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[Livro] The Double Me - 3x12: Can't Control the Kids [+18]

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3x12:Can't Control the Kids
“Por favor, perturbe”.

Nate deixou o quarto em busca da brisa gelada da chuva. Pairou em um dos corredores externos, com as mãos nos bolsos do casaco e o rosto projetado em desapontamento.
A extremidade do corredor, viu Mia tragando um cigarro enquanto encarava o nada. A esquerda do estacionamento, notou três máquinas de venda rápida; uma de refrigerantes e sucos, outra de doces e salgados. Caminhou até a do meio e colocou uma nota de cinco dólares para a barra de chocolate. Um barulho estranho sucedeu o pagamento, e o chocolate apenas mexeu-se por trás do vidro.
— Qual é? — Ele balançou a máquina. Não era possível que até ela estivesse contra seus propósitos. — Era minha única nota! — Balançou-a novamente, com mais intensidade. — Que droga! — Chutou-a por fim.
Quando olhou para a esquerda, viu o filho mais novo de Eloise observando-o com olhos curiosos. Peter Harper, se bem lembrava.
— A vadia engoliu meu dinheiro — Lhe disse.
Peter sorriu tímido. Talvez até pensasse que não tinha permissão para fazer mais que isso.
— A do meio costuma travar — Ele se aproximou. — Só precisa de um empurrãozinho... — Pressionou a máquina contra a parede até que o chocolate caiu pela fresta. — Prontinho.
— Você é um salvador de vidas, Peter — Nate pegou o chocolate. — Jesus é sortudo em tê-lo.
Peter sorriu em resposta, de cabeça baixa. E assim Nate percebia pela primeira vez o ser humano por trás da opressão de uma fanática religiosa. Peter tinha os cabelos lisos e negros, combinados a uma pele pálida e o corpo pequeno de um adolescente de quinze anos. Usava roupas dois números maiores que o seu e falava com o sotaque do sul. Era inevitável imaginar o quão poderoso seria com uma pitada de Nova York dentro de sua bolha antissocial.
Não, não era problema seu. Só precisava voltar para o quarto e fingir a Jensen que conseguira dormir.
— Obrigado novamente — Disse antes de dar meia volta.
Dois passos depois, ouviu a voz do garoto.
— Então, vocês são de Nova York?
Nate virou. O repentino interesse no olhar do garoto havia mudado o jogo.
— Hamptons. Tem uma bela vista, se você não se importar com as víboras.
— E o que estão fazendo em Carolina do Norte?
Nate levou um segundo para pensar.
— Perguntei-me o mesmo a noite inteira.
— Peterson! — Chamou Eloise, em frente a porta.
Nate olhou para trás enquanto Peter espiava por cima de seu ombro. Eloise segurava um cabo de vassoura em frente ao corpo; o olhar detestável como seu tom de voz.
— Algo errado? — Peter perguntou.
— O que eu pedi para fazer? Entre — Ela afastou-se com um gesto para a porta.
Peter só teve tempo de sussurrar “sinto muito” antes de sair correndo. A desconsideração ficou por conta de sua mãe, que lançou um olhar fulminante para o novo hóspede que saboreava sua barra de chocolate. Preciso de um plano para enfurece-la, Nate pensou. Peter havia provado que não precisava ir muito longe.
Jogou o embrulho do chocolate para longe e caminhou até a porta. Deu de cara com Amber, recém saída de seu quarto, e em uma versão menos animada. Um “Hey” foi o suficiente para que Nate seguisse seu caminho. Quanto a ela, mal sabia para onde estava indo. Passou pela porta e olhou a chuva, suspirando. Deu dois passos para frente e cruzou os braços, inquieta. Tudo só pareceu fazer sentido quando notou Mia no final do corredor. Não haviam conversado desde... Amber tentava de todas as formas não pensar na palavra com c, mesmo que a imagem do pó branco sendo tirado do bolso da amiga ainda não tivesse lhe deixado. Amiga, repetiu para si mesma. E então suas pernas moveram-se por vontade própria.
Assim que ouviu seus passos, Mia virou. Amber posicionou-se ao lado dela e esperou um segundo antes de lhe dirigir a palavra:
— Hey...
Mia a encarava com o olhar indeciso. Mas no final, resolveu seguir com a conversa.
— Hey — Disse, soltando uma rajada de fumaça.
Amber colocou as duas mãos nos bolsos do casaco lilás. Trocara de roupa duas vezes, mas podia jurar que ainda cheirava a cela de prisão.
— Então... Você é uma traficante?
— Então... Você é uma lésbica?
O sorriso sem graça no rosto de Amber fez Mia se arrepender de ter retrucado.
— Eu não sei o que aconteceu hoje... — Amber dialogava fitando a chuva. — A verdade é que eu estou furiosa com você, comigo e com tudo o que aconteceu. Mas estou cansada demais para me importar.
— Amber, eu...
— Você mentiu para mim — Amber encontrou o olhar dela. — Você cometeu um crime e mentiu para mim.
— Você não entende.
— Que tipo de pessoa você acha que eu sou? Do tipo que vai julgá-la pelos seus erros e denunciá-la à polícia? É assim que você me vê?
— Eu não queria desapontá-la... — Mia afastou o olhar.
— E no final foi exatamente o que aconteceu.
— Tudo bem, Amber, eu entendi. Não podemos mais ser amigas, ficou bastante claro.
Amber deu um ar de risos depressivo, balançando a cabeça em negação. Olhando para as gotas de chuva que ensopavam o asfalto, lembrou-se de seu maior arrependimento sem querer.
— Quando eu tinha quinze anos, um dos meus amigos de infância me ligou pedindo um favor. Após tantas vezes em que tentamos descobrir nossos corpos, não foi um problema aceitar filmá-lo fazendo sexo com o amante. Ninguém me disse que aquela noite estava reservada para destruir a vida de alguém, mas eu ouvi as conversas. Eu ouvi, e não fiz nada para impedir. Entrei no jogo, fiz a minha parte e todos as pessoas que eu admirava foram beneficiadas. Este foi o meu maior erro, me tornar um deles, apreciar tudo o que faziam em nome do dinheiro e da glória. Mas eu aprendi. Precisei perder tudo o que me importava e ser humilhada em frente a todos, mas aprendi; e voltei a ser a pessoa que admirava sempre que olhava no espelho. Por tudo isso, sou grata a seu irmão. Por causa dele me tornei o tipo de pessoa que nunca viraria as costas a um amigo, e abriria mão de qualquer coisa para ajudá-lo. Eu quero ser sua amiga, Mia, mais do que eu já quis a aprovação de Gwen. E também quero descobrir por que beijar você não pareceu tão assustador.
— É a bebida quem está falando?
— Não sei quem está falando, só preciso saber se você está ouvindo.
Extasiada com a confissão, Mia precisou de alguns instantes para pensar. Fora pega completamente desprevenida pela conversa.
— O que fazemos agora? — Decidiu perguntar.
— Encontre-me no refeitório. Estão servindo um jantar especial para os que ficaram presos na cidade. Todos estão lá.
— Primeiro preciso de uma ducha. Guarda um lugar para mim?
— É claro — Amber despediu-se com um belo sorriso.
Mia apenas sorriu incrédula enquanto a assistia ir embora. Esperou alguns instantes, apagou o cigarro na viga e voltou para o lado de dentro. Já com a toalha e as roupas em mãos, trancou-se no banheiro de sua suíte. A reforma da família Harper contava com vários metros de azulejo cristalino, porcelanas impecáveis para a pia e o vaso e as cores azul e branca em vários tons diferentes que davam um ar gracioso tanto as paredes quanto ao teto.
Mia depositou seus pertences nos cabideiros da esquerda e ligou o chuveiro. Colocando uma mão sob a queda d’água, decidiu esperar até que estivesse na temperatura ideal. Pensava em Amber, a boate, a praia e o beijo; Nate, Alex, Judit e Simon; a viagem, o hotel, a estrada e a cela de prisão. Nem imaginava que estava sendo observada através de um furo na parede da esquerda enquanto despia-se por completo.
Recém chegada do corredor externo, Amber encontrou o refeitório quase ao mesmo tempo em que Nate. Duas mesas foram distribuídas no pequeno espaço; uma após a entrada, com dez lugares, outra no final do salão, com doze lugares. A cozinha ficava a esquerda, logo após a seta vermelha no chão indicando a direção da fila invisível.
E lá estavam os integrantes da família Harper. Eloise, a proprietária. Mary Ann, a recepcionista simpática. Peter, o filho oprimido. Dodger, a filha mais nova que segurava uma boneca. E Freddie, o valentão que parecia descontente a todo momento. A festa estaria completa assim que Richard, o filho de dezessete anos, retornasse para ajuda-los com o jantar especial.
— Nate! — Alex anunciou sua chegada da segunda mesa.
Nate caminhou até eles e sentou-se ao lado do namorado. Podia ver a chuva pela janela no final do salão; e era a única vista oferecida por seu lugar.
— Onde está Mia? — Perguntou. Era a única que ficara de fora da reunião improvisada.
— Tomando banho — Amber mordiscou sua carne na ponta do garfo. — Já deve estar vindo.
Nate parecia ter ignorado a resposta. De relance, acabou encontrando o olhar agressivo de Eloise atrás do balcão da cozinha. Estava claramente insatisfeita com sua presença, e descontava toda sua frustração jogando de maneira rude o purê de batata no prato da filha. Nate estava certo que de que odiar a comida era melhor que fazer uma cena na frente dos hóspedes.
— Qual o problema desse garoto? — Cameron fez um sinal com a cabeça para que todos soubessem para onde olhar. Referia-se a Peter, que levava e buscava pratos para a outra mesa sustentando uma expressão acanhada.
— Eu sei lá, ele existe? — Alex respondeu. Thayer quase notou a influência de Nate no vocabulário agressivo do namorado.
— Quem penteia os cabelos dele? Sua tia avó? — Amber debochou.
A ironia pareceu ter acertado Peter como uma flecha. Antes de chegar a mesa, tropeçou no nada e derrubou metade da comida no colo de duas hóspedes. O grupo da mesa dois sorriu discretamente... Ou talvez nem tanto assim. Agora todos haviam notado o olhar fulminante de Eloise.
— Acho que a mamãe Harper não gosta muito de você, Nate — Thayer disse entre um sorriso.
— É claro, ela não é “eu”. Só precisa disfarçar o quanto gostaria de ser — Um último olhar superior foi lançado à Eloise antes de se dedicar ao prato do namorado.
Graças a internet, Jensen mal havia tocado na comida para evitar complicações em sua operação. A não ser que sua fobia de germes tivesse falado mais alto depois que fora colocado em um dos quartos sem reforma.
— Algum de vocês tem sinal? — Alex perguntou, mexendo em seu celular. — Esqueci de ligar para a mamãe.
— E daí? — Nate franziu a testa. — Ela sabe onde você está.
— Não Judit, minha outra mãe.
— Ivy?
— Minha mãe adotiva.
— Oh... Sim, eu lembro. Ainda a odeio.
Alex desistiu de responde-lo ao tomar posse do celular de Thayer. Levantou-se da mesa e caminhou até a parede para ter privacidade.
— Isso é tão legal — Falou Amber, de boca cheia. — Alex possui três mães e tudo o que eu tenho é uma mulher que tenta me viciar em comprimidos.
— Não é tão simples — Os lindos olhos verdes de Nate pareciam ter encontrado o raciocínio perfeito. — Denise é uma fanática religiosa que tenta evangelizar o filho sempre que tem a oportunidade, apesar de fazer vista grossa quanto a sua sexualidade para não ficarem afastados. Ivy é nossa mãe biológica, mas prefere desaparecer de tempos em tempos porque ainda acredita que assim protege os filhos. E Judit é Judit, acho que sua experiência em exportação de filhos para a Europa dispensa comentários. No final, Alex ganhou mais problemas que qualquer um de nós — Pegou o copo de refrigerante do irmão. — Reabilitação é como férias prolongadas, Amber. Na próxima sua mãe volta com uma selfie dela e de Lindsay Lohan tentando burlar as regras.
— Isso é verdade — Amber levantou seu copo de plástico e levou-o ao meio da mesa para encontrar o de Nate. Fora o único brinde do final de semana...
E se dependesse de Eloise, seria o último:
— Boa noite. O jantar será servido agora aos que chegaram atrasados, com a permissão de vocês.
— E o que está no menu? — Nate perguntou.
— Polenta com frango desfiado, vitela, salada e purê de batata.
— Isso é... Simples — Desprezou-a com os olhos. — Por que não serve salsicha? É exatamente do que minha boca precisa.
A mesa inteira prendeu um riso. Eloise olhava para Nate como se pretendesse esbofeteá-lo.
— Desculpe, deveria ser engraçado?
— Não tanto quanto sua homofobia. Vê-la esforçar-se para me deixar desconfortável acabou despertando meu senso de humor, contra todas as probabilidades.
Outro riso foi abafado em volta da mesa. Mas dessa vez, Eloise adotara uma expressão cínica.
— Refere-se a minha desaprovação quanto a vida libertina a qual fora acostumado? Perdoe-me, minha única intenção era deixar claro que não compactuamos com atividades que desrespeitam o bom senso e a família tradicional americana.
Nate levantou-se ao som dos sussurros perplexos de seus amigos.
— Quer que eu saia?
— Isso não será necessário — Eloise sorriu com desdém. — Sua estadia tem prazo de validade, e todos já estão a par do novo sistema de aceitação de hóspedes que pretende seguir as regras da divisão social. É a única maneira de manter meus filhos longe das más influências. Espero que compreenda.
Nate deu um ar de risos. A batalha estava perdida, até mesmo a sola de seus sapatos sabiam. Só lhe restava apelar para a morte súbita que havia guardado de baixo da manga.
— Neste caso... — Apesar da contestação de seus amigos, deu meia volta e partiu.
— Tenha uma boa noite, Senhor Strauss — Eloise balançou a palma no ar e sorriu.
Enquanto Nate passava pela porta do refeitório, Mia ouvia os primeiros ruídos estranhos na cabine do chuveiro. Olhou em volta só por precaução, e logo depois voltou a se esconder de baixo da água morna.
O ruído se repetiu em questão de instantes.
— Amber? — Gritou pela amiga.
Sem obter resposta, voltou a concentração para o banho. Mas agora ouvia o toque de um celular, muito mais próximo do que deveria. Olhou para trás, assustada, e viu um pequeno buraco na parede da cabine.
— Pare! Pare! — Sussurrava a voz atrás dela, tentando fazer com que seu celular parasse de tocar.
Quando percebeu que havia um homem por trás da parede, o escândalo havia se formado. Mia saiu da cabine, enrolou-se na toalha branca e fugiu do quarto. No corredor encontrou Richard, o único filho ausente no refeitório. Estava saindo de fininho do quarto ao lado, ainda com o celular nas mãos. Mia reconheceria aqueles olhos tarados em qualquer lugar.


— Seu filho da puta! — Partiu para cima dele dando tapas e socos.
Richard correu pelo hotel gritando pela mamãe até chegar ao refeitório. Mesmo diante dos olhos assustados de todos os hóspedes, Mia não hesitou em continuar a pancadaria.
— Mia! — Jensen e Alex correram para contê-la. O mesmo era feito com Richard, que ficou sob a proteção de sua família.
— Eu vou te matar! — Ela gritava.
— Parem! — Eloise ordenou, e os gritos foram cessados de imediato. Metade do hotel encontrava-se apavorada demais para reagir, e a outra metade estava envolvida nos métodos de contenção de Mia e Richard. — Por que você está usando apenas uma toalha e por que está batendo no meu filho? — Dirigiu-se a Mia.
— Seu filho fez um maldito buraco na parede e estava me espiando no banheiro!
Tudo havia ficado claro para a multidão que assistia. Eloise olhou para trás, diretamente nos olhos de Richard.
— Isso é verdade?
— É claro que não! — Disse o garoto, em sua defesa. — Ela me convidou para entrar em seu quarto e começou a me bater e a gritar só porque eu recusei!
— Seu doente filho da puta! — Mia avançou novamente para cima dele.
Sua nova explosão rendeu mais um show de gritos histéricos e agressões verbais que pareciam não ter fim. Eloise defendia a honra do filho; Jensen e Alex tentavam conter a fúria de Mia; Mary Ann e Freddie protegiam o irmão. E o jantar, a essa altura, já havia sido transformado em um emocionante capítulo de novela.
O plot twist de encerramento, assim como na ficção, havia pegado todos de surpresa. Nate passou pelas portas do salão usando apenas duas pulseiras no braço esquerdo e seu colar com pingente em forma de tríscele. Observaram-no em silêncio enquanto caminhava à vontade até a segunda mesa e tomava posse de uma maçã. Era a primeira vez que Eloise via um pênis em vinte anos. Quanto aos outros, Nate tinha sérias dúvidas.
— Não se importem comigo — Disse. — Podem continuar — E mordiscou sua maçã de maneira provocante.
Eloise desfaleceu nos braços de Peter sob os efeitos da pressão baixa.
— Freddie, faça alguma coisa.
Freddie caminhou em passos largos e empurrou Nate para trás.
— Qual o seu problema?
— Meu problema se chama família Harper. E é em nome de toda a América que eu digo... — Nate deu um passo a frente e cuspiu em seu rosto.
Em um instante ouvia os sussurros espantados da multidão; e no outro estava travando uma batalha contra Freddie e todo o seu tamanho desproporcional. Tentando ajudar seus entes queridos, criou-se uma arena de combate onde o vencedor precisaria abater o maior número de membros do outro time. Nate, Jensen, Alex, Thayer, Amber e Mia contra todos os membros da família Harper... Ou quase todos.
Mary Ann permaneceu sem reação no meio do tumulto, movendo seus olhos cheios de medo e impotência para todos os lados.
— Não... — Sussurrava. — Deveria ser uma boa noite, não... Por favor. Vamos parar... Não machuquem minha família... Por favor...
E de repente viu a si mesma dominada pela fúria. Deveria ser uma boa noite, deveria ser seu melhor aniversário. Se não fossem os novos hóspedes, estaria tudo bem. Se não fossem os novos hóspedes, estaria assoprando suas velas neste exato momento.
Não havia mais a quem culpar. Correu em direção a Mia e arrancou uma tira de seu cabelo com um puxão violento.
— Vocês estão arruinando tudo! — Ela gritou.
Mia estava a ponto de revidar quando Amber apareceu de surpresa.
— Hey! — Tirou Mia do caminho e acertou um soco no rosto de Mary Ann. A garota caiu no chão, sangrando; mas levantou-se com rapidez para um acerto de contas.
O único que permanecia intocável era Cameron. Levantou da mesa assim que a briga começou e encontrou um lugar privilegiado próximo a parede para assistir. Seus amigos pareciam ter criado uma nova modalidade para o combate físico, misturando arremesso de objetos inanimados e opressão por comida. Nate era um dos que tinha aproveitado o jantar em cima da mesa para pintar o rosto de seus inimigos com gordura e sobremesas. Amber e Mary Ann, do outro lado do salão, tentavam fazer o mesmo uma com a outra.
Cameron tirou o celular do bolso e acionou a gravação de vídeo. As mesas caíram, Mia perdeu a toalha, Nate tentou arrastar Freddie pelos pés, Alex destruiu os crucifixos pregados nas paredes e Amber ficou com um seio a mostra devido a rasgadura de sua blusa. Ainda não sabia como o final de semana foi de terrível a promissor em tão pouco tempo. Neste caso, um bom agradecimento bastava... Ou um simples sorriso de satisfação.


Lydia encontrou-os em frente a porta da mansão Strauss. Seus olhos assustados lhes iam de cima a baixo, preocupada até o último fio de cabelo branco.
— O que aconteceu com vocês? — Atreveu-se a perguntar.
Nenhum dos sete disse uma só palavra. Em um mundo perfeito, talvez suas imagens dessem todas as respostas. Usavam roupas rasgadas, do avesso, sujas de comida e de lama. Pelo corpo, cada um ostentava seus próprios hematomas, que iam de olhos roxos a arranhões; mordidas a inchaços. Nada havia a declarar sobre Mia vestindo uma das roupas de Alex e Nate quase despido a sua frente. Muito menos sobre o tapa-olho de Thayer e o braço enfaixado de Alex. O carro de polícia próximo ao chafariz não poderia estar trazendo uma boa notícia.
— É muito bom vê-la outra vez, vovó — Nate murmurou sem qualquer vontade de viver.
— Vendo-os neste estado, não posso dizer o mesmo — Lydia olhou de relance para os policiais parados em frente ao carro. — Entrem e tomem um banho. Deixem-me cuidar daqueles cavalheiros.
Era tudo o que mais queriam.


O último aluno havia acabado de deixar o estúdio. Kerr olhou para o relógio na parede esquerda; quatro da manhã. O tempo sempre passava rápido quando estava com violino e arco em mãos. Para isso usava as chaves que o Maestro Gilbert lhe confiou, ficar longe de problemas e descontar todas as suas frustrações na composição de músicas.
Virou uma folha de sua prancheta e concentrou-se nas notas. Seus olhos nervosos iam do papel ao arco, do instrumento ao nada, ordenando as articulações que continuassem a seguir os padrões daquela doce melodia. Um minuto depois, encontrou a paz que procurava no silêncio de sua inerte. Era o suficiente para aquela noite.
Pôs o violino na caixa, desligou as luzes e trancou a porta pelo lado de fora. Adentrando em seu carro, jogou o instrumento no banco de trás e girou as chaves. Nada ouviu se não o ruído de uma tentativa fracassada.
— Qual é? — Girou novamente as chaves. O ruído estendeu-se por mais alguns instantes antes de voltar ao silêncio absoluto. Nada como uma noite perfeita em que seu carro morre às quatro da manhã.
Se ao menos entendesse de carros como Jensen... Mas não entendia. Pegou seus pertences e saiu pela estrada em busca de ajuda. Poderia ser um motorista noturno, uma casa com telefone ou um ponto de ônibus. Àquela altura, pouco importava as regalias de sua classe elevada.
As luzes noturnas piscavam sob a brisa fria da madrugada. Precisou colocar as mãos nos bolsos do casaco e mover a boca para que não congelasse. Na primeira curva, quase foi atropelado por uma motocicleta que parecia ter surgido do nada. O susto foi tão grande que por pouco não viu a si mesmo gritar como uma garotinha indefesa. Pegou no peito com a mão direita e concentrou-se em normalizar sua respiração.
— Merda... — O sussurro saiu em forma de fumaça. — Okay — Convenceu-se a continuar caminhando.
Dois passos, quatro passos, seis passos, oito passos, dez passos. E o dobro logo em seguida. Chegando a metade do quarteirão, ouviu o mesmo ruído de moto. Olhou para trás de relance; o motoqueiro de alguns instantes havia parado próximo a seu carro. Mesmo sentindo o presságio em seus ossos, forçou-se a fingir que nada estava errado. Ele está olhando, pensou. Deve ser apenas uma brincadeira. Deve ser apenas para me assustar e rir com os amigos.
Kerr deu mais duas olhadelas para trás. E foi no final da segunda que percebeu o perigo. Mais onze motoqueiros surgiram do nada, todos usando máscaras e gritando como lunáticos. Passaram por ele o mais perto que a velocidade permitia. E no final, rodearam-no sem dar-lhe uma brecha para escapar.
Sua única reação foi olhar desorientado para todos os lados em busca de respostas... Ou de salvação.
— Por favor... — Implorou. Seu coração pulava pela boca a cada grito histérico e ao soar de motores.
Havia mulheres entre eles, conseguiu enxergar.
— Levem o que quiserem, mas deixem-me em paz.
Seu desejo nem chegava perto de uma ordem. Quando percebeu, várias motos estavam vindo em sua direção. Bateram-lhe com bastões, correntes, pedras e frutas podres, muito preocupados em soltar gritos de alegria como se estivessem em um parque de diversões. Kerr caiu no chão, ensanguentado. E a tortura continuou até que não pudesse mais distinguir o que seus olhos observavam.

Ouviu um barulho de carro se aproximando do local. Parou de fronte a ele, de maneira que só pudesse observar a porta de trás. Alguém saiu, vozes relincharam, e novamente as motocicletas foram ligadas. A última coisa que viu foi uma ave branca dentro de um círculo alaranjado que estampava o veículo preto. Podia ser apenas um sonho... Ou tudo o que precisava para chegar aos culpados.

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3x13: I Left My Heart In San Francisco (16 de Maio)
Peço desculpas pelo atraso, mas já estou com um novo notebook e vou poder terminar esta temporada como programado. Nossa viagem à Wilmington termina aqui, e semana que vem teremos a morte da temporada. Não duvidem que Theon e The Judges chegarão com tudo rs
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