[Livro] The Double Me - 3x11: Is That Even Legal In Our Country? [+18]
CURTA A PÁGINA OFICIAL DO LIVRO NO FACEBOOK CLICANDO AQUI
3x11:Is That Even Legal In Our Country?
“O que acontece em Wilmington, fica em
Wilmington”.
Alex esperava sentado em um banco de madeira
ao lado do melhor advogado que a tempestade lhe permitira encontrar. Quando Mia
foi escoltada pela porta cinza, ambos levantaram. Não havia mais nada
deslumbrante na garota de semblante angelical que encontrara no hotel.
— Alex! — Ela correu para envolve-lo em um
abraço.
— Você está bem? — Ele insistiu em perguntar.
Antes que respondesse, o advogado Matthews
estava se pronunciando.
— Preciso cuidar da papelada, esperem aqui — E
partiu rumo ao balcão.
Os dois irmãos assentiram com a cabeça e
sentaram lado a lado. Como recompensa pelas horas que passara algemada, Mia massageava
os pulsos de maneira abrandável.
— Onde está Amber? — Perguntou ao irmão.
— Esperando no carro. Foi mais fácil processar
sua retirada.
— Eu nem imagino por que... — Ironizou,
atentada involuntariamente ao movimento do salão.
Seu palpite arrolava todos os clichês sociais
sobre o perigo dos finais de semana fora de casa. Havia policiais correndo de
um lado para o outro, atendentes recebendo chamadas, pessoas exaltadas pedindo
atenção; e no banco de madeira do outro lado, um casal de hippies fazendo de
tudo para vencer a limitação das algemas e beijar. Nada lhe deixaria mais feliz
que voltar para casa e fingir que não fez parte, mesmo por um segundo, daquele previsível
show de horrores.
— Quer me contar o que aconteceu? — Alex
questionou.
— Basicamente, tudo o que contei pelo
telefone. Estávamos nos divertindo na boate, confiamos na pessoa errada e
viemos parar aqui.
— Estou dando uma chance para você falar a
verdade.
— Que verdade você quer ouvir?
— Mia, eu sei que você está vendendo drogas. E
como eu sei? Por que Nate me contou.
Mia abaixou a cabeça para esconder os olhos
penosos. Menti para todos, pensou. E mesmo assim eles fingiram que não sabiam
de nada.
— Estamos falando do nosso irmão — Continuou
Alex. — É impossível esconder algo dele.
— E por que ainda estão aqui?
— Você é da família. Não costumamos virar as
costas para a família.
Mia sentiu um súbito alívio irradiar seu
corpo, mas livrou-se dele em questão de instantes. Seu crime ainda precisava de
punição. E se não a recebesse de sua família, acertaria as contas consigo
mesma, à sua própria maneira.
— Sinto muito, Alex — Disse a ele. — Eu não
pensei que iria tão longe.
— Eu não consigo entender. Você tem tudo o que
alguém pode querer, e não estou falando apenas de dinheiro. Por que arriscaria
tudo se tornando uma traficante?
— Dinheiro é uma coisa complicada... — Mia
fitava o nada, pensativa. — Você nunca tem o bastante, não importa aonde chegou.
E a sensação de estar no controle... Você descobre que não há nada igual. Ivy
era viciada, sabia?
— Nossa mãe?
— Sim. Ela convenceu Lydia de que havia parado
depois da gravidez, mas continuou usando até eu completar onze anos. Ela
costumava dizer que era a única coisa capaz de protege-la da realidade... Achei
que era uma desculpa para justificar seu vício, até... Até comprovar por mim
mesma.
Alex hesitou em pensamento. A pergunta a
seguir estava prestes a mudar tudo.
— Você tem um problema?
— Fazer parte deste mundo por completo me dá
perspectiva. Eu morreria antes me tornar apenas uma viciada que não suporta a
própria vida.
Alex assentiu. Colocou os cotovelos sobre os
joelhos, olhou para baixo e suspirou. Havia um senso de humor bizarro nas aragens
que separaram seus pais, fizeram Nate perder o hotel e entregaram-lhe uma irmã
dependente em menos de duas semanas. Alguém deveria estar rindo em algum lugar,
celebrando a ironia de terem o equivalente em problemas quando se trata de
dinheiro no banco. Todo mundo quer ser como
nós, Nate dizia. Talvez fosse mais fácil simplesmente ser como todo mundo.
— Você sabe que precisamos resolver isso, não
é? — Olhou para ela.
— Farei o que for necessário.
— Ótimo. Prepara-se.
Depois de cuidar da papelada, Matthews os
liberou. Encontraram Nate e Jensen em frente à delegacia, sendo protegidos pelo
enorme toldo que impedia a chuva de atingi-los.
— Está tudo bem? — Nate perguntou ao irmão.
— Sim.
— Cuidou do nosso pequeno problema?
— Tudo certo — Alex garantiu. Como poderia
esquecer se tinha sido a primeira vez que subornara as autoridades? Faria
qualquer coisa para não ver o contratempo de Mia nos jornais de amanhã.
— Okay, vamos para casa — Nate tomou a frente
— Para casa? — Mia estava confusa. — E a
reunião de amanhã?
— Cancelada, nós perdemos.
— E vamos embora agora? Nessa chuva?
Nate virou para ela com o olhar impaciente.
— Você perdeu o direito de opinar quando foi
pega por porte de cocaína. Estamos indo para casa, e é melhor entrarem no carro.
Contra a parede, Mia decidiu apenas fazer o
que lhe era mandado. Anuiu discretamente para o irmão e correu através da chuva
ao lado de Alex. Nate estava pronto para fazer o mesmo quando o namorado o
segurou pelo braço.
— Tem certeza que é uma boa ideia?
— Não temos nada a fazer aqui — Nate
respondeu.
— Podemos passar a noite no hotel e ir embora amanhã.
— Isso foi um erro, não deveríamos ter vindo.
E eu não posso ficar nem mais um segundo aqui. Vamos apenas ir embora e
esquecer tudo isso, okay?
— Okay — Mesmo relutante, Jensen aceitou.
Correram juntos pela chuva e entraram na pick-up
pela porta de trás. Dividiram o assento com Cameron, Amber e Thayer, tendo Alex
e Mia escolhido os assentos da frente.
— Vamos embora — Nate ordenou ao motorista.
E deixaram para trás o final de semana
perfeito.
A viagem seguiu monótona, passando por todos –
ou boa parte – dos pontos turísticos de Wilmington. Nate viu shoppings,
cassinos, parques, cinemas, restaurantes e boates, todos desinteressantes demais
para invalidar seu fracasso.
“Fracasso”, ouviu a própria voz ecoar em pensamento; a
mesma voz que parabenizava Theon pela excelência de seu plano. Manipular um dos
antigos donos do hotel a abrir um processo judicial contra a venda foi uma
jogada de mestre. Nenhum dos vendedores estava disposto a esperar meses em um
tribunal para concluir o negócio. E a única condição era avaliar a proposta do
novo comprador.
Nate tinha certeza que Theon pagara muito mais
do que valia o LeFevre. Não arriscaria um movimento tão perigoso quando sua
vingança dependia da decisão da bancada de venda. Manipular os vendedores a
avaliarem com antecedência uma proposta fantasma e oferecer muito mais do que
ganhariam em um procedimento normal? Outra jogada de mestre.
“Tomamos as
providências cabíveis mediante a situação”
— Dizia o e-mail enviado quando chegaram a delegacia. Deve ter sido um prazer
fazer negócios com os De Beaufort... Principalmente quando custavam as cabeças
dos Strauss, cada uma em uma lança.
— O que está acontecendo? — A voz de Amber o
despertou de seu devaneio.
Quando olhou para frente, viu uma fila de
carros em direção oposta regida por dois policiais de trânsito com uniformes
pretos de chuva. Havia cones alaranjados dividindo a estrada e luzes incandescentes
que piscavam de dois em dois segundos; tudo para manter os motoristas seguros...
E insatisfeitos. Agora Nate podia ouvir o incessante barulho de buzinas que
tomou o tráfego.
— O que está acontecendo? — Aproximou-se do
banco da frente para ver melhor.
— Não sei, está interditado — Respondeu-lhe Will,
o motorista.
— Houve um acidente? — Alex também olhava
curioso do banco do passageiro.
Ao notar a pick-up parada no acostamento, a
alguns metros do desvio, o policial com a placa vermelha decidiu se aproximar. Will
abaixou o vidro até a metade.
— Qual o problema?
— A estrada está inundada, vocês precisam
fazer um desvio! — Gritou o policial.
— O que? — Nate quase acionou a veia nervosa
em sua testa.
— É impossível atravessar. A estrada só será
liberada pela manhã.
— Temos um voo marcado para uma hora,
precisamos chegar a pista de decolagem.
— Poderiam seguir pela 33, mas levariam uma
hora a mais. Com este trânsito e esta chuva, também pode ser perigoso.
Jensen finalmente encontrou uma ótima
oportunidade para dizer o que estava pensando.
— Eu disse que não era uma boa ideia.
Mas Nate preferiu ignorar. Teria tempo de
fuzilá-lo com os olhos quando revolvesse o problema em que se meteu.
— Aconselho vocês a passarem a noite em um
hotel pelas redondezas — O policial continuou. — Vai ser difícil conseguir
acesso as interestaduais com esse clima.
— E não há nada que possamos fazer? — A voz de
Nate soava desesperançosa.
— Terão que remarcar o voo, sinto muito.
O policial se afastou para conversar com o
próximo motorista enquanto Nate raciocinava.
— Podemos tentar por outra estrada — Disse. —
Esta não deve ser a única que nos leva a pista de decolagem.
— Não ouviu o que ele disse? — Alex
contra-atacou. — É perigoso e leva uma hora a mais.
— Não podemos perder esse voo.
— Não vou discutir com você. Estamos aqui por
sua causa, e agora não é você quem decide. Vamos parar em algum hotel e ver o
que fazemos amanhã.
— Neste caso, deveríamos voltar para o
Fairm...
— Nesta chuva? — Thayer deu um ar de risos. —
Por que você continua tentando matar a si mesmo, Nathaniel?
— Não, está decidido — Alex disse. — Will, nos
leve a um hotel. Partiremos pela manhã.
൴
Encontraram três hotéis estradeiros no caminho
de volta. No Red Carpet viram tudo o
que precisavam, menos vagas para sete. No Mill
Basin, apenas atendentes pervertidos e paredes apodrecidas. Pensaram que o
próximo lhes traria o conforto de uma noite de sono, mas novamente a multidão
do desvio chegara primeiro.
Treze quilômetros foram percorridos através da
interestadual até que encontrassem o The
Sharon’s. Localizado em uma área desértica, o hotel ostentava um letreiro em
neon com a silhueta de um pássaro de asas abertas e uma citação em aspas
pequena demais para que pudessem ler àquela distância. As palavras “Temos
Vagas” piscavam em neon na cor azul escura; a mesma das portas do primeiro andar,
e dois tons mais carregadas que as portas do segundo andar.
Will estacionou o carro em frente a varanda da
recepção. Nate e Jensen pularam por baixo do toldo e passaram pela porta,
acionando os sinos de entrada.
— Bem-Vindos ao Sharon’s! — Disse a jovem de cabelos ruivos atrás do balcão.
Nate levou um segundo para observar o
ambiente. Paupérrimo, decadente e ultrapassado. A jovem de vestido conservador
e penteado da vovó que sorria acanhada ajudava tão pouco quanto o rapaz de
cabelos encaracolados e olhar reprimido que cuidava da papelada. Cada um deles
possuía um crachá de identificação no lado esquerdo do peito; Mary Ann e Peter,
respectivamente.
— Olá — Jensen se aproximou.
— Deixe-me adivinhar — A garota o interrompeu.
— Estavam saindo da cidade e foram obrigados a voltar por causa da tempestade.
— Por favor, diga que tem quartos disponíveis.
Ela quase sorriu diante da súplica.
— Para quantas pessoas?
— Dois casais e mais três pessoas. É pedir
demais nesta chuva?
— Não se preocupe — Mary sibilou enquanto
digitava em seu computador. — Os motoristas geralmente ficam nos hotéis mais
próximos a barreira quando há tempestade. Devem ter encontrado meia dúzia de
outros hotéis lotados antes de chegarem até aqui, não é?
— Sim — Jensen respondeu, no mesmo instante em
que Peter deixava o cotovelo cair para fora da mesa. O ruído inesperado
rendeu-o vários olhares confusos dos que estavam presentes. — Então... — Voltou
à Mary sua atenção. — Vocês são nossa única esperança.
— Precisarei de suas identidades.
— Tudo bem.
Jensen passou pela porta de entrada. Encontrou
os amigos descendo da pick-up e correndo até a varanda, tagarelando sobre qualquer
coisa irrelevante. Pediu suas identidades e em meio instante já estava de volta
ao balcão.
— Ai meu Deus, nós vamos morrer afogados... —
Amber cruzou os braços para enganar o frio. Olhava para a chuva com remorso, atenta
e melodia insípida de um temporal.
— Por que estamos mesmo indo embora? — Cameron
indagou.
— Nate não conseguiu fechar seu primeiro
negócio como presidente da Strauss International — Mia soprou fora a fumaça de
seu cigarro. — Se não for dinheiro, Wilmington não tem mais nada a oferece-lo.
— Então podemos ficar, se quisermos?
— Eu sou uma ex detenta, não acho que tenho
escolha.
— Viemos juntos, temos que ir embora juntos —
Alex disse. — E isso inclui você, Cameron, por mais que eu odeie admitir.
Cameron riu da própria depreciação.
Próximo ao namorado, Thayer tentou controlar o
repentino acesso de tosse. Alex segurou uma mão para confortá-lo; parecia tocar
uma pedra de gelo.
— Suas mãos estão frias... Está tudo bem?
— Sim — Thayer pigarreou uma última vez. — Só
estou com frio...
— Quer meu casaco? — Alex tentou tirar, mas
foi interrompido.
— Não, tudo bem. Só preciso de um quarto e um
cobertor — Abraçou-o de lado, com os cabelos dele em baixo de seu queixo.
— O que, em nome de Deus, é aquilo? — Amber murmurou,
e todos olharam na mesma direção.
A chuva arruinava os planos de qualquer
conterrâneo a quilômetros de distância, menos os do senhor de camisa xadrez e
caminhonete vermelha em meio ao estacionamento. Puxava o cadáver de um burro pelo
asfalto através de um arame, levando uma espingarda no suporte preso nas
costas. De tão minúsculo perante o animal, precisava parar de instante em
instante para recobrar suas forças e continuar o trajeto. Provavelmente contava
com a ajuda da chuva para limpar os retos mortais que espalhava pelo chão.
— Ele é um serial
killer ou algo assim? — Mia estreitou os olhos, cheia de repulsa.
— Talvez seja para fazer um ritual. Olhem,
eles são religiosos — Cameron apontou para o dizer na porta da recepção.
“O senhor é
meu pastor, e nada me faltará”
— Todos leram.
— Bem original — Mia virou com desdém.
— Pensei que só usassem virgens em rituais — Alex
comentou.
Thayer estava preparado para a próxima
provocação.
— Neste caso, oferecemos Amber em troca de uma
boa colheita.
Suas risadas teriam ecoado pelo hotel inteiro
se não fosse a tempestade. Nem mesmo o mau humor de Mia foi capaz de resistir à
tentação de um escárnio gratuito.
— Para sua informação, não sou virgem há três
anos — Amber levantou o dedo. — E depois de hoje, talvez até seja bissexual.
Mais risadas vieram para acompanhar as
anteriores. Mia não fez desfeita, mas deixou-se perder nos próprios
pensamentos. Amber gostava de homens? Amber gostava de mulheres? Amber
pretendia beijá-la? Amber sentia alguma coisa? Amber falava muitas asneiras
quando estava bêbada? Amber se arrependeria de tudo quando estivesse sóbria? Tarde
demais, até mesmo seu cigarro sabia que estava interessada.
— Desculpe-me, mocinha — Chamou uma senhora de
meia idade com os cabelos grisalhos presos em uma tiara azul e um vestido
florido bastante discreto. O colar em forma de cruz parecia brilhar sob a
luminosidade da lâmpada, assim como seus olhos azuis. — É proibido fumar nesta
área.
— E você quem é? — Mia assoprou mais uma
rajada de fumaça.
— Eloise Harper, a proprietária do hotel.
Foi o bastante para que Mia desistisse de sua
arrogância. Pediu desculpas, tirou o cigarro da boca e apagou na viga mais
próxima. Os olhos simpáticos de Eloise revelavam uma intimidação pacífica e
assustadora para os novos inquilinos. Alex e Thayer afastaram-se num piscar de
olhos, temendo sua reprovação.
— Sei que a juventude de hoje não é adepta ao
conservadorismo, mas nós do sul preferimos manter a ordem; pelo menos em nossos
estabelecimentos — Ela sorriu. Tanta simpatia emitia um odor diabólico que
pesava no ar. — Eu sei que vocês entendem.
— Perdão, Senhora Harper — Alex pediu. — Respeitaremos
suas regras enquanto permanecermos.
— Não acredito que viemos parar nesse fim de
mundo — Nate atravessou a porta da recepção. De repente, todos lhe voltaram o
olhar.
— Olá, acredito não nos conhecemos — Eloise
estendeu-lhe a mão. Nate a cumprimentou com o mesmo interesse. — Me chamo
Eloise Harper, a proprietária do fim de mundo.
— Nathaniel Strauss, um hóspede desesperado
que não sabe o que diz.
— Strauss? — Ela hesitou, desconfortável.
Nate tinha certeza que fora reconhecido. E a
primeira impressão causava incômodo no cristianismo egocêntrico de sua anfitriã.
Havia dizeres bíblicos por todo o hotel, como notara na recepção. Se isso não
dizia tudo o que precisava saber, talvez o crucifixo pendurado no peito de
Eloise dissesse.
— Algum problema? — Nate perguntou.
— Absolutamente, não. Tenham uma boa estadia,
e não se esqueçam de deixar suas recomendações no nosso bloco de cabeceira.
Eloise apressou os passos para a recepção no
momento exato em que Jensen voltava. Pela vidraça, Nate observou-a caminhar até
o balcão e repreender os filhos a moda antiga. Não houve agressão, apenas um abuso
verbal que imediatamente relacionou a sua presença.
Quando os filhos partiram, Eloise tomou a
liberdade de lançar um último olhar soberba para o novo hóspede. Durou apenas
um instante, mas foi o suficiente para Nate perceber o quanto não era bem-vindo.
— O que acabou de acontecer? — Nate virou para
os amigos, incrédulo.
— Ela o conhece? — Mia perguntou.
— Deve conhecer para saber que precisa manter
distância — Cameron coçou a cabeça.
Nate fitou o nada com a velha expressão de
garoto levado.
— Interessante...
— Will, pode tirar as malas do carro — Jensen
ordenou. — Aqui estão as chaves — Deu uma para Alex, outra para Mia, outra para
Nate e a última para Cameron, sem fornecer direito de escolha. — Cameron, você terá
que dormir sozinho. Espero que não haja problemas.
— Nenhum — O garoto respondeu.
— Então é isso aí... — Amber murmurou.
Nate parecia ser o único insatisfeito com o
desfecho de sua noite. Isolando o incidente com Theon e a tempestade que o fez
perder o voo, sobrava a recepção não tão calorosa de uma fanática religiosa que
desprezava o sobrenome Strauss e comportava-se como a rainha de um hotel de
estrada. Não era uma boa noite para levar desaforos para casa.
— Esta viagem infame termina por aqui. Venha,
Jensen, vamos fazer um Bondage Hardcore Creampie
Bareback para homenagear os deuses — E partiu rumo ao quarto, com o
namorado logo atrás.
— Isso é ao menos permitido no nosso país? —
Alex franziu a testa.
— Sim — Thayer o envolveu novamente em um
abraço. — Mas aparentemente, é contra as leis de Deus.
Alex riria se não estivesse ciente do contexto
trágico da piada. De qualquer maneira, ainda esperava que o irmão estivesse
brincando.
൴
O quarto cheirava a incenso e a tinta fresca. Em
cima da escrivaninha, Alex notou um par de terços e uma bíblia de capa dura
aberta no salmo noventa e um. A cama fora arrumada de maneira impecável,
coberta por dois lençóis de algodão na cor verde e dois travesseiros a
cabeceira. Estava claro que a família Harper tinha-o acabado de reformar.
— Finalmente — Thayer jogou a mala no chão e pulou
de braços abertos sob o colchão.
— O que foi? Não é a viagem dos seus sonhos? —
Alex caminhou até a penteadeira, preparado para trocar de roupa.
— Eu prefiro o Brasil. Eles têm o carnaval e é
quente o ano inteiro.
Alex tirou o casaco. Jogou a camisa de baixo em
cima da mala e vestiu a essencial para uma noite de sono.
— Isso quer dizer que você aceitaria passar o
ano novo em Copacabana?
— Copa-o-que? — Thayer tirou seu jeans em meio
segundo.
— A praia — Alex caminhou até a cama, já com a
bermuda de dormir. Posicionou-se nos braços dele sob os lençóis e continuou a
ideia. — Nate e Jensen estarão em Machu Picchu, então seremos só nós — Beijou-o
entre um sorriso.
Thayer correspondeu, de olhos fechados. Conseguia
visualizar perfeitamente o futuro. Alex e ele, as roupas brancas, a praia, os
fogos de artifício, o beijo a meia-noite... Tudo se encaixava. A multidão ao
redor gritava pela chegada do ano novo, mas poderia fingir o quanto quisesse
que era apenas para eles dois.
Quando seus olhares se encontraram, a magia desvaneceu.
— Seu nariz está sangrando — Alex murmurou, em
tom alarmado.
Thayer passou dois dedos por cima da boca e
observou. Estavam ensopados de sangue... E havia mais nos lençóis.
— Eu... — Pulou da cama e correu veloz para o
banheiro.
Alex pôde ouvir a tranca selando-o para o lado
de dentro.
— Thayer? — Ele chamou. Sem obter resposta, levantou-se
e caminhou até a porta. — Thayer? Está tudo bem? — Forçou a maçaneta.
Thayer permaneceu em silêncio; assustado demais
até para articular uma mentira confortável. Pegou dois rolos de papel higiênico
e começou a limpar o sangue de maneira agressiva. Em seus olhos estavam presas
todas as lágrimas que nunca mostraria a Alex. Por favor, não me deixe ficar doente, repetia para si mesmo, ou
para qualquer deus que estivesse ouvindo. Por
favor, eu não posso estar doente.
Mais aterrorizante que o enfezar de seu corpo,
apenas perder Alex.
No quarto ao lado, em frente a janela, Nate observava
a tempestade como se as pequenas gotículas caindo no asfalto pudessem trazer de
volta o que lhe foi tomado. Ainda pensava em Theon, e no hotel LeFevre, e na
saída triunfal do inimigo, e na barreira no meio da estrada que o privara de um
banho quente e uma noite de conforto na própria cama. Como se não bastasse, havia
ficado com um quarto cheio de mofo que nem passara perto da reforma atual da
família Harper. Encontrou cimento, tinta e ferramentas de reboco no canto do
banheiro, apenas esperando a boa vontade dos proprietários.
— Uma moeda pelos seus pensamentos? — Jensen o
observava da cama, as pernas esticadas e a cabeça no travesseiro.
— Você não quer investir seu dinheiro em mim.
— Teste-me.
Nate suspirou de cansaço.
— Eu não acredito que perdi...
— Porque Nathaniel Strauss nunca perde?
— Porque estamos falando sobre o legado da
minha família — Nate virou-se para encará-lo. — E se algo acontecer a Simon? E
se meus irmãos terminarem com nada? E se eu perder tudo? Você mais do que
ninguém sabe que não posso perder tudo outra vez, não depois de vender minha
alma para sobreviver a pessoa que me tornei. Eu tenho você, e por isso estou
certo de que sou feliz. Mas preciso da minha própria vida. E preciso que ela
signifique alguma coisa.
Jensen anuiu em concordância. Apesar do que Nate
estaria pensando, todas as suas palavras soavam justas e admissíveis.
— Okay — Levantou da cama. — Mas acho que você
está sendo precipitado... — Avançava em direção ao namorado à medida que
dialogava. — Você será o empresário mais bem-sucedido de Nova York... Tudo o
que precisa fazer é esperar — Perto o suficiente, envolveu-o pela cintura para
um beijo carinhoso.
Nate sorriu sereno, reprovando veemente a
habilidade de Jensen McPhee em fazê-lo esquecer de ser a si mesmo.
— Venha, deixe-me cuidar de você — Jensen o
puxou pela mão.
Jogou-o na cama, montou por cima e deixou que
seus lábios encontrassem um ao outro. Nate arfou com o toque de suas mãos
subindo por baixo da camisa e abrandando seu frio particular, isento de
qualquer pensamento negativo que pudesse abalar o clima perfeito. E dominado
por beijos ardentes que percorriam seu pescoço, fechou os olhos. Abriu-os de
novo por um breve momento, e fechou outra vez.
Como de relance, abriu os olhos novamente e
captou o ambiente a direita da cama, justo no momento em que uma tarântula descia
o abajur para junto da bíblia no criado mudo.
Nate gritou de maneira estrondosa e empurrou o
namorado para o chão. Correu da cama até a porta, histérico e amedrontado.
— O que foi? — Jensen perguntou.
— Uma aranha! — Ele apontou.
Jensen quase arregalou os olhos quando notou seu
tamanho. Já era de esperar que Nate ficasse tão apavorado.
— O que está acontecendo? — Alex escancarou a
porta de maneira nervosa. Atrás vinham Thayer, Mia, Amber, Cameron e dois
filhos de Eloise; um mais curioso que o outro para ver o motivo de tal
escândalo.
— Tem uma... — Agora Nate mal conseguia falar.
— Aranha...
Alex atentou para o local apontado.
— Você está com medo disso? — Mesmo com as
indagações do irmão, aproximou-se do criado mudo e tomou a tarântula em seus
dedos. — Olhe, ela está assustada — Acariciou o inseto como se fosse um recém-nascido
enquanto o irmão permanecia irrevogavelmente alarmado.
— Alex? Como você...? Por que...? Você é
tipo...? Vão tomar no cu! — Exclamou Nate antes de trancar-se no banheiro.
Alex olhou para todos os presentes.
— Okay — Começou a andar. — Vou deixa-la em um
local seguro e longe do meu irmão...
— E longe de mim também — Amber se afastou com
repulsa.
Tudo parecia estar resolvido. Alex levou a
aranha para fora do quarto e metade dos hóspedes já podia respirar aliviado.
— Okay, acho que Nate precisa de um pouco de
privacidade agora — Jensen murmurou.
— Para gritar como uma menininha? — Thayer
sorriu.
— Vai tomar no cu, viadinho patético! — A voz rumorosa
de Nate parecia ecoar pelo hotel inteiro.
Jensen só pôde exibir um sorriso sem graça
para os amigos.
— Este é o homem da minha vida.
Ironia ou não, era a única verdade que
conhecia.
Next...
3x12: Can't Control the Kids (02 de Maio)
Semana que vem nos despedimos de Wilmington, mas não sem o nosso barraco de cada sábado. Nova-iorquinos VS Conservadores da Carolina do Norte. Quem vence?
Post a Comment