cinco mentalmente, de olhos fechado. Um; Kerr havia acabado de ligar para a casa na tentativa de manter Amelia Phillips ocupada. Dois; na noite passada, Nate havia dito que a polícia descobriu apenas duas sessões filmadas ilegalmente por Abigail Phillips, mas estima-se que havia filmado mais de trezentas delas. Três; de acordo com uma ex empregada, não havia qualquer indício de que ela guardava as sessões filmadas em fitas caseiras, podendo indicar que estes arquivos se encontram na internet e estão protegidos por senha. Quatro; Andy tinha menos de cinco minutos para conectar o pen drive de Kerr no computador a sua frente, instalar o programa hacker e acessar todas as contas de Abigail Phillips, inclusive as de upload na nuvem. Cinco; salvar o vídeo da sessão de Jensen McPhee em um pen drive e entregar a Nathaniel Strauss estava prestes a transformá-lo em um herói.
Era hora do show.
Limpou a lágrima falsa do rosto, correu até o computador na mesa e fixou seu pen drive em uma das entradas USB. Cinco segundos depois o programa hacker foi iniciado, fazendo com que uma janela preta encetasse uma sequência de comandos em letra verde no monitor. Agora estava diante de uma lista de gerenciamento de arquivos com todos os logins ativos e em perfeito funcionamento. Clicou na nuvem, não havia nada lá. Clicou no arco-íris, e nada também encontrou. Suas buscas só deram resultado quando percebeu os números da criptografia online.
— Essa vagabunda... — Sorriu para si mesmo. Se Abigail compreendia a criptografia online o suficiente para esconder centenas de vídeos ilegais, talvez merecesse todo o crédito que lhe estavam dando.
— Senhor, é necessário agendar um horário — Ouviu Amelia dizer na sala de estar.
— Não posso esperar — Kerr respondeu-lhe, a voz chorosa e perfeitamente convincente. — Sinto que posso cometer uma loucura a qualquer momento. — Quase riu da própria atuação.
— Mantenha a calma. Prometo ajuda-lo no que precisar.
De fato, parecia tudo sob controle... até a empregada de Amelia abrir a porta do consultório e flagrar Andy em frente ao computador.
— O que você está fazendo? — Perguntou em acusação, no momento exato em que o vídeo de Jensen terminava de carregar para o pen drive.
Andy não teve tempo para pensar; a empregada queria uma resposta, Amelia já estava a caminho do consultório, e em suas mãos estava tudo o que precisava. Era hora de dar o fora.
Guardou o pen drive no bolso, correu em direção a empregada e a beijou com tudo o que tinha... Bom, talvez nem tanto assim. A doce e inocente Catarina, de cinquenta e dois anos, mal sabia como reagir.
— Desculpe — Andy encontrou o olhar incrédulo de Amelia atrás de sua empregada. — Complexo de édipo. Enviarei uma quantia em cheque por causa deste incidente. Obrigado por seu tempo — E saiu pela porta da frente, deixando Catarina totalmente extasiada, e Amelia cada vez mais confusa.
A primeira coisa que fez ao entrar no carro foi livrar-se daquele lenço alaranjado em volta do pescoço. Em seguida pegou o celular, ainda ofegante, e ligou para Nate através da discagem rápida. Quem atendeu foi a secretária eletrônica.
— Estou com o que você quer — Disse em sua mensagem. — You are so fucking welcome.


Um estranho momento de comoção havia tomado conta da audiência. Lulu jazia morta na cama de casal, ao lado de Jack, banhada em vermelho de sangue e vinho nas roupas de meretriz. Condessa tornou-se a próxima vítima, também encontrando seu fim pelas mãos do impiedoso estripador. Suas últimas palavras entoaram como a mais bela das juras de amor enquanto as cortinas caiam sobre sua história. Ela amou Lulu até o último suspiro, Mia refletiu.
E o teatro inteiro aplaudiu de pé.
Ao seu lado, Amber, Kerr e Dhiego esbanjavam sorrisos de satisfação. Julianne, a sua esquerda, deixara escorrer uma lágrima acanhada pela bochecha, depois de tanto insistir em não borrar a maquiagem. Estavam certos, em sua humilde opinião. Uma noite no Dicapo Opera Theatre e todos os seus problemas desapareceram.
Mia acompanhou a família Foster até a saída mais próxima, e então para o salão principal, onde os milionários agruparam-se como animais famintos em busca de uma presa. No contexto social, diria que sua única intenção era manter as aparências e posar para as câmeras. As estátuas de deuses gregos, parcialmente expostas e sem expressão, seriam a melhor companhia da noite.
— Obrigada, senhor. É muita gentileza da sua parte — Era a frase mais comum a se dizer quando encontrava um “admirador” da família Strauss.
Amber estava linda em seu vestido preto, não podia deixar de notar. Na verdade, havia notado desde o começo da noite, quando saiu do closet decidida a usar o vestido que a amiga ajudou a escolher. Teria recusado o convite se não fosse a chantagem emocional de Julianne — e apenas para manter Dhiego quieto —, mas Amber continuava sendo um ótimo motivo para se manter positiva.
Durante a noite inteira, Mia teve a impressão de estar ao lado de dois Dhiegos. O primeiro era o sobrinho de Julianne Foster, conhecido por seus trabalhos voluntários e por sua benevolência. O segundo era Dhiego Foster, o primo duas caras, o intruso disposto a arriscar seu disfarce de bom moço para afastar Amber das más companhias — por um motivo que ainda precisava desvendar. Trocaram olhares uma vez ou outra, como faziam agora; e Mia sempre terminava sendo a primeira a virar para o outro lado. Nada mais frustrante que perder o jogo de intimidação em que um dia fora mestre.
Enfim a noite havia terminado.
Despediram-se dos amigos e partiram de limusine, a caminho da cobertura dos Foster. Mia e Amber sentaram lado a lado no banco traseiro, de mãos dadas, sem dizer uma só palavra. Apenas Kerr estava perto o suficiente para nota-las juntas; seu sorriso de satisfação pessoal estava lá, como uma tímida aprovação constatada a si mesmo.
A surpresa fora deixada para o final, assim como nas peças de teatro. A portas do elevador se abriram para a cobertura dos Foster, e no lugar de conforto, encontraram uma cena de crime. Não havia mais TV, cristais decorativos ou pinturas na parede. Não havia mais tapete, lustre e telefone. A sala de estar da família Foster fora resumida a dois sofás sem almofadas e uma mesinha de centro.
— Ai meu Deus... — Amber sussurrou, em nome de todos os presentes.
— O que aconteceu aqui? — Julianne deu dois passos à frente e virou para os filhos. — Aonde estão nossos móveis?
— Fomos roubados? — Kerr tentou assimilar. — Como isso aconteceu?
Ninguém arriscaria uma resposta. Além do vácuo deixado para trás, vários objetos quebrados encontravam-se espalhados pelo chão; vasos, taças de vidro, pratos de porcelana e garrafas de champanhe, como em um ato de vandalismo. Não deveria ser por acaso.
— Mãe, chame a polícia — Amber pediu.
— Esperem — Dhiego atentou para uma folha de papel pregada na parede com um pequeno canivete. — “Obrigado pelos presentes, vadia Strauss. Suas dívidas foram quitadas” — Leu em voz alta.
Mia sentiu cada olhar sobre seus ombros como se pudessem tocá-la. Arrancou a folha de papel das mãos de Dhiego e leu para si mesma.
— Isso é um absurdo. Eu não tive nada a ver com isso!
— Deixe-me ver — Amber tomou a folha de suas mãos.
— O que é isso na mesa? — Kerr se aproximou, ao lado de Dhiego.
O que pôde constatar colocando o dedo no pó branco os levaria ao próximo questionamento.
— É cocaína — Disse a todos. — Alguém usou drogas aqui.
Mia se viu novamente no centro das atenções. Não demorou muito para entender o que estava acontecendo.
— Mia, você... — Amber mal conseguia pronunciar as palavras certas. — Isso é por sua causa?
— O que?
— Pensei que você tinha parado. Você me prometeu que iria às reuniões.
— Eu cumpri minha palavra, não sei o que está acontecendo.
— Espera, você é viciada? — Kerr perguntou.
Julianne fechou a expressão.
— Você trouxe um traficante à minha casa?
— Por que você não me disse? — Amber tomou à frente. — Você prometeu que não haveria mais mentiras, e agora fomos roubados. Eu confiei em você!
— Eu não menti para você! Isso é um engano, e eu vou provar — Mia pegou o celular e arremessou a bolsa no sofá maior.
— O que você está fazendo?
— Ligando para a polícia. Não vou assumir responsabilidade por algo que eu não fiz.
Enquanto esperava na linha, Dhiego se aproximou do sofá com uma porção de cocaína escondida entre os dedos. Só precisou fingir vasculhar a bolsa de Mia para que a família Foster acreditasse que a droga esteve ali o tempo inteiro.
— Ai meu Deus! — Julianne colocou as duas mãos na boca.
Mia fitou Dhiego logo depois, o olhar espantado. Agora tudo fazia sentido.
— Se você está dizendo a verdade... — Dhiego levantou o saquinho a altura dos olhos. — O que estava fazendo com isto?
— Você sabe que isso não é meu.
— Estava na sua bolsa.
— Você está mentindo! — Mia gritou, apontando o dedo para ele. — Você é o verdadeiro responsável por toda essa encenação! — Olhou para Amber. — Ele me ameaçou. Disse que eu deveria ficar longe de você.
— Não acredito que você está me culpando. Tudo o que fiz desde que cheguei foi tentar ser seu amigo.
— Amber, me diga que não acredita nisso.
Amber olhou para cada um deles. Primeiro para Dhiego, depois para Mia. Lágrimas estavam prestes a escorrer pelos olhos sem a sua permissão.
— Você mentiu para mim uma vez — Disse à amiga. — E quase fomos presas.
— Você não confia em mim?
— Não é em você que eu não confio, é no seu vício. Ele a obriga a fazer coisas que não quer. Você acaba se tornando uma pessoa completamente diferente.
— Eu fiz tudo o que você me pediu! Tudo! — Agora era Mia quem estava prestes a chorar. — Mas parece que nem assim eu mereço o benefício da dúvida.
— Pare...
— Se servir de consolo, você não ouvirá mais nada de mim.
Mia agarrou sua bolsa e voltou para o elevador. Encarou a família Foster uma última vez com superioridade, mas foi só as portas se fecharem para desabar sobre si mesma. Não deveria ter subestimado Dhiego, nem do que era capaz para eliminar seus inimigos. E agora era ele quem regozijava de tudo pelo que havia lutado tão arduamente.
— Merda! — Repreendeu a si mesma ao deixar uma lágrima cair.
A Mia no espelho a sua frente não era a mesma de antes. As roupas caras e a maquiagem pesada não conseguiam esconder o quanto estava quebrada para continuar fingindo. Dhiego teria sido destruído num piscar de olhos se tivesse desafiado Nathaniel Strauss, pensou. Eu não sou meu irmão, e nunca serei. Eu não sou forte o bastante... Ou sou? No final do dia, era de Nate que precisava.
Deixou o edifício assim que as portas se abriram e pegou o primeiro táxi no acostamento. Pensou em dizer tanta coisa a caminho da mansão que nem imaginava a possibilidade de haver problemas maiores. E sempre havia problemas maiores.
Encontrou Nate e Judit na sala de estar, ocupando as poltronas beges da direita. No sofá maior havia três homens de terno e gravata; um deles pôde reconhecer como o advogado da família que sempre livrava Nate de suas confusões. Se o clima pesado não lhe dissesse que algo estava errado, as expressões desesperançosas de todos eles teriam dito.
— Oi — Sussurrou. — O que está acontecendo?
Nate respirou fundo antes de responder.
— É a mansão. Precisamos nos mudar.

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4x08: You Ruin Me (12 de Março)
Peço perdão pelo atraso. Fiquei sem internet por algumas horas e só consegui resolver o problema agora, às 23:40. Semana que vem prometo que o capítulo sairá no horário normal. Pelo nome vocês já devem ter ideia do que pode acontecer, né? O coração de alguém está prestes a ser destruído. Nate? Jensen? Mia? Amber? Ou Alex?
  
Agora fiquem com meu dreamcast de Dhiego Foster, nosso novo vilão. Tão gato e tão manipulador. Nos Hamptons não há quem não seja.
Comentário(s)
4 Comentário(s)

4 comentários:

  1. O mundo quase se acabando e o Alex só quer saber de farrear, lindo isso.
    Gente esse Dhiego é escroto demais, espero mesmo que a Mia dê um jeito de fazer ele pagar por tudo isso. E tenho certeza que ela tem capacidade pra fazer isso sem o Nate.
    Adorei aquele momento do Andy com a psiquiatra. Além de ter um gosto do passado do personagem — quer dizer, se aquela história que ele contou for verdadeira, né — ainda ri bastante com a fuga dele do consultório.
    Quanto ao Thayer, aparentemente só me resta esperar pra que ele fique bem. Tô orando pro personagem não morrer, gosto dele, apesar de algumas atitudes que não concordo muito. Mas acho que isso é o principal ponto forte da história, nenhum personagem está isento de cometer erros, muito pelo contrário.
    Agora só no próximo sábado pra saber como isso vai se desenrolar. É uma tortura esperar, só pra constar kkkkkkk

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    1. Esse capítulo foi bem dividido mesmo. Todos tiveram seu momento (alguns mais dramáticos que outros). E posso dizer que fiquei muito satisfeito em dar destaque pro Andy dessa vez. É aquele personagem que sempre ta ali, mas nunca faz algo, de fato, hahaha. A última vez que ele brilhou foi quando forjou a morte do Nate e ownou o Justin, na segunda temporada.
      Eu também fico triste por só sair um capítulo por semana. Cara, é a minha temporada preferida, queria que vocês soubessem o que vai acontecer logo de uma vez hahahaha. Authors and Readers problems D:

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  2. First of all: O.M.F.G.
    Eu sabia que Dhiego seria problema, mas não nesse nível! O que me consola é a quase certeza de que ele vai ter o que merece seja pelas mãos de Mia ou pelas mãos do nosso King, Nate. Aliás, que saudades que me deu de Nate em destaque nesse capítulo. Pelo menos eu posso agradecer por não ter havido nenhuma cena Theon+Nate pra fazer com que eu me sinta culpado por sentir uma tensão sexual forte entre Nate e o pirata sexy hahaha. Meu, que saudades do nosso america's boyfriend Jensen, acho que quando ele finalmente aparecer, eu vou beijar a tela do celular. Só de pensar que The Judges tem sido colocado "na espera" nesses últimos capítulos, eu tenho certeza — e medo — de que o que vem por aí vai ser tiro, porrada e bomba. Tô muito feliz pela mudança do Alex, acho que finalmente ele encontrou a si mesmo, mas mal posso esperar saber a reação dele quando descobrir sobre Thayer.
    Socorro! Essa temporada tá a todo vapor!!!

    — Hazza (O anônimo do episódio passad).

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  3. Hazza você arrasa hahaha <3
    Dhiego VS Mia é um plot que pretendo desenvolver muito em breve. Mia só precisa de um pouco mais de tempo pra começar a retaliação de modo que, no final, ainda tenha Amber.
    Agora que você falou, realmente, Jensen ta meio sumido. Mas nada do que está acontecendo tem a ver com ele, de fato. Vi aqui que ele aparece no próximo, e depois disso ele também vai ter um pequeno plot só dele.
    E você está feliz pela mudança de Alex? Deve ser o único, porque todo mundo aqui o odeia hahahaha. Não sei se ele realmente se descobriu, mas temos que esperar pra ver as consequencias de seus atos.
    Até semana que vem, Hazza <3

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