[Livro] The Double Me - 3x04: If You're Just an Evil Bitch, Then Get Over It [+18]
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3x04:If
You're Just an Evil Bitch, Then Get Over It
“O passado nunca esquece. Ele acerta as contas”.
— Não, pai, não precisamos ligar para a Tia Genna
em Amsterdã — Jensen resmungou ao celular. Há muito tempo estava tentando
convencer o pai a não fazer grande coisa de seu acidente. Quando Patrick McPhee
havia se tornado uma mãe preocupada?
— Hey... — Disse Nate ao abrir a porta do
apartamento. Colocou o casaco em cima da escrivaninha e deu dois passos à
frente.
Percebendo sua chegada, Jensen decidiu cortar
o assunto pela metade e despedir-se do pai.
— Tudo bem, nos vemos amanhã no hospital. Mas
agora tenho que desligar... — Houve uma pequena pausa dramática enquanto Patrick
lhe ditava o que parecia ser um discurso de formatura. — Não, eu realmente
preciso desligar. Falo com você depois. Tchau, eu também te amo. — E encerrou a
chamada.
— Você está bem? — Nate correu para seus
braços. O toque de sua mão nos braços de Jensen liberou toda a dor que o
namorado estava tentando ignorar, fazendo-o recuar com cautela.
— Uow, vai com calma...
— Você me assustou. O que aconteceu?
Jensen mal sabia por onde começar. Já havia
contado a história para os policiais, os médicos, seu pai, o amigo da família e
os empregados; o que restaria a Nate depois de receber uma versão resumida de
Thayer pelo celular? Como se não bastasse culpar a si mesmo por preocupação
desmedida que o namorado não precisava.
— Estou bem, foi apenas um acidente — Ele
sussurrou.
— Merda, você é inacreditável! — Nate o abraçou
com todas as forças.
Seu braço doeu, suas costas gritaram, mas
Jensen nem pensou em se afastar. Tais agonias seriam totalmente admissíveis
contanto que tivesse Nate em seus braços, com seu perfume Armani e o aroma de
verão nos cabelos atrapalhados. Se tivesse um pouco de sorte, seu cheiro
ficaria impregnado em sua roupa mesmo depois de vê-lo partir.
— Está tudo bem... — Murmurou para Nate. — Estou
aqui.
— Por agora, mas quem pode garantir o dia de
amanhã? — Thayer havia aparecido na sala de estar com uma garrafa de cerveja na
mão direta e um par de algemas na esquerda. Para o que estava prestes a dizer,
só precisou levantar a esquerda. — Ah, eu encontrei isso no banheiro. E
sinto-me estranhamente confortável com o fato de não precisar perguntar.
— Ótimo — Nate ironizou, decepcionado com o
desfazer de seu momento. — O campeão está aqui.
— Você poderia me amar menos, sabia? — Thayer
caminhou até a poltrona. — Se eu não estivesse aqui, seu namorado iria esconder
a grande verdade sobre o acidente de carro.
Nate encontrou o olhar culpado do namorado em
meio a sua dúvida.
— Do que ele está falando?
— Você não tem tato? — Jensen acusava Thayer.
— Isso não é da sua conta.
— Me desculpe — Thayer levantou as duas mãos
para o alto, fingindo rendição. — Só estou tentando impedir que você cometa um
grande erro e pague por isso com greve de sexo no futuro.
— Okay, Thayer, vá se foder — Nate virou para
Jensen outra vez. — E você precisa me dizer o que está acontecendo.
Jensen suspirou, derrotado. Talvez devesse
mesmo agradecer a Thayer pela intromissão, no fim das contas. Agora não
precisava mais mentir para Nate e fingir que tudo não passou de coincidência.
— Tudo bem... — Tirou uma folha de papel de
dentro do bolso e lhe entregou.
Nate leu a mensagem com atenção, bastante
preocupado em relacionar o discurso homofóbico com a imagem minimalista de uma
foice como logotipo. Seria assustador se Nate não tivesse ligado o ocorrido a
todos os filmes Hollywoodianos que já
assistiu.
— Então um grupo de homofóbicos tentou
assustá-lo?
— Não qualquer grupo — Thayer levantou-se da
poltrona. — “The Judges”.
— E você acha que isso significa algo para mim
porque...?
— Nunca ouviu falar nos The Judges? O grupo
anti-gay mais agressivo do país desde a seita religiosa em Massachusetts?
Vivemos na era digital, só para você saber.
— Okay... — Nate levou apenas um segundo para
avaliar seu nível de interesse na conversa. — Estou ouvindo.
— Não é o bastante, você precisa ver.
Thayer correu para dentro do quarto sem dar
qualquer explicação. Nate estava prestes a perguntar o que estava acontecendo
quando o viu passar pela porta com um notebook nas mãos.
— Aqui — Levou o aparelho até a mesa da
cozinha e sentou-se na cadeira mais próxima. Nate e Jensen decidiram entender
como um chamado confraternal.
Ao se
aproximar, viram Thayer digitando as palavras “The Judges USA” na barra de pesquisas
de um site de vídeos desconhecido. Havia tantos resultados que nem mesmo a
internet fora capaz de processá-los com rapidez. Além da facilidade de acesso,
todos os links tagueados com as
palavras de busca também possuíam o nome de alguns estados americanos, identificando
à primeira vista o local onde as cenas foram filmadas.
— O que é isso? — Nate perguntou.
— Eles gostam de filmar seus feitos e publicar
na internet... — Thayer não hesitou em clicar no primeiro link, intitulado como “Hereges da Califórnia”.
O vídeo começa mostrando uma garota de cabelos
negros sendo torturada por um grupo de mascarados que só vez ou outra apareciam
no visor. As acusações agressivas dos criminosos assolavam a vítima junto de
tapas no rosto e cigarros acesos, que usavam para infligir dor a quem estava
sendo dominado.
Aos quarenta segundos de vídeo, a cena é
cortada para mostrar duas garotas sendo perseguidas em uma estrada deserta. Uma
delas fora a vítima de segundos atrás, e a outra mal podia aparecer devido a
escuridão. “Matem as lésbicas!” — Alguns dos criminosos gritavam dentro do
carro que soltava rojões. E de repente tudo fez sentido diante dos olhos de
Nate e Jensen.
— Ai meu Deus... — Nate virou o olhar
rapidamente. — Quem são esses caras?
— Isso é doentio — Jensen cuspiu. Seu acidente
de carro parecia uma brincadeira de criança perto do que os criminosos eram
capazes de fazer. — Por que a polícia não faz nada?
— Eles são inteligentes — Thayer respondeu. — A
polícia nunca conseguiu encontrar evidências que os levassem a identidade dos
agressores.
— E eles fazem isso pelo país inteiro? — Nate
passou a mão na lista de vídeos no monitor, de cima para baixo.
— Sim — Thayer novamente respondeu. No momento
certo seus amigos saberiam que era um especialista nos “The Judges” e todos os
crimes que cometeram. — Eles começaram em Nevada, depois Califórnia, Arizona,
Novo México e Texas, até chegarem em Nova York.
Nate tomou a liberdade de clicar no próximo vídeo
intitulado como “O Pecador de Illinois”. Tratava-se da triste história de um
adolescente de quatorze anos que fora afogado numa banheira diversas vezes para
satisfazer o ego dos criminosos. Seus olhos azuis imploravam por misericórdia, mas
não havia nada além de sofrimento que pudessem lhe oferecer.
— Eu não posso assistir isso — Nate se
afastou. Muitas coisas passavam-lhe pela mente, e nenhuma delas achava justo
que pessoas sofressem dessa maneira. — Eu não consigo...
— O que podemos fazer? — Evitar que fossem as
próximas vítimas era a única coisa que Jensen conseguia pensar.
— Absolutamente nada — Thayer virou-se, já em
pé. — Nem mesmo a polícia conseguiu detê-los. Devem ter alguém infiltrado para
assegurar sua impunidade.
— Não sei quanto a você, mas eu não vou
esperar chegar a minha hora de ser afogado.
— Já temos agentes federais e grupos
especializados trabalhando na captura desses criminosos. Não há nada que
podemos fazer estando no papel de vítima. Quer dizer, se eles estão tentando
atingir Nate Strauss e Jensen McPhee, os maiores representantes homo afetivos
da América, boa sorte a eles, porque enfrentarão a fúria de uma nação inteira a
ponto de chamar a atenção da Casa Branca. Não conseguem ver? Vocês têm tudo o
que precisam para sobreviver a esses filhos da puta. Não estraguem tudo
tentando dar uma de heróis.
Nate e Jensen pareciam mais calmos com o
repentino choque de realidade. O que poderiam fazer se sabiam apenas o que seus
inimigos deixaram? A vingança contra os julgadores deveria ser planejada com
mais cautela, depois que todos lidassem com suas devidas prioridades. Falando
nisso, Nate tinha um importante trabalho a fazer.
— Acho que você tem razão — Olhou brevemente
em seu relógio de pulso antes de encarar Thayer. — Mas é hora de irmos.
— Tudo bem — Thayer começou a caminhar em
direção ao seu casaco. Nate fez o mesmo logo em seguida.
— O que está acontecendo? — Jensen não sabia
para qual dos dois estava perguntando.
— Nós temos um compromisso — O namorado lhe
respondeu. — Prometo que volto antes da meia-noite.
E antes que percebesse, Nate e Thayer já
estavam em frente a porta com seus casacos e as chaves do carro.
— Vocês vão cometer algum crime? — Achou-se no
direito de perguntar. Afinal, tinha acabado de sofrer um atentado e estava
sendo abandonado.
— Não se preocupe — Nate sorriu. — Vamos
resolver seu problema com os “The Judges”. Ninguém machuca meu homem e vive
para foder no dia seguinte.
Girando a maçaneta da porta, Nate encontrou o
irmão parado no corredor, com o punho erguido. Parecia que estava prestes a
bater na porta quando foi surpreendido por esta estranha ironia.
— Okay, estou tendo um déjà vu — Nate
comentou.
— Oi, eu... — Alex olhou para um de cada vez.
— Todos estão aqui.
— Não por muito tempo. Thayer e eu já
estávamos de saída — Nate passou por ele.
— Na verdade, Nate, estava pensando se todos
nós poderíamos convers...
— É um péssimo momento, little brow. Vamos esperar até amanhã.
— Tchau — Thayer beijou o namorado em fração
de segundos. — Me desculpe, realmente precisamos ir. Nos falamos quando eu
voltar.
— Tudo bem... — Alex acenou, derrotado.
Quando Thayer e Nate desapareceram de sua
vista, olhou timidamente para Jensen dentro do apartamento. Ambos sentiam-se
como o prêmio de consolação oferecido pela vida agitada de seus namorados. Se
ao menos não estivessem pensando que aquela era a primeira vez que ficavam
sozinhos desde que tudo aconteceu...
— Você ainda pode falar comigo, se quiser... —
Jensen proferiu, dando um ar de risos envergonhado.
Alex sentiu que precisava analisar mentalmente
a proposta antes de dar uma resposta. Tirando o fato de serem ex namorados que
terminaram através de uma briga e Jensen manter um relacionamento estável com
seu irmão gêmeo, Alex não via motivos para não dar uma chance ao florescer de
uma nova amizade. Ainda precisava desabafar como nos velhos tempos, e Nate
parecia ocupado demais para lhe dar uma chance.
— Na verdade... — Alex hesitou para mudar de
ideia. — Seria ótimo. — E fechou a porta atrás de si.
— Okay. Quer alguma coisa para beber?
— Você tem suco de laranja? — Alex acomodou-se
no sofá da esquerda.
— Sempre. Volto já. — Jensen se despediu com
um meio sorriso e partiu em direção a geladeira.
Com alguns segundos para matar, Alex perdeu-se
na decoração exuberante do novo apartamento. Agora não havia mais cômodos, era
apenas um grande ambiente aberto onde os móveis foram organizados
separadamente. Para ir da sala de estar até a cozinha, bastava caminhar alguns
passos. Para ir da cozinha até a área de serviço, bastava atravessar de um lado
para o outro. E era bom ter uma porta depois de todos os dramas envolvendo o
elevador do antigo edifício.
— Está aqui — Jensen já estava de volta.
Entregou o copo de suco para Alex e sentou-se no sofá a sua frente.
— Obrigado — Alex tomou o primeiro gole. Estava
doce demais para que tomasse o segundo de uma vez.
— Então... Como eu posso ajudar?
— Eu... Eu realmente não sei por onde começar.
— Bem, pode começar dizendo o que diria a
Thayer se ele não tivesse raptado o meu namorado.
Alex permitiu-se sorrir junto a ele em meio
aos pensamentos gritantes. Mais algumas piadas internas e seria capaz de trazer
a espontaneidade de volta.
— Eu não sei... Essa é a primeira vez que
ficamos sozinhos no mesmo cômodo em seis meses e eu não quero que seja
estranho.
— Não precisa ser estranho — Jensen rebateu. —
E tecnicamente, esta não é a primeira vez que ficamos sozinhos. Não lembra do
carnaval no Brasil, quando Nate desapareceu e ficamos duas horas dentro do
carro para não nos perdemos?
— Mas isso não conta. Eu estava bêbado e você
mal humorado por causa do calor. Se não fossem as músicas no rádio, teriam
encontrado nossos corpos no dia seguinte.
— Tudo bem — Jensen se deu por vencido com uma
risada.
Deixando de lado o clima desfavorável e o inusitado
desfecho – com vômito – na volta para casa, a viagem para o Brasil tinha sido
prazerosa à todos eles. Thayer ganhou um bronzeado, Alex conheceu outras
culturas, Nate humilhou a suposta elite da nação, Mia teve um caso com a
piscina do hotel e Jensen fez amizade com os amantes de esporte que encontrou
pelo caminho. No final, todos ganharam, incluindo a apresentadora oriental com
uma pinta na testa que pediu uma foto sendo carregada por Nate. Ele ficou tão
animado que propôs uma selfie fazendo
os gestos obscenos das coreografias de Miley Cyrus.
— Então... Fale comigo — Jensen usou o tom de
voz cauteloso só por precaução.
— Okay — Alex deixou seu copo em cima da mesa
de centro e enfiou a mão no bolso. De dentro tirou o lenço bordado que os
vândalos fizeram questão de deixar na cena do crime. — Você sabe o que é isso?
Jensen hesitou ao notar do que se tratava. Não
havia prometido guardar segredo, mas não podia compartilhar tudo o que sabia. Nate
não diria nada se soubesse que a falta de informação protegeria o irmão; então
era exatamente o que deveria fazer.
— Onde você conseguiu isso? — Perguntou ao
invés.
— Alguns caras deixaram em uma das garrafas em
chamas que quase incendiaram meu carro novo.
— Ai meu Deus, você está bem?
— Estou vivo. Com a dignidade carbonizada, mas
vivo — Alex nem acreditava que tinha acabado de fazer uma piada. Para alguém
que culpou a si mesmo durante todo o trajeto até o apartamento, talvez não
estivesse tão ruim.
— No que você está pensando?
— Eu não sei... Amanhã sairá nos jornais que
eu e Mia fomos atacados por alguns desconhecidos sem motivo aparente, mas sei
exatamente porque fizeram isso. É porque eu sou eu, porque o meu eu escolheu um
homem ao invés de uma mulher. Não me entenda mal, não acho que tem algo errado
comigo por causa disso. Eu só fui estúpido o bastante para acreditar que minhas
escolhas não trariam consequências, como se o mundo simplesmente fosse nos
deixar em paz — Alex fez uma longa pausa no desabafo. Deu um ar de risos
depressivo, desviou o olhar e deixou que fosse guiado pelas palavras certas. — Eu
só... Eu não consigo acreditar que existem pessoas lá fora que são capazes de
fazer isso conosco só porque estamos apaixonados. É isso que Deus aprova? É
este o caminho mais rápido para as escadarias do céu?
Jensen coçou a nuca, sem saber o que dizer. Era
a primeira vez que tentava entender a relação entre sua vida sexual e as doutrinas
cristãs. Patrick sempre desprezou qualquer coisa relacionada a fé, pois o único
Deus que conhecera foi o dinheiro. Sua mãe, tão esmerada e superficial, nunca
esteve disponível para estimular as crenças do filho. E os empregados – a
maioria imigrantes mexicanos – só sabiam acender velas e rezar para pessoas
mortas com nomes estranhos.
Durante a maior parte de sua vida, Jensen
nunca achou necessário adorar um ser invisível que odeia álcool e homossexuais,
como diziam o tempo inteiro na televisão. Mas também não guardara espaço para
um possível ressentimento. Sua percepção, agnóstica por ventura, precisava de um
ser superior do mesmo jeito que não precisava. A grande questão era: Como
explicar isso a Alex sem parecer indiferente quanto a sua fé?
— Bem... — Decidiu falar mesmo assim. — Eu nunca
me identifiquei com nenhuma doutrina religiosa, mas sei que em todas elas o
primeiro mandamento é amar o próximo como a nós mesmos. Esses caras que fazem
esse tipo de coisa não possuem nenhuma comunhão com seres divinos. Quer dizer,
se Deus é amor, por que machucar outras pessoas em nome dele?
— Mas e se isso tudo for uma grande mentira? —
Alex levantou. Algo em seu temperamento ordenava que caminhasse para manter a
sanidade. — E se Deus não existe e estamos completamente sozinhos? E se algum
estudioso esquecido pelo tempo e cheio de criatividade inventou tudo isso para
nos sentirmos obrigados a seguir regras? Isso significaria que ninguém está
olhando por nós e que a impunidade pode prevalecer de acordo com o poder de
quem a define. Eu só... Eu não entendo porque Deus preferiu me dar uma família
bilionária ao invés de alimentar as crianças que passam fome ao redor do mundo
como se eu fosse melhor que todas elas.
— Hey, não vá por este caminho. É perigoso —
Jensen também levantou. — E quem pode dizer o que é verdade e o que não é? Cada
um tem a sua verdade, e ela precisa ser boa o suficiente apenas para quem
acredita. Neste exato momento deve ter alguém do outro lado do mundo pedindo
milagres a uma deusa com cabeça de elefante e tentáculos de polvo. E esta
pessoa está feliz com o que escolheu acreditar.
Alex sorriu de imediato. Pensou no que ouvira,
franziu o cenho e sorriu com mais intensidade. Quando percebeu, já estava dando
gargalhadas na sala de estar de Jensen McPhee. E tudo o que o anfitrião podia
fazer era acompanha-lo com outra gargalhada em devaneio.
— Okay, talvez eu só esteja falando um monte
de besteiras... — Alex tentou recobrar o fôlego.
— Talvez você só precise de um banho quente e
um bom livro.
— É uma ótima dica — Olhou discretamente para
o relógio na parede. — E agora eu preciso ir. Nossa família precisa estar nesse
evento e...
Alex parou; havia um raciocínio lógico que
estava implorando para ser formado. Nate saindo às pressas. Thayer seguindo-o
como nos velhos tempos. Um evento onde a família Strauss marcará presença. Nate
brigando com Simon por causa da nova namorada. Thayer brigando com o irmão pela
vice-presidência da Editora Van Der Wall... Nada disso deveria ser
coincidência.
— E...? — Jensen incentivou a continua-lo.
— Eu acho que Nate e Thayer estão prestes a
sabotar a ópera promovida pela família Byron. Eu preciso ir! — Alex correu em
direção a porta.
— Como você sabe?
— Estamos falando do meu irmão gêmeo e do meu
namorado. Acredite, aqueles homens de terno vão desejar estar mortos.
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— Eu queria estar morta... — Nate disse ao
celular, cintilante de desprezo.
— Quotando Lana Del Rey? — Thayer perguntou do
outro lado da linha.
— É apropriado. O circo inteiro está aqui...
Nate atreveu-se a avaliar o ambiente mais uma
vez. O Cassino ao seu redor gritava em vermelho e verde tudo o que já estava
ultrapassado, visando o assassinato de uma geração inteira. Homens decrépitos e
podres de ricos continuavam bebendo e jogando em suas mesas centenárias ao lado
de esposas troféus ou mulheres da noite sem elegância, cuja única tarefa é
sentar-se ao lado e parecer bonita diante da elite. Os anos vinte haviam ficado
para trás, mas o mau gosto definitivamente não era uma questão de época.
Nate sabia que poderia estar na cobertura de
Jensen tentando alcançar o próximo patamar de sua vida sexual. E seria a melhor
decisão dos últimos seis meses se não estivesse tão preocupado com seu
patrimônio. Aqueles homens podres de ricos eram a chave para destronar o pai e impedir
que os interesses da família caiam em mãos erradas. Ou no primeiro par de seios
com decote que Simon poderia encontrar.
— Está vendo os alvos? — Thayer perguntou.
— Sim, como se estivessem esperando por mim.
Nate fixou o olhar na última mesa a esquerda,
onde o não tão honrado Senhor Daryl Lance confraternizava com suas três damas. Parecia
estar tudo preparado para colocar o plano em ação.
— Ligue-me quando terminar — Thayer encerrou a
chamada.
Nate tomou a liberdade de pegar uma taça de
champanhe da bandeja de uma das atendentes e correu para a primeira mesa de sua
grande aposta.
— E quando eu achei que esta noite não
reservaria nenhuma surpresa...
— Eu o conheço? — Daryl franziu o cenho.
— Nathaniel Strauss — Estendeu a mão. — Acredito
que ainda não fomos devidamente apresentados.
— Nathaniel Strauss? Talvez nossa reputação
nos preceda... Ou seria a falta dela?
Sendo o único a ter levantado a mão como forma
de cumprimento, Nate decidiu recuar de maneira discreta. Sorriu enquanto Daryl
enchia sua taça de champanhe e sentou-se de frente para ele.
— Muito justo. Mas garanto que os contratempos
da minha vida particular não me impedem de ser bom no que faço. Como está o
clima na Filadélfia?
Daryl quase cuspiu fora sua bebida. Como
alguém como Nathaniel Strauss poderia ter acesso a esta informação?
— Deixem-nos a sós — Ordenou ao trio de
mulheres. E só decidiu falar novamente quando passaram a cortejar outro
milionário no salão. — Você se acha muito esperto, não é? Não imagino aonde quer
chegar com esta abordagem desnecessária.
— Permita-me esclarecer, Senhor Lance. Não há
escândalo que sobreviva ao próximo no mundo do entretenimento. O público
digeriu meus vídeos privados durante seis longos meses, mas acredite, essa fome
é insaciável. Tenho certeza que um escândalo envolvendo seu filho bastardo com
uma professora do subúrbio seria o suficiente para invalidar minha imprudência
adolescente diante do Conselho empresarial da Strauss International. E levando
em consideração o mérito alcançado com o dinheiro da família de sua esposa,
pergunto-me qual de nós dois teria mais a perder nesta equação.
Daryl sorriu com desdém. Era como os tabloides
diziam. Nathaniel Strauss era traiçoeiro como um escorpião, capaz de roubar a
si mesmo apenas para acusar o próprio irmão.
— Então é disso que se trata? Sua ascensão como
magnata da família?
— Não me leve a mal, só estou tomando a
liberdade de pedir-lhe um favor — Nate fingiu complacência. — E não pense nem
por um segundo que você não será beneficiado com a nova política da empresa.
— E se eu me recusar?
— Garantirá a estabilidade de seu casamento
eloquente, mas não haverá garantia de que estará no mesmo lugar quando eu
derrubar todos que se opuserem a mim.
Daryl assentiu, com um sorriso derrotado que
não dizia nada sobre seu raciocínio. Se Nate tinha o poder de destruir sua vida
com apenas um clique em seu celular, não seria tão ruim tê-lo como aliado. O
primogênito de Simon prrrovava em cada palavra ser filho de seu pai.
— Se depender de mim, a era Nathaniel Strauss está
a um passo de começar — Ele murmurou. E antes que pudesse continuar sua ideia,
uma das atendentes derrubou em seu colo as bebidas que levava na bandeja.
O tempo entre o pedido de desculpas da moça e
a limpeza do terno de Daryl foram crucias para que Nate pudesse finalizar seu
plano. Apenas um segundo levou para despejar na bebida de Daryl o pó que
segurava nos dedos e voltar a fingir que nada estava acontecendo. Hayley, a
atendente de cabelos loiros, ganharia uma gorjeta exuberante por ser tão
desastrada e assumir seu erro.
— Apenas saia da minha frente! — Daryl
ordenou.
— Eu sinto muito mesmo... — A garota
despediu-se com um sorriso discreto para seu novo cliente preferido. Seria
divertido distrair os concorrentes de Nate com suas habilidades teatrais
enquanto fosse paga como um cirurgião.
— Então, Senhor Lance — Nate levantou-se,
fechando seu paletó. — Acho que temos um acordo. Espero vê-lo no evento dos
Byron. — E partiu com a vitória estampada no rosto.
O primeiro já estava garantido, e os outros
dois porquinhos não foram tão difíceis de manipular. Bastou uma dose de
vocabulário impecável e algumas artimanhas de Hayley para que todos caíssem
como patos. Nate até decidiu rever seus preceitos sobre o Cassino Bel Air e sua
relevância para a sociedade atual. Não oferecia a melhor estadia, mas era
propício aos negócios que estava disposto a realizar.
Chegando ao centro do salão, distraído pelo
movimento, deu de encontro com um homem de terno marrom, deixando o celular
cair no chão segundos antes de digitar o número de Thayer. Apenas um mal
educado que não sabia por onde andava e precisava que alguém o lembrasse de sua
falta de modos.
— Hey, idiota! Você é cego? — Nate abaixou-se
junto dele para juntar o aparelho.
— Parcialmente — Theon respondeu, já com o
celular nas mãos. — Você deixou cair isto.
Nate sentiu o coração congelar pausadamente. A realidade havia se tornado pesada demais para que seu corpo pudesse suportar ileso, longe de tudo o que o obrigava a temer o que seus olhos viam. Theon De Beaufort; com seus cabelos quase loiros e atrapalhados, a vestimenta elegante, o sotaque britânico e um mórbido tapa-olho para esconder os vestígios de que Nathaniel Strauss havia passado por sua vida.
Era inacreditável. Era impossível.
Nate agarrou seu celular sem pensar, mas não
disse uma palavra. Apenas permitiu que seu corpo inteiro tremesse a medida que
Theon caminhava em direção a uma das mesas. E quando o viu acomodar-se, olhou
para os dois lados; apenas para ter certeza de que aquele sonho terrível não estava
se repetindo. Theon era o bicho papão de sua consciência pesada desde que chegara
a Manhattan, e tornou-se uma companhia insuportável quando descobriu que
poderia atormentá-lo durante o sono ao lado de Justin. Agora estava ali,
conversando com outros magnatas como se nada tivesse acontecido.
Mas aconteceu. O sorriso vencedor de Theon havia
deixado claro como cristal em apenas uma troca de olhares sem importância. Ele
em sua mesa, segurando uma taça de champanhe; e Nate no meio da multidão,
sentindo-se tão vazio quanto o mundo que o criou.
— Com licença — Nate pôde ler seus lábios
enquanto ele levantava da mesa.
A princípio, decidiu seguir seus passos apenas
com o olhar. E acabou descobrindo em meio a curiosidade que isso nunca seria o
suficiente. Precisava segui-lo, precisava pará-lo, precisava das respostas para
todas as perguntas que tinham acabado de surgir.
Theon atravessou o salão principal até a
extremidade, onde havia um corredor estreito por onde passavam os casais que
haviam terminado de se divertir. Nate tentou apressar os passos e afastar as
pessoas em seu caminho, mas passando pela porta roxa, acabou perdendo-o de
vista. Theon não estava ali, em meio a decoração psicodélica do dark room, nem envolvido em uma das
histórias de amor perecíveis com um dos inúmeros casais. Estava atrás da porta,
de braços cruzados, esperando que Nate fosse ao seu encontro deliberadamente.
— Perdeu alguma coisa? — Perguntou.
Quando Nate deu por si, estava imprensando-o
na parede.
— O que você está fazendo aqui?
— Fodendo a carteira dos meus investidores — Theon
sorriu com cinismo a abonar. — Qual a sua desculpa?
— Se você pensa que pode aparecer na minha
vida para começar essa merda tudo de novo...
— Supere isso. Além de inapropriado, seu
comportamento narcisista beira a paranoia. Você não quer perder o controle
agora que finalmente o assegurou.
Nate colocou a mão direita sobre a bochecha de
Theon e virou seu rosto de maneira brusca, como um tapa vagaroso e enojado.
— Fique longe da minha vida, seu merda! —
Passou pela porta cheio de fúria.
Theon estava preparado para enfrentar as consequências
de sua desobediência. Para um menino mau, bastava uma boa lição.
3x05: Daddy Issues (14 de Março)
Alex tinha razão. Aqueles homens de terno e gravata vão desejar a morte na próxima semana, quando Nate e Thayer se unirem para a primeira armação do verão.
Bônus: Aqui ao lado vocês podem ver uma representação bastante fiel ao Theon da minha cabeça. Basta imaginar o cara com aquele tapa-olho intimidante e o sotaque britânico e terão o verdadeiro Príncipe De Beaufort.
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Chega ser divertido ver Nate se tremer por algo... Theon passa a impressão de ser impiedoso, assim espero quero ver crueldade jorrando da história! Resta aguarda.
ResponderExcluirSó duas coisas deixam Nate temeroso: Perder o Jensen e reencontrar o Theon, hahaha <3
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