Especial

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[Livro] Presenteadores da Morte (Especial de Natal)

A madeira na lareira fazia um barulho surdo enquanto cedia ao fogo alto. Fora daquela casa, um inverno rigoroso tomava conta das ruas. Dentro estava quente, mas tinha um cheiro estranho no ar. Não era realmente ruim, mas era estranho. Parecia com ferrugem e algo a mais que não dava para identificar.

- Papai Noel? – Chamou uma criança, descendo as escadas de uma forma tímida.

As luzes estavam apagadas, mas o garoto, de uns sete anos de idade, conseguia ver um movimento no meio da sala. Caminhou até lá, algo estava se mexendo perto da árvore de natal. Seus olhos brilharam. Papai Noel está me entregando um presente, ele pensou, esperançoso.

A medida que seus olhos se acostumaram à escuridão, seus pés, protegidos por meias, pisaram em algo gelado. Logo, ficou encharcado. Deu mais um passo para frente e acabou caindo no chão, após tropeçar em alguma coisa.

Eram os pés cheios de sangue de sua mãe. A criança observou aquela cena em choque. Mas o pior foi ver que seu corpo havia sido dividido em dois pedaços. A criança começou a gritar, desesperada. De trás da árvore, saiu uma criatura bizarra, com a cabeça decepada de seu pai nas mãos. A criatura deu uma mordida no crânio e começou a mastigar seu cérebro. O garoto tentou correu, mas se atrapalhou e escorregou no sangue, que tomava conta de todo o chão. Tudo ficou em silêncio por um momento, então, seu corpo foi brutalmente arrastado para a morte certa. A noite era fria e o natal sangrento.

U M ANO DEPOIS

- Amanhã, os cidadãos de Peterville estão divididos com seu espírito natalino. Há um ano, esta cidade foi palco de um dos mais brutais assassinatos que já ocorreram na região. O prefeito decidiu não cancelar o festival anual de Natal, mas acha que todos nós devemos orar pela alma daquela pobre família... – Dana não quis escutar o resto da notícia, levantou do sofá e caminhou até a cozinha.

Ela era morena e estava prestes a fazer 17 anos, dia 28, três dias depois do natal. Estava cansada e detestava o seu aniversário. E o pior, agora, todos se lembrariam do massacre ocorrido no ano passado. Dana nunca tivera uma festa adequada e muito menos presentes. É melhor juntar tudo e fazer uma grande ceia de natal, querida, era o que dizia sua mãe, ano após ano.

As vezes, ela só queria poder ter algum dia especial para si mesma. Parecia que tudo e todos conseguiam ficar em destaque justamente na época de seu aniversário. Por um minuto ela se sentiu mal por ter pensado uma coisa dessas. Meu Deus, os Farris haviam sido assassinados. Dana até tinha trabalhado uma noite como babá na casa deles, novembro do ano passado. Dennis era uma criança teimosa e otimista, não merecia ter tido aquele fim.

Dana estremeceu ao lembrar de seu corpo. Ela não havia visto realmente os corpos, mas as fotos da cena do crime se espalharam por toda a internet. “Um doente”, era o que a polícia afirmava. Nunca ninguém havia sido pego e o assunto morreu junto deles. Pobre Família Farris, Dana pensou mais uma vez.

Seu celular tocou.

- Ei, garota. – Era a sua melhor amiga, Tara. – Tenho uma festinha pessoal preparada para esta noite.

- Eu prometi para a minha mãe que iria ficar no festival da cidade. – Dana fez uma careta no telefone, como se a amiga pudesse ver. – Ela é tão hipócrita. Nunca nem pensou nos Farris, mas acha que eu tenho que ir para “honrar suas memórias”. – Ela imitou a voz de sua mãe nas últimas palavras.

- Merda, isso é uma droga. Minha mãe tentou me fazer ir, mas disse que tinha muitas pesquisas para fazer e que não poderia sair de casa.

- O quê? – Dana riu. – Ela acreditou nessa porcaria? Você? Pesquisando? Tara, a única coisa que você pesquisa, é qual garoto está mais disponível para você. – As duas riram.

- Voc̻ ̩ ṭo vadia! РTara disparou, fingindo estar magoada.

- É mentira? – Dana desafiou.

- Enfim, querida, eu te encontro no festival. Você virá comigo nem que eu tenha que dar um soco em sua mãe.

- Certo. Até de noite. – Dana desligou, olhando para o armário, para saber o que deveria atacar para acabar com a sua fome.

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A noite havia chegado mais rápido do que Dana havia percebido. Ela estava na frente do espelho, colocando seus brincos. Tinha se arrumado de uma forma tímida para o festival familiar da cidade. Estava com agasalhos, mas por baixo, uma roupa mais jovial estava à espreita para sua escapada com seus amigos. Nada muito chamativo, afinal, ela podia ver a neve do lado de fora da janela. As ruas deviam estar congelantes, mas, de alguma forma, ela sabia que sua amiga usaria alguma roupa ousada, onde seu umbigo apareceria.

Dana sempre fez brincadeiras com o fato de Tara parecer não sentir frio, mas ela sempre a admirou. Tara era uma das garotas mais bonitas da cidade e tinha um brilho próprio que dizia que ela merecia mais do que estar naquele fim de mundo. Peterville era tão pequena que, se alguém pegasse um resfriado, todos os cidadãos apareceriam doentes pela manhã. Dana tinha esperanças de sair de lá. Ela tinha, inclusive, planos com sua amiga, de saírem da cidade depois de completarem o ensino médio. Faltava apenas mais dois anos e Dana mal conseguia se conter de alegria. Ela preferia lavar banheiros eternamente na cidade grande do que continuar em sua cidade natal. Aquilo era uma tortura. E por este mesmo motivo, ela estudava como uma louca, para poder entrar em alguma faculdade de ponta, o mais longe possível.

- Dana! Vamos logo ou iremos nos atrasar. РGritou sua ṃe do andar debaixo.

Dana bufou.

Voltou a se olhar no espelho, estava linda. Decidiu deixar seus cabelos soltos, descendo como cascatas negras abaixo de seus olhos. Num segundo, ela já estava descendo as escadas.

Não demorou muito para ela sair de casa, com sua mãe, irmão e pai. Todos no carro, sorrindo e conversando o quanto o festival seria divertido. Dana não falava nada, se sentia excluída e fora de contexto, apenas por não estar tão feliz que eles. Ela mesmo não conseguia entender o motivo de tanta felicidade, o festival nem deveria estar acontecendo, em primeiro lugar. Todos deviam estar de luto, prestando respeito aos Farris, já que ninguém o fez nos dias seguintes de suas mortes. “Tínhamos que comemorar o ano novo”, apontavam as vozes, “Os honraremos no próximo natal”. Bem, parece que eles podiam ter de tudo... menos honra.

Quando eles finalmente chegaram, Dana pensou ter passado horas, mesmo que só tenha passado por três quarteirões. Ela não entendia porque seus pais faziam questão em ir de carro, se eles podiam muito bem estar caminhando. Estava frio, mas, por incrível que pareça, estava agradável para se caminhar na rua. Melhor do que o clima abafado e otimista do carro.

Dana e sua família entraram no portão feito de lâmpadas brilhantes e finalmente conseguiram ver o que estava acontecendo no festival. O lugar estava lindo, todo decorado com luzes amarelas natalinas e com muitas barraquinhas de jogos e comida. Além disso, o prefeito havia feito questão de transferir a celebração de Natal para o parque de diversões local, ao invés da praça central, como nos anos passados. Pessoas gritavam na roda gigante e Dana conseguia ouvir sorrisos de todas as partes. As pessoas estavam realmente se divertindo, o lugar estava ótimo. Tudo tinha superado as expectativas de Dana, que já dava indícios de um sorriso nos cantos de seus lábios.

- Mãe, eu vou dar um volta na roda gigante. – Ela disse de um jeito tímido.

Após a Sra. Howarth ter concordado, Dana se afastou dela e começou a caminhar em direção ao brinquedo. Conforme a fila ia andando, Dana ia olhando para os lados, para ver se Tara já havia chegado. Depois de alguns minutos, ela entrou no seu cubículo, sozinha. Quando o brinquedo estava prestes a andar, ela ouviu Brent Morrow pedindo para o maquinista esperar. Ele chegou bem a tempo e entrou no mesmo carrinho de Dana, pois os outros já estavam cheios.

Brent soltou um sorriso sem graça, envergonhado. Dana sabia muito bem quem era ele. Brent era o garoto “novo”. Bem, sua família havia chegado há uns três anos, mas numa cidade pequena como aquela, uma pessoa só se livra do título de “forasteiro” depois de uns 15 anos, então Brent era considerado como “carne fresca” pela maioria das garotas no colégio.

Não era para menos, ele era bonito. Seus cabelos eram tão negros quanto os dela, curtos. Seus olhos eram da mesma cor dos cabelos, mas tinha um brilho especial, Dana reparou. Nunca tinha tido a oportunidade de olhá-lo tão de perto. Ela nunca havia se interessado por nenhum garoto antes e não estaria interessada em um garoto novato que faz todas as outras garotas se derreterem.

- Desculpe, posso ficar aqui? РEle perguntou antes de sentar, de uma forma extremamente fofa. Dana apenas concordou com a cabe̤a.

A roda gigante começou a girar e Dana ainda não havia voltado a olhar em seus olhos. Mesmo assim, ela sentia os olhos dela em sua direção, queimando em sua pele. Ela gostava do silêncio, mas sentia uma atmosfera opressiva, como se aquilo devesse ser quebrado. E foi... Mas não por parte dela.

- Eu sou Brent Morrow, você é a Dana Howarth, certo? – Dana finalmente olhou para ele, interessada por ele saber exatamente quem ela era. – Nós temos aula de química juntos. – Ele continuou.

- Eu sei quem você é. Sua família se mudou pra cá há três anos. – Ele apenas concordou com a cabeça, sem saber o que falar. – E você foi aquele que jogou ácido sulfúrico no braço da Becky Ferman. – Dana estava com um olhar acusador, mas sua expressão estava divertida. Ele riu.

- Aquilo foi um acidente. РEle fez uma careta. РEla ṇo parava de ficar me dando tapas nas ṃos. Dizia que eu fazia tudo errado. Num desses tapas, o frasco escorregou.

- Você devia ter jogado o ácido “acidentalmente” na cara dela. – Dana fez o sinal das aspas e deu ênfase na palavra. Os dois riram mais uma vez.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, até que Brent quebrou o silêncio, novamente.

- Eu sempre quis falar com voc̻. РEle disse mais baixo do que das outras vezes, obviamente envergonhado. Aquilo chamou ainda mais a aten̤̣o de Dana.

- E porque você nunca falou?

- Você me intimida. – Ela sorriu sem mostrar os dentes. – Sempre passa por mim nos corredores e nem olha no meu rosto. Achei que me odiasse, sei lá.

Ela gargalhou.

- Desculpe. É que... Eu sempre te achei um mané. Você sempre está rodeado de garotas, tão feliz. Achei que fosse mais um daqueles metidos sem nenhum conteúdo.

Brent fez uma cara de surpresa, e o silêncio constrangedor se estabeleceu mais uma vez.

- Eu acho que me enganei. РEla disse e os seus olhos se encontraram mais uma vez. O brilho nos olhos dele se mexeram como a chama de uma fogueira. РVoc̻ parece ser legal.

- Enṭo eu mere̤o ter alguma chance de voc̻ me conhecer melhor? РEle fez um bico, sendo divertido.

Ela iria dizer qualquer coisa quando lembrou da comemoração particular com Tara e seus amigos.

- Ei, eu e uns amigos vamos nos encontrar daqui a pouco para comemorar sozinhos. Porque você não vem também? Será divertido.

- Claro, porque não.

Quando ele acabou de falar, a roda gigante parou. O passeio deles tinha acabado, mas ele não haviam se separado. Nos próximos minutos, eles conversaram mais e se divertiram em algumas barraquinhas. Brent ganhou um ursinho de pelúcia feio, que mais parecia ser um boneco de voodoo.

- Um dia eu te dou alguma coisa melhor, eu juro. – Eles riram, mas ela havia gostado do seu presente. Era o primeiro presente aleatório e não-natalino que ela havia ganhado. Estava feliz, mas não iria confessar isso para ele.

Eles estavam rindo quando Tara apareceu dentre a multidão.

- Ei, Dan. РEla disse dando-lhe um abra̤o.

- Oi.

- Nossa, que bichinho feio. РTara fez uma careta ao olhar para o ursinho de pel̼cia de Dana. РVoc̻ ganhou isso de quem?

- Eu. РBrent se pronunciou, dando um leve sorriso de sauda̤̣o. РEu sou...

- Brent Morrow. – Tara completou. – Sabe como é, cidade pequena. Não é todo ano que um gostoso entra no colégio. – Dana deu-lhe uma cotovelada por causa de seu comentário, mas ela nem ligou, o que fez Brent rir. – Enfim, você também vai com a gente para nossa festinha?

- Sim, Dana me chamou.

- Certo. Vamos logo, porque eu estou sóbrio por muito tempo. Ta na hora de entornar um álcool. – Tara fez de seus dedos como uma garrafa, fingindo entornar tudo em sua boca. Ela se contorcia, sentindo a bebida imaginária. Seus cabelos loiros, com cachos grossos, balançavam no vento frio.

Logo, os três saíram de lá, sem ser percebidos por mais ninguém. Todos estavam muito ocupados se divertindo e cuidando de suas próprias vidas.

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Dana levantou uma de suas sombracelhas quando percebeu aonde estava.

- Um cemitério? Jura? Uma comemoração num cemitério? O que nós somos? Góticos ou usuários de crack? – Dana disparou sarcástica.

- A qual é, D. É escuro, mórbido e isolado. É perfeito! Além do mais, os garotos fizeram uma decoração incrível com umas luzes da decoração do ano passado.

Assim que eles foram de aproximando, Dana pôde ver as pequenas lâmpadas amarelas por toda parte. Em volta dos túmulos e árvores. Devia ter dado bastante trabalho, mas o visual do cemitério tinha ficado tão bonito quanto do festival. Bem, isso se você não considerasse que eles estavam dividindo espaço com centenas de corpos, metros abaixo deles.

Quando chegaram no local, viram os outros adolescentes em volta de uma roda, com uma fogueira no meio deles, rindo. Haviam mais quatro e, apesar de Brent ser o novato, ele conhecia todos eles. O mais perto dele, era Felício Quentin, um japonês nerd, que não se encaixava com o resto do grupo; O capitão do time de futebol americano, Roger Hoult, que não gostava muito dele, afinal, Brent andava atraindo mais atenção do que o “gostosão da escola”; Debbie Byrne e Gregory Platt eram os que estavam mais próximos, mas eles nem os viram chegar, estavam ocupados demais se pegando freneticamente. Brent tentou não olhar, porque estava sentindo vergonha.

- Chegamos! Agora a festa está completa. – Tara disse, sentando no colo de Roger.

- O que esse novato está fazendo aqui? – Dava para sentir o desprezo na voz de Roger, que não estava gostando nem um pouco daquilo.

Brent já ia abrir a boca para responder alguma coisa, quando Dana falou mais rápido do que ele.

- Ele está comigo. – Ela disse, entrelaçando os dedos de sua mão com os dedos dele. Eles riram um para o outro, por um segundo, apreciando aquilo.

Dana e Brent se sentaram em volta do fogo e comeram marshmallow, beberam e até cantaram junto do restante do grupo. Eles fizeram algumas brincadeiras, uma das, o jogo da verdade. Isso rendeu boas risadas e, numa conseqüência, Tara teve que dançar como uma stripper no colo de Felício, o garoto nerd.

Tudo parecia perfeito, com um ambiente extremamente agradável. Brent não soltou a mão de Dana nem por um segundo e passou a maior parte do tempo recebendo olhares de desprezo de Roger e pensando por mais quanto tempo o casal atiradinho iria continuar de roupa. Eles pareciam drogados, desconectados com o resto do mundo.

- Vamos caminhar? – Dana disse baixinho no ouvido do Brent.

- Certo.

Eles se levantaram e Dana virou para encarar o resto do grupo.

- Vamos dar umas voltas pelo cemitério.

- Ah, sua cadela! – Tara disparou, apontando o dedo. – Se for transar encima de alguma lápide, certifique-se que ela agüenta vocês dois. Senão, você estará fazendo ménage à trois com um cadáver sem nem ao menos perceber.

- Ei, não foi isso que aconteceu com você no começo do ano? – Dana perguntou de um jeito falso, dando ar de risos. – E não foi você mesmo quem disse que o morto estava mais ativo que o vivo? – Essa indireta foi para Roger. Foi transando com ele que Tara vazou para dentro de uma tumba. Além disso, Tara havia contado para Dana sobre os “problemas sexuais” de Roger.

Todos riram, inclusive o casal-pega̤̣o Рque parou exclusivamente de se beijar para tirarem sarro do jogador. Todos eles sabiam dos problemas de Roger e ele tinha virado piada na boca dos jovens da cidade por causa disso. Esse era um dos motivos de Roger quase-namorar Tara, para manter uma fama de bonẓo Рque ela mesma faz quesṭo de destruir.

Vencedora, Dana deu as costas para o grupo e começou a caminhar pelo cemitério escuro. Para uma cidade pequena, aquele era um cemitério enorme. Era clássico, com sem muros, apenas grades, num admirável estilo gótico. Esse era o bom de uma cidade pequena, até os cemitérios tinham estilo. Muitos diziam que o cemitério só era daquele tamanho por causa da quantidade de vítimas na segunda guerra mundial. Segundo histórias dos mais velhos, muitos soldados de outras regiões morreram quando estavam de passagem pela cidade.

A guerra havia feito muitas vítimas e as pessoas da cidade mantiveram um pacto de nunca deixar um corpo sem assistência. Por isso, eles fizeram este cemitério enorme, para honrar a todos que morreram, sem exceção. Era heróico, mas Dana não entendia como pôde morrer tantas pessoas naquela cidade distante de tudo. Sempre que lia as histórias nos livros, algo parecia não fazer sentido, afinal, o foco da guerra não havia sido nem perto dali. Mesmo assim, ela admirava o fato dos cidadãos serem honrados o suficiente para enterrarem a todos, de forma digna. Era uma atitude honrosa como esta que faltava nos dias atuais.

- Como você veio parar aqui?

- Bem, eu estava dando uma inocente volta pelo parque, quando uma menina realmente bonita me chamou para dan̤ar sobre os t̼mulos... E eu disse sim. РDana riu.

- Não, seu bobo. Estou perguntando por que sua família se mudou para cá? Com tantos lugares, como vocês decidiram se fixar neste... fim de mundo ?

- Apesar de todos me chamarem de novato, isso ṇo ̩ verdade. Os antepassados da minha ṃe foram um dos criadores desta cidade. РDana parecia chocada, mas saber sobre o passado a instigava.

- Morrow... Eu nunca ouvi o seu sobrenome.

- Urich.

- Oi?

- Morrow é o sobrenome do meu pai. Urich é o sobrenome da minha mãe.

- Ah, eu já vi este sobrenome nos meus livros de história local. Aparece frequentemente. Os antepassados de sua mãe deviam ser bem importantes.

- É, eu acho que eram.

- Então porque eles foram embora?

- Muita dor, eu acho. – Ele olhou nos olhos dela e eles pararam de caminhar. Ficaram apoiados na parede de um grande mausoléu, um do lado do outro. – Acho que eles não agüentaram ficar depois das terríveis lembranças da 2ª Guerra. Houve muito sofrimento, para todos os lados. As pessoas perderam tudo e eles tiveram que abandonar seus lares para... recomeçar. É difícil uma árvore crescer quando se é regada com sangue. – As palavras de Brent ecoaram na cabeça de Dana. Ele era intenso e falara cada frase com uma profundidade sem igual, arrepiando-a. – Agora me diga, porque o Hoult não pára de olhar feio para mim?

- Ah, não liga pra ele. É um atleta medíocre. Acha que pode ter todas as garotas aos seus pés e fica um pouco estressado quando percebe que algumas delas podem estar pulando seu cercado.

- Voc̻ estava no cercado dele? РBrent desencostou da parede, ficando cara a cara com ela.

- Eu tenho cara de quem fica no cercado de algu̩m. РEla respondeu, com um olhar desafiador.

- Eu nunca conseguiria imaginar isso. Você é única. Um brilho de esperança em uma cidade de sombras. – Sua frase tinha quebrado as fortes barreiras de Dana e, no próximo segundo, seus lábios se encontraram, de um jeito delicado, devagar.

Quando se separaram, seus olhos continuaram encarando um ao outro. Querendo que aquele momento fosse eterno e não acabasse nunca mais. Dana ouviu um barulho de galho quebrando nas sombras e pensou ter visto uma velha. Logo, tomou um susto, fazendo Brent ficar tenso.

- O que foi?

- Eu pensei ter visto alguém. Tinha alguém ali.

Brent procurou, mas não conseguia ver ninguém além da escuridão. Um barulho pesado de respiração pareceu ecoar perto de Dana, de dentro do mausoléu. Seus olhos se arregalaram, a medida que ela se afastava da parede.

- Tem alguma coisa aqui. – Ela sussurrou.

Brent passou ela pra trás de si. E encostou sua orelha na parede, para poder ouvir melhor lá dentro. De repente, mãos esverdeadas, com unhas negras pontuadas romperam a parede a agarraram os dois lados da cabeça de Brent. Ele tentava se soltar, mas a criatura parecia forte demais. Dana tentou ajudar, segurando suas pernas, mas não teve como segurá-lo por muito tempo. Logo, a criatura o puxou para dentro do mausoléu com uma força brutal. Dana não pôde fazer mais nada além de correr, enquanto os gritos de Brent paravam, dando lugar a morte.

Ela ainda se atreveu a olhar para trás e viu uma figura vestida de vermelho saindo do mausoléu. Era bizarro, mas parecia uma versão demoníaca do Papai Noel. Aos gritos, Dana tentou alcançar seu grupo de amigos para poder lhes informar sobre o perigo.

Não demorou muito para ela chegar, aos prantos. Ela tentava dizer o que tinha acontecido, mas seu choro a atrapalhava. Tara pulou até ela e a abraçou, tentando consolá-la.

- Querida, o que aconteceu? – Ela perguntou, preocupada. – Onde está o Brent?

- Ele fez alguma coisa com você? – Disse Roger, levantando para procurá-lo e dar-lhe o soco que ele tanto queria.

- Ṇo! Ṇo! Voc̻s ṇo esṭo entendendo! РGritou Dana, por entre o choro. РTem... Alguma coisa nesse lugar. Matou o Brent... РMais uma vez, ela perdeu o f̫lego e desabou em choro ao lembrar do Brent sendo puxado por aquelas ṃos sat̢nicas.

- Dana, como assim? Onde está o Brent? – Tara havia ouvido o que a amiga tinha falado, mas não podia acreditar naquilo.

- Ele está morto! Nós temos que sair daqui. – Dana tentou puxar Tara pelo braço, mas ela não se mexeu. Estava em choque. – Vem comigo, por favor. Nós temos que sair daqui. Por favor, confia em mim. – Ela disse baixo, apenas para Tara. Se os outros não acreditavam nela, Dana não ligava. Ela só se importava com a sua segurança e a da sua amiga.

Tara sentiu o desespero nos olhos de sua amiga e sabia que ela estava falando a verdade. Elas começaram a andar em direção a saída do cemitério quando Felício começou a sorrir. Elas viraram para trás, tentando saber o que estava acontecendo com ele.

- Dana, voc̻ ̩ mesmo uma artista. Voc̻ acha que eu sou idiota? Eu sei muito bem que voc̻s me troxeram aqui para fazerem uma pegadinha comigo. Mas eu ṇo vou cair. Eu sou mais esperto do que voc̻s pensam. Voc̻s acham que podem me enganar ṭo f... РSeu discurso foi interrompido quando uma ṃo verde vazou a parte da frente de seu rosto.

O corpo de Felício caiu no chão, enquanto todos os outros observavam imóveis. A criatura verde estava vestida como o Papai Noel e tinha olhos amarelos. Em sua mão sangrenta, ela segurava um dos olhos de Felício. Devagar, ela o levou até a boca e começou a mastigar. Roger, Debbie e Gregory, que estavam mais próximos, começaram a dar passos para trás.

Depois de engolir o olho de Felício, a criatura olhou para cada um dos jovens, com um olhar assassino estampado em seu rosto. Ela estava escolhendo quem iria matar a seguir e seus olhos pousaram em Tara, que Dana tentava proteger, mantendo-a atrás de si.

- Nenhum de vocês foi bonzinho este ano. – A criatura falou, como um humano normal, mas tinha uma voz grossa que parecia vir das profundezas do inferno. – Está na hora de sofrer com as consequências. – A criatura deu um passo para frente e todos saíram correndo.

- Corram! – Roger gritou.

A criatura ainda ficou parada por um momento, sentindo sua caça escapando. Ela conseguia sentir o cheiro de medo no ar e aquilo era o mais divertido de tudo.

Por entre as lápides, os jovens passavam e corriam desesperadamente para a saída. Tara e Dana eram as primeiras e logo chegaram ao portão de entrada do cemitério, mas ele estava fechado, com pesadas correntes e um grosso cadeado. Não tinha como elas escaparem dali. Quando Roger as alcançou, ele ainda tentou forçar contra as grades da porta, mas foi tudo em vão. Eles estavam presos e teriam que achar outro lugar.

- Temos que ir pra floresta. – Tara falou e todos concordaram. Eles ainda olharam para trás, mas não viram a criatura, nem Debbie e Gregory. Pensando o pior, eles correram beirando as grades laterais do cemitério em direção à floresta.

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- Você está vendo alguma coisa? – Debbie perguntou.

- Ṇo, fique quieta. Aquela coisa ṇo pode saber que estamos aqui. РRespondeu Gregory.

Eles tinham se escondido dentro de um enorme mausoléu, maior do que onde Brent havia sido atacado. Eles estavam perto do portão principal quando resolveram se esconder. Tinham ouvido o desespero dos outros ao perceber que o portão havia sido bloqueado e optaram por se afastarem dos outros, para servirem de isca, enquanto eles escapam. Gregory achava aquele pensamento terrível, mas só pensava em sobreviver.

Ele ainda sentia vontade de vomitar ao lembrar da mão da criatura atravessando o rosto de Felício. Não queria que algo assim acontecesse com ele. Portanto, preferia sacrificar seus amigos. Para tranqüilizar sua mente, ele se convenceu de que não tinha os usado como isca, apenas tinha optado não ir com eles. Era uma questão de raciocínio e ele não queria ser mais uma vítima. Sua namorada achava o mesmo, mas ela era um pouco mais insensível. Por Debbie, os outros podiam morrer, porque ela não estava nem ligando. Na verdade, ela esperava que acontecesse, porque tinha esperanças que a criatura parasse de persegui-los se estivesse satisfeita.

Lembrou de Tara e em como ela olhava para todos com aquele olhar provocante, inclusive para Gregory. Aquela vadia tem que morrer, ela pensou, desejando que Tara fosse a próxima. Gregory ainda estava olhando por um buraco improvisado na parede quando um barulho estranho surgiu do lado de fora.

- O que foi is...? РDebbie soltou, desesperada, mas ṇo teve chances de terminar a pergunta, pois Gregory tampou sua boca com as ṃos.

- Cala a boca. Aquela coisa está lá fora, bem do nosso lado. – Ele sussurrou, o mais baixo possível, e soltou Debbie.

Gregory voltou a olhar pelo buraco mas não conseguiu mais enxergar a criatura. Todo o seu corpo ficou tenso conforme ele previa um momento já conhecido nos filmes de terror. Onde a criatura apareceria de repente para pegá-lo em um momento desprevenido.

- Temos que sair daqui agora. РEle sussurrou para Debbie, que ṇo tinha entendido o que estava acontecendo.

Ela tentou ir até a porta principal do mausoléu, mas Gregory a parou. Era a única saída e estava mais do que óbvio que a criatura estava esperando por eles do outro lado. Greg sentiu a respiração da criatura lá fora, e, o que parecia ser, suas unhas arranhando a porta. No lado esquerdo, disfarçado pelo escuro, a parede tinha um pequeno buraco. Estavam faltando alguns tijolos perto do chão e Gregory começou a cavar para ter espaço suficiente para passar seu corpo.

Debbie começou a ajudá-lo, as unhas arranhando a porta se tornaram batidas violentas e a tensão estava tomando conta do lugar. Parecia que a porta iria ceder a qualquer momento e o jovem casal tirava o máximo de areia possível.

Não demorou muito para se formar um buraco na porta e Gregory olhou nos olhos da criatura, que brilharam, amarelos. Ele conseguia ver a sede de sangue dela, implorando para enfiar suas unhas pobres em sua carne.

- Já está bom. – Gregory disse, empurrando Debbie.

Seu corpo passou com certa dificuldade e até chegou a ficar presa, mas Gregory fez pressão, fazendo-a passar. A criatura estava a um passo de entrar quando Gregory tentou passar o seu corpo pelo buraco. Depois de ter passado sua cintura, seu quadril ficou preso, o buraco não era grande o suficiente. Ele conseguia ouvir os pedaços de madeira da porta caindo perto dele. Seu desespero só aumentava.

- Me ajuda! Me ajuda, por favor. – Ele gritava, mas Debbie, que estava a sua frente, só chorava e não parecia disposta e chegar perto do mausoléu novamente. – O que você está fazendo? Me ajuda! – Ele gritou em desespero.

De repente, um estrondo se ouviu. A porta do mausoléu finalmente cedeu, fazendo com que o silêncio dominasse o lugar. Gregory não conseguia ouvir mais nada. Ele tentava olhar para trás, para saber se a criatura estava perto dele, mas não conseguia enxergar, seu corpo estava na frente. Uma lágrima escapou de seu rosto, ele daria tudo para sair dali. Estava olhando diretamente nos olhos de Debbie, pedindo ajuda, mas ela só se afastava, com passos lentos.

- Eu não posso te ajudar. Você já está morto! – Ela disparou entre as lágrimas.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, um fio com lâmpadas natalinas se enroscou em seu pescoço, como uma corrente. Debbie logo levou suas mãos para se livrar do fio, mas a criatura deu um puxão, fazendo-a cair no chão.

A criatura começou a puxar lentamente, fazendo-a sufocar enquanto ela era arrastada até ele. Debbie se debatia, mas pouco podia fazer. De repente, o fio parou de ser puxado. Debbie abriu os olhos e parou de gritar. Ela não conseguia ver a criatura. Mas não demorou muito para ele aparecer e enfiar o outro lado do fio com os pisca-piscas dentro de seu olho esquerdo. Gregory só conseguia ouvir seus gritos histéricos, mas não conseguia ver o que aquela coisa estava fazendo com sua namorada.

Isso nem importava para ele, Gregory só queria se soltar e fugir. Enquanto isso, a criatura estava fazendo a ponta do fio aparecer em seu outro globo ocular, fazendo seu olho direito sair. Ela ainda se debatia, nunca tinha sentido tanta dor em toda a sua vida. A criatura levou o seu olho direito a boca e comeu. Ela começou a enrolar o fio em volta do rosto da jovem e apertou, fazendo sua pele se rasgar.

Gregory finalmente conseguiu se libertar do buraco, forçando seu corpo a entrar no mausoléu novamente. Ele correu na direção oposta da que tinha vista Debbie sendo morta, mas o corpo dela caiu do galho de uma árvore a sua frente. Ela estava completamente envolvida com fios e as luzes do pisca-pisca davam-lhe um toque ainda mais macabro ao seu corpo. Seu rosto estava completamente deformado e Greg podia ver luzes piscando dentro de seus globos oculares. Ele segurou o vomito e foi surpreendido quando uma faca entrou em sua barriga. Ele olhou para frente e viu a criatura com o braço estendido para frente, tinha acabado de arremessar a faca.

O jovem caiu de joelhos, e ficou esperando a criatura vir ao seu encontro.

- Alguns acabam pagando pela maldade dos outros. РA coisa disse, antes de puxar a faca para cima e cortar o garoto na vertical at̩ o pesco̤o. Seu cora̤̣o havia sido partido, literalmente.

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- Nós não podemos ficar andando nessa mata. Nós estávamos bem melhor no cemitério. – Reclamou Roger.

- Sério? Com aquela coisa demoníaca lá? Faça-me o favor. – Tara rebateu. Não estava disposta a ouvir dramas, ainda mais do chato do Hoult.

- Eu só estou dizendo que temos que fazer alguma coisa.

- Boa sorte! Eu e a Dana iremos continuar andando em frente. – Tara ainda estava de mãos dadas com Dana, enquanto Roger seguia logo atrás.

Eles ouviram uns galhos secos quebrando a metros atrás deles e logo ficaram tensos. Eles tentavam encarar o escuro, mas era em vão. Dana apertou a mão de Tara e olhou para frente. Ela deu um pulo quando deu de cara com uma velha e acabou caindo no chão, por causa do susto. Tara quase caiu também, mas conseguiu se segurar.

- O que houve? – Ela perguntou, olhando para todos os lados, procurando uma possível ameaça.

- Eu vi uma mulher.

- Levanta logo ela, que droga. Não temos tempo pra isso.

- Ela disse que viu uma mulher, Roger.

- E daí? Esse não é o nosso problema agora.

- Você lembra da última vez que alguém a ignorou? Felício morreu. – Tara levantou sua amiga, enquanto Roger dava de ombros, mas tinha sentido medo com o comentário de Tara.

Eles começaram a caminhar novamente. E não demoraram muito para ver um brilho amarelo ao longe. Era a luz de uma casa! Os três começaram a correr em direção a ela. Era toda de madeira e as luzes estavam acesas. Eles pensavam que estavam salvos, mas ainda tinha medo de estarem indo para alguma armadilha. Apesar disso, todos conectaram a casa à senhora que Dana tinha visto. Ela devia ser a dona do local, com certeza.

Quando estavam bem perto, Tara pisou em uma armadilha e o seu corpo foi suspenso numa árvore, deixando-a de cabeça para baixo. Ela começou a gritar por socorro e Dana tentava acalmar a amiga.

- Calma, vamos te tirar daí. Fique tranquila. – Dana se virou para Roger. – Roger, me passa aquele seu canivete.

Mas Roger estava parado, com uma cara estranha. Medo, Dana conseguia reconhecer. Estava por todo o seu rosto. Ela tentou olhar na mesma direção que ele e logo não conseguiu disfarçar a tensão em seu rosto.

- O que foi? – Tara perguntou aflita, sabendo que tinha alguma coisa errada.

- Aquela coisa... – Dana deixou de olhar para sua amiga para encarar a criatura, que já estava há alguns metros, andando lentamente. – Está aqui.

- Ai meu Deus! Me tira daqui, por favor. – Tara já estava chorando.

- Roger, me passa a droga da faca. РVendo que ele ṇo se mexia, Dana foi at̩ ele e pegou o canivete que estava em seu bolso, jogando-o no cḥo.

Roger começou a correr para a casa, deixando as garotas sozinhas. Ele gritava por socorro, tentando salvar sua própria vida. Depois de seus gritos não causarem nenhum efeito, ele saiu correndo pela floresta. Tudo o que ele queria, era sobreviver.

Àquela altura, Dana finalmente tinha conseguido cortar a corda e Tara caiu no chão. Era tarde demais, a criatura estava bem ao lado delas, encarando-as de um jeito sádico. Elas estavam meio que abraçadas, temendo o próximo passo da criatura, que estava chupando um dedo humano, como se fosse um pirulito. Ele expirou forte, sentindo algum cheiro que parecia ser muito bom para o seu olfato. De repente, a criatura piscou seu olho direito para as jovens e começou a andar, na mesma direção que Roger.

Elas ficaram paradas, tentando entender o que estava acontecendo, mas estavam dando graças a Deus. A criatura tinha poupado-as, por hora. Quando ela não podia mais ser vista e tinha sumido completamente na escuridão, as moças caminharam em direção a casa e começaram a bater na porta. Ninguém atendia.

- Nós não podemos correr a noite inteira. Aquela coisa é mais rápida que a gente, vai nos encontrar. – Tara disse.

- Então está na hora de revidar.

- Como faremos isso?

- Todo ser vivo tem algum ponto fraco. Basta descobrirmos qual é o dele.

- Certo.

- Temos que arranjar fogo. – Dana estava com um olhar pensativo.

- Fogo?

- Nós estamos cercadas de neve. O clima está congelante. Se uma criatura dessas consegue se sentir tão bem em um ambiente desses, eu aposto que não aguenta temperaturas altas.

- Acho que pode dar certo.

- Nós temos que armar um plano. E eu já sei exatamente o que fazer. – Dana estreitou os olhos. Ela poderia morrer aquela noite, mas não iria sem lutar.

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- Olá? Tem alguém aí? Dana? Tara? – Roger tinha acabado de acordar. – Sentia sua cabeça molhada e doendo. Era sangue.

Roger ainda lembrava do rosto da criatura bem perto do seu. Era a última coisa que ele se lembrava antes de apagar. Não acredita que ainda estava vivo. Ele sentia uma grande pressão em sua cabeça. Logo, percebeu que estava pendurado, de cabeça para baixo. Estava tudo muito escuro, então seus olhos arderam quando um ponto de luz apareceu diante de seus olhos. Uma lanterna.

- Tara? Me ajuda! РNingu̩m respondeu.

A lanterna apagou por um momento e ele permaneceu na mais completa escuridão, sabendo que não estava sozinho. De repente, a luz acendem à sua frente, iluminando o rosto de uma mulher velha. A mesma que Dana tinha visto antes.

Roger gritou, mas parou, assim que percebeu não se tratar da criatura.

- Por favor, me ajuda. Tem um monstro aí fora. Ele quer me matar. – Ele estava chorando, implorando pela sua vida.

Ela passou a mão nos seus cabelos, fazendo-lhe um carinho maternal.

- Eu sei, querido. РEle olhou em seus olhos e um brilho maligno brotou neles. A criatura ṇo tinha matado Roger, mas ele estava em uma situa̤̣o muito mais aterrorizante. Uma situa̤̣o nova, onde o inimigo era outro.

--

- Dana? – Tara gritou, correndo pela floresta. – Onde você está?

- Se perdeu de sua amiga? – A criatura apareceu detrás de uma árvore, deixando-a tensa.

- Quem é você? Porque está fazendo isso? – Ela começou a chorar, queria que sua amiga estivesse ao seu lado.

- Você não foi uma garota muito boazinha. – Ele foi atrás dela, que começou a correr e gritar desesperadamente.

Tara gritava por socorro e conseguia correr tão rápido que a coisa que a estava perseguindo. Quando chegou em uma clareira, ela sentiu a neve cair em seu rosto.

- Chega de correr. РA coisa disse, saindo da escuriḍo e tendo sua face iluminada pela luz do luar. РSeja uma boa garota.

Conforme ele ia avançando, Tara ia dando passos lentos para trás. Na esperança de se livrar da criatura. A garota estava atenta nos pés dele, fazendo cálculos em sua cabeça. De repente, ela gritou.

- Agora! – E um círculo de fogo se formou ao redor dele.

Dana saiu de trás de uma árvore, por onde uma trilha de fogo a seguia. Ela estava com um isqueiro, sua expressão vitoriosa. Elas se abraçaram e sorriam, tinha conseguido aprisionar a criatura. Logo se separavam e voltaram sua atenção a ela. Tinham que dar um fim naquela situação logo, o fogo não iria durar para sempre.

Dana já estava pronta para tacar a lata de álcool no monstro quando ele começou a gargalhar.

- Vocês sabem por que vocês foram as últimas? – Ele perguntou. Elas se olharam, mas nenhuma se atreveu a abrir a boca. – Porque vocês ainda não tinha sido garotas más. Seus amigos, todos eles abandonaram uns aos outros. Pensaram coisas ruins de si mesmos. Isso me atrai, me deixa forte. – Elas observavam com uma expressão chocada. – E vocês não imaginam como estou me sentindo agora.

A criatura pulou por cima do círculo de fogo e agarrou o pescoço de Tara, fazendo-a ir ao chão. A coisa ainda pegou sua faca, guardada ao lado de suas calças vermelhas e tentou enfiar em seu rosto, mas, Tara foi mais rápida e desviou seu rosto, fazendo a faca pegar no gelo duro no chão. Aproveitando este momento, Tara deu um chute na criatura, fazendo-a cair pro lado.

Dana a ajudou a se levantar, mas a criatura agarrou o pé dela, fazendo a garota morena cair no chão, arrastada na direção das garras da criatura, que a esperava com a boca aberta. Tara começou a chutar o braço do monstro verde violentamente, até que ele largou sua amiga. A criatura se levantou e correu na direção de Tara, jogando-se com tudo encima dela. Ele pegou pelo seu pescoço mais uma vez, mas, desta vez, não deu chances para a moça reagir. Cravou seus dentes pontiagudos no pescoço da jovem, que se contorceu e gritou de dor.

A mordida era tão potente que poderia ter arrancada a cabeça de Tara, se não fosse pela facada nas costas que Dana proferira no monstro. Ela puxou o cabo da faca para baixo com todas as suas forças, deixando um rombo nas costas da coisa. Como resultado, o monstro caiu no chão, se debatendo de dor. Dana ajudou sua amiga a se levantar e a levou para longe da criatura que se debatia.

Quando a coisa finalmente pôde controlar sua dor, ela correu na direção de Dana, que já estava com a garrafa de álcool acesa em suas mãos. Sem pensar duas vezes, ela jogou no rosto do monstro, que, em menos de um segundo, pegou fogo por completo. A criatura ficou se debatendo por alguns minutos, seus gritos infernais davam lugar as chamas, enquanto as jovens assistia e apreciava o seu sofrimento.

Depois de mais alguns minutos, o fogo brotava de dentro da boca da criatura, como se ela estivesse queimando de dentro pra fora. Era como um abraço de boas-vindas direto do inferno.

- Acabou. – Disse Dana, ajudando sua amiga a se levantar.

- E a loira vadia sobreviveu. РTara se for̤ou a rir, com dificuldades. Estava muito machucada.

Quando Tara tentou dar um passo, um fio negro com pisca-piscas se enroscou em sua perna direita e ela foi puxada brutalmente para a escuridão da floresta. Dana tentou seguir os seus gritos, mas teve que parar quando viu dezenas de pontos amarelos brilhantes saindo de dentro da escuridão. Eram olhos. Olhos de diversas criaturas iguais aquela que ela tinha acabado de matar.

Dana olhou ao redor, sentindo suas esperanças se esvaindo de seu corpo. Ela já conseguia ver as criaturas agora, tinha no mínimo dez delas, vindo em sua direção. Ela estava morta, não tinha dúvidas disso. Dana fechou os olhos, esperando o momento em que sua carne fosse rasgada pelas mãos daquelas coisas.

De repente, ela sentiu um forte impacto tocando sua pele, mas não houve dor. Estranhando aquilo, Dana abriu os olhos e deu de cara com Brent, que a estava carregando nos braços, numa velocidade incrível. Ela ainda conseguia ouvir os gritos das outras criaturas, que ficaram para trás.

Olhando mais atentamente, ela percebeu que a pele dele estava esverdiada, e seus olhos eram de um amarelo vivo. Finalmente, ela se lembrou do brilho em seus olhos, quando o conheceu no parque. Ele era diferente. Ele era um deles.

- Espero que minha mãe não tenha te assustado. – Ele disse, abrindo um meio sorriso tenso. Dana podia ver que ele estava com vergonha. Ela já tinha entendido tudo... Ou quase.

--

We wish you a merry christmas... We wish you a merry christmas..

Era tudo o que Tara conseguia ouvir, antes de abrir os seus olhos. Ela estava sentada e o clima a sua volta estava surpreendentemente quente. Aquela música natalina irritante estava lhe dando dor de cabeça. Tara forçou seus olhos e percebeu que estava dentro de uma casa, a mesma casa que ninguém havia atendido antes, a mesma casa que ela tinha pego a garrafa de álcool.

Tara estava amarrada em uma cadeira, em frente a uma enorme mesa. Tinha um enorme lençol branco cobrindo toda a mesma e as cadeiras. Tinha alguma coisa por debaixo do lençol, mas Tara não conseguiu identificar o que era.

Logo, uma senhora apareceu com um sorriso no rosto, como se estivesse contente com a presença de Tara ali.

- Que bom que você já está acordada, querida. – Ela disse, gentilmente. Mas Tara não estava comprando toda aquela bondade. Porque ela estava amarrada, em primeiro lugar?

- Quem ̩ voc̻? O que voc̻ quer comigo? РTara perguntou, de uma forma fria.

O sorriso agradável desapareceu do rosto da velha mulher, dando lugar a um olhar de desprezo predatório.

- Você não consegue mesmo ser agradável, né, sua vadiazinha? Eu me esforço para preparar o jantar especialmente para você e é assim que você me agradece? – Ela terminou de falar praticamente gritando, insana.

- O que voc̻ quer comigo? РTara repetiu sua pergunta, com os dentes trincados.

- Primeiro, eu quero que você coma. Ao terminar de dizer, a mulher puxou o enorme lençol branco que repousava por cima da mesa e cadeiras. Seus olhos se arregalaram quando ela percebeu o que estava vendo. Seus amigos, todos mortos, sentados nas outras cadeiras, como se fossem parte de uma obra de arte bizarra. Os pisca-piscas enrolados em Debbie ainda piscavam, enquanto seu sangue escorria por seu corpo mutilado. Gregory e Felício também estavam enrolados com pisca-piscas, principalmente dos buracos de suas feridas. O vácuo no rosto de Felício estava preenchido com bolas natalinas e haviam aberto a boca de Gregory, formando um sorriso bizarro. Estranhamente, cada um deles segurava um tipo de moeda dourada.

No centro da mesa, estava Roger, aparentemente sem grandes machucados. Ele estava morto? Tara não sabia disso. Mas todas as suas dúvidas lhe abandonaram quando ele abriu os seus olhos, em pânico. Ele estava completamente amarrado, encolhido de costas, como um porco assado. Havia uma maça em sua boca.

Ao seu lado, descansava uma faca enorme e a frente de cada cadeira, havia um prato vazio. Não demorou muito para Tara ligar as coisas e, só de pensar, sentiu vontade de vomitar.

- Eu espero que você esteja com fome, querida. – A velha voltara a falar de um jeito amigável. – Porque esta refeição... você nunca irá esquecer.

--

A escuridão cegava Dana. Brent havia entrado em uma espécie de caverna, com ela nos braços. Eles não tinham se falado desde que ele a salvara. Ela não sabia onde ele estava depois que ele a soltara no escuro.

- Brent? – Ela sentiu a necessidade de falar. Saber onde ele estava.

A luz se acendeu. Ele estava bem na frente dela.

- Voc̻ ̩ uma daquelas coisas, ṇo ̩? РEla o encarava e a pergunta fez seus olhos amarelos abaixarem.

- Sim. РEle encarou suas ṃos esverdeadas.

- Eu não entendo. Por quê? Porque eles estão nos caçando? O que nós fizemos para... vocês?

- Voc̻ ṇo entende. Ṇo ̩ a nossa culpa. РEle tentou ir em dire̤̣o a ela, mas Dana se afastou. РEles esṭo sendo controlados.

- O que? Por quem? РDana deu um passo em sua dire̤̣o.

- Aquela velha. Ela é uma feiticeira, tem o poder de nos controlar. Especialmente nesta época do ano.

- Por quê?

- Nós somos Presenteadores da Morte. – Brent sentiu a confusão no olhar dela. – Nossa espécie, fica mais forte conforme nos aproximamos da passagem de ano. Xamãs, feiticeiras, se aproveitam disso. Nos usam para os seus trabalhos sujos.

- A velha que eu vi... РDana levou uma de suas ṃos at̩ a boca, estava chocada.

- Eu tenho procurado por ela desde o natal passado...

- Ano passado? Ai meu Deus! Os Farris. Foram vocês.

- Não, Dana. – Brent tocou sua mão. - Não foi culpa da gente. Nós temos que matar a bruxa.

- E porque você não está sendo controlado, como os outros?

- Eu sou diferente. Minha mãe é uma Presenteadora da Morte, mas eu meu pai era humano. Xamãs não podem me controlar.

- E porque essa bruxa quer nos matar? Não fizemos nada.

- Vocês não, mas seus antepassados fizeram.

--

Os gritos de Roger ecoavam por todos lados do cômodo. A senhora, ainda com um sorriso angelical no rosto, rasgava a pele do seu braço com a faca.

- Você é doente! Pára com isso. – Tara gritou, se contorcendo na cadeira.

A velha arrancou a parte que faltava e colocou o pedaço de carne na boca da garota, tapando sua boca com suas mãos, para que ela não pudesse cuspir. Seus gritos abafados expressavam o horror que ela estava passando.

- Oh, querida. Não sou eu quem está comendo meu próprio amigo.

A carne passou involuntariamente pela sua garganta, incapaz de fazê-la voltar. Tara sentiu nojo de si mesma, ela queria enfiar aquela faca na cara daquela mulher.

Quando a velha tirou a mão de sua boca, ela viu que seu rosto estava completamente ensangüentado, principalmente a boca. Sangue de Roger. Tara cuspiu à sua frente, querendo se livrar do gosto de sangue. Como conseqüência, a velha enfiou a faca em sua perna. Seus gritos fizeram pássaros ao redor da casa voarem de medo.

- Não se cospe... No prato que come. – Ela retirou a faca, com a maior violência possível.

- O que você quer? – Tara gritou, lágrimas saíam de seus olhos e misturavam-se ao vermelho do sangue.

- Vingan̤a! РSeus olhos brilharam em vermelho.

- Nós não fizemos nada contra você, sua louca!

- E porque você acha que o cemitério é tão grande? Minha família veio se refugiar nesta maldita cidade e encontrou a morte. Seus avos controlavam os Presenteadores da Morte. Todas as famílias fundadoras os controlavam. – Ela olhou para a janela, distante. – Viemos procurar um lugar seguro por causa da guerra e fomos recebidos com sangue. Seus avós não queriam forasteiros perturbando sua maldita paz e usou os Presenteadores da Morte para destruir a todos! Minha família, os soldados... Todos que pisaram aqui. Todos! Seus antepassados os mataram sem dó. E depois ainda os enterraram, como se estivessem fazendo alguma coisa nobre. “Pelo menos não deixaremos corpos nas ruas”, eles falaram. Agora vocês irão sofrer.

--

- Os pais da minha ṃe ṇo puderam suportar aquilo. РBrent disse, com olhos tristes. - Ṇo podiam viver em uma cidade que eles ajudaram a emergir em sangue. Os outros fundadores da cidade, seus antepassados, os antepassados de seus amigos, controlaram os meus para espalhar a morte. Ṇo era mais seguro viver aqui.

- Enṭo foi por isso que eles foram embora. РBrent concordou.

- Pensamos que era seguro voltar, mas estávamos errados. Mesmo depois de anos, alguém ainda quer vingança pelo o que fizemos. Alguém sempre irá querer.

- Ṇo ̩ culpa de voc̻s. РSeus olhos arderam nos dela por um momento, at̩ que ela sentiu a necessidade de quebrar aquele momento. РPorque voc̻s ṣo chamados de Presenteadores da Morte?

- Porque deixamos um “presente” ao matar alguém. Uma moeda de ouro. Presenteadores da Morte respeitam a vida e não são capazes de matar alguém puro.

- Como assim? Eles mataram aquele garotinho ano passado.

- Mas ele deve ter feito alguma coisa ruim, em algum momento. Algum pensamento impuro, qualquer coisa. Isso não quer dizer que a pessoa seja ruim. É impossível só ter pensamentos puros. Em algum momento, todos falham. E a maldade atrai os Presenteadores. Eles farejam isso.

- É por isso que aquela coisa perseguiu o Roger ao invés de matar a mim e a Tara, que estávamos bem na frente dele. Roger correu, deixando-nos para morrer. Foi uma atitude egoísta. Eu vi quando aquilo pegou alguma coisa no ar.

- Exatamente, é assim que ele faz.

- Eu acho que sei onde a bruxa está. – Ela disse. – Tem uma casa no meio desta floresta. – Os olhos dele brilharam, só podia ser este o lugar.

Um estrondo veio da porta. Alguém, do outro lado, estava tentando entrar.

- Eles nos acharam. Você tem que sair daqui. – Brent disse, pegando em seu braço e levando-a para parte de trás. Ele abriu uma porta secreta, que ficava atrás de uma prateleira.

- Vai. Ache a casa! É o único jeito. A bruxa não terá poder sobre você. Mate-a!

Dana concordou e saiu pela porta. Suas mãos ainda estavam unidas quando o estrondo maior ecoou dentro de onde Brent estava. Eles tinham conseguido entrar. Brent soltou sua mão, seus olhos registrando sua imagem uma última vez. Logo, ele fechou a porta e uma verdadeira batalha se iniciou lá dentro. Brent era mais rápido, mas os Presenteadores estavam em maior número. Dana correu pela floresta, com lágrimas nos olhos. A bruxa tinha que morrer.

--

Os gritos de Roger finalmente haviam cessado. A velha ainda o estava cortando, mas ele não tinha mais forças para gritar. Roger não estava mais amarrado, tampouco. Ele não tinha mais as pernas e nem os braços. Haviam sido arrancados e enfiados nos outros corpos ao redor da mesa, como se fossem algum tipo de obra de arte bizarra.

Tara também não tinha mais forças pra gritar, apenas continuava a olhar nos olhos de Roger, compartilhando sua dor. A mesa estava banhada de sangue, assim como as roupas de Tara. A velha estava fazendo um profundo corte em suas costas, dividindo-a em duas partes. Roger se mostrava semi-consciente. Ninguém podia imaginar a quantidade de dor que havia sentido.

Depois de arrancar um pedaço grande das costas de Roger, a velha saiu do cômodo, com um sorriso satisfeito no rosto.

- Voc̻ gosta de mal-passado? РEla perguntou com a carne em suas ṃos, mas ṇo esperou resposta e desapareceu na dire̤̣o da cozinha.

Tara olhou para Roger. Tinha vontade de vomitar, mas tinha que ser forte por seu amigo. Ele parece uma exposição daqueles bonecos em galerias de anatomia, completamente mutilado. Seus lábios se mexeram, ele estava tentando dizer alguma coisa.

- M... Mat-mate-a. – Ele disse, com dificuldades.

Usando o resto de suas forças, ele usou o toco do seu braço cortado para empurrar a faca encima da mesa. O aço encostando em sua ferida exposta lhe causava um dor inimaginável, mas ele tinha que ser forte por Tara. Com mais uma pouco de força, ele conseguiu derrubar a faca no colo dela. Tara não perdeu tempo, agarrou a faca com dificuldade e começou a cerrar as cordas. Não foi difícil se soltar.

Ela tentou levantar Roger, mas ele gemeu de dor.

- Me mata! Por favor. РṆo tinha como discutir. Era a ̼nica solṳ̣o, Tara sabia. Ele iria morrer de qualquer jeito e somente ela podia dar um ponto final ao seu sofrimento. Ela poderia ṇo sobreviver, mas ṇo deixaria aquela velha mutilar ainda mais o seu amigo.

Lágrimas saíram de seus olhos enquanto ela apontava a faca em seu coração. Tara empurrou de uma vez só, forma uma forma delicada, porém, precisa. Seus olhos se encontraram ainda uma última vez antes de perderem a vida e ficarem foscos.

Tara tentou se controlar. Ela teria que ter forçar para terminar com aquilo. Sentia tanto ódio daquela mulher, que queria mutilá-la aos poucos, como ela tinha feito com Roger.

Ela foi em direção da sozinha, a música natalina no fundo deixava tudo ainda mais bizarro. Quando finalmente conseguiu chegar no cômodo, percebeu que não tinha ninguém ali. De repente, a velha surgiu atrás dela, cravando seus dentes onde o Presenteador havia mordido anteriormente. Tara caiu gritando, cheia de dor.

- Gosto de vadia. РA velha disse, ao cuspir um peda̤o da sua carne.

Tara não deixou para menos e enfiou a faca em seu ombro. Como Brent havia dito, ela podia ser uma feiticeira, mas não tinha força sobrenatural. Apesar disso, Tara estava muito machucada e suas forças estavam empatadas.

- Eu posso ser velha, mas eu sou mais poderosa. РDisse enfiando o dedo em sua ferida na sua perna. Tara chutou a sua cara, fazendo-a cair no cḥo.

- E eu sou mais furiosa. РEla come̤ou a chutar a velha, at̩ que ela agarrou seu p̩ e a jogou no cḥo tamb̩m. Elas come̤aram a se bater e Tara cravou seus dentes na orelha dela e a arrancou. РVoc̻ ṇo ̩ a ̼nica que morde, piranha. РTara cuspiu a orelha em sua cara, enquanto ela agonizava de dor.

Tara se levantou e ficou encarando enquanto a velha tentava se levantar, completamente debilitada. De repente, a porta da frente se abriu. Era Dana.

- Tara? Você está viva? – Mas ao acabar de dizer, a velha passou a faca na perna dela, fazendo-a cair no chão. Ela estava pronta para enfiá-la em seu rosto, mas Tara segurou sua mão. A velha fazia muito pressão, estava quase conseguindo.

Dana correu e chutou o rosto dela, fazendo-a cair pro lado. Tara foi ainda mais rápida, se rastejou na direção dela e tomou a faca de suas mãos. Ela esperou a velha ficar consciente para que ela pudesse olhar em seus olhos. Lá fora, vidros começaram a quebrar e a porta sofria fortes batidas. Os Presenteadores haviam chegado.

- Voc̻s iṛo morrer, suas pestes. Eu controlo tudo! РSangue saia da boca da velha, que sorria satanicamente.

- Mate-a! Ela os está controlando. – Dana gritou, no mesmo momento em que um Presenteador se chocou contra o vidro da janela e vinha na direção dela.

- Controle isso! – Tara enfiou a faca em sua barriga. O Presenteador parou a centímetros de distância de Dana, com a boca aberta, pronto para dar-lhe uma mordida mortal. - Feliz natal, vadia. – Tara completou antes de enfiar a faca dentro de seu olho esquerdo. Não satisfeita, ela rodou a lâmina, matando-a de vez.

O presenteador finalmente pôde tomar o controle de suas ações e saltou pela mesma janela que entrou. Tara levantou com dificuldades e foi em direção a sua amiga. Juntas, elas saíram da casa, uma apoiada a outra. Em volta delas, os outros Presenteadores da Morte se curvavam, conforme elas passavam. Eles estavam agradecidos por estarem libertos. Logo, em frente a elas, uma Presenteadora da Morte enorme carregava Brent em seus braços. Ele estava completamente machucado, sem vida.

- Ele deu a sua vida por vocês... E por nós. – A Presenteadora, sua mãe, falou. – Nós lhe seremos eternamente gratos. Meu filho iria querer que você ficasse com isso. – Ela estava falando com Dana. Era um medalhão de ouro e tinha um pingente, uma moeda dourada, a mesma que eles deixavam como presente. – E a você... – A Presenteadora voltou sua atenção a Tara, tirando o próprio cordão do pescoço, idêntico ao de seu filho, e lhe entregou. Elas olharam ao redor e todos os outros usavam o mesmo cordão. Era uma honra.

As garotas agradeceram e Dana deu um beijo no rosto de Brent, que ainda estava nos braços de sua mãe. Depois de andarem bastante, elas voltaram ao cemitério. Os Presenteadores haviam tirado o cadeado, elas estavam prontas para irem embora. Ao lado das portas do cemitério, um grupo de crianças cantava uma música natalina, enquanto as duas passavam lentamente, apoiadas uma na outra, banhadas em sangue.

O natal tinha acabado e o seu maior presente, foi viver.


Feliz Natal!

Comentário(s)
7 Comentário(s)

7 comentários:

  1. nossa foi espetacular
    se esse conto fosse um filme a cena do jantar ia ficar na historia
    a vadia loira matou a vilã e sobreviveu eu gosto dela
    quando sera que vai ter outro conto? talvez na pascoa?

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  2. BRUNO
    AMEI MUITO DEZZZ OMG, O QUE FOI ISSO A VADIA LOIRA SALVOU O DIA, DEVERIA TER UMA CONTINUAÇÃOOOOOO.
    NOTA 10,10,10.....

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  3. Seria legal poduzir nem que fosse um curta ... Historia espetacular !!!!!!!!!!!

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  4. Sensacional,concordo com vcs esse conto deveria virar um filme.A cena do jantar ficaria muito massa.

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  5. #FATO , VADIA LOIRA DEVIA SER A PROTAGONISTA! TARA♥

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  6. Gosto da Dana também, mas a TARA foi a melhor, vamos concordar né, quero o autógrafo de quem escreveu essa história!!

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