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[Livro] The Double Me - 2x06: I Guess I See You In Hell [+18]

Previously on The Double Me...  
Hamptons, Nova York. Foi lá que tudo começou.

Nate tinha apenas 15 anos quando foi traído pelos amigos e exilado da cidade para evitar os escândalos de sua vida secreta com o namorado. Eles pensaram que a guerra havia acabado, mas este era apenas o começo.

Nos três anos que sucederam sua trágica perda, Nate transformou-se em um cruel vingador, capaz de perder a si mesmo dentro do próprio ódio para derrubar todos aqueles que lhe fizeram mal. A chegada repentina de seu irmão gêmeo pode ter mudado seus planos, mas nada irá impedi-lo de concluir seus objetivos. No final, será olho por olho. E dente por dente.

A estrada até aqui deixou muitos assuntos inacabados. Após ser novamente desprezado por Jensen, Nate decide jogar tudo para o alto e tentar a sorte numa fuga repentina, deixando Alex e o resto de sua família a beira de um colapso. Mas apenas uma pessoa é capaz de trazê-lo de volta. Quem vive, quem morre, quem vai ao topo e quem vai a falência, é apenas uma questão de tempo até descobrirmos. 

2x06: I Guess I See You In Hell
"Saída de emergência".

— Jesus Cristo! — Exclamou Jensen dentro do carro. O cinto de segurança foi a única coisa que o protegeu da freada brusca do irmão. — Você quer nos matar?

— Cala a boca! — Jake imediatamente tirou os cintos, e num piscar de olhos, já estava fora do carro. A entrada para o subterrâneo estava a poucos metros de onde estacionara o carro. — Tem certeza que isso é mesmo necessário? Não é como se Nate não soubesse se cuidar.

— Esse é o problema, ele não sabe. — Sibilou Jensen, batendo a porta do carro e tomando a frente.

A busca teve início no alto da escada rolante que os ajudava a descer até o metrô e vagarosamente revelava a multidão que havia lá em baixo. Quando os pés de Jensen encontraram o piso de concreto, ele percebeu que era a sua primeira vez. Nunca havia tido a oportunidade de conhecer o grande “vem e vai” de Nova York, e sendo o grande herdeiro de uma fortuna inimaginável, pensou que este dia nunca iria chegar. Mas ali estava ele, completamente perdido no meio da multidão. E Nate em lugar algum.

Jake olhou para o irmão e sorriu quando notou sua hesitação. Era até engraçado ver que ainda existiam coisas que o garoto de ouro não conseguia fazer.

— Não tenha medo, o trem não morde. — Jake tomou a frente.

— Cala a boca. — Jensen o seguiu, olhando para todos os lados só por precaução. Nate realmente não parecia estar ali.

Dois minutos se passaram enquanto Jake comprava as passagens. Ele entregou uma delas ao irmão e juntos atravessaram a roleta para chegar ao salão de embarque. Apesar do horário, a estação estava lotada. Jensen e Jake mal conseguiam dar um passo sem esbarrar em um nova-iorquino apressado. E o nervosismo só aumentava.

— Calma J, esse lugar é enorme, nós vamos encontrá-lo.

— Eu sei. — Jensen tentou inutilmente acreditar nas próprias palavras.

Após mais alguns minutos perdidos, ambos decidiram seguir adiante entre a multidão. Não havia estratégias para encontrar Nate. Só o que podiam fazer era contar com a sorte e o poder da percepção.

— Então, apaixonado pelos gêmeos Strauss. — A voz de Jake estava cheia de sarcasmo. — E eu pensando que era a ovelha negra da família...

— Como é?

— Fala sério J, você é meu irmão, eu sei o que se passa em ambas as suas cabeças.

— O que você quer que eu diga? — Jensen suspirou, derrotado. Mesmo que a conversa de Jake fosse uma distração, ele não perdeu o foco de sua busca por um só segundo.

— Quero que você me diga o que vai fazer, porque eu acho que não vai poder ficar com os dois.

— Eu escolho o Alex, simples.

— Não escolhe não. — Jake desviou rapidamente da moça com o bebê que caminhava apressada em sua direção. — Você pode estar com Alex oficialmente, mas isso não quer dizer que o que sente por Nate vai desaparecer. O que você vai fazer se escolher Alex e um dia Nate seguir em frente?

— Eu não sei. — Jensen queria dar mais relevância as palavras do irmão, mas não conseguia parar sua caça. Encontrar Nate era a prioridade, depois poderia decidir a trama da novela que a própria vida se tornou.

— Você pode evitar isso agora, mas uma hora vai ter que decidir. Ou o gêmeo bom, ou o gêmeo mau. — Jake olhou para o trem que chegava na plataforma ao lado. Era o trem para Boston, aquele que Nate iria embarcar.

— Você quer parar? — Jensen parou de caminhar e olhou para o irmão. Sua voz era de um tom acusador. — O que você quer de mim?

— Eu quero que você pare de magoar as pessoas e faça as coisas direito. É pedir demais?

— Você fala como se tudo fosse culpa minha.

— É culpa sua, mas não quer dizer que você não pode consertar seus erros. — Como num reflexo, Jake olhou para o lado e acabou avistando Nate na fila de embarque, prestes a sair da vida de todos eles para sempre. — Eu não acredito em destino, mas...

Jake não precisou dizer mais nada. Apenas fez um sinal com cabeça e esperou pelo momento em que Jensen percebesse quem era a ultima pessoa na fila para o embarque. Jake fora criado para nunca acreditar em magia ou superstições, mas estando diante do olhar inexplicável que Jensen lançou a Nathaniel Strauss, era impossível não mudar os próprios conceitos.

Nate, por algum motivo, também encontrou o olhar dos dois. Seu coração disparou em proporções inimagináveis, e suas pernas trêmulas mal podiam sair do lugar.

Mas o momento terminou tão rápido quanto começou. Nate correu como uma bala para dentro do trem, e Jensen, até então completamente imóvel, disparou em direção das portas antes que se fechassem. Jake tentou correr na mesma velocidade para alcança-lo, mas chegou tarde demais. Apenas Jensen conseguira entrar no vagão.

— Corra atrás dele! — Gritou Jake do lado de fora. Jensen não foi capaz de ouvir o que o irmão dizia, porém, conseguiu ler seus lábios perfeitamente.

A pequena distração dos dois acabou fazendo Nate ganhar tempo. Ele já estava no final do vagão, — pronto para abrir a porta e passar para o próximo — quando Jensen iniciou a perseguição. Não houve tempo para se importar com as pessoas que eram deixadas para trás ou empurradas para abrir caminho. Ambos estavam dispostos a percorrer o trem inteiro para alcançar o que queriam. Fosse a liberdade, ou algo muito parecido com o amor.

O único problema era que não havia nada a ser feito quando finalmente estivessem cara a cara. Jensen não poderia pedir que ele ficasse depois de ter escolhido seu irmão gêmeo. E nem para pensar duas vezes quando sabia que ele não tinha ninguém. Os pais o exilaram da cidade quando descobriram que ele era diferente. A irmã nunca se preocupou em admitir que sempre o odiou. O irmão acabou de ganhar o coração do amor da sua vida. E todos os amigos o traíram de uma maneira que nunca iria esquecer. Que motivos ele teria para não escapar? O que poderia fazê-lo interromper sua fuga e voltar para casa? Talvez estivessem mesmo rodeados pela ironia. Talvez estivessem mesmo no fim da linha.

Quando Nate adentrou no vazio do ultimo vagão, Jensen conseguiu alcança-lo. A pequena resistência que Nate demonstrou no começo desapareceu assim que o outro provou ser o mais forte. 


— O que você está fazendo? — Jensen segurava seu braço com precisão.

— Indo embora, me solta!

— Não, você não vai. Você vai voltar para casa comigo, sabe que não está pensando direito.

— Você tem razão, não estou. O Nate de verdade destruiria alguém aqui, beberia por ali, e no fim da noite acabaria com três desconhecidos na cama, porque no final, ele não passa de uma vadia sem coração. Estou enganado?

— Eu não disse isso.

— Mas que droga! — Assim que percebeu a hesitação de Jensen, Nate se soltou. — Será que você não entende? Eu sou um monstro! Eu preciso ficar longe das pessoas! — Ele deu um passo para trás. Levou alguns segundos para se acalmar, mas ainda parecia arrasado. — Eu só estou fazendo o que é melhor para todo mundo, então me deixe em paz!

— Não fale desse jeito...

— Não fale como se você se importasse. Não é justo.

— Mas eu me importo. — Jensen deu dois passos a frente. Não era mais o garoto conservador preocupado com a segurança de Nate. Era apenas Jensen McPhee, fazendo o que deveria ter feito desde o começo.

— Jensen, esse é o fim. — E não havia mais nada a ser dito. Nate passou por ele na direção da porta que levava aos outros vagões, tão decidido a ir embora quanto estava antes do ultimo encontro.

Jensen demorou alguns segundos para virar e observá-lo. O medo de ver aquilo realmente acontecer estava tirando toda a sua concentração.

— Nate, não. — Ele pediu.

E Nate suspirou. Parou de caminhar por alguns segundos, mas depois continuou seu trajeto.

— Nate, eu disse não. — Jensen não fazia ideia do que estava acontecendo. Assistindo Nate cair aos pedaços, ele sentia como se estivesse prestes a ajoelhar no chão e chorar como uma criança tola. — Nathaniel Strauss, eu amo você!

Nate parou. E mesmo depois de virar e encarar os olhos suplicantes de Jensen, não acreditava no que tinha acabado de ouvir.

— Você não está falando sério.

— Eu amo você. — Jensen repetiu. — Eu quero que você fique. Eu quero que você fique comigo...

— Por quê?

— Porque minha vida não faz sentido algum quando você vai embora.

Nate virou o olhar, prestes a cair no choro. Sentia o corpo inteiro tremer a cada segundo que passava controlando todos os seus movimentos para não pular nos braços de Jensen.

— Não. Eu não sinto o mesmo. — Completamente desacreditado, ele voltou a caminhar.

Um milésimo de segundo foi o bastante para Jensen decidir que nunca mais o veria ir embora. Certo do que precisava fazer, ele pressionou Nate contra seu corpo e o beijou. Não houve delicadeza, muito menos resistência. Ambos haviam aprisionado o desejo por tempo demais para que ele fosse capaz de tomar o controle.

E se o mundo inteiro entrasse em colapso por causa do que sentiam, eles estariam juntos, caminhando por cima dos destroços, de mãos dadas em meio a ruína. Era egoísta, incoerente e precipitado. Mas não havia alternativa. E nenhum dos dois se importava.

Nate interrompeu o beijo para recobrar o fôlego, mas não se atreveu a afastá-lo. Era inevitavelmente confortável encostar as testas, fechar os olhos e sentir a respiração ofegante um do outro enquanto as mãos indecisas passeavam por seus corpos. Mas os fazia pensar que aquilo era o suficiente. Jensen gostaria de provar de todas as maneiras possíveis que havia feito a escolha certa.

— Vamos sair daqui. — Pediu num sussurro.

— Ok. — Nate entendeu perfeitamente a mensagem.

Eles esperaram cinco minutos, e então, na estação mais próxima, conseguiram desembarcar. Correram pelas ruas de Nova York no meio da tempestade até encontrarem um táxi vazio, que lhes levou diretamente ao apartamento de Jensen.

Antes mesmo que a porta do elevador se abrisse, Nate já tinha se certificado de que Jensen não iria a lugar algum. O manteve imprensado no espelho da esquerda enquanto os lábios tocavam tudo aquilo que poderiam. E quando finalmente colocaram os pés na sala de estar, suas roupas foram atiradas ao vento uma por uma. A pressa não dizia nada sobre o desejo de fazer aquele momento durar para sempre.

Revezando beijos e sorrisos, eles conseguiram chegar até o quarto onde havia uma cama enorme de lençóis alaranjados esperando por eles. O pequeno acidente de Nate na retirada dos sapatos acabou rendendo a Jensen uma joelhada no abdome, mas estava bem longe de se importar. Quando percebeu que estava diante do garoto perfeito, a dor se transformou num belo sorriso, bem parecido com aquele que estava bem na sua frente.

Foi a ultima descontração que tiveram antes das coisas ficarem sérias.

Ajoelhado na cama de frente para Nate, Jensen tirou a camisa molhada e revelou os músculos que ele tinha orgulho. Nate fez questão de tocá-los pela primeira vez em muito tempo, mas a sensação só durou alguns segundos. Jensen avançou para beijá-lo, e de repente, todas as faíscas que sentira quando estavam no trem simplesmente triplicaram. Nate sentiu os pés gelados tremerem enquanto suas mãos, antes indecisas, já sabiam exatamente onde deveriam estar.

Novamente Jensen o viu interromper o beijo na melhor parte. Nate só queria ter espaço para tirar o restante de suas roupas e ajudar seu parceiro com a cueca.

Agora, totalmente mergulhados um no outro, mal tinham tempo para respirar. Nate gemia no ouvido de Jensen enquanto arranhava suas costas, aproveitando-se da ausência de dor que antes tinha o poder de tirar toda a sua concentração. Jensen estava tão extasiado que acabou permitindo que o outro tomasse o controle de toda a diversão. Por que demorou tanto a descobrir que Nate era o escolhido? Era incrível como a certeza só havia brotado depois de tomar uma decisão.

Mal ele sabia que Alex tinha acabado de deixar o elevador e estava caminhando até seu quarto. Do mesmo jeito que não fazia ideia que Andy havia saído do armário com as lentes de sua filmadora apontadas diretamente para a cama. E pelo sorriso que lentamente brotou nos lábios de Nate, tudo estava acontecendo de acordo com o plano.

Alex lembrou uma ultima vez da mensagem que recebera convidando-o para o apartamento de Jensen e girou a maçaneta. Nada poderia prepara-lo para o que estava diante dos seus olhos.

— Alex, o que você está fazendo aqui? — Perguntou Andy. Nate havia deixado bem claro que ele precisava seguir o script. — Não está vendo que estamos trabalhando?

Jensen pulou da cama com o susto. Empurrou Nate para o lado da cabeceira e fitou Alex próximo a porta, com o olhar de quem lentamente estava morrendo por dentro.

— Alex! — Exclamou. — Ai meu Deus!

— Não adianta, ele nos pegou. — Nate desdenhou. — Alex, você não é bom o suficiente para Jensen McPhee, e todo mundo sabe. Por isso ele resolveu comer alguém que vale tanto a pena que é preciso registrar.

Jensen imediatamente reconheceu as palavras de Nate. Afinal, como poderia esquecê-las? Nate havia acabado de repetir as palavras imundas soltadas por Justin logo depois da armação que o exilou da cidade. Palavras estas que estavam sendo dirigidas para a única vítima da situação.

— Eu não acredito que você fez isso. — Disse Jensen, com uma cruel decepção.

— Foi a despedida perfeita, não acha? — Nate sorriu, mesmo sabendo que ele não entenderia sua mensagem.

— Olha o que você fez! — Jensen gritou. A única maneira de ignorar a dor de seu coração partido era extravasando toda aquela raiva. — Por quê?

— Porque vocês merecem. — Nate olhou para Alex, o garoto continuava em choque. — Ou pensavam que iriam me trair sem sofrer as consequências?

— Tudo isso foi só...? — Jensen hesitou para respirar. A resposta para a pergunta que iria fazer seria capaz de destruí-lo irrevogavelmente. — Tudo isso só uma armação? Você não...?

— É claro que não. Tudo o que eu faço tem um propósito, inclusive transar com você. Sinto muito por não estar arrependido. — Nate levantou da cama e foi direto até sua calça no chão. Quando a vestiu, olhou para o irmão com um sorriso no rosto. — Eu diria pra você pensar duas vezes antes de mentir de novo para mim, mas não vai ter uma próxima vez.

Andy sorriu. Sua filmadora ainda estava captando tudo. O triunfo de Nate, o desespero de Jensen, a negação silenciosa de Alex... Tudo de acordo com o plano para provar a todos que Nate nunca brincava em serviço.

Mas era o suficiente. Alex e Jensen já estavam completamente devastados, não havia mais nada a ser feito. Nate passou pela porta do quarto até a sala, onde estava a parte de cima de sua vestimenta. Seu irmão, consumido pela fúria, correu atrás dele para alcança-lo antes que entrasse no elevador.

— Nate! — Ele gritou, fazendo o garoto se virar com uma expressão indiferente. — Você acabou comigo?

— Literalmente. Não seja tão ingênuo, irmãozinho.

— Eu nunca fiz nada pra você! — Alex exaltou-se mais do que deveria. Nate não lembrava de já tê-lo visto naquele estado de histeria. Sentia que a qualquer momento o irmão poderia optar pela violência.

— E o seu namoro com Jensen, não foi nada? — Nate deu dois passos a frente. — Você mentiu porque sabia que eu estava apaixonado por ele e isso iria acabar comigo! Mas mesmo assim você foi em frente. Se tivesse pelo menos dito o que sentia, eu tentaria entender, porque você é meu irmão e eu te amo. Mas eu não posso aceitar que até meu irmão gêmeo tenha a coragem de me trair.

— Ok. — Alex assentiu devagar. Os olhos vermelhos queriam expulsar as lágrimas contidas, mas seu orgulho nunca deixaria que Nate o visse daquele jeito. — E o que você vai fazer agora que perdeu a única pessoa que te ama de verdade?

— Eu sabia desde o começo que não poderia destruir você sem me destruir também. Este é o fim, Alex.

— Eu nunca vou perdoar você por isso...

No silêncio que se formara, Alex ouviu os passos de Jensen e Andy se aproximando. Jensen já usava um roupão azul enquanto Andy continuava filmando cada segundo.

— Alex, você nunca mais vai me ver. — Nate deu meia volta e entrou no elevador. Andy correu logo atrás para alcança-lo antes que Jensen lhe tomasse a câmera.

Devastado da maneira que estava, Alex não se preocupou em encontrar qualquer sentido para as palavras de Nate. Apenas o observou ir embora, perguntando-se o que lhe restaria agora que estava só. Sua mãe? Gwen? Jensen? Nate? Todos foram embora. E todos sentiram orgulho em machuca-lo antes de partir.

Tinha certeza que estava de coração partido. Só não sabia por que o corpo inteiro parecia estar em pedaços.

Em meio ao turbilhão de pensamentos intrusivos, Alex conseguiu notar uma forte dor de cabeça. Seu estômago estava embrulhando, e a vista, embaçando aos poucos.

— Alex, eu... — Jensen tentou falar, mas foi interrompido pelos gritos histéricos do garoto.

— Fique longe de mim! — Alex começou a caminhar em direção do elevador, mantendo a mão pressionada sobre a testa para que náusea diminuísse.

— Não, você precisa me ouvir! — Jensen segurou seu braço.

— Vai se foder! — Alex conseguiu libertar-se. — Não me toque! — O empurrou com as duas mãos. O impacto foi tão grande que Jensen quase derrapou em cima da mesinha de vidro da sala.

— Isso não é culpa minha!

— Como foder com meu irmão não é sua culpa? — Alex deu um ar de risos sarcástico. — Meu Deus, você é inacreditável. Apenas me deixe em paz!

Jensen abaixou a cabeça. Pretendia lhe dar novamente motivos para ficar, mas sabia, olhando em seus olhos enfadados, que já tinha causado demais estrago. Alex precisava se afastar de tudo o que lhe fazia mal, e ele precisava aprender um pouco mais com a verdadeira solidão.

A tempestade ainda reinava do lado de fora quando Alex passou pela recepção. E mesmo assim, preferiu ignorar todos os táxis parados no acostamento para caminhar rumo a lugar algum. Não conseguiria esclarecer suas ideias caminhando por todas aquelas ruas que não conhecia. Apenas não tinha lugar para ir.

Mantendo sempre a mesma expressão invasiva, ele conseguiu chegar até o quinto quarteirão. Era longe o suficiente para desmoronar à vontade. Socou a parede de uma loja com o punho direito três vezes, e depois, recostou a cabeça na mesma. Era inevitável chorar. Mas chorar por causa de um garoto que desde o começo nunca demonstrou ter caráter? Era inadmissível. Socar a parede e destruir seus punhos era pouco perto do que achava merecer.

A única coisa que poderia confortá-lo era saber que acabou. Não precisava mais ser infiel a si mesmo para satisfazer as outras pessoas. Não precisava mais fazer todos felizes mesmo que custasse a sua felicidade. O amor que sentia por todos eles nunca valeria a dor que causaram por vontade própria. Ali estava ele, parado no meio da calçada, chorando no meio da chuva, socando a parede de seu consolo e gritando palavrões que nunca pensou que existissem. Não parecia que era tudo por causa de uma traição. Parecia o desabafo de quem guardava tudo para si mesmo há muito tempo.

Dentro de um carro preto, de repente, Thayer aparecera. Assim que notou que o garoto encostado na parede se tratava de Alex, parou o veículo e saiu correndo no meio da chuva.

— Alex! — Ele tentou gritar, mas a chuva fazia barulho demais. — Você está bem?

Alex ficou quieto.

— O que você está fazendo sozinho aqui na chuva?

— Eu preciso de uma carona. — Alex sussurrou.

— Ok. Vem comigo. — Thayer tocou em seu ombro. E em alguns instantes Alex começou a se mover.

Poderia Thayer salvá-lo de si mesmo? Alex não possuía qualquer esperança.


Valeska caminhava de um lado para o outro, deixando Judit e Simon no sofá mais apreensivos do que deveriam. Ambos olhavam fixamente para o telefone da sala, que não tocava desde a saída apressada de Alex.

Lydia ainda estava apreensiva em sua poltrona, com uma xícara de chá nas mãos que levava a boca de dois em dois minutos. Já não acreditava que era tudo uma armação de Nathaniel Strauss. As noticias estavam demorando para chegar, assim como Alex e Jensen demoravam para retornar.

— Acalme-se, Valeska. — Pediu Perry, a empregada negra com tranças no cabelo. — Ficar nervosa não ajuda ninguém!

— Não se preocupe, vai acabar tudo bem. — Lydia quase revirou os olhos. Em que mundo os patrões ficam encarregados de dar apoio aos empregados?

Quando finalmente o telefone tocou, Judit pulou do sofá para atender. Jensen estava na linha, e sem delongas, começou a contar tudo o que havia acontecido. Os empregados, que não podiam ouvir a conversa, perceberam o momento em que a expressão de Judit passou de esperançosa para decepcionada.

Em poucos segundos ela despediu-se e colocou o telefone de volta no gancho. Era hora de dar a notícia que todos esperavam.

— Nate está bem. Era tudo um plano para atacar Alex...

— Senhora, tem alguém aqui querendo lhe ver. — Disse o porteiro. — Eu a deixei entrar.

— Não estou para ninguém. — Judit suspirou.

— Oi, eu sou Mia Vlasak. Acho que sou irmã dos seus filhos...

Todos ao olhares voltaram-se para a garota com franja roxa que tinha acabado de entrar na sala. Ela segurava a alça da mochila preta com uma das mãos enquanto mantinha a outra no bolso de sua calça jeans. Os olhares estarrecidos de todas aquelas pessoas importantes conseguiram intimidá-la. Mas não eram o bastante para convencê-la a voltar por onde chegara.

Running Up That Hill by Placebo on Grooveshark

Nate ia de um lado para o outro no quarto de hotel, acompanhado do whisky que segurava. Seus olhos vermelhos de tanto chorar mal sabiam aonde fixar, e mal enxergavam além do que pairara em sua mente.

Andy estava sentado na mesa ao lado da enorme parede de vidro, apenas observando enquanto tirava suas próprias conclusões.

Apesar de ter planejado tudo com antecedência, Nate estava tendo dificuldade em aceitar a ultima parte do que ele mesmo havia decidido. Mas quanto tempo poderia aguentar sabendo que foi o culpado pela ruína de todas aquelas pessoas, incluindo seu irmão gêmeo? Se sobreviveu a tudo o que lhe aconteceu, já deveria ter acreditado que era o melhor dos anti-heróis.

— Você tem certeza do que vai fazer? — Andy quebrou o silêncio.

— Absoluta. — Nate cessou os passos. Colocou as mãos na cintura e suspirou.

— Eu não entendo. Jensen escolheu você, não precisava continuar com isso.

— Foi a minha despedida. — Nate fungou. — E foi perfeito...

— Você está esquecendo de Gwen e Justin.

— Tenho você para cuidar disso.

— Você é louco, sabia? — Andy deu um ar de risos depressivo. — Mas não quer dizer que eu não entendo.

— Trouxe o que eu pedi? — Nate coçou o nariz.

Andy não respondeu, apenas arremessou um frasco de comprimidos que estava na mesa ao seu lado. Nate leu o rótulo, era exatamente o que havia pedido. E em grande quantidade.

— Acho que não preciso ensinar como deve usar. — Andy cruzou os braços.

— Por que você está tão confortável com isso?

— Não estou. Mas conheço o bastante do ódio para saber que todos têm direito de decidir o seu fim.

Nate olhou novamente para o frasco em suas mãos. Eram os remédios que iria tomar, mas era o ódio quem lhe mataria.

— Preciso ficar sozinho agora. — Ele suspirou. Estava ciente de que era seu ultimo pedido.

Andy assentiu, e logo em seguida, deu um pulo de cima da mesa. Ficou parado por alguns segundos na frente de Nate, até tomar coragem e puxá-lo para um beijo. Nate sentiu desconforto de imediato, mas logo convenceu-se de que era apropriado para a situação.

Quando terminou, Andy colocou a mão direta no pescoço dele e olhou em seus olhos. Também tinha uma ultima coisa a dizer:

— Você é a porra de uma lenda, meu amigo. Lembre-se disso até o ultimo segundo.

Nate assentiu. Não concordava com a afirmação, mas não tinha coragem de arruinar a despedida do parceiro. Só precisava deixar claro sua única expectativa:

— Acho que te vejo no inferno.

— É. — Andy sorriu. — Eu também acho. — E simplesmente passou pela porta.

Nate permaneceu onde estava por alguns instantes; tempo o suficiente para dar o longo suspiro que a situação exigia. Logo em seguida, trancou-se no banheiro e olhou a si mesmo no espelho. A perfeição que tanto almejou — a mesma que estava diante de seus olhos — pouco importava para a decisão que havia tomado. Em poucas horas seria apenas uma história, uma matéria de jornal, um exemplo de juventude roubada, um ídolo para os que traçam a mesma estrada. Mas de alguma forma, lhe parecia um final satisfatório. Talvez melhor do que imaginara, ou justo o bastante para não contestar.

Antes que pudesse notar qualquer outra coisa em si mesmo, ele olhou para seus braços. As cicatrizes do que havia acontecido em Paris ainda estavam lá. Eram tantas marcas de corte que ele nem sabia como poderia passar despercebido para alguém. E tão visível que parecia ganhar destaque em seu corpo, como se fosse a única coisa que havia para notar.

Sem hesitar, ele tirou a tampa do frasco e começou a despejar os comprimidos brancos em sua mão trêmula. Olhou novamente para si mesmo no espelho, mais precisamente para seus olhos verdes em destaque. Havia acabado de decidir que seria a ultima coisa que iria ver na vida. E então, jogou todos os comprimidos que segurava dentro da boca. E o restante, que continuara dentro do frasco, ingeriu devagar, a medida que engolia os que já estavam mastigados. O gosto era amargo, picante, e forte demais para aguentar de olhos fechados. Nate foi obrigado a segurar na pia e tossir duas vezes, ou então, todos os comprimidos iriam voltar com mesma rapidez que foram ingeridos.

Em poucos segundos ele já conseguia sentir os efeitos. Seu estômago ardia como se estivesse em chamas. E sua vista, aos poucos, não lhe deixava distinguir quase nada. Suas pernas foram as ultimas atingidas, e em poucos segundos já não conseguiam mais equilibrá-lo.

Nate caiu em posição fetal no chão do banheiro, segurando o estômago para cessar a dor insuportável. Conseguiu rastejar até a banheira do outro lado, mas apagou antes que pudesse alcançar a mangueira. Seu braço permaneceu esticado. Seus olhos fechados. Os lábios tremendo. E a alma em paz.

Para ele, era a única maneira de fazer justiça em nome de Alex.


— Beba isso, vai te fazer bem. — Thayer entregou uma caneca de chocolate quente nas mãos de Alex.

— Obrigado. — Alex agarrou a caneca com pressa, estava morrendo de frio. Nem mesmo o edredom de Thayer que cobria seu corpo conseguia diminuir aquela sensação gelada. E talvez nem fosse por causa da chuva.

Thayer sentou ao seu lado na cama e disfarçadamente lhe lançou um olhar curioso. Quanto mais olhava para ele, mais achava toda aquela história fantástica. Como poderia existir alguém tão idêntico a Nathaniel Strauss, mas ao mesmo tempo, tão diferente? Provavelmente Nova York inteira deveria estar fazendo a mesma pergunta todos os dias. A única diferença é que poucos tiveram a sorte de estar tão perto para saber que é mais incrível do que qualquer revista pode dizer.

— Eu soube o que aconteceu, Alex. Eu sinto muito.

Alex olhou para ele, envergonhado. Os ombros relaxaram assim que percebeu a sinceridade nos olhos de Thayer.

— Obrigado. — E tomou mais um gole de seu chocolate quente.

— Eu sabia o que iria acontecer. Nate acabaria comigo se eu alertasse você.

— Tudo bem. Acho que ninguém conseguiria impedi-lo, de qualquer jeito. — Alex devolveu a caneca para Thayer. Depois de três goles, tinha certeza que não conseguiria colocar nada no estômago.

— Eu acho que não.

Enquanto Thayer colocava a caneca em cima do criado mudo, Alex terminava de se enrolar no edredom. Ambos estavam confortáveis com o silêncio que se formara por alguns instantes. Só não sabiam o que fazer com a própria curiosidade.

— No que você está pensando? — Perguntou Thayer.

— Que eu não tenho mais ninguém. — Alex olhou para ele. — Acho que eu também não tenho nada a perder.

— Você nunca teve. Nada do nosso mundo lhe pertenceu de verdade.

— O que eu faço?

— Você pode dar o troco e ver a si mesmo se transformar em um monstro como Nate. Ou pode viver, sem medo, pela primeira vez. Eu acho que você precisa saber que existe um mundo totalmente novo ao lado do seu conto de fadas precipitado. — Thayer quase sorriu. Bastava olhar nos olhos de Alex para saber que seu tom misterioso estava dando certo.

Sem hesitar, Alex se inclinou e o beijou bem devagar. Thayer precisava admitir que estava surpreso com a sua atitude, mas não havia motivos para reprimi-la.

Uma vez separados, seus olhares se encontraram, tão cheios de duvidas quanto de desejo.

— Você tem certeza? — Thayer precisava saber que nenhum dos dois iria se arrepender.

— Se existe um mundo totalmente novo, eu quero que você me mostre.

Alex o beijou novamente, dessa vez, liberando todo o seu desejo reprimido. Thayer correspondeu o beijo com a mesma selvageria, certo de que aquela seria sua nova aventura. Era o recomeço necessário para o fim de outra vida. Nate, assim como desejava, já poderia descansar em paz.


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2x07: Pay Back Is Not a Bitch, You Are (26 de Julho)
A morte acabou de chegar para um dos nossos. Mas Nate não será o único.

Bônus: Depois de ler um comentário no ultimo post, saí pelos googles da vida procurando uma foto que representasse de maneira fiel o Quentin da minha imaginação. E isto foi o que eu encontrei. Sim, Nate é burrinho por não dar valor nisso tudo, porque eu dava :v

















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3 Comentário(s)

3 comentários:

  1. Nate está morto? Não, espera, eu ainda estou em choque. É sério isso? Ele foi embora assim?... Sem palavras....

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  2. Melhor episódio disparado dessa temporada!

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  3. Disparado melhor episódio mesmo. E vale conferir as consequencias da morte de Nate na vida de todos. É um recomeço ousado para a série sem um dos protagonistas. Ele deixou sua marca apesar da vilania. Pois foi uma vilania com propósito.

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