Especial

Foto:

[Livro] The Double Me - 3x14: Fuck Me In the Paris Lights (Season Finale) [+18]

CURTA A PÁGINA OFICIAL DO LIVRO NO FACEBOOK CLICANDO AQUI

3x14:Fuck Me in the Paris Lights (Season Finale)
“Todo homem é vítima dos monstros que criou”.

Alex e Thayer chegaram ao hospital de baixo de uma tempestade. Pegaram o elevador para o terceiro andar e seguiram a direção informada pela recepção. Kerr jazia no leito do quarto trinta e dois, com o braço enfaixado, hematomas espalhados pelo rosto e um enorme curativo de operação no lado esquerdo do abdome. Além das lembranças da noite passada, a única companhia que poderia desfrutar era a da irmã, sentada na poltrona ao lado de seu notebook.
Alex e Thayer sentiram alívio imediato ao vê-lo consciente.  
— Hey — Alex cumprimentou brevemente. — Viemos assim que soubemos. Você está bem?
— Bom, eu não diria isso — Kerr respondeu numa voz arrastada. — Mas eu estou vivo.
— Estou tentando ligar para Nate há meia hora. O que aconteceu?
Amber levantou-se da poltrona e estendeu ao amigo uma folha de papel.
— Isso aconteceu.
“Toda a iniquidade deve ser levada de volta ao abismo” — Ela dizia. A foice minimalista estampada na parte inferior rendeu a Alex um súbito calafrio.
— “The Judges” — Thayer comentou, observando a folha por cima dos ombros do namorado.
— O que isso significa? — Amber quis saber.
Kerr precipitou-se na resposta:
— Não é óbvio? Eu sou um alvo agora.
— Não só você... — Alex respondeu num murmúrio.
Os irmãos permaneceram quietos em busca de uma explicação. O gêmeo de olhos azuis estava fora impreciso demais para alguém que parecia saber tanto.
— O que vocês não estão nos contando? — Amber cruzou os braços.
Um suspiro de cansaço sucedeu a decisão de Alex. Pegou o notebook da mesinha ao lado e digitou os termos de pesquisa mais abrangentes para que a explicação não deixasse dúvidas. O primeiro vídeo mostrava os criminosos afogando um garoto de quatorze anos em uma banheira enquanto gritavam monstruosidades. Para que todos vissem, o notebook foi colocado no colo de Kerr, por cima do lençol.
— O que é isso? — Amber franziu a testa. Não demorou muito para que fosse atingida por uma onda de revolta. — Ai meu Deus! Quem são essas pessoas?
— Chamam-se “The Judges” — Alex pulou para o próximo vídeo; uma garota amarrada em uma cadeira de metal gritava ao ver seu cabelo sendo repicado de maneira agressiva. — Saem pelo país torturando jovens homossexuais e postam na internet para imortalizar seu trabalho.
Kerr notou sua respiração ofegante. As máscaras no vídeo levaram de volta as lembranças de dor e sangue. Havia um gosto metálico, e um medo inconfundível.
— Então precisamos ir à polícia — Foi a primeira coisa em que Amber pensou.
— Eles têm pessoas infiltradas — Thayer respondeu-lhe. — Não podemos confiar na polícia.
— Mas precisamos fazer alguma coisa!
— E estamos fazendo — Alex garantiu. — Nate tem um plano. Mia e ele colocaram um rastreador em um dos membros que tentou nos atacar. É só uma questão de tempo até que ele nos leve ao resto do grupo.
Thayer havia elaborado um novo raciocínio para compartilhar com os amigos.
— Acho que Kerr pode ajudar — Olhou para ele. — Lembra de alguma coisa da noite passada?
 — Eu não sei... — Kerr não tinha certeza se era uma mentira... Mas a verdade absoluta era que não gostaria de lembrar. — Alguns flashes... Lembro-me das motos, das máscaras... alguns possuíam correntes. Tenho certeza que havia mulheres entre eles.
— Isso ajuda — Thayer assentiu complacente. — Lembra de mais alguma coisa? Qualquer detalhe é importante.
Eu lembro da dor, do sangue, e de ouvir meus ossos quebrando por baixo da pele, disse a si mesmo, o olhar perdido. Qualquer outra coisa parecia banal perto do trauma que sofrera. A não ser... Foi apenas um sonho ou realidade?
— Eu acho... havia um pássaro de asas abertas... em fundo alaranjado.
O silêncio infestou o quarto. Nenhum dos três ouvintes havia encontrado sentido em suas palavras.
— Você viu um pássaro voando? — Amber perguntou.
— Não, era um carro com um desenho... ou uma espécie de logotipo, eu não sei. Talvez eu tenha delirado.
Algo em sua descrição soava familiar a imaginação de Alex. Um pássaro com asas abertas em fundo alaranjado... podendo ser um desenho ou um logotipo... estampado em um carro... Alex duvidava muito que fosse apenas um delírio. Já havia visto isso antes; tudo o que precisava era de um estímulo para fazer a memória obedecê-lo.
— Deixe-me ver uma coisa — Virou o notebook para si.
O primeiro termo de pesquisa foi “Flying Bird”. O segundo, “Flying Bird Orange”. Foi analisando os resultados que teve a ideia de procurar por logotipos de igrejas. E depois por logotipos de igrejas nova-iorquinas. Havia apenas uma coerente a descrição de Kerr.
— Esta foi a imagem que você viu? — Virou o notebook para o amigo.
Kerr estava perplexo. Ali estava o pássaro de asas abertas em fundo alaranjado que vira antes de apagar.
— Com você achou?
— É a marca registrada da Igreja Faith Ministry, uma das mais prestigiadas de Nova York. — Alex mostrava imagens relacionadas enquanto dialogava. — Apesar das acusações envolvendo estelionato e assédio sexual, a franquia consegue reunir mais de oito mil pessoas em um culto e já criou um legado milionário. Hoje está sob controle de Martin Rivers, — Clicou na foto de um senhor careca e barba branca que usava óculos redondos. — Um religioso de sessenta e dois anos que aderiu a política e tornou-se um dos maiores representantes da bancada evangélica do nosso congresso. Ele é o homem por trás de toda a resistência conservadora que rejeita as causas homossexuais.
— E tem recursos suficientes para promover uma perseguição a todos que se oponham as suas ideias — Thayer viu a mente clarear com o encaixar das peças.
Pela troca de olhares entre os amigos, não parecia ser o único.
— Vejam — Alex novamente chamou a atenção de todos para o computador.
No vídeo em destaque, Martin aparecia em cima de um púlpito gigante com um microfone em mãos. Atrás havia uma fileira de homens e mulheres com roupas elegantes; todos acomodados de maneira organizada em cadeiras douradas. Devido ao tamanho da imagem, apenas uma parte do pássaro branco na parede foi capturado pela câmera.
— [...] As leis são claras — Martin entoava. — Foram elaboradas para conservar a integridade de nossa sociedade e impedir que nossos valores sejam perdidos no tempo. Mas agora, graças a receptividade dos meios de comunicação, algumas minorias sentem-se no direito de exigir uma readaptação social para que o mundo esteja de acordo com seus padrões de vida. Pergunto-lhes humildemente: É justo abandonar os ensinamentos de nosso senhor em nome da imoralidade? Por que é Jesus Cristo quem precisa ser oprimido para beneficiar um grupo de pessoas cujas práticas ofendem a moral e ao bom senso? Vivemos em uma nação que permitiu o conceito de família saudável a ser deturpado. Cabe apenas a nós, seguidores de Deus, mostrarmos que nada sobressairá a vontade do senhor. “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes”. I Coríntios, 1.27. [...]
Kerr dobrou o monitor num movimento ligeiro. O cessar da voz Martin trouxe o alívio que estava esperando.
— Acho que já vimos o suficiente.
Como um gongo salvador, ouviram o celular de Alex tocar. A foto do irmão estampava a frente do visor.
— É Nate — Informou aos amigos, levando o celular a orelha. — Hey, estou aqui com Kerr. Aonde você está?
Por um breve momento, tudo o que ouviu foi uma respiração fatigada.
— Alex... — A voz do irmão soava trêmula do outro lado da linha. Estava chorando, Alex tinha certeza.
— Nate? Está tudo bem?
— Eu estraguei tudo... eu estraguei tudo outra vez — Fungou entre os sussurros. — Por favor, venha para casa...
— Nate? O que aconteceu? — O tom de Alex deixou todos os presentes atentos.
Nate tentou responder, mas estava perdido demais entre a ansiedade e o efeito da bebida para fazer sentido. Forçando a sobriedade, faltava-lhe ar nos pulmões.
— Você precisa votar para casa... — Pediu. — Você precisa saber a verdade... todos vocês.
Alex não precisava ouvir mais nada; sabia exatamente o que fazer.
— Apenas fique onde está — Disse ao irmão. — Estou a caminho. Não faça nada até eu chegar, okay?
Nate encerrou a chamada.
— Algo errado? — Thayer perguntou.
— Eu não sei. Acho que teremos que descobrir.


Alex dirigiu o mais rápido que o tráfego lhe permitiu. Fazendo a curva para a última rua de seu destino, vislumbrou luzes azuis e vermelhas que iluminavam os muros da propriedade Strauss. Mais alguns metros com o pé no acelerador e estava diante de uma visão apocalíptica. Contou três carros policiais, duas ambulâncias e uma infinidade de paparazzi e curiosos amontoados ao portão. Mal conseguia diferenciar seus pensamentos da aglomeração.
— Isso não é bom — Thayer comentou, no banco do passageiro.
Alex avançou com o carro vagarosamente entre a multidão. Só precisou confirmar sua identidade com os guardas para que lhe abrissem os portões. Estacionou o veículo longe da movimentação e completou o lado de fora junto do namorado. Judit estava a apenas alguns metros de distância, dialogando com um detetive que tomava nota de tudo o que dizia. Deslizava a mão sob o pescoço como sempre fazia em momentos de aflição.
Quando viu o filho se aproximando, os olhos encheram-se de alívio.
— Mãe — Alex a abraçou. — Está tudo bem?
— Graças a Deus você veio. Estamos todos bem, o pior já passou.
— O que está acontecendo? Onde está meu irmão? — Viu de relance, a direita, o desespero em que os empregados se encontravam. Valeska chorava descontroladamente enquanto os policiais tentavam acalmá-la.
— Você poderia nos dar um minuto? — Judit perguntou ao detetive.
— Claro — Ele respondeu.
Judit esperou que se perdesse entre a multidão para começar a falar.
— Não quero que se preocupe, mas houve um assassinato — Tentou manter o tom de voz uniforme, mesmo que por dentro a tragédia ainda não houvesse lhe deixado. — Não sabemos como aconteceu. Nate encontrou o corpo há algumas horas em cima de sua cama. Disse que a vítima era um conhecido seu.
Os olhos de Alex pareciam ter compreendido a situação.
— Ele disse o nome?
— Sim — Judit lembrava perfeitamente. E como não lembraria, se era apenas no pobre jovem que pensava? — Quentin Cavanaugh. Isso significa alguma coisa para você?
O pesar repentino de Alex fez com que a pergunta se perdesse no ar. Nate deve estar devastado, pensou. Conhecia o irmão bem o suficiente para saber que Nathaniel Strauss nunca se isentaria de qualquer culpa. Preciso fazer alguma coisa.
— Onde Nate está?
— No escritório — A mãe respondeu-lhe. — Disse estar esperando por vocês.
— Irei vê-lo. Falo com você depois.
Alex e Thayer dirigiram-se a mansão. Passaram por dois policias ao atravessarem o hall e chegaram ao escritório. Nate estava sentado na poltrona preta ao lado da mesa de centro; Mia no sofá maior, de frente para ele; e Jensen escorado na estante de livros, com os braços cruzados. Suas expressões vazias impregnavam o ar com desgosto e aflição ao critério do silêncio.
— Judit me contou — O tom de Alex parecia concretizar uma sentença. — Estou aqui agora.
Nate suspirou. O copo de whisky dançava nas mãos trêmulas no ritmo de sua respiração ofegante. Alex notou olhos vermelhos e inchados; olhos que não se atreviam a encarar ninguém.
— Estamos todos aqui por você, Nate — Disse-lhe a irmã. — Pode nos contar.
— Vocês estão aqui porque só sabem uma parte da história...
— Que história? — Jensen perguntou.
Nate levou alguns instantes para formular as palavras. Os ouvintes prepararam-se.
— Há mais sobre Paris do que eu jamais contei. E tudo começa com Theon De Beaufort.
— O novo membro do conselho da Strauss International? — Indagou Thayer.
Nate ignorou-o para continuar seu discurso.
— Nos conhecemos há quase um ano em uma de suas exposições de arte. Mesmo diante da minha hostilidade, ele me convidou para tomar um drink. E eu disse sim. Para o drink... E para seu quarto de hotel.
“Nunca imaginei que minha última aventura em Paris me marcaria tanto. Theon e eu... éramos mais que amantes. Nosso sentimento prosperava através do dinheiro e da luxúria, do imprudente ao criminoso. Eu o amei do meu próprio jeito, nunca irei negar. E foi exatamente por isso precisei destruí-lo. Estava prestes a trocar meu final feliz por um pouco de satisfação masoquista... amá-lo era um risco que eu não poderia correr”.
“Theon foi o ápice da minha degradação, mas não foi o primeiro. Para que entendam o que aconteceu naquela noite, antes de eu embarcar para Nova York, precisamos começar com o nome que estampava o topo da minha lista de vingança: Nicolai Zamora. Nicolai era um jovem de vinte e dois anos que imigrou da Nicarágua junto do irmão, Manuel, para tentarem uma vida melhor como serviçais de famílias prestigiadas da Europa. Sempre tão educado e atencioso, tornou-se o braço direito da família De Beaufort. Foi uma surpresa para mim descobrir que era uma pedra em meu sapato.
“Tudo começou quando o pequeno e inocente Manuel descobriu seu interesse pela vida secreta do filho do patrão. Em uma noite de serviço, flagrei-o espiando pela porta enquanto Theon arrancava minhas roupas”.
Nate lembrava claramente dos olhos azuis de Manuel espreitando entre a fresta. Alertou Theon sobre o espião, mas este não pareceu se importar. “Precisamos fazer alguma coisa”, Nate lhe disse. E Theon respondeu o que queria ouvir para que o namorado se concentrasse inteiramente no que iria fazer com seus lábios.
No dia seguinte, Nate pediu para que uma das empregadas informasse a Manuel que seu senhor o esperava na sala de estar. Observava o jardim pela janela com olhos indiferentes quando o jovem surgiu ao lado do irmão. Eram tão parecidos quanto dois irmãos poderiam ser, desde o cabelo negro-acinzentado aos lábios carnudos. No uniforme preto e branco da mansão, só poderiam ser diferenciados pelo tamanho desproporcional de Manuel, cinco anos mais novo que Nicolai.
— Deve haver um engano — Nate disse aos dois. — Fui bastante claro ao convocar apenas Manuel.
Nicolai tomou a frente.
— Se ele fez algo de errado, senhor, peço que me deixe ajuda-lo. É meu dever fazer com que meu irmão cumpra devidamente todas as suas obrigações.
— Não há com o que se preocupar, Nicolai. Mas insisto conversar com seu irmão em particular.
— Tudo bem — Sussurrou Manuel. — Não escondemos nada um do outro, senhor.
Nate percebeu o temor em sua voz. Nicolai não estava ali para dar-lhe apoio, estava ali para protegê-lo. Mesmo assim, não havia porque hesitar.
— Muito bem — Nate contornou a mesa e fitou Nicolai. — Ontem à noite, Manuel violou uma norma de privacidade que impõe limites a interferência serviçal e acabou tomando conhecimento de um assunto que não lhe dizia respeito. Estou aqui para me certificar de que nenhuma outra norma seja violada. Teremos um problema ou seu povo realmente conhece o significado da palavra “sigilo”?
— Não nos cabe interferir na vida de nossos empregadores — Nicolai respondeu, tão seguro de si como um profissional. — O que chega a nosso conhecimento nunca sairá desta mansão.
— Não deliberadamente. Mas a informação tem um preço no mundo em que vivemos.
— Talvez a informação, mas não as pessoas.
Nate lhe sorriu com desdém.
— Sua palavra não é o bastante. Temo que precisaremos de outra garantia. Manuel, arrume suas coisas.
Os dois irmãos ficaram em estado de alerta.
— Você não pode fazer isso! — Disse Nicolai.
— Por favor, senhor, eu prometo que não acontecerá outra vez — Manuel implorou.
— Você tem razão — Nate contra-atacou. — Não irá nos espionar se estiver fora da mansão.
Os olhos de Nicolai mostraram-se cheios de revolta.
— Servimos os De Beaufort, não a você.
— Theon faz o que eu peço — Nate sentou-se na ponta da mesa, com a cabeça elevada e as mãos apoiadas na madeira. — Isso quer dizer que todos vocês são as minhas vadias.
— Theon é um bom homem. Quando souber a verdade, você quem irá partir.
— Que verdade? — Theon apareceu entre a porta dupla da sala de estar. Avançou alguns passos em direção a eles, revezando o olhar curioso a Nate e aos irmãos.
— Deseja mesmo saber, senhor?
— Nick, não... — Manuel segurou seu braço. Seus olhos imploravam o mesmo que os lábios colocavam para fora.
Mas Nicolai não lhe deu ouvidos. Estava farto; farto das mentiras que eram contadas, farto da maneira descarada como seu patrão fora manipulado. Havia muito a dizer sobre a víbora que os De Beaufort aceitaram dentro da própria casa, mesmo que custasse seus empregos.
— Você tem algo a dizer? — Nate encarava-o com um olhar chamuscado de desprezo.
— Sim, eu tenho — Deu um passo à frente. — Mas não a você — E virou para Theon. — Você é um bom homem, senhor. Acolheu a mim e a minha família e nos dignificou com um trabalho honesto. Mas o homem que trouxe para dentro de casa, o homem que escolheu colocar em sua cama, não passa de um sanguessuga. Ele não o ama; ama seu dinheiro, ama o seu nome, e encontra-se com o amante sempre que vira as costas.
— Ai meu Deus... — Nate fingiu constrangimento. — Eu não acredito que isso está acontecendo. Primeiro me pedem dinheiro para não revelarem sobre eu e Theon, e agora me acusam de traí-lo? Vocês são doentes.
— Eu ouvi as ligações! — Nicolai exclamou. Encontrou o olhar analisador de Theon mais uma vez. — Eu ouvi tudo. O senhor não vê? Está tentando nos colocar contra você.
Em meio ao alarido, Theon conseguiu tirar suas próprias conclusões. Teve tempo de olhar nos olhos de cada um e refletir sobre suas acusações. Um deles estava mentindo. E já sabia quem era.
— Sabia de suas origens religiosas, mas nunca pensei que a intolerância de vocês chegaria a tanto — Disse enfim.
Nicolai e Manuel sentiram suas palavras atravessarem o peito como um punhal.
— Senhor... — Nicolai sussurrou, mas foi interrompido.
— Nate significa muito para mim. E se não podem respeitá-lo como meu homem, pedirei que saiam desta casa.
O irmão mais velho foi dos olhos penetrantes de Theon aos de Nate. A manipulação já havia ido longe demais. Não havia mais nada que pudesse fazer para salvar seu querido amigo.
— Manuel, arrume suas coisas — Ordenou ao irmão. — Partiremos agora mesmo.
Antes que pudesse sair da sala, Nate interviu:
— Que coisas? Até onde me consta, tudo nesta mansão pertence à família De Beaufort. Irão embora, mas deixarão tudo aqui... inclusive a roupa do corpo.
Theon olhou para ele sem entender.
— O que você está fazendo?
— Ensinando-os da maneira difícil o que acontece quando atravessam nosso caminho — Cruzou os braços. — Tirem as roupas. Agora.
— Senhor? — Nicolai suplicou a Theon, os olhos assustados.
Mas Theon apenas hesitou, e por muito mais tempo do que imaginava. Olhava para os irmãos como se já os tivesse despido em sua imaginação e feito-os ir embora como dois indigentes. Primeiro banhado em um silêncio argucioso, depois um dono cruel de uma doce resposta.  
— Façam o que ele pediu e vão embora.
Outro punhal havia acertado o peito dos irmãos Zamora.
— Vocês não podem fazer isso... — Manuel sussurrou.
— Não, mas vocês podem — Nate murmurou de volta. — E se não o fizerem, chamaremos nossos doze seguranças para cuidar disso.
Os irmãos manteram o silêncio. Mesmo relutantes, começaram a tirar seus uniformes até restar apenas uma cueca branca para cada. Lágrimas escorreram dos olhos de Manuel enquanto o irmão obrigava a si mesmo a manter as suas na ponta dos olhos.
Theon sustentou um olhar estupefato durante toda a humilhação. Algo dentro si despertava aos poucos ao estímulo da agonia humana. Algo perverso, que rabiscara um meio sorriso de encanto em seus lábios rosados. Excitara Nate no instante em que percebeu, mas agora ameaçava tudo o que conhecia.
— Ele estava gostando disso — Disse aos amigos, ainda no escritório. — Não sabia porquê, mas estava gostando. E eu... eu estava orgulhoso dele, estava orgulhoso em ver que eu não era o único que possuía um lado sombrio. Se ao menos soubesse no que iria se tornar...
— Não é sua culpa — Alex tentou confortá-lo.
— Eu fiz isso com ele, Alex. Ele se tornou outra pessoa ao meu lado; mais fria, mais arrogante, mais egoísta. E no final, levei embora a única coisa que lhe importava.
— Você — Jensen murmurou.
Nate atentou para ele, ainda parado de braços cruzados no canto da estante de livros. Encarando sua expressão vazia, sentiu a garganta vacilar. Não lhe diria nada enquanto estivesse digerindo os detalhes de seu rival.
— O que aconteceu depois? — Thayer quis saber.
Nate suspirou, preparado para contar.


— Alguns dias depois, Theon compartilhou comigo a desconfiança de seus pais. Estavam pressionando-o para conseguir uma dama da alta sociedade e começar a pensar em casamento. Aceitei fugir do país ao seu lado... Mas Quentin e eu tínhamos outros planos.
As lembranças começavam a surgir em flashes insistentes. Naquela noite, Theon o levou à mansão De Beaufort para uma festa particular antes da viagem. Entraram no quarto do pai de Theon, tiraram as roupas e devoraram um ao outro de baixo dos lençóis como dois garotos travessos. Nate lembrava da dor, do gosto de seu suor, do estrondo de suas peles chocando-se uma contra a outra quando o corpo implorava por violência... Theon nunca decepcionava.
Ficaram na cama por pouco mais de uma hora, quando até a sua insaciabilidade pediu por descanso. Theon montava-o como um garanhão, prestes a ter seu terceiro orgasmo.
— Eu vou gozar! — Sussurrou.
— Sim, goze, goze por mim — Nate trabalhava em seu próprio prazer com as duas mãos.
Quando a hora chegou, Theon afastou-se e sujou o peitoral dele em quatro espirros. Nate fez o mesmo logo depois, de olhos fechados. Esperaram alguns instantes sob o efeito do prazer e juntaram novamente os lábios quentes para outro beijo molhado.
— Poderia fodê-lo o dia inteiro — Disse Theon, a respiração ofegante. Encarava o namorado com a admiração que só havia dado ao espelho.
— Não, não poderia.
Ambos sorriram.
— É só o que quero fazer quando sairmos daqui — Beijou-o outra vez.
— Guarde um pouco para Buenos Aires, está quase na hora.
— Está apressado?
— Para esquecer o resto do mundo e ter você o tempo inteiro? Sinta-se à vontade para me culpar.
Theon mostrou os dentes em mais um lindo sorriso.
— Você pode me ter quando quiser, em qualquer um dos cinco continentes. Isso é o quanto eu o amo.
Nate sentiu a espinha gelar. Para impedir que percebesse, prendeu-o em outro beijo ardente, de olhos fechados. Foi quando notaram um barulho contínuo a derredor. Parecia uma música clássica, abafada pelas paredes grossas da mansão De Beaufort. Interromperam o beijo e fitaram o nada, com os ouvidos atentos.
— Seus pais não deveriam estar viajando? — Nate perguntou.
— Eles estão — Theon levantou-se. Sabia em seus ossos que havia algo errado.
Saíram do quarto e desceram as escadas para o primeiro andar; Nate usando sua calça e a camisa do namorado; Theon vestindo apenas as calças, com o peito nu. A música os levou até a sala de jantar, onde Nicolai saboreava um ribeye com purê de batata e queijo provola. Parecia ter organizado uma peça teatral para seus anfitriões. Viram uma vitrola na penteadeira, lírios decorativos espalhados pela sala, e do outro lado da mesa, uma sequência de quatro telas de pintura pregadas a estruturas de madeira que foram cobertas por lençóis. O próprio jovem parecia ostentoso usando roupas elegantes da alta sociedade que Theon sabia terem sido furtadas de seu closet.
Lexi, Nate avistou na outra ponta da mesa. A amiga fora colocada inconsciente em cima de seu prato, também vestida a caráter para o show.
— Estou feliz por terem decidido se juntar a nós, cavalheiros — O cinismo de Nicolai impressionava até a ele mesmo. — Peço perdão por minha convidada. Ela teve um pequeno acidente tentando burlar as regras e eu precisei coloca-la para dormir.
Nate olhou para a amiga outra vez. Não parecia dopada, parecia... morta.
— O que você acha que está fazendo? — Theon semicerrou os olhos.
— Convidando-os para um novo jogo. Chama-se “Surpresa, vadia”. Uma derivação aperfeiçoada daquele que vocês criaram — Percebendo o interesse de Theon em seus quadros secretos, levantou-se da cadeira. — Você notou? — Aproximou-se da fileira em passos curtos. — São as minhas obras primas. Você não é o único artista no salão, Theon. Não sou muito bom com pincéis, mas com uma câmera, detenho um título insuperável — Puxando o primeiro lençol, revelou uma foto emoldurada de Nate e Theon em um momento íntimo.
Os dois amantes não tiveram coragem de mover um músculo do lugar.
— Gostaram do meu estilo? Aqui está outro exemplar — Nicolai puxou o segundo lençol. A nova foto mostrava Theon beijando o pescoço elevado de Nate, com o garoto seminu em seu colo. — Muito contraste, eu sei. Já esta aqui... — Puxou o terceiro lençol. Dessa vez a foto mostrava o ato de maneira explícita. — Eu considero uma inovação. Mas não é nada comparada a obra que definiu minha carreira... — E enfim puxou o último lençol, revelando a foto mais imoral e comprometedora de uma noite de sexo entre Nate e Theon. — Acredito que tenha alcançado a perfeição. E por isso agradeço a vocês, minhas grandes inspirações. Quanto acham que estas obras valeriam em um leilão?
Nate e Theon finalmente entenderam. Era uma chantagem. Da espécie que deveriam temer.
— Quanto você quer? — Theon perguntou com desprezo.
— Quanto custa a sua alma?
— Você pode perguntar ao diabo em pessoa.
— Deixe-me rico ou é você quem terá esta chance.
Theon estava farto. Fechou a mão num punho, deu a volta na mesa de jantar e atacou os quadros. Nicolai afastou-se formalmente para não ser atingido pela destruição.
— Theon, pare! — Nate pediu.
Mas Theon só obedeceu quando todos os quadros estavam em pedaços e todas as fotos rasgadas no chão. Deu dois passos em direção e Nicolai e o enfrentou com os olhos.
— Quanto eles valem agora?
— Menos que todas as cópias que guardei em pen drives, suponho.
— Já chega! — Nate tirou o celular do bolso. — Isso termina aqui.
— O que você está fazendo? — O sorriso vencedor havia desaparecido do rosto de Nicolai.
— Enviando nossas próprias fotos ao Senhor De Beaufort. Nós cairemos, mas você não receberá um só centavo.
— Seu filho da puta! — Nicolai correu em sua direção.
Tentou tirar o celular de Nate a força, mas Theon interveio a seu favor. Levou uma cotovelada no rosto e avançou para cima novamente enquanto Nate era agredido. Meio segundo bastou para que estivessem todos engranzados em uma mesma briga, despejando socos, chutes e cotoveladas; quebrando quadros, vasos e pratos em cima da mesa. Nem o grito mais alto no calor da agitação foi capaz de tirar Lexi de seu sono profundo.
Nicolai quebrou um vaso na cabeça de Nate, e Theon o enroscou em uma gravata com o braço direito. Conseguiu mantê-lo em seu poder até que se afastasse e levasse as costas de Theon contra a parede. Mesmo sob os efeitos da pancada, o jovem príncipe criou forças para avançar novamente em busca do chantagista.
O atrito do novo embate entre os dois fez com que a mesa de jantar virasse junto de tudo o que nela havia. Theon acertou-lhe mais dois socos, deixando-o cair zonzo para o lado. Engatinhou, montou sobre seu corpo e agarrou seu pescoço com as duas mãos. Os olhos de Nicolai ficaram vermelhos em um segundo sufocante.
Prestes a perder as forças, apalpou os destroços e levou ao olho esquerdo de Theon a primeira coisa que encontrou. Só percebeu que era uma caneta quando viu-o sangrando e gritando na sua frente como um animal num abatedouro. Estava feliz por isso. Na verdade, nunca esteve tão feliz.
Empurrou-o para o lado e levantou do chão, no exato momento em que Nate regressava para brindá-lo com um poderoso soco no rosto.
— Nada mal — Limpou o sangue de sua boca. Agora eram apenas ele e Nate, como desejava desde o começo.
Avançou para cima dele e socou o vento tentando acertar. Nate acertou-lhe uma, duas, três vezes, na mesma intensidade com que seu oponente empatava a luta, no mesmo ritmo de sua perigosa dança.
No final, Nicolai conseguiu acerta-lhe uma fatal sequência de socos que derrubou a ambos no tapete de peito para cima, quase inconscientes. Uma gargalhada diabólica ecoou pelo cômodo quando Nicolai notou o celular de Nate jogado ao seu lado, no mais irônico dos raciocínios.
— Você não iria mandar suas fotos... — Entoou numa voz arrastada. — Era apenas um blefe.
Nate permaneceu quieto. Qualquer coisa que excedesse a um gemido de dor e estaria inconsciente ao lado do inimigo. Ele tinha razão, não enviaria as fotos. E isso quase lhes custou a vida.
— Como termina? — Perguntou Alex, ainda no escritório.
Após tantas horas de conversa, Nate já não possuía qualquer objeção quanto a dizer a verdade.
— Nicolai nos pediu alguns milhões para manter a boca fechada, e nós aceitamos o acordo com a condição de deixar o país. Chamamos uma ambulância para Lexi e Theon voltou ao esconderijo para pegar o dinheiro que roubamos dos cofres do Senhor De Beaufort. Não sei o que houve depois. Theon voltou com uma maleta de dinheiro dizendo que Nicolai havia partido. E eu... eu o droguei para fugir com tudo o que tinha. Quentin me esperava do lado de fora com o carro.
Nate abaixou a cabeça ao pronunciar seu nome. Se ao menos soubesse o que estava fazendo naquela época... Daria qualquer coisa para estar em seu lugar.
— Deveria ser eu, não ele... eu o arrastei para esta confusão, eu o convenci a me ajudar, eu... se ele não tivesse me conhecido, ainda estaria vivo.
— Nate, você precisa contar tudo isso a polícia — Mia aconselhou.


      — Eu não posso. Não sei quem o matou.
— Não é óbvio?
— Não foi Theon...
— Como você sabe? — Jensen deu um passo nervoso a frente.
Nate fitou o nada, certo de cada verdade obscura em seu interior.
— Because Theon want us to break... Not Dead.


O ruído das barras entoava doce como uma canção de ninar. De costas para a entrada, atinou o momento em que os passos de Brett e dos policiais acoplavam-se à melodia junto das correntes. Deixaram o grandalhão em frente à mesa de centro, com seu uniforme alaranjado sujo de graxa e a barba ainda por fazer.
— Quem é você? — Perguntou ao homem de terno e gravata diante de si.
Theon virou-se majestosamente para encará-lo, segurando a mesma caneta que lhe tirara o olho esquerdo.
— Olá, Senhor Smith. Acredito que temos um inimigo em comum — Sorriu com malícia para o detento.
A família Strauss estava com os dias contados.

Season 4 vem aí...
Então, pessoal. Terminamos aqui mais um ciclo da trama de The Double Me!

Como vocês sabem, eu sempre divido os livros em duas partes para que sejam postados de acordo com os padrões aqui do Blog. Ou seja, acabamos de chegar a metade do Livro 2, que será continuado como 4ª Temporada no MMA.

Até o presente momento, só tenho 4 capítulos escritos da nova temporada, então pode demorar um pouquinho para que eu comece a postar. Bem, acho que isso não será um problema. Sei que muita gente resolveu deixar para acompanhar quando chegar as férias de julho, então é bom fazer um hiatus para que os atrasados recuperem o tempo perdido.

Agora vamos as novidades? Não poderia deixar de fazer um pequeno tease para que vocês saibam o que está vindo por aí.

A 4ª Temporada de The Double Me é diferente das outras três em vários aspectos. Pelo menos nos dois primeiros capítulos, tudo está com um clima bastante sombrio. Quentin acabou de morrer, Nate está um caco e Thayer precisa lidar com sua doença... Isso quer dizer que não teremos festas de arromba ou cenas de sexo para abrilhantar nossa próxima premiere. Espero que entendam isso, porque estes capítulos, mesmo que vagarosos, são muito importantes para a história.

A partir do 4x03, as coisas ficam realmente... Insanas. Posso dizer com toda certeza que esta 4ª Temporada foi a coisa mais louca que já criei. Olha que eu costumo criar muitos psicopatas nas minhas fanfics voltadas a franquia Pânico. Todos os personagens serão levados a seus limites. E sim, Thayer encarará a morte de frente enquanto vemos o plano PSICÓTICO de Theon se desenrolar (E Alex se transformar naquilo que mais odeia). Morte, tortura, mutilação, sexo e vingança estarão esperando por vocês aqui no MMA (Assim que eu marcar uma data de estreia).

Não se assustem com as minhas diabruras, e muito obrigado por terem me acompanhado até aqui <3
Comentário(s)
0 Comentário(s)

Nenhum comentário