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[Livro] A Punhalada 3 - Capítulo 7: A Rainha Suicida



Quando a polícia finalmente conseguiu tirar todos os corpos de dentro da casa, Megan e Aaron já estavam do lado de fora, sentados em uma das três ambulâncias paradas ao redor do local. Ele havia dado seu casaco para protegê-la do frio enquanto relutava em tomar o chocolate quente que lhe fora oferecido por um policial. Nada fora dito desde o momento em que o corpo esfaqueado de Luke entrou na ambulância.

— Amanda está viva... — Megan fungou.

— Nós não encontramos seu corpo após a explosão. Acho que ela não queria mais estar viva. — Aaron olhou para frente. Um pequeno grupo de policiais estava entrando novamente na residência.

— Onde ela está?

— Ela casou com o dono de uma empresa milionária e herdou sua mansão nas montanhas de Chicago.

— Nós teremos que visita-la... — Megan fungou novamente. Não era difícil imaginar que toda aquela dor poderia ir embora quando estivesse frente a frente com a mulher que todos adoram perseguir. Aquela que injustamente estava culpando.

— Megan, você precisa sair da cidade agora. Foi um erro ter trazido você até aqui.

— Eu não vou a lugar algum.

— Eu sei que está chateada...

— Eu não vou fugir. — Megan o fitou com convicção. — Eu faço parte disso desde o começo. Preciso estar aqui pra ver terminar.

— Você não está pensando direito...

— Aaron, eu não sei por quanto tempo ainda vou estar viva. Por isso não vou perder nem mais um segundo vivendo a vida que alguns psicopatas escolheram pra mim. Eu tenho que viver pra mim, apenas para mim. Porque todos que eu amava agora estão mortos e não há nada que eu possa fazer.

— Megan, eu te amo. E eu amo tanto que às vezes não sobra nada nem para mim. — Ele hesitou. — Mas estou cansado de pedir desculpas por isso.

— Aaron...

— Vou dormir em um hotel hoje a noite. — Aaron levantou-se, deixando a pequena xícara de chocolate no lugar onde estava sentado.

Megan, sem ter outra opção, apenas o observou distanciar-se enquanto repetia para si mesma todos os insultos que achava merecer. Sua irmã fora assassinada, seus amigos foram assassinados, e seu noivo estava cada vez mais distante a medida que o dia do casamento se aproximava. Era o suficiente para acreditar que talvez o problema estivesse em si mesma, e não em todas as coisas que costumava culpar.

Para mais uma noite sozinha vendo o sol nascer na janela, ela decidiu apenas caminhar. Jogou o casaco de Aaron no mesmo lugar onde ele deixara sua xícara e foi na direção contrária a todas as luzes das sirenes policiais. Chegando próximo as faixas amarelas que separavam o local dos curiosos, ouviu Francine chamar seu nome.

— Francine, vá para casa. — Ela suspirou, e continuou caminhando.

— Eu me demito!

— O que? — Megan olhou para trás. Estava torcendo para ter entendido errado.

— Eu li o livro de Chloe Field. Você acha que eu tenho chances sendo apenas uma assistente?

— Eu não sei. Você luta Kung-Fu?

— Quer saber? Eu cansei! — Francine deu meia volta.

— Francine, espere! — Megan correu atrás. O irritante barulho de seus saltos no asfalto fazia Francine desejar ser a próxima vítima. — Você acha que eu tenho chances sem você?

— Você tem o Aaron.

— Não hoje a noite. Ele vai dormir em um hotel. — Megan pigarreou para disfarçar o descontentamento.

— Você contou que gastou quarenta mil em salto altos?

— Quando você coloca desse jeito, eu me pergunto por que quero a sua companhia...

— Posso pelo menos ganhar um aumento... — Francine olhou para baixo. Ainda estava a blusa que foi acertada pela garrafa em chamas enquanto tentava fugir pela janela. — E roupas novas?

— Qualquer coisa. Apenas... Venha comigo. Por favor.

Francine não via mais motivos para continuar hesitando. Estar ao lado de Megan, mesmo que trabalhoso, era uma coisa que não estava preparada a perder. Afinal, elas eram “Mencine”, como alguns internautas gostavam de dizer.

— Ok, vamos. — Francine caminhou em direção a ela.

— Não se preocupe, vamos ter policiais vigiando a casa por vinte e quatro horas.

— É, eles sempre estão lá...

Megan suspirou. Quais eram a chance dos policiais não ajudarem caso o assassino aparecesse? Se ainda era um filme de terror, precisava lembrar-se de confiar apenas em si mesma.
φ

No escritório de uma famosa galeria de arte de Chicago, estava Cassidy Hewitt, a nova proprietária, pagando as antigas dívidas que tinha com o namorado ciumento em cima da mesa principal. Devido a espontaneidade do momento, não houve tempo para tirar todas as roupas. Kevin continuava com sua jaqueta de couro e a calça jeans nos joelhos, enquanto Cassidy apenas afastava sua saia para fazer o que precisava ser feito.

Foi no meio de um beijo intenso que Heather abriu a porta do escritório e se deparou com algo que nunca gostaria de ter visto. Cassidy e Kevin se afastaram com o susto, mesmo vendo a garota fechar a porta tão rapidamente quanto abriu.

— Vadia estúpida! — Cassidy reclamou enquanto vestia a blusa.

— Preciso falar com você. — Heather gritou do lado de fora.

— Eu não me importo!

— O Senhor Van Der Hills está aqui. Ele disse que é importante.

— Merda, tenho que ir. — Cassidy olhou para o namorado.

— Ta brincando, né? — Ele deu um ar de risos debochado.

— É o meu advogado. Se você ainda quer aquele iate, eu preciso ir.

Cassidy terminou de fechar os botões de sua blusa e deu um rápido beijo no rosto de Kevin antes de passar pela porta. Seu cabelo ainda estava bagunçado e sua saia na posição errada, mas Heather nunca teria coragem de lhe dizer.

— Ele está esperando na galeria.

— Valeu.

Cassidy ajeitou a blusa novamente e caminhou na direção que lhe fora informada. Só precisou passar pelo corredor do porão onde guardava todos os quadros novos, subir alguns degraus de escada e atravessar a porta de acesso ao subterrâneo que deixa sempre trancada.

Carter estava no meio da galeria, observando um dos muitos quadros que já foram posicionados para a exposição de alguns dias. Com as duas mãos dentro dos bolsos do paletó impecável e o cabelo cuidadosamente penteado para o lado, ele parecia um verdadeiro homem de negócios. Talvez a musica clássica, tocada suavemente no fundo do cenário, estivesse ajudando para que se sentisse completamente a vontade diante do que todos chamavam de arte.

— É uma bela paisagem. — Ele comentou. Cassidy nem se deu ao trabalho de perguntar-se como sabia que ela estava ali sem ter tirado os olhos da pintura. — Quem é o artista?

— Algum viciado em metanfetamina que morava no Brooklyn e decidiu ter uma overdose em Paris. É abstrato. E eu tenho cinco minutos. — Cassidy cruzou os braços.

— Tudo bem. — Carter sorriu. — Eu serei direto. Há uma brecha no testamento de seu pai que pode nos dar vantagem no processo de contestação.

— Sério? Uma boa vantagem?

— Sim, mas é arriscado prosseguir sem um acordo anteriormente estabelecido. Apenas ele pode assegurar que ambas as partes não saiam de mãos abanando.

— Você está dizendo que se seguirmos seu plano, Natalie pode ficar sem nada? — Um sorriso vencedor brotou devagar nos lábios de Cassidy. — Porque isso é tudo o que eu sempre quis.

— Ela é a viúva, tem direito a pelo menos parte do dinheiro.

— Ela é uma sanguessuga que se aproveitou de um velho doente para se tornar uma rainha. Ela não merece ficar com nenhum centavo do meu dinheiro.

— Você... — Carter deu um ar de risos desconcertado. — Você quer deixa-la sem nada?

— Não, eu quero que você a deixe sem nada. E em troca terá quatro milhões só pra você na sua conta bancária. — Cassidy deu um passo a frente. — A não ser que você queira voltar para Wyoming e ser o ultimo advogado que alguém queira contratar.

Carter deu outro ar de risos desconcertado, deixando claro o motivo de sua hesitação. Não era todo dia que alguém tinha a chance de ganhar quatro milhões e elevar sua carreira, do mesmo jeito que poderia haver o momento certo de ser um pouco egoísta.

— Eu tenho uma reunião agora.

— Não me leve a mal, eu só quero o melhor para nós dois. — Cassidy deu um passo a frente. Tinha certeza que tal atitude deixaria Carter imediatamente intimidado. — Quando estiver tomando seu champanhe na primeira classe de um voo para a Itália, você vai entender o motivo disso tudo.

— Eu ligo assim que tiver novidades. — Carter olhou para a imensa galeria por uma ultima vez. — Ainda bem que você não tem problemas financeiros.

— É o meu estilo de vida preferido.

— Tenha um bom dia, Senhorita Hewitt. — Foi a ultima coisa que ele disse antes de passar pela porta de entrada.

Cassidy, mesmo não obtendo uma resposta concreta, estava confiante de que a sorte iria mudar a seu favor. Carter era o advogado flexível que precisava para acabar de vez com o império de sua ex madrasta e ficar com todo o dinheiro do homem que nunca viu como pai. A galeria comprada por sua mãe seria um ótimo passatempo, mas ela não seria Cassidy Hewitt se não lhe permitisse sonhar um pouco mais alto.

Ao lançar o olhar discretamente para a esquerda, notou um enorme quadro com bordas douradas que brilhavam como ouro. Mas esta era a única beleza da pintura. Mesmo sendo abstrata, o sangue e a alusão a tortura deixaram-na instantaneamente desconfortável. Quando havia adquirido obras tão bizarras?

O título da pintura estava cravado com letras de forma no bloco de metal que a identificava. “A lucidez impede a humanidade”. Cassidy estava certa de que era a coisa mais estranha que já vira em toda sua vida.

Enquanto isso, do lado de fora da galeria, Carter adentrava em seu carro alugado apenas para permanecer imóvel como um escravo dos próprios pensamentos. Quatro milhões ou Wyoming? – Ele se perguntava; como se não soubesse exatamente o que fazer desde que descobrira a possibilidade de destruir Natalie Strauss. Mas então, por que havia tanto remorso? Definitivamente esta não era uma de suas maiores qualidades.
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Aos poucos o corpo de Amanda recebia os sons de tudo o que acontecia ao seu redor. Enfermeiras entrando e saindo, carros fazendo manobras arriscadas do lado de fora e a voz irritante da mulher do alto-falante convocando cirurgiões... Por um segundo ela esqueceu que havia invadido hospital e se permitiu sonhar, mas agora que estava recobrando a consciência, só que no que pensava era em sair dali antes que alguém pudesse lhe reconhecer.

Abrindo os olhos em um movimento rápido, quase semelhante a um susto, ela precisou de alguns segundos para piscar e enganar a tontura antes que pudesse fazer qualquer outra coisa. Encarou o armário imundo onde se escondera, e finalmente constatou que a noite passada tinha mesmo acontecido. O assassino retornou e já sabia que ela estava viva. Ou retornou exatamente pelo que sabia.

Com a ajuda da estante a sua frente, ela conseguiu levantar-se do chão. Mas não havia tempo para ficar parada. Pegou quantos objetos de primeiros socorros conseguiu e saiu correndo pela porta. Iria precisar de gaze, esparadrapo e algodão quando os curativos improvisados que fez em si mesma não ajudassem mais.

No caminho até seu carro parado próximo a uma árvore, Amanda passou por médicos, enfermeiras e pacientes que caminhavam pelos corredores do hospital, mas nenhum deles, mesmo notando que havia algo errado, conseguiu impedi-la de completar sua fuga.

Ela não sabia para onde ia quando girou as chaves do carro e pisou no acelerador. Talvez a cabana no Canadá, comprada especialmente para este tipo de situação. Porém, mesmo validando todas as suas opções, havia algo que estava deixando passar. Rosalee, Isaac, Cassidy e a empresa. Talvez este fosse o motivo para alguém trazer o pesadelo novamente. Talvez estivessem cobiçando o dinheiro que Michael deixara para ela em seu leito de morte.

Michael... – ela quase pensou alto. Ele não iria querer que seu patrimônio caísse nas mãos de psicopatas e interesseiros. E não havia como desaparecer novamente sem ter dinheiro em sua conta.

A empresa de Michael estava mesmo precisando de uma mudança brusca, que iria salvar a sua vida e impedir que o assassino realizasse todos os seus objetivos.
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Vinte minutos depois, Amanda já estava na empresa de seu falecido marido, repassando o plano em sua cabeça para caminhar de forma triunfal; exatamente como todos aqueles que entram apenas para destruir e provar o seu poder.

— Senhora? — Chamou a recepcionista.

— Eu sou Natalie Strauss. — Amanda continuou caminhando. — Tente me impedir e estará demitida.

— Natalie Str...? — A recepcionista arregalou os olhos e vagarosamente abaixou o telefone de sua orelha.

Amanda caminhou estreitamente até o elevador, saindo doze andares depois onde aconteciam as reuniões. Mas para sua surpresa, ninguém estava lá. Nem mesmo Rosalee, que sempre fez daquele andar sua própria moradia.

Caminhando por entre os corredores, ela encontrou Becca, uma das escravas de Rosalee que sempre se disfarçava de secretária.

— Quem é você? — Amanda perguntou.

— Becca. — A garota juntou os papeis que haviam caído no chão. — E quem é você?

— Natalie Strauss.

— Ai meu... — Becca deixou as folhas em suas mãos caírem novamente. — Deus! Me desculpe. — E abaixou-se para pegá-las de volta.

Becca continuou tagarelando enquanto recolhia as folhas de seu trabalho, uma por uma. Mas quando olhou novamente para a porta, Amanda já estava longe.

Passou pela sala onde havia encontrada Becca até o final do corredor, onde se localizava a enorme sala de Rosalee. A secretária não estava em sua mesa, Rosalee não estava em sua cadeira, e também não havia ninguém no sofá preto de visitas ao lado do enorme vaso de planta. Então, certos de que Natalie Strauss nunca saia de mansão de vidro, todos resolviam simplesmente esquecer o trabalho? Já estava mesmo na hora de fazer algumas mudanças naquele local.

Antes debater em retirada, Amanda ouviu tocar o telefone da secretária. Poderia simplesmente ignorar e continuar sua busca por alguém que mereça ouvir o que tinha a dizer. Ou poderia atender uma ligação feita para Rosalee e descobrir se estava mesmo deixando a nova assassina adentrar sua mansão.

— Alô? — Ele puxou o telefone de uma vez.

— Aqui é o advogado Carter Van Der Hills. Preciso conversar com Rosalee Wahllberg.

— Van Der Hills? — Amanda cuspiu, com desprezo.

— Natalie?

— Por que eu não estou surpresa?

— Desde quando atende os telefonemas para sua representante? — Carter debochou.

— Desde que eu percebi que mando em tudo e em todos.

— Na verdade, eu estava ligando para Rosalee porque precisava falar com você.

— Desculpe, precisa agendar um horário com a minha secretária.

— Preciso mesmo, Amanda?

Carter esperou por uma resposta, mesmo tendo a certeza de que Amanda estava completamente paralisada dos pés a cabeça. Nem mesmo quando estava diante de um assassino mascarado sentiu-se tão vulnerável como estava sentindo. Carter sabia. As pessoas iriam saber. As pessoas iriam julgá-la. Seu filho correria perigo. E Amanda nunca iria se perdoar por isso.

— Você realmente pensou que poderia se esconder nas sombras para sempre e ninguém iria descobrir? Você deve ser mais ingênua do que demonstra, rainha de gelo.

— Eu não me importo.

— Na verdade, julgando pela maneira que você se esforçou para esconder tudo, acho que manter seu segredo é a coisa mais importante para você. É por isso que vai assinar um documento desistindo de toda a sua parte da herança para beneficiar Cassidy Hewitt, a herdeira oficial.

Amanda deixou uma lágrima escorrer de seus olhos enquanto ouvia a repugnante chantagem.

— Se você está se perguntando quanto vou ganhar fazendo isso, pode ter certeza que não é pouco. Você tem vinte e quatro horas, ou então o mundo inteiro vai saber quem você realmente é.

— Parabéns, você é um novo milionário.

Amanda bateu o telefone no gancho enquanto Carter dava um ultimo sorriso. Os quatro milhões já estavam garantidos em sua conta bancária, assim como a viagem para a Itália. Mas ainda sobrava espaço para o velho remorso de sempre que aos poucos tentava apagar. Talvez a Itália pudesse fazer o serviço sujo que sua consciência relutava em fazer.

Amanda simplesmente desabou.

Arrancou o aparelho de telefone junto do fio e lançou pela janela da sala de Rosalee.

— Não! — Ela gritou, segurando a cabeça com as duas mãos. O choro incontrolável e a dor em seu peito só aumentavam a sensação de que estava prestes a enlouquecer.

— Você precisa sair daqui, agora! — Brandon surgiu repentinamente.

— Não tenho para onde ir...

— Sim, você tem. Lute, seja a sobrevivente que sempre foi.

— Eu não consigo... — Amanda jogou-se no chão. Depois que não precisou mais fazer forças para sustentar as pernas, o choro saiu com mais facilidade. — Está tudo acabado...

— Amanda, não faça isso consigo mesma. — Brandon deu alguns passos a frente, o suficiente para se abaixar e conseguir sussurrar o que gostaria no ouvido de Amanda. — Se você não morreu no meu filme, eu não vou aceitar que morra na sequencia de nenhum outro amador. Levante do chão e sobreviva.

— Vai se foder! — Amanda o empurrou e saiu correndo. Conseguiu chegar até o elevador, e parou estritamente no primeiro andar.

Mal ela sabia que Aaron tinha acabado de adentrar no prédio tentando reencontrar sua melhor amiga depois de todos esses anos. Era a segunda volta que dava no andar de baixo só para ter certeza de que ela não poderia sair.

— Ela não está em casa. — Disse ele no celular para o pai. — Eu coloquei um rastreador em seus três carros. Dois estão na garagem da mansão e um está na empresa.

— Aaron, não faça nada imprudente. Ninguém pode descobrir.

—Pensarei no seu conselho assim que encontra-la.

Ao lançar os olhos em direção ao segundo salão, de repente, Aaron avistou Amanda sair de dentro de um dos elevadores; completamente desnorteada e com a perna direita sangrando. Era o momento certo para não pensar no conselho de seu pai e simplesmente agir.

— Amanda! — Ele gritou.

Amanda reconheceu sua voz de imediato, mesmo estando há vários metros de distância. Virou-se vagarosamente para encarar a personificação de seu passado. Aquela que sempre estava nos melhores sonhos quando sua vida girava em torno apenas de pesadelos. Para ele, o encontro simbolizava uma vitória. Mas para ela, apenas uma péssima despedida.

É agora ou nunca – Ela disse para si mesma. Rapidamente deu meia volta e correu até o carro estacionado na calçada. As chaves caíram de sua mão, como uma ironia de mal gosto nos filmes de terror, e por pouco não foi alcançada.

Logo iniciou-se uma perseguição implacável pelas ruas de Chicago. Amanda dirigindo perigosamente enquanto Aaron a seguia com seu carro. A velocidade insana, aos poucos, lhes dizia que poderia ser a ultima viagem para ambos.

— Amanda, pare! — Aaron gritava enquanto buzinava. — Amanda!

— Não! — O choro descontrolado de Amanda só havia piorado.

Depois de esquivar-se milagrosamente de todos os carros na estrada, Amanda e Aaron chegaram a uma rua suburbana bastante tranquila. Foi ali que Amanda viu uma oportunidade para livrar-se de tudo ao mesmo tempo e levar o que precisava para o próprio túmulo.

— Amanda, pare! — Aaron continuou gritando.

Mas Amanda só estava interessada em uma coisa: O verdadeiro suicídio. Depois de escapar de inúmeros massacres e forjar a própria morte em uma explosão, estava na hora de dar um fim ao que nem deveria ter começado. E nada melhor que usar o enorme lago ao lado da estrada.

— Nem pense nisso... — Alertou Brandon do banco do passageiro. — Você não vai fazer isso.

— Amanda, por favor! — Assim que Aaron aumentou a velocidade de seu carro, Amanda fez o mesmo para manter uma distância considerável.

— Você não vai fazer isso, Amanda. — Brandon continuou.

— Cala a porra dessa boca! — Por causa da distração, Amanda quase acertou outro carro parado no acostamento.

— Você não tem coragem o suficiente.

— Amanda! — Aaron gritou novamente. Tentar ajudar Amanda estava se tornando uma missão impossível.

— Para! — Amanda implorou ao irmão.

— Amanda, você nunca foi forte. Você chorou no momento da minha morte.

— Eu sempre fui forte. — Ela engoliu o choro. — Eu cortei a porra da sua cabeça.

Amanda só precisou girar o automóvel em direção ao lago para que tudo ficasse em câmera lenta. O carro atingiu a água, Brandon desapareceu do banco do passageiro e o equivalente a uma vida inteira pôde passar pela sua cabeça antes de desmaiar em cima do volante.

O único que não estava disposto a deixar tudo acabar daquele jeito era Aaron. Estacionou o carro, correu até o lago e se jogou de cabeça. Apesar do frio, conseguiu chegar a tempo até o veículo e abrir a porta do carro, mas encontrou sua primeira dificuldade quando o cinto de segurança resolveu emperrar. Foi preciso um pouco mais de persistência para conseguir tirar Amanda do carro e nadar com ela inconsciente em seus braços até a pequena estrada de terra que rodeava o lago.

— Vamos, Amanda. Não morra assim! — Ele implorou enquanto massageava o coração da garota e fazia respiração boca a boca. — Por favor, não morra!

— Alguém chame uma ambulância! — Gritou um dos curiosos que estava assistindo o resgate.

— Amanda, não! — Aaron continuou tentando ressuscitá-la.

Por um momento, ele também achou que estava tudo perdido. A pele de Amanda estava no tom azul, completamente sem vida, e não parecia ser capaz de voltar pelo método simples de ressuscitação. Seria o fim, mas apenas se Aaron deixasse.

Ele continuou a massagear o coração de Amanda, e em uma das tentativas, ela tossiu, vomitando quase um litro de água que havia ingerido. Não estava acabado. Era muito cedo para acabar.

— Ai meu Deus... — Aaron suspirou de alívio e jogou-se ao lado dela no chão. Se tivesse seguido o conselho do pai, talvez não fosse o herói que acabara de salvar a vida de alguém.

Ao abrir os olhos, Amanda fitou a versão embaçada e sem sentido do que seria uma macieira acima de sua cabeça.

— Estou no inferno? — Ela gemeu.

— Sim. — Aaron deu outro suspiro. — Você vai odiar ficar por aqui.
 
Capítulo 8: Sem Pistas (Dia 17 de Abril de 2014)
Chegamos na metade do caminho. Só mais 7 Capítulos!
Comentário(s)
2 Comentário(s)

2 comentários:

  1. E o filho da Amanda, João? Ngn falou dele ainda

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  2. Li a punhalada 1 quando, estava sendo escrito a punhalada 2 e só comecei a ler a punhalada 2 quando foi escrito o ultimo capitulo, my last lie esperei e baixei em pdf. Primeira vez q.estou lendo fresquinho enquanto ainda é escrito e agora.to morrendo de ansiedade.
    Necessito do proximo capitulo urgente.





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