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[Livro] The Double Me - 4x04: This is a Bad Town for Such a Pretty Face [+18]

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4x04:This is a Bad Town for Such a Pretty Face
Eu o atrairei para a escuridão”.
   
A manhã seguinte trouxe todo o incentivo que Thayer precisava para retomar sua rotina. Acordou às seis em ponto, exercitou-se na sala de aparelhos, escolheu um dos ternos em seu closet e desceu à portaria. O sol brilhava do lado de fora sob uma agradável brisa de verão. Nem quente, nem frio; porém, luminoso e cheio de vida. De tanto sua vontade insistir, dispensou o motorista particular e decidiu fazer o caminho a pé.
Algo havia mudado, ele sabia. Nate atribuiria seu bom humor a seus conselhos, mas não seria justo desconsiderar a ótima noite de sono que tivera. Pela primeira vez — desde que teve em mãos os resultados de seus exames —, estar sozinho não era uma opção. Theodor e Sophie cuidariam de Travis e Monica voltaria à Alemanha junto de sua família. Se tivesse que renunciar a seu cargo de vice-presidente, seria apenas um dano colateral. Qualquer coisa permaneceria suportável se Alex estivesse lá.
Para dar-lhe esta chance, tudo deveria acontecer exatamente como o planejado.
— Hey — Disse ao celular quando o namorado atendeu.
A aglomeração do outro lado da linha despertou sua curiosidade. Ouvia impressoras, ordens gritantes e apitos dial-up que sempre indicavam falha na conexão. Este era mais ou menos o cenário onde Alex se encontrava; uma sala gigantesca com cubículos estreitos que fora designada ao árduo trabalho de funcionários estressados. Muitas exigências para poucos funcionários e o caos havia se instalado.
— Thayer, péssimo momento! — A voz de Alex soou alterada.
— O mundo está acabando por aí?
— Metaforicamente, sim — Moveu uma carrada para a pilha de revisados à esquerda de sua mesa. — Ou talvez não tão metaforicamente.
— Você quer que eu ligue mais tarde e te convide para jantar? Porque não foi desse jeito que imaginei esta conversa.
— Jantar? — Alex pareceu repentinamente interessado.
— Hoje à noite, meu apartamento. Te pego às sete?
— Sim... Quer dizer, não. Quer dizer, sim para o jantar e não para vir me buscar. Fiquei de encontrar Judit na mansão assim que terminar o expediente. Te vejo às sete e meia?
Thayer sorriu aliviado.
— Está marcado. Traga vinho; um da adega Strauss viria a calhar.
— Você sabe que sempre quis ser preso por furto — Alex brincou. — Até lá.
— Até lá.
Thayer encerrou a chamada com apenas um clique. Parando em frente a um sinal vermelho, junto de alguns pedestres, decidiu ligar para Nate.
O gêmeo de olhos verdes fumava confortavelmente na poltrona do presidente quando recebeu a chamada.
— Hey, como está?
Thayer fez uma careta ao notar seu tom de voz compassivo.
— É assim que vamos nos tratar daqui pra frente? Eu meio que gostei da sua preocupação.
— Vai tomar no cu. Você está bem?
— Eu não sei... Alex e eu jantaremos esta noite.
— Thayer, você precisa contar a ele.
— Esse é o plano. Como é que eles dizem? Baby steps?
— Seu senso de humor é adorável — Nate soltou uma rajada de fumaça.
— Talvez seja porque não estou planejando morrer esta noite. Na verdade, liguei para pedir um favor. Sabe o que acontece quando um cara machista que não entende sobre arranjos planeja um jantar romântico?
— Ele vai para casa se divertir sozinho com o Johnny Boy e abusar do Netflix?
— Exatamente — Thayer desviou de uma mulher de sobretudo negro que caminhava distraída. — Seu auxílio é essencial para que esta noite dê certo.
Nate tomou seu tempo para refletir, mesmo sabendo exatamente o que precisava fazer.
— Enviarei a você meus super-heróis. Espero que se dê bem, Guadalajara — A entrada repentina da secretária fez com que se apreçasse. — Preciso ir agora, espere pela minha mensagem.
— Tudo bem.
Thayer tirou o celular da orelha após encerrar a chamada e observou o visor. Um suspiro incidiu naturalmente ao visualizar a foto de Alex. Havia alguém por quem viver agora... E estava pronto para lutar.


O brunch da família Dunham reuniu pelo menos cinquenta membros da nobreza nova-iorquina no salão de festas do Strauss City. Entre eles, os membros cordiais da família Foster, sucinta aos moradores do flet no Upper East Side. Amber, em seu vestido rosa claro com textura preta; Kerr em seu terno branco e gravata borboleta; Julianne Foster, a mãe dos pequenos herdeiros; e Franklin, o irmão do patriarca que estava cada vez mais próximo dos sobrinhos. Algo sobre a herança milionária que passava despercebido aos olhos de todos.
Após a saída repentina do irmão e do tio, Amber teve unicamente a companhia de sua mãe. Havia uma mulher forte e determinada por trás do seu vício em comprimidos e das incontáveis cirurgias plásticas. Era uma pena que só aparecia em eventos públicos, e apenas para manter a boa imagem.
Mia fez sua entrada às nove, assim como prometido. Usava um vestido amarelo escuro com um laço preto na cintura e saltos que decoravam os tornozelos como gargantilhas decorariam um busto. Os cabelos foram jogados sobre o ombro esquerdo, deixando à mostra apenas uma parte de seu decote discreto; e a maquiagem escolhida com prudência para causar o efeito desejado entre o preto e a cor de sua pele.
As mulheres Foster falavam sobre música clássica quando se aproximou.
— [...] Não se esqueça de Bahc, Handel e Mendelshon — Murmurou Julianne em sua voz de veludo. — Para que limitar-se a Beethoven?
— E por que não Vivaldi? — Mia intrometeu-se. — Um principiante não veria dificuldades em reproduzir suas técnicas de contrastes harmônicos enquanto aprende.
— Mia, querida — Julianne aproximou-se para cumprimenta-la com um beijo em cada bochecha. — É bom vê-la outra vez.
— Igualmente, Senhora Foster.
— Seus pais também virão?
— Já estão a caminho.
— Estou surpresa. Desde que o novo affair veio a público, tem sido difícil ver Judit em algum evento.
— Okay, mãe — Amber interrompeu a conversa de maneira nervosa. — Mia e eu iremos nos servir. Voltamos logo.
Julianne bebericou mais um gole de champanhe e voltou a atenção aos outros convidados enquanto as duas se distanciavam. Pararam ao lado de uma das estátuas de mármore que tomava a forma de um Deus grego.
— Isso foi... estranho— Mia sorriu.
— Desculpe, é a abstinência.
— Ou o champanhe — Podia ver Julianne em frente à mesa, servindo-se de mais uma taça.
— Sim, mas enfim. Obrigada por ter vindo. Pelo menos não ficarei sozinha com minha mãe a manhã inteira.
— Na verdade, tem algo que você precisa saber — Mia olhou brevemente para ambos os lados. Só decidiu continuar quando constatou que não havia ninguém por perto para ouvi-las. — Algo aconteceu no jantar da família Van Der Wall ontem à noite. Travis e Thayer se envolveram em uma briga e está tudo uma bagunça. Estão dizendo que Thayer será exonerado do seu cargo de vice-presidente.
— Mas o que aconteceu?
Mia suspirou, tentando encontrar as palavras certas.
— Travis acusou o irmão de ter-lhe abusado sexualmente quando eram crianças.
— Ai meu Deus — Amber sussurrou em tom aflito, a testa franzida. — Isso é grave.
— Eles eram apenas duas crianças, Thayer não teve culpa.
— Mesmo assim. Se isso vier a público, pode ser o fim do império Van Der Wall.
— É por isso que você não pode contar a ninguém. Nem mesmo ao seu irmão.
— Você pode confiar em mim. Estarei aqui para ajudar, se for preciso.
— Tudo bem.
Com a promessa feita, Mia começou a contar todos os detalhes da conversa que teve com Nate na noite anterior, logo depois de ajuda-lo a levar Thayer para seu apartamento. Amber escutou atentamente sua história, detalhe por detalhe, mas só até notar velho conhecido próximo a mesa de petiscos, que chamou sua atenção de imediato. Cabelos curtos, pele negra, terno marrom e gravata lilás. Mal podia acreditar que estava logo ali, a seu alcance, depois de tantos anos sem dar notícias.
— Só um minuto — Pediu a Mia. Caminhou até o homem de terno e tocou seu ombro. — Com licença?
Quando virou, teve certeza de que não havia se enganado. Era ele. Contra todas as probabilidades, era ele.
— Dhiego? — Ela exclamou.
— Amber?
— Ai meu Deus! — Correu para um abraço.
Mia já estava perto o suficiente para ouvir a conversa e desconfiar do que parecia ser um improvável reencontro.
— Eu senti tanto a sua falta! — Amber se afastou. — Por que não me ligou?
— Passei os últimos quatro anos desenvolvendo um projeto na África para ajudar crianças carentes. Isolamento total.
— Ai meu Deus, isso é incrível!
— Sim, é mesmo — Dhiego finalmente notou Mia a alguns passos.
Percebendo seu interesse, Amber tratou de iniciar as apresentações.
— Ah, sim. Dhiego, esta é Mia, minha melhor amiga — Olhou para ela. — E Mia, este é Dhiego, meu primo.
— Primo? — Mia parecia confusa. Dhiego estendeu a mão em cumprimento e ela correspondeu.
— Sim, primos — Amber confirmou. — Dhiego é filho de tia Nicole, a irmã de minha mãe.
Era a primeira vez que Mia ouvia sobre a família de Julianne. Então havia uma irmã perdida que não compartilhava do mesmo interesse que os outros Foster’s pela sofisticação? E havia um primo perfeito que, além de atraente, realizava trabalhos filantrópicos ao redor do mundo? Amber talvez tivesse um bom motivo para nunca tê-los mencionado até então.
— É um prazer, Mia — Dhiego sorriu cortês.
— Igualmente.
— Tia Julianne está por perto? — Ele perguntou à prima.
Amber observou o salão, quase na ponta dos pés. Não havia qualquer sinal de sua mãe.
— Ela estava aqui há dois minutos... não sei o que aconteceu.
— Agora preciso ir — Dhiego checou seu relógio de pulso por um breve momento. — Pode dizer a ela que estou novamente na cidade?
— Que tal um jantar? Faz quatro anos desde a última vez, você não pode recusar.
— Então, um jantar. Amanhã à noite?
— Apareça às sete. Você sabe o caminho.
— Espero que sim — Ele sorriu simpático. — Foi um prazer novamente, Mia. E até logo, prima.
— Até logo — Amber acenou.
As duas garotas o assistiram partir, cada uma tirando suas próprias conclusões. Para Amber, estar novamente na companhia do primo — que também costumava ser seu melhor amigo — era uma prova de que o universo finalmente conspirava a seu favor. Para Mia, talvez houvesse algo errado que o sorriso automático de Dhiego tentava esconder. Ninguém era tão perfeito como as aparências ditavam. Dhiego, o jovem bonito, inteligente e de boa índole que acabara de conhecer, não podia ser a única exceção.
— Então, você tem uma família grande — Mia murmurou.
— Acredite, você não quer saber sobre isso. Da última vez em que Tia Nicole nos visitou, ela abrigou meia dúzia de cachorros de rua no quarto dos meus pais. Tiveram que pintar novamente e trocar todos os móveis para que o cheiro fosse embora.
— Parece meu tipo de família — De relance, Mia avistou Julianne passando pela porta do outro lado do salão. — Ali está sua mãe.
Amber olhou na mesma direção.
— Sim... com o vestido amassado, os cabelos desarrumados e um homem no mesmo estado ao seu lado...
— Sexo no armário? — Mia fez uma careta.
— Por favor, me mate.
         

Jensen o beijou carinhosamente quando terminou.
Sorriu sereno, virou para o lado e deu um grande suspiro. Nate foi rápido em se livrar da camisinha e cobrir-se com o lençol. Contanto que fosse fiel a suas manias, Jensen nunca perceberia que sua mente pairava distante.
— Você precisa mesmo ir embora? — Jensen perguntou, a voz ofegante, o abdome encharcado de suor.
— Um presidente não tem escolhas.
— Você é poderoso, eu entendi — aproximou-se dele novamente.
Nate avançou o que restava para um beijo entre sorrisos e carícias, mas logo então afastaram-se novamente.
— Isso é discutível — Nate lhe respondeu.
— Preciso ir ao brunch. Todos estarão lá.
— Ótimo. Não precisarei me preocupar com vocês.
— Você não deve mesmo se preocupar com a gente. Eu sou grande, precisaria de três caras para me derrubar.
— Kerr foi atacado por doze deles, isso quer dizer que você teria que se multiplicar para sobreviver — Nate quase vacilou com a enxurrada de lembranças. Quentin costumava acreditar que também era um super-herói e que não deveria se preocupar com a sua segurança.
— Neste caso, dou graças a deus por nosso cardume ser tão unido.
Um sorriso brotou nos lábios de Nate sem que percebesse sua chegada.
— Tanto faz. Me ligue.
— Irei — Levantou-se da cama. — Quer se juntar a mim no chuveiro?
— Preciso de um tempo. Quer café?
— Sim, okay — E marchou até o banheiro.
Nate esperou até ouvir o barulho do chuveiro ligado para levantar. Colocou uma bermuda azul-marinho de tecido leve e caminhou até a cozinha. Em sua busca pelo açúcar e o pó de café, acabou notando o notebook do namorado em cima de uma das cadeiras. Nem pense nisso, alertou a si mesmo. Você não é esse tipo de namorado, você não é esse tipo de namorado. Mas então o que faria de sua curiosidade, que tinha vida própria?
Deu meia volta no balcão da cozinha e ergueu o aparelho, sentando-se no mesmo lugar aonde o notebook antes se encontrava. De frente para o monitor, só precisou digitar “NateAndI” no campo de senha para que o sistema fosse liberado. Jensen havia deixado o navegador aberto em seu feed de notícias no facebook. A nova foto de perfil, atualizada há menos de duas horas, mostrava ele e Nate em um dos poucos momentos prazerosos que a viagem a Wilmington lhes proporcionou. “Um fim de semana com ele” — Dizia a legenda.
Nate não sabia por quanto tempo ficou encarando aquela mesma foto; Jensen, porém, teve tempo de terminar sua ducha quente. Apareceu na cozinha usando apenas uma toalha em volta da cintura, deixando pegadas de água por onde passava.
— Hey, o que está fazendo? — Perguntou. O som da sua voz fez Nate voltar a realidade.
— Só... checando o facebook.
Jensen se aproximou para dar uma olhada. Sua nova foto de perfil estava em destaque na janela aberta.
— Gostou da foto? — Ele quase sorriu. — Só pude passar as fotos de Wilmington hoje.
Nate permaneceu quieto em meio à confusão de seus pensamentos. Diga algo, diga algo, teste-o, uma voz dizia. Theon não poderia estar certo. Theon não deveria estar certo.
— Ficou ótima — Sussurrou. — Mas poderíamos colocar outra. — Alguns cliques e foram levados a pasta de fotos antigas que Jensen mantinha em seu notebook. A escolhida foi uma de cinco anos atrás, logo depois de voltarem do acampamento de verão. — O que você acha desta?
— Está legal, mas a outra é melhor.
— Por que? Nosso passado também é importante.
— A maior parte.
— A maior parte — Nate assentiu com um sorriso, mesmo em relutância.
— Pode trocar a foto se quiser, por mim tudo bem.
— Não sou esse tipo de namorado.
— Você é do tipo que come? Porque se for, podemos deixar o café caseiro para outro dia e ir ao The Schreiver’s.
Nate não achava uma má ideia.
— Cinco minutos. Vista-se.
Jensen despediu-se com um beijo rápido antes de correr para o quarto. Enquanto isso, Nate cedia às suspeitas de seu ego frágil clicando no perfil do namorado para ver as últimas atualizações. Havia uma foto postada no dia anterior, mas que fora tirada há algumas semanas; mostrava Nate tomando água de coco e fazendo uma careta enquanto Jensen o beijava no rosto. “Meu namorado é a coisa mais linda do mundo” — Dizia a legenda.
Beleza, perfeição... era tudo o que ele via? Era tudo o que Nathaniel Strauss tinha de interessante?
Nate deixou o notebook de lado e suspirou profundamente. O que aconteceria quando todos os seus atrativos fossem embora... Era melhor não imaginar.


A noite chegou com Alex na estrada, a caminho da mansão Strauss. Quando os portões foram abertos, estacionou o carro em uma das vagas ao lado do chafariz e abriu a porta.
— Mãe? — Gritou, os olhos fixados nas escadas. — Cheguei! Você está aqui?
Ninguém respondeu.
Deixou seu casaco no cabideiro à esquerda e caminhou até a sala de estar. A surpresa fez com que pairasse sem reação antes de concluir o trajeto. Judit não havia mencionado que teriam visitas... E nem que se tratava da nova namorada de Simon e seu filho de apenas oito anos. Foi para isso que o convidou à mansão?
— Oi... — Tara levantou apressadamente do sofá, puxando as pontas de seu vestido branco. — Eu estava... esperando por Simon. Você deve ser Alex.
— E você é Tara — Alex atentou para o garoto no chão. Pelo menos uma dúzia de carrinhos de brinquedo o circulava no tapete enquanto mantinha dois em mãos. — Aonde está minha mãe?
— Eu não saberia dizer, acabamos de chegar.
Alex foi dela ao garoto e do garoto a ela, em evidente desconforto. Não era seu problema, e um encontro repentino planejado por Judit não mudaria isso.
— Tudo bem, tenha uma boa noite.
— Alex, espere — Tara o chamou antes que pudesse dar o segundo passo para fora do cômodo. Em virtude apenas de sua boa educação, ele interrompeu seu trajeto e virou para encará-la. — Podemos conversar?
— Estou atrasado para um compromisso.
— Só vai levar um minuto.
— Não — Alex respondeu curto e grosso. — Não posso fazer isso enquanto estou machucado. Você merece uma chance, não um julgamento.
Ela assentiu de cabeça baixa. Parecia aliviada com sua resposta.
— Eu entendo. Obrigada, Alex.
— Até logo.
Alex sabia que havia feito a escolha certa. Mesmo assim, pensou na conversa com Tara o caminho inteiro até seu quarto como se tivesse dito algo que não deveria. Gus também estava lá, provando com olhos serenos que em breve seria a única família que Simon reconheceria. Há doze anos recebera um ultimato de seu pai adotivo para decidir de que lado iria ficar; agora talvez nem tivesse a chance. Talvez a história se repetisse, e um dia, assim como foi o telespectador da felicidade de seu antigo pai e sua nova família, estava fadado a ser o telespectador da nova vida de Simon também.
Lembrava perfeitamente do reencontro, cinco anos atrás. Max Bennett passeava despreocupado com a nova família na praça de alimentação do shopping sem imaginar que a alguns metros de distância seu filho lamentava o abandono. Era uma linda família, Alex admitiu para si mesmo. E valia tanto a pena que a bebida acabou se tornando um detalhe irrelevante de seu passado. Se era o amor que estava em falta, Max não o havia encontrado ao lado dos Bennett.
Por que estava pensando nele?
Tirou os sapatos e correu para baixo do chuveiro. A água gelada trouxe todo o alívio que precisava para colocar as ideias em ordem. Seus problemas, de repente, desceram todos pelo ralo.
Dez minutos depois estava deixando a cabine com uma toalha enrolada na cintura para se dirigir a penteadeira. Pegou a primeira peça de roupas leves que encontrou; uma calça azul de algodão e uma camiseta branca sem estampa. Semanas sem usar fizeram com que parecessem um pouco mais apertadas do que se lembrava. Bem, isto não seria um problema. A fome era muito mais preocupante.
Enxugou os cabelos e desceu até a cozinha. O telefone começou a tocar enquanto tirava os pré-cozidos da geladeira.
— Pessoal, o telefone! — Gritou para qualquer um dos empregados que estivesse ouvindo. — Valeska? Debra?
Ninguém respondeu. Era o dia de folga outra vez?
— Tara? — Decidiu chamar. E nenhuma resposta obteve senão o toque do telefone. — Okay — Suspirou impaciente. Deixou a vasilha de lasanha em cima do balcão e marchou até a sala de estar.
Tara e Gus haviam partido, mas os brinquedos do garoto continuavam no mesmo lugar. O telefone, por ventura, parou de tocar assim que se aproximou.
— Okay — Disse a si mesmo em tom de escárnio. Só precisou dar meia volta para ouvir novamente o toque. — Alô? — Atendeu rapidamente.
Os ruídos do outro lado da linha se assemelhavam a tudo, menos a voz de uma pessoa.
— Alô? Não consigo ouvi-lo. Tem alguém aí?
E a chamada foi encerrada. Apesar da desconfiança, Alex colocou o telefone de volta no gancho. Ouviu novamente o mesmo toque assim que deu meia volta.
— Alô?
— Meu... — Foi tudo o que conseguiu ouvir.
— O que? Eu não entendi.
— Você... Meu...
Foi quando escutou um estranho ruído do lado de fora. Caminhou vagarosamente até a enorme janela da sala de estar, ainda com o telefone em mãos. Havia algo em meio as árvores... Um animal? Uma pessoa? Estava se movendo?
A resposta chegou em meio a escuridão. Brett atravessou a vidraça com o próprio corpo e tentou agarrá-lo. O susto fez Alex cair no chão em meio aos cacos, mas logo já estava de pé, correndo em direção a porta da frente. Brett a havia trancado, assim como todas as outras portas do primeiro andar.
— Não! Não! — Girava a maçaneta descontroladamente.
Com a aproximação do criminoso, foi obrigado a desistir de sua rota de fuga e subir as escadas, apenas dois segundos mais rápido. Entrou no primeiro quarto da direita e selou a porta pelo lado de dentro. Brett era mais forte do que um homem comum, ele sabia. E apenas alguns socos foram suficientes para rachar a madeira.
— Ai meu Deus! — Gritou em desespero. — Alguém me ajude! Por favor! Por favor!
Aonde estavam os empregados? Aonde estavam seus pais? Aonde estavam Tara e Gus? Aonde estavam os seguranças da mansão?
Alex correu até a janela.
— Alguém me ajude! — Batia na vidraça. — Por favor! Alguém me ajude!
Olhou rapidamente para trás, onde a porta estava sendo estraçalhada soco a soco. Podia ver os olhos psicóticos de Brett pela enorme brecha que se formara na madeira.
Não era daquele jeito que iria terminar.
Levantou a vidraça pela parte de baixo e passou para o telhado da mansão; primeiro as pernas, para ter equilíbrio, depois o restante do corpo. Poderia pular em cima das plantas, como cogitara desde o começo, mas a queda seria fatal. O único jeito, desta vez, era o difícil.
Alex ficou em pé e seguiu para a direita com o auxílio das paredes. Tentou abrir a primeira janela. Tentou abrir a segunda janela. Tentou abrir a terceira janela, e nenhuma parecia estar a sua disposição. A quarta, no entanto, mantinha-se escancarada como se estivesse à sua espera. Caminhou até ela e passou vagarosamente para o lado de dentro. Estava no quarto de hóspedes número #2, sob tons dourados em textura clara e arranjos clássicos. Ainda podia ouvir o punho de Brett acertando a madeira da porta a alguns quartos de distância.
— Aonde está minha mãe? — Perguntou uma voz de criança, fazendo Alex virar.
Parado em frente a porta do banheiro, com um semblante angelical, Gus usava um pijama azul escuro cheio de representações infantis de foguetes, estrelas, planetas e tudo o que poderia ser associado ao universo. Segurava contra o peito um urso astronauta de pelo marrom e botas de cowboy que sorria alegremente em todos os momentos.
— Gus! — Alex correu em sua direção e ajoelhou-se no tapete. Agora tinham a mesma altura. — O que você está fazendo aqui?
— Eu estava com muito sono. Minha mãe disse que voltaria logo.
— Okay, Okay — Alex fez o melhor que pôde para fingir que nada havia de errado. — Vai ficar tudo bem.
— O que está acontecendo?
— Nada, não se preocupe — Em meio a seu raciocínio, percebeu que já não ouvia mais o barulho dos punhos de Brett acertando a madeira. — Vem comigo! — Puxou o garoto pelo braço e trancou a porta do banheiro pelo lado de dentro. — Fique quieto.
E a porta do quarto foi aberta. Podiam ouvir os passos de Brett indo de um lado para o outro, como se não soubesse aonde procurar. Alex colocou o indicador sobre os lábios para pedir silêncio ao garoto.
— É o bicho-papão? — Gus perguntou num sussurro.
Alex confirmou assentindo, no exato momento em que Brett arrombava a porta do banheiro. Em meio a gritos de pavor, foi arrastado pelos cabelos até o tapete do quarto.
— Gus, corre! — Ordenava ao garoto que havia se encolhido próximo a banheira. — Gus, corre!
— Eu disse que você era meu, rostinho bonito — Brett tentava contê-lo com um sorriso de satisfação estampado em seu rosto. — Não há como escapar.
— Não, por favor! Não!
— E agora você vai pagar pelo que fez ao meu irmãozinho...
Do cinto de couro que pendia na cintura, Brett arrancou uma foice. Alex gritou uma última vez diante da arma que ceifaria a sua vida, e então, veio a salvação. Simon acertou Brett na cabeça com um vaso de plantas, e tanto o malfeitor quanto o filho caíram no chão.
Simon tomou posse da foice, Brett avançou em sua direção e Alex correu para ajudar. A luta corpo a corpo levou o quarto de hóspede a sua destruição; Brett jogou Simon de encontro ao espelho na parede e Alex derrubou a estante de livros em cima do inimigo. Madeira, sangue e cacos de vidro foram espalhados por todos os lados até que Brett recuperasse a vantagem graças a sua força descomunal
Quando montou em Simon tentando esganá-lo, Alex pegou um dos cacos do chão e cravou em seu pescoço. Sangue escorria de seu corpo enquanto sua força bruta fazia-se nula através da morte dolorosa. Levou os dedos até o ferimento, mas nada além disso foi capaz de fazer. Desabou sobre Simon, de olhos abertos.
— AI meu Deus! — Simon o empurrou para o lado e pôs-se em pé. Alex continuava ajoelhado no chão, fitando o cadáver, paralisado pela angústia. — Está tudo bem, filho — Tocou em seu ombro. — Está tudo bem.
— Eu matei...
— Você não teve escolha. Precisamos ir.
Por mais que tentasse, a voz do pai não passava de um sussurro abafado que se distanciava a cada palavra pronunciada.
— Eu matei...
— Filho, por favor...— Simon insistiu.
Mas Alex não teve escolha; sua consciência o levava a compreender apenas o homem ensanguentado a sua frente. Havia lágrimas em seus olhos. Havia sangue, muito mais do que poderia suportar. Havia morte, agonia, alívio e sofrimento... E várias folhas de papel dobradas no bolso traseiro de Brett. Alex não hesitou em tomar posse de todas elas.


O plano estava todo ali, desde sua saída da prisão ao ataque à mansão Strauss. Trechos, palavras grifadas e desenhos contavam a história mais angustiante que já havia lido.
“Os seguranças estarão sedados”.
“Tranque todas as portas e janelas do primeiro andar”.
“Cuidado com os cachorros, eles circulam pelos jardins à noite”.
“Mate quem entrar em seu caminho”.
“ALEX VIVO”.
 “A polícia estará a caminho por Simon”.
“Simon Strauss: O criminoso fora de suspeita”.
“Desvio de dinheiro para o Oriente Médio”.
“Marco Sathori, propina ao juiz”.
“A caixa de provas será enviada amanhã”.
“CONDENAÇÃO”.
“Morra! Morra! Morra!”.
“NATHANIEL STRAUSS É A CHAVE”.
“Olho por olho”.
— Ai meu Deus... — Alex sussurrou. — O alvo não era eu... Era você. — Olhou para o pai.
— O que?
— O que você fez? — Levantou do chão. — Por que querem prendê-lo?
— Do que você está falando?
Alex averiguou o restante das folhas. Os documentos não deixavam dúvidas.
— Você fez isso? Você desviou o dinheiro?
— Não, Alex! Por favor, o que está acontecendo?
Alex podia ver a culpa em seus olhos sem que precisasse de uma confissão. Jogou os documentos em seu rosto e o encarou cheio de fúria. Simon levou alguns instantes para compreender o tipo de prova que tinha em mãos.
— Alex, por favor...
— Você trouxe isso a nós? Você nos transformou em alvos?
— Você não entende!
— O que há para entender?
E de repente ouviriam as sirenes de polícia.
— Ai meu Deus! — Alex correu até a janela. — Eles estão chegando, você precisa sair daqui!
— O que?
— Eles têm provas contra você, foi tudo uma armação! Você precisa fugir!
Simon já havia entendido a gravidade da situação.
— Para onde?
— Eu não sei, apenas vá! — Olhou novamente pela janela. Os carros de polícia começavam a ser enfileirados no final da rua.
— Filho...
Alex avançou em busca de um abraço apertado.
— Você é meu pai, não importa o que aconteça — Olhou em seus olhos. — Agora vá. Nate, Mia e eu daremos um jeito.
— Você é meu filho — Simon agarrou firmemente sua nuca, o olhar incorruptível. Mesmo em não querer, concordou com o cabeça e saiu pela porta rumo a liberdade que não achava ter direito.
Alex só desejava que esta não fosse a última vez.
 

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4x05: The Dog Days... Whatever (20 de Fevereiro)
Não há como tudo isso terminar bem, né? O círculo está se fechando para os três gêmeos Strauss e todos que se atrevem a se meter nesta guerra. Tudo o que posso dizer é que semana que vem todos os nossos casais enfrentarão problemas.
Comentário(s)
2 Comentário(s)

2 comentários:

  1. SOCORRO, tô chocado com esse final, achei que o capítulo de hoje ia ser morno mas me enganei completamente. Enfim, eu não costumo comentar muito aqui mas saiba que adoro essa série e conto os dias pra cada capítulo. A história é totalmente envolvente e consegue surpreender. Passa longe do clichê. Parabéns.

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    1. Obrigado, Jairo. Confesso que uma parte de mim esperava que esse final chocasse a todos vocês, porque assim sinto que a missão foi concluída com sucesso hahahahaha
      Espero que apareça mais por aqui. Até semana que vem =D

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