[Livro] The Double Me - 4x05: The Dog Days... Whatever [+18]
CURTA A PÁGINA OFICIAL DO LIVRO NO FACEBOOK CLICANDO AQUI
4x05:The Dog Days... Whatever
“Entre a felicidade e amargura há uma frágil
linha tênue”.
— Agradecemos por tudo — Judit mostrou-lhes um
sorriso cansado.
— Tenha uma boa noite — Um dos policiais acenou
com o chapéu antes de irem embora.
Com a porta trancada, ela fez o caminho de
volta à sala de estar. Ainda estavam todos lá; Alex e Mia no sofá maior, Frank e
Lydia no menor. Olhares perdidos em meio ao silêncio oportuno.
— Eles se foram — Disse Judit. — Mas seria
prudente deixarmos a mansão até o término das investigações.
— Podem ficar em minha casa — Frank entoou. — O
que você acha, Alex?
— Eu não me importo — Respondeu o garoto em
tom penoso. Nos ombros fora posto um cobertor de lã grossa, nas mãos tremeluzia
uma xícara de chá que sequer havia provado.
Judit atentou para Frank, do outro lado do
sofá.
— E a imprensa?
— Contida. Estão noticiando apenas o que
permitimos.
— Boa sorte com isso — Alex sorriu em uma
mistura de deboche e tristeza. — Em apenas uma semana, duas pessoas foram
assassinadas dentro desta mansão. Sua censura não servirá de nada contra esta
mídia esfomeada.
— Ele está certo — Mia concordou, talvez
contra sua própria vontade. — Precisamos fazer um comunicado antes que isto vá
longe demais. A partir do momento em que virem um de nós como suspeito...
— Não verão — Abonou Judit. — Nos
certificaremos disso.
Sobre a importância de sua imagem pública,
Alex não tinha nada a declarar. Levantou de maneira brusca e jogou o cobertor
para o lado.
— Preciso sair daqui... — Olhou ao redor em
busca de suas chaves.
— Alex? — Judit se aproximou com cautela. — Tem
certeza que precisa ir?
— Estou bem, não precisam se preocupar.
— Alex, não é uma boa ideia... — Mia
interveio.
— Eu não me importo, cuide da sua própria
vida.
— Não tente me afastar, estamos nessa juntos.
— Não posso ficar aqui! — Alex gritou. — Não
posso ficar no lugar em que eu... Toda vez que fecho os olhos eu vejo...
— Você fez para salvar a vida de nosso pai.
— Não, eu matei um homem com as minhas
próprias mãos! Olhei em seus olhos, o vi agonizando até o último momento, e
tudo o que eu queria era me sentir mal por isso, mas não sinto. Que espécie de
pessoa não se sente mal por assassinato? Que espécie de pessoa tira conforto e
segurança da morte? Estou tentando, realmente estou...
— Tudo bem, nós entendemos — Mia levantou. — Podemos
leva-lo aonde quiser, só queremos que você espere Nate e Thayer para...
— Ai meu Deus, Thayer... — Colocou a mão na
testa, preocupado. — Nós tínhamos... eu esqueci completamente. Preciso ir,
sinto muito.
E ninguém mais foi capaz de pará-lo. Lydia, contudo,
parecia lidar de maneira compassiva com este dilema.
— Ele ficará bem — Disse a todos. — Um pouco
de solidão é tudo o que precisa.
— Como você sabe? — Judit perguntou.
— Ele é o irmão gêmeo de Nathaniel Strauss.
Como não saber?
Naquele momento, Lydia só estava parcialmente
certa. Alex saberia tirar proveito da solidão quando fosse a hora, mas apenas a
companhia de Thayer o faria ver tudo com mais clareza.
Caminhou apressado até o carro ao lado do
chafariz e abriu a porta do motorista. Para sua surpresa — e alívio —, havia
deixado as chaves na ignição. Girou-as uma vez no sentido horário e saiu pelo
portão.
O caminho até o apartamento de Thayer fez-se duradouro
tanto na estrada quanto a sua percepção. Ultrapassando alguns sinais vermelhos,
conseguiu chegar a cidade em menos de uma hora. Nate e Thayer, como de costume,
acabaram escolhendo uma péssima noite para não atender o celular. Havia tentado
entrar em contato quatro vezes com cada um quando decidiu que estava cansado de
ouvir a secretária eletrônica.
— Merda! — Arremessou o celular no banco.
Chegando finalmente, estacionou o carro no
acostamento e seguiu em direção a porta. A pressa foi tanta que nem houve tempo
para cumprimentar de volta o simpático porteiro que lhe recebeu com um sorriso
no rosto. Os elevadores, porém, o fizeram interromper seu trajeto. Por um
momento havia esquecido de suas limitações, e no outro já havia lembrado.
Não há nada
a temer, dizia a si mesmo em pensamento, com
o olhar inquieto sobre as portas de metal. Nada
irá acontecer, é apenas um elevador... E então Brett estava lá novamente; a
princípio, segurando uma foice, e depois coberto de sangue. Agora você vai pagar pelo que fez ao meu
irmãozinho, ouviu-o dizer. E depois ouviu os próprios gritos.
— Senhor Alex, está tudo bem? — O porteiro
perguntou.
— Sim — Alex respondeu. — Usarei as escadas.
Nada mais lhe restou a fazer. Abriu a porta do
vagão de escadas e subiu até o andar de Thayer, assim como em todos os outros dias.
Lá em cima encontrou o namorado recolhendo pratos e talheres de uma mesa
decorada e levando até a pia junto de uma sacola de lixo. O ambiente não
deixava dúvidas: Havia se atrasado para uma noite especial.
— Thayer... — Sussurrou. — Eu sinto muito, aconteceu
u...
— Não importa, Alex — Disse em tom indiferente
enquanto limpava a bagunça do balcão da cozinha. — A comida já foi para o lixo.
— Thayer, algo aconteceu. Eu não sei o que
fazer.
— Algo sempre acontece no Fantástico Mundo de
Alex, não é? — Thayer o fitou. — Quem sou eu para me opor?
Alex não sabia o que dizer. Não podemos brigar, pensou. Por favor, não agora...
— Eu posso explicar.
— Não importa — Thayer atirou a sacola na
lixeira e contornou o balcão de volta até a sala de estar. — Estou cansado de
esperar por você.
— Você nem está me deixando falar...
— Para que? — Thayer virou para encará-lo, em
frente a vidraça. — Para me dar desculpas? Para justificar as mentiras que você
conta quando sai para encontrar Cameron? O quão idiota você acha que eu sou?
— É isso o que você pensa de mim?
— Eu não sei o que pensar! Você está se
tornando uma pessoa completamente diferente a cada dia que passa e eu não sei
mais se ainda tem espaço para nós!
Alex assentiu, as lágrimas presas na ponta dos
olhos. Amor e raiva... nunca saberia dizer ao certo o que estava sentindo.
— Você acha que estou fodendo com Cameron?
— Acho que você deveria ir embora. Nada de bom
sucederá esta conversa.
— Quando esquecemos a confiança?
— Alex...
— Quando esquecemos a confiança? — Alex
gritou. — Por que é tão mais fácil para você acreditar que eu sou um monstro a
confiar em mim?
— Desde que Cameron apareceu...
— Foda-se Cameron! Isso é sobre a sua
insegurança, não ele.
Thayer suspirou, com as mãos na cintura e a
cabeça erguida para o alto.
— Não quero mais ter essa conversa. Esse
jantar era muito importante para mim e você me decepcionou.
— Você está decepcionado consigo mesmo, não
comigo — Disse Alex, passando por ele. — Dormirei em um hotel. — E bateu a
porta.
Do lado de dentro, Thayer caminhava inquieto pelo
tapete, tentando entender o que havia acontecido. Do lado de fora, Alex seguia
em direção ao vagão de escadas, que se fez no esconderijo perfeito para escapar
de seu mundo. Só então permitiu-se chorar descontroladamente como havia querido
desde o começo. Socou a parede meia dúzia de vezes em busca de conforto, proferiu
maldições ao universo, mas sua fúria lhe era tão inútil quanto as palavras.
Para onde iria? Thayer era o único que gostaria
de ter ao seu lado. Como consequência, era o único que não poderia ter. Nate
tinha problemas demais para se preocupar com o irmão problemático, e Mia... Mia
nunca iria entender. De qualquer maneira, não poderia voltar a mansão depois de
tudo o que aconteceu. E se Brett e George o seguissem para onde fosse, só havia
uma maneira de se salvar.
Enxugou as lágrimas, ajeitou a roupa e desceu
ao primeiro andar. Don, o porteiro, novamente havia notado sua perturbação.
— Senhor Alex, o senhor está bem?
— Sim — Alex fungou. Os olhos vermelhos diziam
exatamente o contrário. — Só preciso de um pouco de ar, não se preocupe.
— O senhor Thayer fez alguma coisa?
— Não tem nada a ver com ele. Agora preciso ir,
obrigado por perguntar — Forçou um sorriso antes de partir.
Seu destino continuava incerto quando saiu com
o carro. O mesmo raciocínio de minutos atrás foi efetivado dezenas de vezes, apenas
para constatar a estaca zero que o havia seguido. E a única peça de fora da
equação, de repente, parecia servir como um refúgio temporário. O que Cameron
diria quando abrisse a porta e o visse parado no meio do corredor? Alex estava
prestes a descobrir.
Estacionou o carro, atravessou a rua e
adentrou o edifício. Subiu as escadas até o quinto andar, onde a família Ridell
havia comprado uma suíte. Era o quarto cinquenta e um, se não estava enganado.
Bateu duas vezes e esperou no mesmo lugar.
Um Cameron sem camisa e despenteado atendeu a porta.
A calça cinza de algodão e o olhar exausto não negavam que era uma péssima
hora.
— Eu não sabia mais para onde ir... — Alex disparou.
— Okay — Sem se importar em fazer perguntas,
Cameron se afastou para que ele entrasse.
Era a primeira vez que Alex conhecia o covil de
Cameron, como o mesmo gostava de enfatizar. Combinando a sofisticação
imobiliária e o desmazelo de seu dono, era difícil dizer se transmitia conforto
ou um grande incômodo. Na verdade, era exatamente o que achava do próprio
residente. Poderia lamentar sua presença de maneira oscilante até que se
sentisse confortável ao seu lado. Dentro de um carro de corrida, a duzentos
quilômetros por hora, não precisava de nenhum esforço.
Este poderia ser um dos raciocínios mais
contraditórios a qual fora direcionado desde que admitiu que seus pensamentos não
o deixariam em paz. Admirava Cameron no que dizia respeito ao que tinham em
comum, mas agora precisava provar do seu oposto; uma companhia distinta que
desconsiderava traumas, erros e o passado; perguntas, respostas e decisões. Por
uma noite, poderia finalmente não se importar. Por uma noite, poderia estar
sozinho sem realmente estar.
Alex caminhou pelo tapete da sala de estar e
sentou no sofá, de frente para a TV.
— Quer tomar alguma coisa? — Cameron perguntou
enquanto caminhava.
— Álcool.
— Sim, eu imaginei.
Alex pôde ouvir cada passo seu em direção a
cozinha. Um instante depois estava de volta com duas garrafas de vodka em mãos.
— Aqui — ofereceu uma delas a Alex.
— Não tem copos?
— Você está no Covil do Cameron. Fodam-se os
copos.
Alex tomou posse da garrafa e se arriscou em um
gole ousado. O chamuscar de sua garganta era um abrandar de paz e espírito.
— É disso que estou falando — Cameron
sentou-se ao seu lado, todo esparramado no sofá.
— Aonde está seu pai?
— Na mansão. Ele nunca vem aqui.
— É por isso que você não limpa?
— Há pessoas que sobrevivem limpando a sujeira
de homens ricos. Não seria capaz de tirar esta oportunidade de suas mãos.
Alex deu um ar de risos debochado.
— Você é a porra de um sociopata.
— É por isso que você está aqui? Isso te
excita?
— Eu matei um homem hoje... — Hesitou com a enxurrada
de lembranças. Logo em seguida, encontrou o olhar curioso de Cameron. — Matei
para salvar a vida do meu pai.... E a minha.
— Ai meu Deus... estão todos bem?
— Sim.
— Okay. Não foi culpa sua.
— É, eu ouço muito isso.
— Como você se sente?
— Eu me sinto... Livre — Alex fitou o nada
outra vez. — E sozinho. Caralho, eu estou uma bagunça... — Suspirou, com uma
das mãos sobre o rosto.
Cameron pôs um braço em sua volta como em
consolação.
— Hey, não vá por esse caminho. Você sabe que
não tem volta.
— Como eu poderia ao menos seguir em frente?
— Você não segue, apenas vive...
Alex digeriu cada palavra proferida a seu
tempo. Havia algo em seu tom de voz e na proximidade que lhe causava arrepios;
havia algo nos batimentos acelerados de seus corações, tão perto daquele jeito.
Olhando em seus olhos, a sete centímetros de distância, finalmente notou a
concretização de seus temores. E então veio o beijo suave e delicado que o
deixou roubar...
— Não... — Afastou-o com os braços, extasiado
da cabeça aos pés. — Eu não posso...
— Pegue no meu pau — Cameron levou sua mão até
o volume de sua calça. — Não é isso que você queria? — Sussurrou em seu ouvido.
— Não é por isso que você está aqui?
Alex respondeu com um gemido. Desejava mais
que o simples toque; queria tê-lo dentro de sua boca, de encontro com o seu, estocado
com todas as forças. A dor estaria lá, e talvez nada pudesse impedi-lo de ser
um tanto masoquista.
— Cameron, não...
— Vamos fazer isso juntos...
Alex gemeu outra vez enquanto sentia seus
lábios percorrerem do pescoço ao peitoral. E quando estava prestes a se
entregar, Thayer lhe veio à mente. Não estava lá por ele no momento em que mais
precisava... mas se algo acontecesse com Cameron, Thayer nunca mais estaria lá.
— Não! — Alex o empurrou para o lado,
levantando-se do sofá. — Deixe-me em paz! — E saiu correndo pela porta.
— Alex! — Cameron gritou. Sabendo que não
voltaria, decidiu segui-lo.
Alex teria uma boa vantagem em sua fuga se não
tivesse trocado os elevadores pelas escadas. Cameron só precisou apanhar um
deles e esperar a descida. Saiu pelas portas de metal no instante em que o
outro passava pela portaria.
Quando finalmente superou a distância que os
separava, segurou-o firmemente pelo braço. Um segundo a mais e Alex teria
entrado no carro para nunca mais voltar.
— Não me toque! — Alex se livrou com um puxão.
— Me desculpe pelo que aconteceu, eu não
queria ter ido longe demais.
— Qual o seu problema?
— Eu pensei que estávamos na mesma página.
— Eu tenho um namorado.
— E por que não está com ele agora?
Alex debochou com um ar de risos.
— Você é inacreditável. Realmente acha que
estou aqui para ser sua diversão momentânea?
— Culpe-me pelo que quiser, menos por gostar
de você. Não vou me desculpar por acreditar que tinha uma chance.
Alex estremeceu. Era isso o tempo inteiro? Por
isso provocava tanto?
— Se você pensa que eu vou cair nessas...
— Não, Alex, por favor — Cameron deu um passo à
frente e tocou sua mão. Estavam novamente próximos demais, entre as faíscas e a
negação. — Não é uma brincadeira. Guardei isso para mim durante todo esse tempo
porque respeito sua relação com Thayer. Quando você veio aqui, não soube o que
fazer.
Ao longe, uma câmera começava a registrar
discretamente o clima que se formara entre os dois. Clique após clique, frame por frame. Alex e Cameron nem desconfiavam que tinham companhia.
— Você tem uma maneira bem perturbadora de
demonstrar que se importa — Alex murmurou como em acusação.
— Você me conhece.
Sem perceber, Alex acabou analisando-o em
silêncio.
— Não quero machucá-lo, Cameron — Disse então.
— Mas sou comprometido. Uma briga não me dá direito de desrespeitar o que
Thayer e eu temos.
— Eu imaginei que você diria algo assim.
— Agora preciso ir... — Aproximou-se do carro
com dois passos curtos.
— Precisa mesmo?
— Sim.
— Posso te ligar?
Alex tirou um instante para refletir.
— Sim, tudo bem — Respondeu apressado, sem
poder disfarçar o constrangimento no olhar. Cameron soube no mesmo instante que
era uma mentira.
— Okay. Te vejo depois.
Enquanto o via partir, passo a passo, e então
metro a metro dirigindo seu Mercedes,
Cameron perguntou a si mesmo se aquela seria a última vez. A resposta bateria a
suas portas como se fosse convidada; bastava os registros do fotógrafo
misterioso cair em mãos erradas.
൴
O tempo corria depressa envolto à sala do
Presidente. Duas horas de análise tornaram-se quatro; quatro horas tornaram-se
uma tarde inteira; e uma tarde inteira incidiu ao fim do expediente. Agora Nate
precisava de ajuda se quisesse estar em casa antes da meia noite.
Chamou a secretária pela linha principal e
pediu que convocasse Theon a seu encontro enquanto revisava os últimos
documentos do dia. Estava estonteante, como sempre, em seu terno marrom e
gravata alaranjada. Fizera do tapa-olho um charme natural, e agora pouco dizia
sobre o homem de barba aparada e sorriso cortês que todos aprenderam a amar. Uma
máscara, Nate sabia. Apenas uma máscara.
— Senhor Presidente — Theon o abordou cheio de
falsas simpatias e olhares astutos.
— Sente-se, por favor — Nate fez menção à
poltrona a sua frente com as folhas de papel que segurava.
— Estou bem, obrigado — Cruzou os braços em
frente ao corpo.
— Muito bem. Precisarei de um representante no
Bel Air para a reunião de vinte e duas horas. Suas credenciais me dizem que
você é a pessoa certa para isso.
— Com todo respeito, Senhor Presidente, não é aconselhável
enviar outro homem em seu lugar. Sua presença dará mais credibilidade e
conforto a causa e seus organizadores.
— São todos homens feitos, Senhor De Beaufort.
Compreenderão minha ausência.
— Neste caso, seria uma honra.
— Na sua posição, é claro — Nate
contra-atacou, cheio de veneno. — Esteja lá na hora marcada.
Theon sorriu discretamente para si mesmo. Admirava
a crueldade de Nathaniel Strauss em sua forma pura e amarga, mas a arrogância
era o que mais o excitava.
— Posso perguntar o motivo de sua ausência?
— Diga-me você, Theon — Nate jogou as folhas
em cima da mesa e recostou-se na cadeira giratória. — É uma noite apropriada para
ouvir que está enganado... outra vez?
— Depende. Sua informação tem fundamentos ou
você contará apenas com seu vocabulário?
— Um ano atrás, quando eu estava no avião, prestes
a chegar à Nova York, Quentin me perguntou porque eu havia decidido mostrar meu
rosto a meus inimigos ao invés de destruí-los sem que ao menos soubessem que eu
estava lá. Disse, com estas mesmas palavras, que eles mereciam conhecer e temer
o monstro que criaram. Não era uma mentira naquela época, mas agora... agora eu
entendo. Não queria ser o justiceiro que os derruba nas sombras. Queria
olhá-los nos olhos, queria que soubessem que eu estava à espreita, queria que
temessem meu nome, meus passos, minhas palavras... Mas acima de tudo, queria
que soubessem que fui eu, o garoto menosprezado, que os fez comer a lama dos próprios
sapatos. O quanto você acha que eu sei sobre tudo o que acontece a nosso redor?
Theon permaneceu quieto. Diante da verdade,
nenhuma de suas defesas seria eficaz.
— É por isso que você está aqui, não é? — Nate
continuou. — Para que eu saiba que você é o responsável por minhas derrotas e
viver com isso o resto da minha vida. Um bom motivo para envenenar pessoalmente
meu relacionamento com Jensen e tentar me fazer acreditar que só estamos juntos
porque o antigo Nate já não mais existe. Deu certo por algum tempo, preciso
confessar. Mas agora, a apenas uma hora de uma oficialização informal, não
passa de uma especulação sem sentido que concordamos em deixar para trás... A
não ser que você se oponha a essas diretrizes e planeje insistir no mesmo
tópico de abordagem.
Theon precisou de alguns momentos para digerir
seu discurso, e então estava pronto para se recompor.
— Oficialização? Você quer dizer, noivado?
— Planejamos passar a vida inteira juntos,
Theon. Por que não começar agora?
— Se este for o caso... — Theon deu um passo
para o lado, coçando a sobrancelha com o mindinho direito. — Parabéns. Fico
feliz em saber que superaram as desavenças e decidiram prosseguir em uma
relação madura. Como vocês dizem na América? Os dias de cão... Tanto faz. É
apenas uma expressão. E nada mais diz que que a felicidade e a amargura formam uma
frágil linha tênue.
— Devo me preocupar se há uma mensagem oculta
em sua poesia?
Com um sorriso afável estampando o rosto, Theon
caminhou até a mesinha de bebidas, à esquerda da sala. Se havia um momento
oportuno para revelar sua carta na manga, este havia chegado.
— A escolha é sua — Sussurrou enquanto
preparava uma bebida; gelo e whisky em um copo raso de vidro. — Mas há sempre
dois lados de uma mesma história.
— De qual lado você quer me convencer?
— O nome Abigail Phillips significa alguma
coisa para você? — Theon virou para encontrar os olhos confusos dele. — Como eu
imaginei. Abigail Phillips era uma das psiquiatras mais prestigiadas do estado,
conhecida por tratar um grande número de celebridades e pelas generosas contribuições
a entidades de saúde mental. Porém, cinco anos atrás, foi acusada de registrar
em vídeo suas sessões e teve o diploma cassado. Estima-se que, dos anos noventa
até o momento de sua prisão, Abigail tenha registrado pelo menos trezentas
sessões de maneira ilegal em seu consultório, mesmo que apenas duas das fitas
tenham sido encontradas.
— Parabenizarei o estado de Nova York por sua
prisão. Isso é tudo?
— Eu não sei. Jensen não era um de seus
pacientes, ou estou enganado?
Theon finalmente viu a defesa de Nate vacilar.
Aquilo era dúvidas em seus olhos, muito mais do que o suficiente para saciar
sua sede.
— Esta é sua grande jogada? — Nate respondeu.
— Um vídeo que esclareceria todas as minhas dúvidas, mas que pode ou não
existir?
— A essa altura você já deve saber que está
jogando sozinho — Theon deixou a bebida de volta na mesinha e fechou os botões
de seu terno. — A questão é: Conhecerá suas peças ou arriscará o próximo
ataque? Se me permite dizer, ignorar as evidências seria uma grande imprudência
da sua parte.
— Tenha uma boa noite, Senhor De Beaufort.
— Você também, Senhor presidente — Theon deu
alguns passos em direção a porta, mas virou para uma última palavra. — E diga a
Alex que eu sinto muito pelo que aconteceu. Ele é forte, vai conseguir superar.
— Superar o que?
— Você não tem visto o noticiário? Ou checado
o celular? Bom, tanto faz. Tenho uma reunião.
A preocupação de Nate não o deixou perceber o
momento em que Theon havia ido embora. Apenas tirou o celular do bolso e
amaldiçoou a si mesmo por tê-lo desligado. “Trinta ligações perdidas” — Leu no
visor. Todas de Alex, Judit ou Mia. O acontecido estava descrito nas mensagens
de texto que a irmã enviara quando desistiu de ligar.
“Atenda o celular! Brett fugiu da prisão e
atacou Alex. Precisamos de você!”.
— Ai meu Deus... — Nate levantou de súbito,
como se tivesse sido atingido.
Infelizmente, Theon não estava presente para
ver de camarote sua reação. A única coisa que lhe sobressaia a falta de
oportunidade era saber que tudo havia ocorrido como o planejado. Estava no
estacionamento do edifício quando recebeu a última ligação da noite.
— Está tudo bem?
— Gus está traumatizado para o resto da vida...
— Tara respondeu do outro lado da linha, os lábios avermelhados de batom. Em
sua limusine particular, o doce aroma de charuto inglês agradava-lhe às
vontades. — Mas sim, tudo saiu como o planejado.
— Ótimo. Prepare-se para o que está por vir.
— Seu pai estaria orgulhoso se estivesse aqui.
— Você está?
— Você é meu filho — Ela disse com firmeza. — É
homem que eu criei para ser.
— Vamos pegar alguns Strauss, então.
Dizem que amor de mãe é eterno. Para os De
Beaufort, apenas se for uma questão de sangue.
Next...
4x06: Love Me Like an Enemy (27 de Fevereiro)
Essa semana peguei leve com vocês, mas na próxima teremos um pouco de lágrimas. Qual "navio" vai afundar?
Post a Comment