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[Livro] The Double Me - 2x02: Somebody Mixed My Medicine [+18]



Previously on The Double Me...
Hamptons, Nova York. Foi lá que tudo começou.

Nate tinha apenas 15 anos quando foi traído pelos amigos e exilado da cidade para evitar os escândalos de sua vida secreta com o namorado. Eles pensaram que a guerra havia acabado, mas este era apenas o começo.

Nos três anos que sucederam sua trágica perda, Nate transformou-se em um cruel vingador, capaz de perder a si mesmo dentro do próprio ódio para derrubar todos aqueles que lhe fizeram mal. A chegada repentina de seu irmão gêmeo pode ter mudado seus planos, mas nada irá impedi-lo de concluir seus objetivos. No final, será olho por olho. E dente por dente.

A estrada até aqui deixou muitos assuntos inacabados. Nate e Thayer, após uma longa disputa de poder, acabaram rendendo-se aos desejos selvagens que reprimiram durante todos esses anos. Jensen conseguiu sair ileso do acidente de carro causado por Justin, mas por quanto tempo? Quem vive, quem morre, quem vai ao topo e quem vai a falência, é apenas uma questão de tempo até descobrirmos. 
 
2x02: Somebody Mixed My Medicine  
“Basta tomar duas pílulas com perfeição e tudo ficará bem pela manhã.”

Nate e Thayer resolveram começar a diversão mais cedo que o habitual. Três dias depois, às oito da manhã, já estavam deixando suas roupas espalhadas por toda a cobertura de Thayer e jogando champanhes milionários um no outro. Ironicamente, a fabulosa vista matinal do Central Park poderia ser vista através da janela. Mas não poderia ser contemplada enquanto não houvesse um sequer resquício de romance.

Enquanto o beijava, Thayer adulava os cabelos de Nate, levantando sua cabeça até que pudesse ver parte do teto. Ele estava quase lá, e como em todas as outras vezes que esteve, não poderia se conter. Ele fechou os olhos e sussurrou alguns palavrões enquanto o alívio imediato e prazeroso lhe consumia aos poucos. Nate fez o mesmo, bem devagar, para que não sofresse tanto com as cãibras obrigatórias causadas por suas posições inovadoras.

Ambos jogaram-se na cama ao mesmo tempo, estavam encharcados de tanto suor, e extremamente cansados para fazer qualquer coisa que não fosse fitar o teto.

— Essa foi melhor que a segunda. — Disse Nate, com a respiração ofegante.

— Eu gostei da terceira, parecia que você estava sentindo dor.

— Eu estava. — Nate levantou-se para vestir a cueca. Depois caminhou até o enorme espelho em frente a cama. Queria ver se estava mesmo tão bem quanto Thayer lhe fez acreditar.

Thayer acomodou a cabeça no travesseiro, observando-o. Ele sempre fazia aquilo depois do sexo. Vestia a cueca, corria para o espelho e ficava admirando a si mesmo numa tentativa frustrada de encontrar algum defeito no corpo perfeito que poderia dominar o mundo. Não que o conhecesse tão bem depois de alguns dias de encontros secretos, mas talvez sua intuição estivesse certa. Não importava o quanto Nate fosse perfeito, sempre haveria espaço para um tipo sagaz insegurança que apenas uma pessoa seria capaz de preencher. E essa pessoa, Thayer nem fazia questão de ser.

— Acha que eu preciso malhar um pouco mais? — Nate passou a mão em seu abdome musculoso. Não sabia se o exagero no banquete de dias atrás já estava fazendo uma grande diferença.

— Você ta brincando, né?

— Tanto faz. Acho que posso viver com isso.

— Se você diz. — Thayer puxou uma placa prateada de cima do criado mudo ao lado da cama. Nela havia uma porção de cocaína comprada a alguns dias, logo quando deixou Justin plantando no banheiro. Parecia que todos eles tinham suas próprias rotinas inquebráveis após o sexo.

Nate olhou pra ele através do espelho no exato momento em que enfiava a pequena caneta sem ponta no nariz. Por que alguém como Thayer Van Der Wall precisava descer tão baixo em nome da diversão? Nate estava se segurando para correr de volta pra cama e atirar todo aquele pó pela janela.

— Viciado. — Resmungou ele. O casual não lhe permitia ir mais longe que isso. — Espero que não fique impotente.

— Não vou ficar. — Thayer passou a mão no nariz para aliviar o ardor. — Não se preocupe.

— Qual a graça disso, afinal? — Nate virou.

— Te deixa mais feliz. — Thayer colocou a placa prateada de volta no lugar. — E se você for fraco, te deixa mais forte para suportar as merdas que acontecem.

— Por que eu não estou surpreso? — Nate caminhou de volta para a cama, deitando-se por cima dos lençóis. Pegou um cigarro no maço do criado mudo e o acendeu com apenas um clique do isqueiro.

— Vamos ficar aqui o dia inteiro como antigamente?

— Não posso mais. — Nate deu uma tragada. — Tem muito tempo que não faço nada, não posso esquecer meus objetivos...

— Eu sei. V de Vingança, Emily Thorne, Uma Thurman samurai. Você está mesmo levando isso a sério.

— Estava. Agora preciso de foco.

— Quem é o próximo?

— Justin. — Nate tragou mais uma vez. — Essa vadia me irrita, por isso odeio os fãs da Britney.

— O que você vai fazer?

— Muitas coisas. — Nate deu outra tragada, dessa vez soltando devagar a fumaça. No meio de um raciocínio lógico, ele encontrou o olhar curioso e estonteante de Thayer. — Você entende porque não posso compartilhar com você.

— Fique à vontade. Eu tenho meus próprios problemas para cuidar. Preciso voltar a nadar e dar um jeito naquele Mike, a estrela do time. Alguma sugestão?

— Quebre uma perna ou duas. Se não resolver, tente traumatismo craniano. — Nate sorriu. Era brincadeira, mas ninguém havia dito que não poderia ser um bom plano de emergência.

— Tentador, mas eu prefiro tentar não tirar sua vida. Alguma outra ideia?

— Prepare um escândalo; algo como fazer todos acreditarem que ele é gay. O treinador vai sofrer tanta pressão dos superiores que não terá escolha a não ser expulsá-lo do time. — Nate apagou o cigarro na cabeceira da cama e deu um ultimo beijo em Thayer. — Você consegue. — Ele se levantou da cama e começou a juntar suas roupas espalhadas pelo chão.

— Você já vai?

— Sim, quanto mais cedo acabar com isso, melhor.

— Você nem me falou sobre aquela história da sua mãe e a compra dos bebês...

— Não falei porque não importa. — Nate vestiu a calça, ignorando-o.

— Você arremessou um copo no rosto barman do hotel quando descobriu. Ele levou cinco pontos, Nate. — A voz de Thayer parecia entediada.

— E daí? Não quer dizer que estou triste com isso. Não sou filho legítimo da Judit? Grande coisa. Prefiro me preocupar em encontrar nossa irmã perdida a perguntar porque eu nasci de uma mulher que me vendeu. Foda-se minhas origens, só quero saber onde está a vadia que ficou do meu lado no mesmo útero.

Até as bactérias de seu corpo sabiam que aquilo não era verdade. Descobrir que mentiram sobre sua origem a vida inteira não era fácil de lidar, mas ao mesmo tempo poderia ser reconfortante. Nate não era filho do casal que o mandou para longe só porque era diferente. Isso queria dizer que sua mãe verdadeira estava em algum lugar e talvez pudesse lhe dar o merecido apoio. Ou uma irmã tão linda e inteligente quanto o resto da família.

— Hmm. — Thayer anuiu. — Mas por quê? Alex não é o bastante ou você está obcecado em ter a família que nunca teve?

— Terminamos aqui. — Nate vestiu o restante das roupas e saiu pela porta enquanto Thayer sorria. Era injusto saber que ninguém precisava de uma resposta concreta para entender o que passa em sua cabeça.
 

— Você sabe que pode falar o que quiser para mim, Justin. — Disse a Doutora Malcolm, arrumando os óculos.

Justin estava tão distraído que as palavras de sua psiquiatra soaram como um sussurro inaudível para seus ouvidos. Deitado no enorme sofá cor de vinha e olhando pro ventilador de teto, seu pensamento ainda pairava na possibilidade de ter o ex namorado de volta. E falar sobre seus problemas para alguém que só ouve quando lhe pagam não parecia lhe servir de grande ajuda.

— Por que você parou de tomar sua medicação?

— Não achei que precisava dela.

— Agora você acha que precisa? — A doutora cruzou as pernas enquanto fazia algumas anotações em sua prancheta.

— Só quero algo que me ajude a dormir, nada muito forte. Você pode conseguir isso pra mim?

— Eu posso, mas você precisa prometer que vai tomar cuidado.

— Eu vou. — Justin virou o beiço, aquela posição estava começando a incomodá-lo.

E já que o único benefício em se consultar com profissionais era o direito a medicação, ele preferia usar o tempo da sessão para ficar a sós com seus pensamentos. Por que Jensen havia dito coisas tão ruins? O que Alex realmente representava em toda aquela história? Justin seria capaz de tirar seu rival do caminho, sendo ele o garoto que conseguiu exilar Nathaniel Strauss do país. Mas ninguém poderia afirmar se Alex era capaz de resistir.

Como poderia destruí-lo se não sabia nem por onde começar?

— Você quer falar sobre aquele garoto, Justin?

— Eu sempre quero falar sobre ele, doutora...

— Por que não começa me dizendo o motivo do término?

— Não existem motivos que expliquem tamanho sacrilégio. — Justin virou para ela. — Eu sou Justin Priestly, não faz sentido algum.

— Por que não?

— Os Priestly não são rejeitados. — Justin mordeu os lábios quando lembrou do que havia acontecido com Thayer naquele banheiro. E também na casa de Kerr, quando foi expulso por tentar algo além de um simples jogo de videogame. O que realmente queria dizer era que todos poderiam rejeitá-lo, menos Jensen.

— Estou vendo. — A doutora hesitou para fazer mais algumas anotações. Faltava pouco para comprovar sua teoria pessoal a respeito do velho paciente.

— Estou com o coração partido, preciso de terapia por causa disso?

— Isso é relativo, Justin. Estamos aqui para termos certeza que os eventos do passado não vão mais se repetir. Você precisa controlar sua raiva, ou da próxima vez, não vai haver monitores para lhe impedir de cometer uma loucura.

— Eu não quero matar ninguém, doutora. — Justin olhou para o teto novamente, lembrando-se do que acontecera no acampamento quando ele tinha treze anos.

Deveria ser uma das memórias mais aterrorizantes da sua vida, mas não era. Era possível lembrar de todos os eventos daquele dia com a naturalidade de quem lembra o que comeu no café da manhã. Não era motivo de orgulho, só não parecia tão perturbador quanto as outras pessoas imaginavam.

— A tesoura estava perto demais em um momento de raiva, apenas isso. — Ele concluiu.

— Justin, um coração partido nunca é apenas um coração partido. Ele chega com uma variedade enorme de sentimentos e sensações que a maioria das pessoas não consegue controlar. Raiva, Ódio, Angústia. Não temo que você vá fazer mal a alguém, mas temo que você possa fazer mal a si mesmo. Por isso sugiro que você volte a tomar sua medicação até as coisas melhorarem.

— Eu não quero ser um louco. — Justin fez uma careta, não poderia negar nem à si mesmo a repulsa que sentia daquela palavra.

— Você não é louco, não se preocupe. Sei que é antiprofissional dizer uma coisa dessas, mas você acreditaria em sua sanidade se visse os tipos de pessoas com quem lido todos os dias. Você só precisa manter a calma e tomar sua medicação de acordo com a receita, você vai...

— Eu só não entendo. — Interrompeu ele. A doutora calou-se imediatamente. — O que ele tem que eu não tenho? Onde eu errei?

— Quando você descobrir, nunca mais vai precisar me ver. — Após um breve sorriso, a doutora olhou em seu relógio. — Nosso tempo acabou, Justin. Vejo você semana que vem.

Justin não disse mais nada. Apenas levantou-se do sofá junto da doutora e esperou suas instruções de sempre.

— Fale com a Amelia, ela vai lhe dar os comprimidos. E tente descansar, você precisa disso.

— Eu preciso disso. — Repetiu. Ela não fazia ideia do que ele precisava.

A doutora o observou caminhar até Amelia, ainda com o olhar avaliador sobre o garoto. Uma vez tendo fechado a porta, marchou até sua mesa marrom no fim da sala e sentou-se na cadeira giratória. Havia um gravador na ultima gaveta a sua esquerda, já preparado para a próxima análise.

— Justin demonstrou novamente o comportamento soberba cultivado por sua linhagem. — Ela aproximou o gravador da boca enquanto remexia a ficha de Justin. — E em alguns anos tivemos pouca evolução neste aspecto. O paciente continua bastante ligado a suas origens e as usa como escudo para tudo, indagando-se o motivo para alguém tão importante como os que carregam seu sobrenome não conseguir o que quer. O recente rompimento de seu relacionamento apenas agravou a situação, já que o apoio do conjugue é muito importante no tratamento. Sua reação exagerada fez com que desencadeasse uma necessidade doentia de ser amado por quem deseja, podendo acreditar que a melhor maneira de realizar seus desejos é através da manipulação. Ele não está bem, mas nunca chegaria aos extremos. É uma pena que isso não queira dizer que ele não possa fazer mal a ninguém usando seus próprios recursos.
 

O despertador tocou, mas os olhos de Alex permaneceram acesos durante a maior parte da noite. Ele olhou para o aparelho no criado mudo ao lado da cama; sua luz verde piscava de maneira tão irritante que acabou jogando-o no chão na tentativa de interromper o escândalo.

Ele virou para o outro lado e olhou pela janela. Judit com certeza afastara as cortinas para que o sol adentrasse logo quando apareceu no horizonte. Nos dias que seguiram, sua mãe havia feito o impossível para restaurar a relação com seus filhos. Levar café na cama, dar presentes caros, deixa-los em paz para não invadir seu espaço... Como se tudo isso fosse invalidar uma mentira contada durante a vida inteira.

Para Alex, tantas regalias e tantos pedidos de desculpa estavam quase funcionando. Judit queria ter a mesma sorte com Gwen, que ignorou todos os seus gestos de afeto nos últimos dias. Seu refúgio tornou-se o apartamento de Amber, onde sempre seria bem vinda para ficar quanto tempo precisasse. Uma semana, um mês, um ano, Judit sentia calafrios só pensar no tempo passando e sua filha alimentando um ódio profundo dentro de seu coração.

Quando Alex ouviu barulho de passos, olhou diretamente para a porta. Judit estava entrando no quarto com uma bandeja cheia de comida que provavelmente ela mesma preparou. Em seu rosto estava um dos mais belos e fabulosos sorrisos, que de tão disposto a recuperar sua antiga vida, parecia exagerado demais. Não havia necessidade de dizer as palavras “me desculpe” para Alex saber que ela estava tentando se redimir.

— Fiz seu café. — Ela disse ao posicionar a bandeja em cima da cama. — Sim, eu mesma fiz. Pode ficar chocado agora.

— Não precisava. — Alex preferiu permanecer neutro. Não morreria de amores por ela, mas também não a faria sua maior inimiga.

— Precisava sim. Meu sonho sempre foi ser mãe e não pretendo desperdiça-lo agora.

— Judit... — Alex fechou os olhos e se ajeitou na cama, prestes a iniciar um discurso.

— Por favor, não, não fale. — Ela encarou a bandeja. — Eu só vim trazer o seu café...

— Obrigado.

Judit sorriu cortês. Ela quase tocou no rosto do filho com a mão direita, mas parou antes que ele percebesse suas intenções. Quando levantou, fez seu caminho até a porta e deu um grande suspiro, aproveitando que Alex não podia ver suas expressões.

— Você já a encontrou? — Alex se arrependeu de perguntar antes mesmo de terminar. Era muito cedo pra falar sobre aquilo ou Judit já poderia cumprir sua promessa de encontrar sua irmã perdida?

— Ainda não. — Judit virou-se. — Estou fazendo o possível, mas Ivy parece ter sumido do mapa.

— Podemos considerar a possibilidade da nossa irmã estar morta? — Outro arrependimento imergiu no coração de Alex. Ainda não havia descoberto uma maneira de ser otimista fazendo parte da família Strauss.

— Não é saudável pensar dessa maneira.

— Ok. — Alex assentiu devagar enquanto encarava a bandeja de comida a sua frente.

— Nós vamos encontrá-la. Ela é nossa família. — Assegurou Judit antes de sair pela porta.

Alex só esperava que não fosse outra mentira.
 

O relógio de Lydia marcava as dezesseis em ponto quando olhou pela terceira vez. Sentada na mesa de fundo de uma das lanchonetes subestimadas do Brooklyn, ela só esperaria mais cinco minutos por sua companhia. Não havia nenhum problema em frequentar o mesmo lugar que jovens skatistas e garotas de colégio público, mas não poderia se dar ao luxo de ser reconhecida por alguma daquelas pessoas.

Quando a porta de entrada se abriu. — fazendo soar o pequeno sino na parte superior — Lydia levantou o olhar. Ivy estava caminhando pela lanchonete, usando botas marrons, um casaco preto por cima da camiseta vermelha e uma calça jeans desgastada pelo tempo, exatamente como Lydia lembrava. Seus longos cabelos vermelhos já não possuíam mais o mesmo brilho, assim como o rosto abatido já não possuía nenhum traço de uma juventude que um dia foi sua maior qualidade.

Lydia a encarou de onde estava até que notasse sua presença. E quando finalmente percebeu que o passado lhe aguardava, sua primeira reação foi engolir em seco. Era impossível não se sentir ameaçada com o olhar fixante de Lydia mesmo depois de todos aqueles anos sem se ver. E se havia quebrado o voto de silencio que fizera, não havia boas notícias para contar.

Dando um forte suspiro, Ivy caminhou na direção da ultima mesa e sentou de frente para Lydia em um dos bancos imóveis de estofado vermelho. Elas trocaram um olhar cauteloso por alguns instantes, até Lydia se pronunciar.

— Você não está nada bem.

— Obrigada. — Ivy tentou não fazer contato visual. Um meio sorriso brotou em seus lábios quando lembrou que essa era a maneira de se preservar quando estava na mesma sala que Lydia Strauss.

Ela discordava, mas Lydia não estava interessada em intimidá-la. Estava apenas perguntando-se como poderia parecer a mesma garota perdida de dezesseis anos que achava poder tomar conta de si mesma. As roupas, o cabelo, a maquiagem, o olhar rebelde, tudo estava do jeito que era antes como se o tempo tivesse passado apenas para seu corpo físico.

— Deus, você tem os olhos do seu filho. — Lydia acusou, como se não fosse um simples elogio.

— Qual deles?

— Aquele que você não deixou parar em um orfanato. Os verdes são idênticos.

— Então... Judit descobriu? — Ivy olhou para os próprios dedos em cima da mesa. Estava brincando de entrelaça-los para que não tivesse que olhar Lydia nos olhos.

— Como você saberia?

Ivy estava prestes a responder quando notou a garçonete ao lado pronta para atendê-las.

— Apenas um café. — Lydia pediu gentilmente.

— O mesmo para mim.

Com um sorriso agradável de Ivy, a garçonete foi dispensada.

— Por que outro motivo você lembraria que eu existo? — Dessa vez, Ivy fez questão de olhá-la nos olhos.

— Muito justo. — Lydia assentiu, sustentando um olhar cínico para que Ivy soubesse que era difícil atingi-la. — Mas agora todos sabem. Aconteceu, Ivy.

— Creio que você não tenha contado a parte em que me acobertou, não é?

— Fiz isso porque você é minha filha, não poderia deixar você sofrer a dor de perder seus filhos como eu já sofri. — Lydia olhou para baixo, sentindo-se um pouco envergonhada. Mesmo que não tivesse agido como mãe nesses últimos anos, ainda achava que poderia estar com a razão. — Mas você é egoísta demais. Eu deixei você ficar com a garota, era o que você queria. Não precisava levar o outro garoto.

— Eles são meus filhos. Eu fiz o que qualquer um faria.

A convicção na voz de Ivy era o bastante para Lydia ter certeza que não havia nenhum traço de arrependimento. Se ao menos soubesse o que sua impulsividade custou ao filho, se ao menos soubesse que poderia nunca ser perdoada, talvez pudesse pensar com um pouco mais de lucidez.

— Não há justificativas plausíveis para roubar uma criança e privá-la de uma vida perfeita com todos os cuidados necessários. Você teria meu total apoio se pudesse dar a Alex tudo que ele precisava, mas perdeu o direito de ser mãe depois que ficou bêbada demais para saber o que estava fazendo.

— Não jogue isso na minha cara. — Ivy fungou, estava prestes a chorar com aquela tempestade de lembranças. — Eu me lembro daquela noite todos os dias da minha vida. Se eu não tivesse...

— Bebido tanto e batido com o carro, Alex não teria parado em um orfanato. Eu sei, você se arrepende. Mas se existe algo crucial no arrependimento, é que ele não pode mudar nada. — Lydia calou-se assim que a garçonete colocou as xícaras de café em cima da mesa. Ela disfarçou a tensão em seu olhar e esperou que se retirasse. Foi o tempo que Ivy levou para se recuperar das duras palavras que precisara ouvir. — Como anda a garota?

— Mia está bem. Ela arrumou um namorado legal, ele está na faculdade.

— Você está empregada?

— Depende. Você considera Diarista como emprego?

— É claro. — Lydia assentiu, mais uma vez com o olhar cínico. — E o que você ganha é o bastante para suprir a necessidade das duas ou precisam de ajuda?

— Eu disse que nunca precisaria do seu dinheiro. — Ivy parecia ofendida. — Então não se preocupe.

— Não é o momento adequado para ser orgulhosa. Você não pode sair da cidade sem ter como sobreviver.

— Eu não vou fugir. Vou fazer o que você mandou, contar toda a verdade a Mia e levá-la até Judit, mas não vou fugir. Isso é temporário, ela vai voltar para mim.

— Se Judit souber onde você está, você vai parar na cadeia.

— E ela também. — Ivy fungou mais uma vez. Prender o choro na frente de Lydia estava sendo mais difícil do que pensava, mesmo que estivesse repetindo para si mesma que era o necessário. Nunca mais daria motivos para que fosse chamada de fraca pela própria mãe, e essa promessa era a única que poderia cumprir. — Eu também não me importo. Eu quero ver meus filhos, Lydia. Eu quero abraçá-los, pedir desculpas, eu não posso mais viver assim...

— Acho que no fim, você ainda é a mesma garota estúpida e inconsequente de antigamente. Igualzinha ao seu pai...

— Eu nunca tive pai, e pelo que eu vejo, também nunca tive mãe. Por isso meus filhos são a minha vida. — Ivy se levantou. — Mia saberá de tudo ainda hoje. Mas não se preocupe, não direi que sou sua filha, se é isso que você está pensando. — Ela tirou algumas notas amassadas de um dólar do bolso e as jogou em cima da mesa. — Me agradeça depois pelo café.

— Você está cometendo um erro.

— Eu sou o erro, lembra?

Lydia preparou um olhar desinteressado para explanar sua indiferença, mas só durou até Ivy passar pela porta de entrada. A verdade era que estava tão destruída quanto as outras mães. Assim como não poderia deixar Judit afastada de Mia, também não poderia deixar que Ivy fosse presa. Mas como poderia resolver tudo sem que ambas a odiassem?

A ultima vez em que enfrentara um dilema tão grande foi pouco antes de abrir mão de sua filha. Sua família estava a beira a da falência, seu orgulhoso pai definhando aos poucos com câncer nos pulmões e sua irmã enfrentando a crise do desemprego. Porém Lydia, tão inteligente como sempre fora, sabia exatamente o que fazer. Bastava casar-se com o milionário mais cobiçado da cidade e todos os seus problemas estariam resolvidos. A única coisa que precisava fazer era abrir mão do amor de sua vida e da filha que esse amor gerou.

Sua decisão levou embora o final feliz que tanto almejava, mas deu de presente um final feliz à todos que amava. Era o suficiente para viver em paz consigo mesma? Não, mas costumava ser. E era muito melhor que a própria felicidade.
 

— Meu pai já está em casa, Cassandra? — Perguntou Justin a empregada assim que passou pela porta da entrada de sua mansão.

— Sim senhor. Está no escritório.

— Preciso falar com ele. — Num movimento rápido, Justin jogou o casaco marrom no rosto da moça e partiu na direção da porta dupla do escritório no próximo corredor.

— Espere, senhor. — Ela gritou, desesperada. — Ele está com visitas, pediu para não ser interrompido.

— Ah não. — Justin fingiu estar desapontado. — Agora me sinto superficialmente obrigado a atrapalhar...

Assim que abriu as portas, Justin viu seu pai escorado na mesa de centro com os braços cruzados, rindo como uma criança. Na poltrona cor de vinho a sua frente estava Nate, com um copo de whisky nas mãos e um dos sapatos mais caros da Louise Veltron nos pés. Ele mantinha o pé direito em cima do joelho esquerdo e o outro braço ao redor da poltrona, como um homem de negócios importante tentando parecer informal. Só faltava uma explicação para Nathan Priestly estar tão risonho do outro lado da sala.

— Justin! — Exclamou seu pai, tão distraído que nem notou o olhar de repulsa do filho. — Como foi a terapia?

— Boa. — Justin olhou para Nate. Ao invés de uma boa explicação para o que fazia em sua casa, a única coisa que conseguiu foi o sorriso cínico ao qual nem em mil anos iria se acostumar. — O que está acontecendo aqui?

— Seu amigo Nate e eu estávamos tendo uma conversa muito agradável. — Nathan sorriu quando Nate balançou o copo de uísque em sua direção. Era apenas uma reverência amigável que aprendera com Quentin para se enturmar entre os empresários. — Por que não o apresentou antes? Ele é perfeito para os negócios. Se usarmos suas ideias, podemos triplicar nosso lucro.

— Mas nós já temos lucro o suficiente. — Justin olhou para o pai, estava implorando com os olhos para ele não estar falando sério. Pois se estivesse, Nate já poderia ser considerado como membro da família, assim como todos os outros investidores com quem almoça toda semana. — Não precisamos de mais.

— Dinheiro nunca é demais, Justin. — Disse Nate. — E ele sempre vem com notoriedade e respeito.

— Exatamente. — Nathan caminhou até a enorme estante de bebidas atrás de sua mesa. De lá tirou mais uma garrafa de uísque para dividir com seu novo parceiro. — Não é apenas o dinheiro que está em jogo. Tenho certeza que com essa perspicácia você fará grandes maravilhas quando assumir os hoteis de seu pai, Nate.

— Absolutamente. — Justin sorriu, mais falso impossível. A única maravilha que Nate poderia fazer naqueles hotéis era uma orgia com modelos da Calvin Klein. A não ser que isso rendesse lucro para a empresa, Justin estava certo de que os Strauss iriam a falência.

Para rebater seu sorriso falso, Nate sorriu para Justin de maneira cínica, aproveitando a distração de Nathan com o uísque.

— Eu adoraria que você trabalhasse para mim, Nathaniel. — Após encher seu copo até a metade, Nathan deu a volta na mesa e sentou-se novamente em cima dela, fitando o garoto com um sorriso.

— Obrigado senhor, mas logo pretendo assumir os negócios da família. Talvez uma parceria, quem sabe?

— Ah, por favor, me chame de Nathan. E eu adoraria que você repensasse sua decisão. Poderia lhe conseguir um estágio remunerado no meu escritório junto dos outros dois candidatos. A propósito, você aceitaria um convite para nosso evento beneficente de amanhã? Seria uma grande oportunidade para apresenta-lo aos nossos sócios.

— Estarei lá, Nathan. Mal posso esperar. — Nate tomou um gole de seu uísque enquanto encarava Justin. Pelo olhar enfurecido do garoto, parecia que Nathan era a única coisa que o estava impedindo de agarrar seu pescoço e jogá-lo no chão. — Agora, poderíamos dar uma pausa para eu ir ao toilet?

— É no andar de cima, ultima porta do corredor da esquerda.

— Obrigado. — Nate passou por Justin, ainda sorrindo.

— Eu vou lhe dizer. — Nathan olhou pela janela do outro lado do escritório, o rosto pensativo. Estava mais do que impressionado com a capacidade de Nate. — Esse garoto tem futuro.

— De jeito nenhum!

Sem pensar duas vezes, Justin disparou na direção das escadas. Nate já estava no terceiro degrau rumo ao banheiro quando Justin segurou seu braço.

— O que você quer?

— Foder um milionário. — Nate provocou.

— Qual o seu plano?

— Não é óbvio? — Nate desceu dois degraus e livrou seu braço. — Meu plano é trabalhar com seu pai porque meu dinheiro está acabando. E se você não quiser que as coisas piorem pra você, vai ficar fora disso.

— Eu não vou deixar! — Justin tentou fazer sua voz ficar firme, mas não conseguiu. Nate percebeu claramente que havia alguma coisa errada.

— Justin, você deveria saber que eu sempre consigo o que quero. Agora me deixe ir ao toilet. Pode continuar chorando pelo Jensen, eu sei que você gosta. — Nate lhe deu as costas, esperando que tivesse sido claro o suficiente para que não fosse incomodado novamente.

Quando chegou ao segundo andar, deu três passos na direção do corredor da esquerda, e logo depois, voltou até o topo da escada. Justin já não estava mais lá, assim como nenhum empregado. Era a chance que estava esperando desde que sentara do sofá de Nathan Priestly.

Dando passos silenciosos, ele correu até o quarto de Justin e trancou a porta pelo lado de dentro. Nada parecia ter mudado desde a ultima vez em que estivera lá a não ser a organização impecável. O quarto estava arrumado demais para pertencer a alguém que sempre destrói tudo quando seu cabelo não está da maneira desejada. E onde estavam os pôsteres das divas do pop? Não era do seu feitio ter um quarto tão masculino como aquele.

Agora que já havia chegado ao quarto, só precisava descobrir onde ele guardava seus remédios. Nate remexeu no criado mudo, no closet, na penteadeira e até debaixo do colchão, mas nada encontrou. Só lembrou que o banheiro era o lugar mais provável quando notou a porta branca da esquerda entreaberta. Assim que adentrou, ele ajeitou o próprio cabelo pelo espelho e pegou alguns frascos que havia dentro da farmacinha. Justin estava tomando um remédio estranho em cápsulas brancas que não foi difícil de encontrar.

Prestes a jogar todas as pílulas no vaso, ele pensou. Poderia salvar três delas para ter uma viagem alucinógena como sempre tinha usando os remédios de Lydia, ou quatro para ter um melhor efeito. Bem, isso não importava, ele não poderia perder mais tempo. Apenas guardou três pílulas no bolso do casaco e jogou o resto no ralo da pia. Dentro do outro bolso estava o saquinho com pílulas idênticas as que havia jogado fora. Bastou rasgar o saco com os dentes, colocar as pílulas dentro do frasco vazio e pôr de volta no lugar, na mesma posição em que fora encontrado.

— Divirta-se, Justin Priestly. — Disse ele para o espelho com um sorrio maldoso. Se tudo desse certo, Justin estaria instável o suficiente para destruir a si mesmo em muito pouco tempo.

E este era apenas o primeiro passo.
 
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2x03: Drama, Drama, Call Your Mama (28 de Junho)
Semana que vem finalmente conheceremos Mia, a irmã gêmea de Nate e Alex. E também veremos Justin colocar seu plano em ação para tirar Alex da jogada. Não percam!

Após o pedido dos fãs, revolvi colocar a 1ª Temporada completa para download em PDF. Segue o link para quem quiser baixar: http://goo.gl/pWtiku
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