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[Livro] Destino Final - Capítulo 3: Vestígios de Uma Tragédia

Alice não sabia mais o que pensar. Do outro lado do espelho Duplo da delegacia, ela fitava Chad dentro daquela sala cinza. Ele estava sentado na cadeira de ferro, com as mãos encima da mesa marrom, fitando o nada com seus olhos vermelhos que foi o resultado de tantas lágrimas. Ele parecia estar hipnotizado, e realmente estava, não conseguia tirar da cabeça tudo o que tinha acontecido. 

E apesar de não entender nada, Alice não conseguia sentir pena dele. Ela estava certa de que ele havia tido uma premonição sobre um acidente e jurou ter visto seus amigos morrendo, mas ainda assim, é muita coisa para a cabeça dela, e ela se sentia mal por achá-lo mais estranho do que sempre fora. Eles eram amigos de infância, mas uma parte dela estava com medo dele.

O policial Zac aproximou-se dela pelo lado esquerdo, compartilhando a mesma visão que ela. Ele sentia pena do garoto, mas ainda o achava louco, até cogitou a possibilidade dele ser um bruxo, mas era ridículo demais, só que nada mais explicava o que tinha acontecido.

- Ele me pediu pra ficar sozinho – Disse Zac, enquanto cruzava os braços – Eu também faria o mesmo, ele não está em condições de agüentar olhares desconfiados de ninguém...

- Vocês sabem a causa do acidente?

- Ainda estamos investigando, daremos todas as respostas a vocês e a imprensa quando soubermos de alguma coisa... – Zac olhou para ela, que ainda estava vidrada no amigo do outro lado do vidro – Vocês são muito próximos?

- A gente se conhece desde sempre... Isso nunca aconteceu antes...

- Ele teve uma premonição, isso não costuma acontecer com ninguém... A não ser que...

Alice suspirou, não acreditava que aquilo estava acontecendo, muito menos que Zac iria supor que Chad teve algo haver com aquele acidente.

- Não foi culpa dele – Alice olhou para ele, séria – E essa é a única coisa que eu tenho certeza.

- Precisamos cogitar todas as possibilidades, se seu amigo teve algo haver com aquilo...

- Alice? – Jill abriu a porta da sala e logo se sentiu constrangida, pois Zac e Alice olharam para ela como se ela tivesse atrapalhado alguma coisa – Desculpem... Alice, precisamos ir.

- E deixar Chad?

- Scott disse que a mãe dele está vindo buscá-lo, e ele ainda vai ser interrogado.

- Certo – Alice pegou seu celular que estava na cadeira ao lado dela e saiu da sala, batendo a porta com força.

Zac estava se achando um idiota. Não só por ter falado aquelas coisas para Alice, mas por ter cogitado a possibilidade de culpar o garoto que acabou salvando a sua vida. Ele não conseguia parar de pensar o que teria acontecido com ele se aquele garoto solitário do outro lado do vidro não tivesse pirado e impedido ele de embarcar. Mas, não foi apenas ele, Rachel Morris também teve algo haver com a história, já que ela também teve um ataque e confirmou a versão do garoto.

Do outro lado do espelho, um investigador havia acabado de entrar, mas Chad não moveu nem um centímetro para olhar pra ele, a aquela altura, não fazia mais diferença quem entrava ou deixava de entrar naquela sala. Zac logo apertou o botão que lhe permitia ouvir tudo o que falassem lá dentro, mas por enquanto, ouviu apenas o barulho do investigador Wilson movendo a outra cadeira de ferro para sentar-se de frente para Chad.

Wilson abriu a pasta bege que havia em suas mãos, eram os dados de Chad, toda a sua vida estava naqueles papéis.

- Chad Barclay – Ele disse, quando leu o nome dele em uma das suas folhas, bem ao lado de sua foto – Correto? 17 Anos, campeão de natação quando criança, perdeu o pai num trágico acidente de barco... Tem alguma coisa que eu me esqueci de mencionar?

- Não senhor – Respondeu Chad, sem olhar para ele.

- Hum... Ganhou quatro passagens com tudo grátis para um cruzeiro numa promoção do Hotel Silver Pacific... Mas não se preocupe, não vou chamá-lo de sortudo – Ele fechou a pasta, cruzou as mãos e olhou para Chad – Você passou por muita coisa hoje, não foi?

Chad não respondeu, a ultima coisa que queria era uma conversa onde alguém lhe confessa que sente pena dele. Ele estava tentando evitar o olhar de Wilson e por isso fitava suas pernas. Tinha recebido este olhar a vida toda quando as pessoas descobriam o que acontecera com seu pai, ele só queria que o achassem normal pelo menos uma vez na sua vida.

- Quer me contar o que aconteceu? – Insistiu Wilson – Sabe, é bom conversar.

- Do que adianta? Ninguém vai acreditar em mim...

- E por que não iriam acreditar em você?

- Porque é mais fácil pensar que eu causei o acidente e tentei chamar atenção dizendo que vi tudo antes de acontecer... – Chad finalmente olhou para ele, seus olhos pareciam acusá-lo.

- Sabe, não sou como os outros daqui. Eles têm essa mania de acreditar no óbvio ou dar uma explicação lógica, mas eu só quero saber o que aconteceu, mesmo que seja na sua versão, porque você não tem cara de quem causaria um acidente, e sendo assim, prefiro considerar que você salvou a vida de oito pessoas, incluindo a sua, do que acusar um garoto de 17 anos de ter cometido um crime bárbaro só pra chamar atenção. Então, quero que você saiba que pode falar comigo.

Zac, do outro lado, estava tirando o chapéu para o investigador Wilson. Ele era gordo, baixinho, careca, e muito chato, mas ele exercia sua profissão como ninguém.

- Eu vi... – Respondeu Chad.

- Você viu o que?

- Eu vi cada detalhe... Eu vi cada morte, ouvi cada grito, eu senti... Quando o fogo da explosão me queimou vivo... – A voz de Chad parecia de choro, mas ele não estava chorando, estava apenas tremendo e com muito medo.

- Você viu sua própria morte?

- Não... Eu senti meu corpo queimar vivo como se aquilo estivesse acontecendo...

- Você usa algum tipo de medicamento? Algum tipo de drogas? – Wilson juntou as mãos encima da mesa e prestou mais atenção na expressão de Chad.

- Não, ta legal? – Chad quase gritou – Eu não uso essas porcarias! Que droga, eu não sei o que aconteceu! Eu não posso ajudar vocês!

- Certo – Wilson olhou para seus papéis novamente, não queria irritar o garoto, fazia parte da sua interrogação psicológica fazê-lo acreditar que ele está no controle – Você teve um péssimo dia, não vou mais fazer perguntas, você tem muita coisa pra enfrentar...

- Obrigado – Chad fechou o rosto, não acreditava em toda aquela compreensão.

- Bom... – Wilson se levantou – Sei que você não vai fazer isso, mas... – Ele tirou seu cartão do bolso e jogou na mesa – Este é meu número, me ligue quando começar a achar que eu só quero ajudar...

Chad fitou o pequeno cartão branco encima da mesa e não disse nada. Wilson olhou para ele mais uma vez só pra ter certeza que aquele seria mais um trabalho difícil, mas chamou a si mesmo de idiota quando percebeu que nenhum caso em que ele tenha trabalhado havia sido fácil, este era apenas especial. Ele realmente acreditava no garoto, seria demais pensar que alguém com uma aparência tão tímida e inocente pudesse ser culpado de alguma coisa, sem falar que ele podia ver o sofrimento em seus olhos.

- Até breve – Ele disse e caminhou na direção da porta, mas parou quando percebeu que havia só mais uma pergunta para fazer – Chad?

Chad olhou para Wilson, mas não disse nada. Wilson também não olhou para ele, tinha medo de ser encarado por aqueles olhos de novo.

- O que você acha que aconteceu?

Chad olhou para suas mãos pálidas encima da mesa, que estavam se entrelaçando uma na outra, era apenas um tique nervoso que ele não conseguia controlar. Ele finalmente havia baixado a guarda, não estava mais com raiva de Wilson, porque a resposta em que pensou para a pergunta dele o fez amolecer e ficar pensativo.

- Eu não sei... – Ele sussurrou, calmo – Eu só acho que me livrei da morte... Só não sei porque não me sinto assim...

- Obrigado – Wilson abriu a porta e saiu.

No lado de fora ele acabou dando de encontro com Zac, que estava quase entrando na sala.

- Me desculpe – Pediu Zac – Só vim avisá-lo que o Investigador Norton está quase acabando com a garota.

- Droga – Ele reclamou – Ele sabia que eu queria participar.

- Mas foi melhor assim, os pais dela estão esperando há duas horas. Venha comigo, talvez a gente ainda consiga pegar alguma coisa do interrogatório.

- Certo – Wilson seguiu Zac, os dois dobraram para o corredor da direita.

Eles pararam em frente a uma porta marrom. Zac tirou as chaves do bolso e a abriu. Quando os dois entraram, logo olharam pro espelho duplo, de onde se podia ver Rachel conversando com o investigador Norton. Zac apertou o botão para habilitar o áudio da sala e os dois começaram a prestar atenção.

Rachel estava chorando muito, Norton estava bastante paciente, pois quando fazia uma pergunta, ela não conseguia responder tudo sem antes chorar por vários minutos seguidos. Mas era compreensível, já que apesar de ser quase impossível para Norton, ela demonstrava realmente acreditar que viu a tragédia antes mesmo de acontecer.

- Acalme-se – Pediu ele – Você precisa responder minhas perguntas, vai ser mais fácil para descobrirmos o que aconteceu.

- Eu vi... – Rachel enxugou suas lágrimas e tentou se controlar – Eu estava dormindo e eu vi aquele navio explodindo e aquela garota perto de mim foi... foi... Esmagada por aquela chaminé e depois Serena caia na água e...

- Serena? Serena Biltz? O que aconteceu com ela?

- Ela caiu na água e a hélice a acertou... – Rachel tentou não lembrar daquela cena, era muito nojenta.

Norton não acreditou em nenhuma palavra do que ela dissera e não se preocupava em disfarçar seu olhar que a chamava de louca. Ele não achava que ela fosse a culpada, talvez o garoto, que ele não teve a chance de conhecer, mas era loucura acreditar que duas pessoas viram com detalhes as mortes de um acidente antes de acontecer. Se ele acreditasse que isso seria possível, era melhor se aposentar logo.

- Ele não acredita... – Comentou Zac, do outro lado do vidro.

- Você acredita? – Perguntou Wilson, olhando para ele.

- Eu estava lá, senhor. Eu estava dentro, e depois tão perto que pude ver cada detalhe daquele acidente. As pessoas que estavam lá morreram de formas bizarras, não foi um acidente normal.

- Não existem acidentes normais, policial Zac.

- Muito bem, senhorita Morris – Norton levantou-se da cadeira e recolheu seus papeis de cima da mesa – Vou acompanhá-la até seus pais agora.

Rachel se levantou da cadeira bem devagar e saiu logo depois que Norton abriu a porta. Ela o seguiu pelos corredores, enxugando as lágrimas, estava com vergonha de chorar na frente de tanta gente. Quando chegou no enorme hall da delegacia, viu seus pais sentados no enorme banco marrom ao lado de Naomi. A senhora Morris parecia bastante apreensiva, estava chorando enquanto segurava seu terço, estava rezando, agradecendo a Deus por não ter levado sua filha. O senhor Morris, ao lado, consolava sua esposa passando a mão pelos cabelos dela e dizendo palavras reconfortantes, pena que não acreditava em nenhuma delas. Naomi estava segurando sua Prada com bastante força e fitando o nada, estava preocupadíssima com a prima, sentindo-se culpada por ter gritado com ela no momento em que começou a surtar.

Rachel parou de andar e os fitou, estava se sentindo culpada por ter deixado todos muito preocupados. Foi Naomi quem a viu primeiro quando virou de relance para o lado. Ela deu um pulo do banco, assim como os senhores Morris fizeram quando viram a filha. Rachel não conseguiu segurar a emoção de ver sua mãe, que logo correu para um abraço.

- Ai meu Deus! Filha! – Ela começou a chorar.

Rachel não disse nada, apenas retribuiu o abraço fechando os olhos, sentindo um prazer enorme por ter tido a chance de abraçar sua mãe de novo.

- Naomi, você já pode ir pra casa... – Disse o senhor Morris.

- Não, eu vou ficar com ela, ela vai precisar.

- Seu pai não vai se chatear?

- Não, ele entende... – Ela não conseguia tirar os olhos de Rachel – Vou ligar pra ele... – Naomi abriu sua bolsa e tirou seu celular.

- Faça isso filha...

Naomi imediatamente digitou o numero de seu pai e colocou o celular na orelha. Ela deu alguns passos na direção da entrada e fitou as árvores do lado de fora.

Quando a senhora Morris conseguiu soltar Rachel, seu pai a abraçou, e quase tirou seu ar com o aperto.

- Vai ficar tudo bem... – Ele disse.

Dessa vez, foi Rachel quem o apertou. Ela cavou mais seu queixo em seu ombro e olhou pro lado. Chad estava parado na entrada, escorado na parede, olhando para ela. Ela imediatamente sentiu um calafrio e ao mesmo tempo pena, ele parecia estar muito mal. Eles estudaram juntos por anos, mas nunca trocaram uma palavra sequer, só que naquele momento ela sentiu que tinham algo em comum. Ambos tiveram uma visão de um terrível acidente, mas ela ainda tinha duvidas, não sabia se ele tinha visto as coisas horríveis que ela viu ou o que realmente aconteceu dentro daquele navio, só sabia que de algum jeito, ela devia sua vida a ele, pois se ele não tivesse tido um surto e começado a gritar que o navio iria explodir, ela apenas teria pensado que aquilo era um pesadelo e provavelmente estaria morta agora.

Chad virou o olhar assim que começou a se fazer perguntas a respeito de Rachel, não estava em condições de lidar com aquilo naquele momento. Ele olhou pra rua, esperando sua mãe chegar, isso se ela fosse chegar, porque ele não acredita mais que ela não esteja bêbada todos os dias.

- Vamos pra casa – Disse o senhor Morris para a filha, segurando seu rosto inchado pelo choro com as duas mãos.

- Certo – Ela respondeu.

Naquele momento, Naomi estava chegando perto deles novamente, dando a noticia de que seu pai compreendeu perfeitamente, quando na verdade tinha acabado de desafiá-lo e dado o bolo no jantar que marcara com um cliente dele.

- Vamos? – Ela perguntou, e todos seguiram para a porta.

Rachel foi levada por seu pai que a envolveu em seus braços, queria que ela se sentisse protegida e que mais nada de ruim iria acontecer. Devagar, os quatro caminharam e passaram pela porta. Rachel olhou para trás, queria olhar para Chad mais uma vez. Começou a se perguntar se ninguém iria buscá-lo e se deveria oferecer uma carona, mas desistiu da idéia quando percebeu que aquele dia teria que terminar e que não queria estar envolvida com mais nada que lembrasse a tragédia com o navio.

Quando Rachel virou novamente pra frente, uma mulher acabou esbarrando nela, estava correndo na direção da delegacia.

- Me desculpe – Pediu a moça ruiva de cabelos curtos, mas Rachel estava mais preocupada em reparar nas suas várias tatuagens e no seu estilo.

Chad olhou pra porta e reconheceu a moça imediatamente. Era sua vizinha Sherri, que mais parecia sua irmã, pois ela tomava mais conta dele que a própria mãe. E apesar de Sherri ser uma pessoa legal, ele estava decepcionado por ela estar ali, pois isso significava que sua mãe mais uma vez estava indisponível para ele. Ele colocou as mãos no bolso do casaco e deu dois passos.

- Desculpe se me atrasei – Ela disse – Sua mãe teve problemas.

- Tudo bem.

- Eu soube o que aconteceu, o acidente de navio. Você está bem?

- Claro, só quero ir pra casa... – Chad passou por ela, estava tentando evitar o assunto mais uma vez.

Sherri suspirou, sabia como ele era e precisava parar de tentar se aproximar, pois ele nunca iria deixar. Deu meia volta e seguiu ele, que foi exatamente na direção do furgão azul pichado dela. Ele entrou na parte do passageiro e deitou sua cabeça no banco. Quando Sherri entrou no carro ele virou pro lado e fitou a rua pela sua janela. Ela estava preocupada, mas não queria forçar nada. Rodou a chave e os dois saíram de lá.

Quando chegaram na porta da casa de Chad, ele pulou do furgão logo após agradecer a carona de um jeito vago. Sherri saiu do carro e o observou entrando na casa, perguntou-se se deveria ajudá-lo com o que ele iria encontrar lá dentro ou deixá-lo sozinho como ele estava espelhando que queria.

A porta da casa nem estava fechada e foi só Chad chegar na pequena varanda que ele pôde ouvir uma musica antiga tocando na vitrola de sua mãe. Assim que ele entrou na casa notou os cacos de vidro quebrados no chão, seus sapatos faziam barulho quando pisava encima deles. Ele chegou até a sala e viu sua mãe jogada no chão, apoiando sua cabeça no sofá. Ela estava com uma garrafa de vodka nas mãos, era o resultado do que pareceu ter sido uma das maiores festas que ela já organizara. A sala estava toda destruída, havia coisas jogadas por todo lado e aquela musica na vitrola estava insuportável, porque havia uma falha e um único verso da musica ficava se repetindo. Chad sabia o que tinha acontecido, sua mãe tinha aproveitado que ele iria passar três dias num cruzeiro para destruir tudo.

Ele andou até ela e tentou acordá-la. Ela estava bêbada demais para raciocinar, mas respondeu quando ouviu a voz do filho.

- Mãe, você precisa ir pra cama – Ele tentou levantá-la, mas era muito pesada.

- Por que você... Por que você está aqui? – Ela perguntou, não conseguia nem abrir os olhos.

- Não pude ir, agora levante... – Ele conseguiu levantá-la, colocou o braço dela em volta do seu ombro.

- Eu quero dormir aqui... – Ela sussurrava, Chad estava achando seu bafo de bebida insuportável.

- Não, vou deixar você na cama... – Chad andou com ela pela sala, tomando cuidando com as coisas jogadas pelo chão.

Devagar e com cuidado, levou ela até seu quarto, que continuava intacto. Com mais cuidado ainda, ele a deitou na cama e ajeitou seu corpo para que não dormisse de mal jeito e ficasse com mais dores no dia seguinte.

- Você é... Muuuuuuito chato – Disse ela, arrastando as palavras.

Chad a cobriu com um lençol e colocou um travesseiro embaixo da sua cabeça. Ela suspirou.

- Muito, muito chato... – Sussurrou novamente e abriu os olhos para olhá-lo.

Chad olhou para ela, sem saber se ficava com pena ou com raiva. Logo os olhos de sua mãe encheram-se de lágrimas, ela estava sentindo uma dor profunda.

- Por que, filho? Por que ele não volta?

- Mãe...

- Por que ele simplesmente não volta? Você tinha que fazer ele voltar... Foi você quem fez ele ir...

Chad prendeu o choro e olhou pro lado, precisava ser forte para ela como sempre fora. Ele suspirou e olhou para ela novamente, as lágrimas dela escorriam pelo rosto deixando um rastro negro por causa de sua maquiagem. Ele passou a mão pelo seu cabelo, estava tentando consolá-la.

- Eu estou aqui, mãe... Vai fica tudo bem...

Ela segurou na mão que ele passava por seu rosto e a apertou com força, estava sentindo muito por não conseguir demonstrar a ele o quanto o ama de verdade.

- Durma... – Ele pediu.

Ela enxugou as lágrimas e fechou os olhos. Virou-se pro outro lado. Chad a embrulhou mais e depois ficou olhando para ela por alguns momentos, antes de perceber que deveria começar a arrumar a bagunça que ela fez.

Ele tratou de ir logo na direção dos materiais de limpeza. Pegou sabão, esfregão, balde, pano de chão e tudo aquilo que iria precisar para limpar a bagunça de sua mãe. Ele chegou até a sala e se ajoelhou no chão. Jogou seu casaco pro lado e tirou seu anel de prata do dedo. Começou a limpar, o chão, depois os móveis, depois as paredes. E depois disso começou a consertar tudo o que havia sido quebrado, como a vitrola, mas o microondas não tinha salvação, já que sua mãe colocara uma garrafa ali dentro e o ligara.

Só parou quando viu que tudo estava em perfeito estado e percebeu o quanto estava cansado. Suas mãos estavam vermelhas e suas pernas doíam de tanto ficar abaixado. E da casa ao lado, Sherri estava preocupada, pois vira Chad entrar e sair da casa com sacolas enormes de lixo nas mãos, ela sabia que ele mais uma vez estava ajudando sua mãe que não merecia. Mas ela acabou apagando em meio a seus pensamentos, Chad ainda podia vê-la dormindo de boca aberta no sofá pela janela.

Ele andou até a geladeira e a abriu, mas logo desabou. Seus pensamentos estavam matando-o, ele estava cansado de tudo aquilo e nem sabia o que estava acontecendo com ele. Ele se jogou no chão e engatinhou até a parede mais próxima, escorou-se nela e tentou prender o choro, mas era inevitável e incontrolável. Ele começou a gritar, bem alto, não estava suportando mais aquilo e gritar era o único jeito de diminuir aquela dor, pelo menos naquele momento. Mas no fim, ele só queria que seu pai ainda estivesse ali.

--

O sinal tocou. Jill olhou para uma das grandes telas que ficavam nos cantos dos corredores do colégio, o diretor estava dando um aviso e ela torceu para ele não falar sobre o acidente, mas por que falaria se nenhum aluno do seu colégio havia morrido?

Ela decidiu não prestar atenção no que ele dizia, achava mais produtivo se concentrar em arrumar seu armário bem a sua frente e pegar o livro que usaria na próxima aula.

Scott apareceu por trás e fechou seu armário, enquanto dizia um “oi” bastante animado.

- Oi – Ela respondeu e lhe deu um beijo.

- Tem aula de que agora? – Ele perguntou e a seguiu quando ela começou a andar.

- Química, vai ser tão divertido... – Jill conseguiu demonstrar a ironia pelo seu tom de voz.

Scott correu dois passos para acompanhar os passos da namorada, que trocou o livro de química de mão.

- Você falou com Chad? Ele veio à aula hoje?

- Não, não vi... – Jill pensou por alguns segundos, estava realmente preocupada com o amigo – E você?

- Liguei pra ele hoje de manhã, ninguém atendeu, deixe tipo uns sete recados – Scott segurou na alça de sua mochila verde, estava sentindo que ela o estava puxando para trás.

- Vamos na casa dele hoje depois da aula? Estou realmente preocupada, e preciso dizer uma coisa a ele...

- Se for dizer “sinto muito”, acho melhor não fazer – Avisou Scott – É a pior coisa que se pode dizer para ele, confie em mim.

- Não, vou apenas dizer “Estou viva por sua causa”, acho que ele vai gostar de ouvir que alguém não o acha estranho e agradece o que ele fez ontem...

O celular de Jill tocou no mesmo instante. Ela o tirou do bolso e olhou no visor, era sua treinadora.

- Vou precisar atender, te vejo na hora do almoço?

- Certo – Scott a beijou e saiu andando.

- Alô? – Disse Jill após atender.

- Jill, tenho ótima noticias – Disse sua treinadora, numa voz empolgada – Um dos juízes vai ter que realizar uma viagem de ultima hora e o campeonato será adiado. Se você não for maluca, vai refazer sua inscrição e começar a treinar desde já pra fazer bonito na frente daqueles mauricinhos de terno.

- Nossa, isso é ótimo -  Jill estava realmente feliz.

- Ok, te ligo quando a nova data for revelada. – A treinadora desligou.

Jill apertou o botão “end” e sussurrou “é isso aí”, estava feliz por não ter morrido no acidente e mais feliz ainda por ter conseguido mais uma chance para participar do campeonato de patinação no gelo. Quando olhou pra parede de vidro a sua frente que dava para o pátio da escola, ela viu Rachel sentada numa das mesas, estava bastante concentrada lendo um livro. Ela pensou, estava tentando decidir se falava ou não com ela, queria ser gentil, mas geralmente as pessoas que sofrem um trauma daqueles sempre querem ser deixadas em paz. Mas no fim, ela decidiu dizer apenas “Oi”.

Quando Rachel percebeu que Jill estava se aproximando, fechou imediatamente seu livro, mas Jill já havia visto que era sobre premonições e adivinhações.

- Oi – Disse Jill, toda gentil – Pensei que não viria pro colégio hoje.

- Eu não viria... – Respondeu Rachel tentando tirar a imagem de ter visto a morte sofrida de Jill da sua cabeça.

- Foi legal você ter ajudado o Chad ontem... Eu sei como você se sente, estou me sentindo estranha, mas sei que não deve nem chegar perto do que você sentiu. Então, se quiser uma amiga, pode contar comigo.

- Obrigada – Rachel estava incrédula.

- E não se preocupe, acabou. Tchauzinho – Jill sorriu e deu meia volta.

Rachel ficou observando ela partir, sentiu aquela sensação gelada que sentira ontem e se perguntou se realmente deveria ter ido ao colégio. Mas ela precisava ver pessoas e saber que sua vida continuou, e apesar de tudo ter sido muito recente, ainda tinha aquela sensação de que ainda não havia acabado.

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11 comentários:

  1. eu estava esperando esse capitulo desde hoje de manhã
    muito bom de novo você esta de parabéns
    a Jill não pode morrer nem a Naomi e nem a Rachel amo elas todo mundo menos elas
    ai meu Deus só dia 07 agora não sei se eu vou ficar vivo ate la

    FELIZ ANO NOVO PRA VOCÊS DO BLOG TAMBÉM

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  2. Ai eu adoro suas historias,ja pensou em escrever uma baseada em pretty little liars? eu adoro a serie mas principalmente os livros e juro que seu produzisse um filme sobre isso,voce seria o roteirista,quanto ao ''Destino Final'' o desenvolvimento dos personagens esta perfeito,e estou anciosa pra primeira morte,esta de parabéns.
    -Angel.

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  3. Obrigado pelos comentários pessoal.
    Agora respondendo a pergunta feita acima, sim, já pensei em escrever algo ao estilo Pretty Little Liars. Aliás, já tenho até a base, resta saber se a ideia realmente vai vingar, pois 300 leitores vão me matar se não sair logo "A Punhalada 2".

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  4. Muito bom esse capitulo,coitado do Chad está sofrendo muito,e a mãe dele só piora tudo e ele mal sabe que isso é só o começo.Seria massa uma história ao estilo PLL,pois é João é melhor vc postar logo A Punhalada 2 pelo bem da sua vida kkkkk.Uma pergunta:As premonições de cada morte vão ser compartilhadas pelo dois,ou vai ser dívida por eles?

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  5. Haha! Bem que eu queria responder a pergunta acima, mas não posso, é uma parte importante da história que vocês só vão descobrir lendo.

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  6. Ok,sem problema,eu esperarei :D.

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  7. caraca dscobrir seu site ontem e estou simplesmente apaionado por el.
    \ah vc esvreve super bem e da detalhes dos personagens. ah eu to amando a historia e agora q eu to no cap 3. assim q eu acabar de ler esse. vou comecar a ler A APUNHALADA/. e as outras hsitorias q vc tem aki no site.

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  8. João Lindley cara você tá me deichando maluca kk's estou anssiosa para A punhalada 2 kk's muitos beijos e so uma perguntinha você sabe quando vai sair A punhalada 2? para me deixar mais calma ? kk's bjos e abraços!

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  9. "A Punhalada 2" sairá logo depois que "Destino Final" acabar. Beijos.

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