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[Livro] Hell Yes - Capítulo 13: O Belo e a Fera

Taylor caminhou até a pequena cozinha da cabana de Elvira, com um prato sujo nas mãos. Elvira estava sentada a mesa, novamente elegante, estava comendo a salada que acabara de preparar. Taylor não olhou para ela, apenas passou direto e jogou o prato na pia, que já estava lotada. Ela ligou a torneira e pegou uma esponja, sabendo que Elvira estava olhando para ela enquanto mastigava.

 - Pode deixar, eu cuido disso – Disse Elvira – Você é minha hóspede.

 - Não, eu sou um monstro que por acaso você ajudou. O mínimo que posso fazer é levar a pilha de louças.

- Não use estes adjetivos para si mesma, Taylor.

Taylor abaixou a cabeça, fitou os inúmeros pratos que estavam sendo molhados. Elvira lhe dizia aquilo todos os dias, mas ela não conseguia se acostumar. Como fazer alguém como ela parar de se sentir um monstro e achar que por isso não merece a piedade ou ajuda de ninguém?

- Desculpe – Pediu Taylor, e calou-se enquanto passava a esponja nos pratos.

Elvira largou o garfo encima da toalha branca ao lado de seu prato e levantou-se. Ela estava com medo que Taylor fizesse alguma besteira. No momento em que pensou, Taylor acabou fazendo força demais no prato e ele quebrou em suas mãos. Uma pequena ferida abriu em sua mão e uma gota de sangue pingou na pia. Com a dor, ela pegou na mão e olhou para o ferimento, ele já estava se fechando.

- Você precisa ter cuidado com a distribuição de força.

- Ah – Ela sorriu, durou apenas dois segundos – Acho que enquanto meu peso não afundar o piso, vou ficar bem – Ela olhou para Elvira, que estava quase sorrindo – O que foi?

- Você me lembra alguém...

- Mulher-Gato? – Brincou Taylor.

- Também – Elvira assentiu, sorrindo devagar sem mostrar os dentes – Ande, deixe isso comigo – Elvira andou até a pia e Taylor se afastou pro lado.

Ela ficou olhando como Elvira lavava os pratos, até fazendo serviços domésticos ela parecia fina, como se de repente uma patroa achasse que precisa experimentar coisas novas e começasse a fazer os serviços da empregada. Mas, ela levava jeito, assim como parecia que sabia fazer de tudo um pouco. Lavar a louça, varrer o chão, torturar criaturas em busca de respostas e identificar seus vestígios, parecia que ela tinha duzentos anos e sabia tudo de todos.

- Obrigada – Agradeceu Taylor.

- Querida, você não precisar me dizer isto – Elvira não tirava os olhos dos pratos que lavava, já havia lavado três, era bastante rápida.

- Não, eu quero. Sei que luto ao lado de vocês, mas ainda tenho garras e presas.

- Que não interferiram na sua beleza – Elvira sorriu, mas ainda fitava os pratos.

Taylor não disse nada, mas seu sorriso pela primeira vez demonstrava felicidade. Ela não lembra a ultima vez que alguém lhe elogiou ou que sua própria mente havia feito isso, e era estranhamente bom ouvir aquilo, mesmo sendo simples. Se um simples elogio podia deixá-la com um sorriso bobo no rosto, então ainda havia algo de humano que se pudesse aproveitar. E ela estava aliviada em saber que não havia virado uma rainha, apesar disso significar que ela não é piedosa.

- Você pode ir – Disse Elvira e olhou para ela – Os outros estão lá fora, a conversa deve estar interessante.

Sim, deveria, e já que não ouviu o barulho de nada, Taylor chegou a conclusão que Axel e Jennifer estavam conversando civilizadamente. Um humano e uma criatura. Um humano preconceituoso e uma criatura sedenta por sangue, não era uma coisa que se via muito.

- Certo – Taylor deu meia volta e saiu da cabana.

Ela parou no pequeno pátio de madeira, do seu lado havia um balanço e do outro uma cadeira de balanço. De lá, ela podia ver Axel e Jennifer ao redor de uma fogueira. Jennifer estava sentada no tronco de uma árvore que ela mesma arrancara enquanto Axel estava deitado sendo apoiado pelo cotovelo esquerdo, eles pareciam estar conversando civilizadamente, de fato.

Taylor andou até eles e sentou-se ao lado de Jennifer, com as pernas juntas, estava com frio.

- E aí, qual é o papo? – Ela perguntou.

- Bom, Jennifer estava me contando sobre como virou vampira – Respondeu Axel – Quer dizer, ela estava começando a contar.

- Sério? – Taylor olhou pra ela, sabia aquela história de cor.

- Não é muito divertida, eu era fútil – Disse Jennifer, revirando os olhos com a lembrança de estar com um vestido azul para o baile de formatura.

- Conta – Pediu Taylor.

- Ok, hã – Ela olhou pro chão e pensou nas palavras certas – Eu era uma garota popular no colégio, conhecia Taylor muito bem , mas não éramos muito amigas. Porque eu era uma vadia e havia ficado com o garoto que ela gostava.

Axel olhou para Taylor e sorriu sem mostrar os dentes, ele pensava que das duas, Taylor seria a única capaz de fazer uma coisa dessas.

- Daí, eu terminei com meu namorado – Continuou Jennifer – E conheci um garoto, ele parecia ter uns dezenove anos e ele era igual um galã de cinema e percebi que o único jeito de evitar o vexame de ir ao baile sozinha era convidar aquele garoto que eu conhecia há dois dias...

Axel imaginava tudo, cada detalhe, imaginava até a cor dos olhos do possível vampiro que Jennifer conhecera só para ter uma idéia de como tudo aconteceu. Taylor apenas puxava as imagens de sua memória, estava nítido.

- Então, eu fui com meu vestido azul perfeito para o baile e tive a cruel noticia que uma das minhas inimigas me ganhou na votação para rainha. Eu saí correndo e chorando, mas o garoto não foi atrás de mim. Fiquei horas no carro amaldiçoando a vadia que me roubou a coroa até descobrir que tinha deixado minha bolsa no ginásio. Eu entrei de novo, e não havia mais ninguém, a decoração estava impecável e a única pessoa que eu vi foi o garoto, Bob era seu nome, ele estava parado em frente ao palco me encarando. Eu enxuguei as lágrimas que caíam do meu rosto, foi tempo suficiente para Taylor entrar sangrando e dizendo pra eu correr. Ele colocou seu sangue dentro de mim e antes que Taylor pudesse impedir, ele quebrou meu pescoço... Quando eu acordei, tive que escolher. Morrer, ou viver para sempre...

- O que aconteceu? – Perguntou Axel a Taylor, referindo-se sobre a entrada dela cheia de sangue no ginásio.

- Eu me vinguei – Disse Jennifer, lembrando dos últimos momentos de Bob – Coloquei meu vestido e enfiei uma estaca no coração do infeliz, foi o melhor dia da minha pós-vida.

Os olhos de Jennifer brilhavam, ela lembrava perfeitamente. Naquele dia ela havia caçado Bob pela cidade inteira até descobrir que ele estava num hotel. Ela invadiu o lugar com fúria e disse “parabéns, você é o rei do baile” antes de enfiar a estaca em seu peito. As presas dela estavam pra fora, fazendo parte junto dos outros dentes de um sorriso macabro de vitória.

- Nossa – Axel estava impressionado – Você deve ter sido uma recém criada durona. Mas e você, por que estava sangrando? – Ele olhou para Taylor.

- Bob estava atrás de mim e me jogou do segundo andar – Ela respondeu – Desde já todo mundo queria me matar.

- Meu vestido azul ficou uma bagunça – Reclamou Jennifer.

- Ainda pensando nisso, Jen? – Taylor sorriu, estava brincando.

Axel só observava as duas, percebendo o quanto elas eram próximas. Talvez, os laços mais importantes são aqueles que surgem quando encaramos a morte ao lado de alguém e sobrevivemos com a ajuda daquela pessoa. Taylor não conseguiu impedir que Jennifer fosse transformada, mas Jennifer entendeu que ela tentou e acabou ajudando-a a sobreviver. Axel não sabia todas as aventuras passadas que elas tinham vivido, mas devem ter sido bem intensas pra serem tão próximas desse jeito.

- Taylor? – Chamou ele, ela olhou no mesmo instante – Você ainda não contou como morreu.

- Não é uma coisa que se diga em conversas felizes como esta.

- Obrigada! – Indagou Jennifer – Não sabia que ser transformada em vampira era uma virtude.

- Jennifer! – Gritou Elvira, da porta, todos olharam – Você pode me ajudar aqui dentro?

- Claro – Jennifer correu rapidamente e entrou na casa.

Axel e Taylor se olharam, cautelosamente. Ele não disse nada, não queria pedir pra ouvir sua história de novo, queria que ela sentisse vontade de contar. E sim, ela queria, só não sabia como ele iria reagir depois que ouvisse tudo.

- Você quer mesmo saber? – Ela perguntou, antes de iniciar um processo de lembrança bem profundo, ela lembrava cada detalhe de suas ultimas horas na Terra.

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13 de Setembro de 1970

Taylor corria pela floresta, nem se preocupava que com aquela tempestade, poderia ser atingida por um raio. Seus sapatos azuis estavam cheios de lama e sua roupa completamente suja. Ela vestia um jeans apertado e uma blusa branca com alças, deixando seus ombros aparecerem. Só que de branca, a blusa já estava negra.

Ela só queria sair dali e encontrar um lugar seguro. A ultima coisa que lembrava foi de estar na rua com seu avô e seu namorado Paul quando os Bi-Hades começaram a atacar. Ela correu, obedeceu seu avô, mas saiu de lá com um aperto no coração. Não queria que ninguém mais morresse por ela, estava farta daquilo, preferiria ir logo para o inferno do que ver mais gente que ama morrendo para defendê-la.

Quando avistou um edifício, ela parou, era o seu antigo colégio, onde passou seu ensino médio inteiro e onde conheceu todos os seus amigos, agora mortos. Tudo por culpa de sua avó.

Taylor abriu a porta ao lado e entrou na escola, assustou-se quando a porta de ferro fechou-se sozinha atrás dela. Ela olhou para tudo, não havia ninguém ali, nem o zelador, mas o chão estava cheio de marcas de lama, eram pegadas de alguém que havia passado ali recentemente. Ela ficou com medo e correu no corredor contrário para o caminho que as pegadas seguiam. Ela chegou até o corredor onde havia muitas janelas de vidro do lado esquerdo. De lá, podia avistar a rua, os carros passando, mas ninguém podia ajudá-la, só o que podia fazer era se esconder.

Taylor correu pelo corredor e abriu a porta no final dele. Ela deu de cara com a sala de teatro. O palco estava ao fundo e as cadeiras pareciam ser intermináveis. Em uma das fileiras próximas ao palco, ela avistou um homem jogado na cadeira da lateral, havia uma lâmina no chão ao lado da cadeira e havia sangue em volta dela. Taylor correu até lá e percebeu que aquele homem estava com uma camisa cinza igual a de Paul. Não demorou muito para o desespero consumi-la e perceber que aquele homem sangrando era seu namorado.

- Paul! – Ela gritou o mais alto que pôde e o abraçou.

Ela sentiu sua respiração, ele estava vivo, mas muito fraco. Ela olhou para sua ferida na barriga, era uma mordida e estava aparecendo os ossos da costela. Mais desespero consumiu Taylor, que começou a chorar aos gritos enquanto agarrava o corpo de Paul. Ela não podia perdê-lo, não daquele jeito, ela preferia ir pro inferno do que vê-lo morrer por sua causa.

Paul abriu os olhos, os gritos de Taylor o despertaram. Ele fitou o teto do local, não conseguia mais sentir suas pernas e nem sabia por que.

- Tay... – Ele sussurrou – Tay...

- Paul? – Ela olhou pro seu rosto, aliviada.

- Eu vou ficar bem... – Ele estava fazendo forças para falar e queria que ela ficasse bem, mas sabia que já estava quase morrendo.

- Por favor, não morra – Implorou Taylor, passando seus dedos sujos pelo rosto de Paul.

- Por favor... Não morra... – Ele pediu.

- Eu te amo... – Ela sussurrou, suas lágrimas estavam caindo na camisa ensopada de sangue de Paul.

- Eu te amo... – Ele disse de volta, seus olhos se encheram de lágrimas.

De repente, as porta vermelhas foram derrubadas. Elas voaram para o meio das cadeiras. Taylor gritou e soltou Paul imediatamente. Ela olhou para lá, havia dois Bi-Hades do tamanho de um cachorro com seus enormes dentes pra fora, babando no chão. No meio deles, uma mulher de vestido marrom a estava encarando com um sorriso. Seus brincos prateados brilhavam e o batom vermelho na sua boca era forte demais.

Taylor reconhecia aquela mulher, era a mesma que apareceu com os Bi-Hades quando estava com seu avô. Ela estava ali para terminar o que havia começado, Taylor deveria ser arrastada para o inferno a qualquer custo.

- Olá Taylor – Disse ela – Que bom que vocês estão juntos. Morrerão juntos como um casal que se ama.

- Não! – Gritou Taylor, furiosa.

- Já vi que você ainda não foi convencida – A mulher suspirou – Bom, terei que matar seu namorado primeiro. Comam ele vivo – Ela ordenou e os cachorros avançaram.

Um dos cachorros pulou encima de Taylor e a fez cair pra trás perto ao palco. O outro pulou encima de Paul que estava indefeso e começou a mordê-lo. Taylor, que estava caída, e sendo apenas bloqueada pelo cachorro, via aquela cena com desespero. Começou a gritar o nome de Paul enquanto o Bi-Hades tirava pedaço por pedaço dele. Paul estava tão fraco que nem conseguia gritar, ele apenas aceitou a morte, fazendo um desejo mental. Era uma oração, ele implorava para Deus que não acontecesse nada com Taylor.

Ela ainda estava gritando, mesmo depois de perceber que Paul havia morrido quando o Bi-Hades arrancou um pedaço de seu rosto com os dentes. Ela não parava de gritar e seu desespero divertia a Rainha do Abismo no fim da sala. O cachorro deixou Taylor soltar-se e ela engatinhou até o corpo mutilado de Paul. Ela o abraçou e ficou cheia de sangue, mas não dava a mínima. A pessoa que mais amava na vida tinha acabado de morrer por sua causa e ela já não tinha mais motivos para viver.

A rainha do abismo andou até ela, devagar, não queria perder um só segundo daquela esplêndida cena. Quando chegou bem perto, fitou Taylor, ela ainda derramava suas lágrimas em Paul.

- Não chore, querida. Você também já vai morrer, pena que não vai pro mesmo lugar que ele.

Taylor olhou pra cima e viu o sorriso malicioso da Rainha do Abismo, seu ódio só aumentou. Pela primeira vez, ela queria pular encima de alguém e destroçar seu pescoço, mas só se fosse a mulher de marrom responsável por todo aquele horror.

- Esse olhar... De ódio... – Disse a Rainha – É tão... Profundo... Você é a pessoa mais infeliz do mundo.

Taylor não disse nada, apenas continuou olhando para ela com ódio. A rainha achou aquele olhar profundo demais, nunca tinha visto alguém com tanto ódio daquele jeito, ela se perguntou quais planos Minerva teria para aquela garota que conseguiu lhe surpreender. Só podia ser muito especial.

- Bom, agora você morre – A rainha preparou o ataque, suas unhas saíram de dentro dos dedos e ficaram enormes.

Taylor fechou os olhos e suspirou. Bem devagar, ela sussurrou “Me desculpe, Paul” e aceitou o destino que tanto quis fugir.

- Tenebra! – Taylor abriu os olhos, era a voz de seu avô.

Tenebra desistiu do ataque a Taylor e olhou para trás. Aquele senhor já havia causado problemas demais, era muito persistente e parecia que não morria nunca. Taylor olhou para seu avô, mas não ficou nem um pouco feliz. Ela sabia que ele estar ali só significava que mais alguém morreria por ela, e isso era inaceitável.

- Você não quer morrer, não é? – Perguntou Tenebra, entediada.

- Não sem levar você – Ele apontou a arma com balas de ouros para Tenebra e disparou.

O tiro foi certeiro e atingiu sua barriga, causando-lhe uma enorme dor. O sangue manchou o vestido de Tenebra num formato de uma roda. Ela olhou pra baixo, não estava acreditando, Anthony Van Der Lance realmente tinha a arma com balas de ouro e Tenebra estava morrendo. Ela olhou pra cima, estava perdendo o ar, não acreditava naquilo. Ela era uma Rainha, nenhuma Rainha poderia morrer, era impossível, certo?

- Desgraçado... – Ela sussurrou.

- Volte pro inferno – Disse Anthony e disparou a segunda bala.

Tenebra sabia que não podia fugir e foi atingida na testa. Ela caiu no chão, de peito pra cima e seu corpo entrou em convulsão. De repente nuvens marrons se formaram no teto do local, cobrindo-o completamente, pareciam nuvens de chuvas. O vento começou a bater forte, Taylor e Anthony foram obrigados a fechar os olhos. Uma Rainha estava morrendo, e Anthony sabia que as coisas iriam desandar.

Relâmpagos se formaram das nuvens e apesar de não haver raio algum, o barulho era como se estivesse caindo um trovão atrás do outro. Mas o som mais alto foi o grito final de Tenebra, que explodiu em poucos segundos.

A ventania e os relâmpagos pararam, as nuvens desapareceram e Taylor não ouvia barulho algum. Ela tirou o braço da frente dos olhos assim como Anthony. Eles se olharam, emocionados, Taylor achou que finalmente havia se livrado do inferno graças ao seu avô. Agora, estava tudo bem. A mulher que os perseguia estava morta, sua avó traiçoeira tinha sido assassinada há apenas algumas horas e os cachorros Bi-Hades desapareceram com a morte de Tenebra. Mas o que ainda doía no peito de Taylor era a morte de Paul, parado ao seu lado, o ultimo que morreu por ela.

Taylor sentou-se no chão e encarou seu avô, seu rosto estava cansado, ela estava completamente esgotada, só o que queria era deitar e esquecer por três dias tudo o que passou. Anthony a olhava com pena. Ele sentia dor, muita dor por estar vendo o sofrimento de sua neta e saber que ela perdeu as pessoas que mais amava na vida.

Anthony andou até ela, sem tirar seus olhos de lá. Taylor fechou seus olhos, queria se jogar ali mesmo e dormir, no mínimo por uma semana.

Anthony parou quando sentiu um tremor. Ele olhou para todos os lados e depois para Taylor, que ainda estava com os olhos fechados, não estava sentindo tremor algum. A expressão de Anthony ficou preocupada e ele deu mais um passo na direção da neta. De repente, o chão atrás de Taylor se abriu e inúmeros gritos puderam ser ouvidos. Lá de dentro, uma caveira a agarrou. Estava quase se tornando esqueleto, mas ainda possuía traços de pele e músculos humanos que estavam sendo queimados.

Taylor abriu os olhos e gritou enquanto Anthony correu até ela. A caveira a estava puxando pra baixo, Taylor estava definitivamente sendo arrastada para o inferno. Anthony chegou perto e segurou sua mão, ela não parava de gritar e seus olhos espelhavam medo.

De repente, um Bi-Hades cachorro atacou Anthony, mas não o mordeu. Ele não tinha permissão para matá-lo, só queria que ele não ajudasse Taylor a escapar da passagem.

Taylor já podia sentir o enorme calor daquele lugar e começou a ouvir uma voz que sussurrava algo inaudível. Era Iphtriz, a Rainha dos portais, ordenando em latim que Taylor deveria cumprir seu destino. Mas ela não queria, estava relutando em ser puxada pra baixo, até que viu um dragão de Hades passando pelas portas vermelhas e correndo em sua direção. Ela deu um ultimo grito e ele pulou encima dela, mordendo seu rosto e fazendo-a cair de vez no buraco onde estavam as chamas.

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Axel não disse uma só palavra. Sua boca estava aberta e ele nem percebia a dormência em seu braço por ter ficado naquela posição por tempo demais. Taylor olhava pras árvores, não conseguia mais encará-lo depois de uma série de fatos que ela lhe contou.

Ele estava com remorso, e não apenas isso, estava se sentindo mal por ter julgado tanto Taylor sem saber pelo que ela passou. Sua história – antes dele saber tudo – já era sofrida, com certeza ele concordava com o que Tenebra disse a Taylor antes de tentar matá-la. Ela era a pessoa mais infeliz do mundo e nem o que Axel passara valia todo o sofrimento imposto para uma só alma.

- Eu amava Paul... Mais do que eu amava eu mesma... Não foi justo... – Ela sussurrou, ainda olhando pras árvores.

Axel continuou sem dizer nada, ainda olhava para ela, com medo de abrir a boca e dizer qualquer coisa que piorasse a situação. Ele fitou o chão, não queria mais olhá-la, foi aí que ela olhou pra ele, esperando uma resposta.

- Essa sou eu... – Ela disse, chamando a atenção dele.

As chamas da fogueira era só o que iluminava o local, ela mal podia ver o rosto de Axel sem aquela sombra e o fogo atrapalhando sua visão.

- Me desculpe... – Ele pediu – Eu julguei você sem conhecê-la...

- Estou indo dormir – Ela se levantou, seguido de um suspiro longo.

- Fique – Ele pediu. Sentou-se no chão e olhou para ela novamente – Não pense que precisa ir embora depois disso. Eu entendo...

Taylor cruzou os braços, não estava acreditando nele. Como alguém como ele poderia entender tudo o que ela passou? Sim, ela sofreu muito, tanto na Terra quanto no inferno, mas ainda era uma criatura. Tinha poderes especiais, unhas enormes, presas iguais de tubarão que ficavam escondidas e com certeza isso era suficiente para qualquer caçador fazer dela sua próxima missão.

- Axel... Me dê apenas uma razão pra eu ficar aqui encarando seus olhos que sentem pena de mim, mas relutam em sentir mais que isso, já que sou o que eu sou.

- O que?

- Você entendeu... – Ela deu as costas para ele, só queria deitar e dormir, e esquecer que acabou de contar a pior coisa que já lhe aconteceu para alguém que semanas atrás estava caçando-a para matá-la.

- Taylor... – Axel chamou, mas ela já estava caminhando em direção da casa.

Ela abaixou a cabeça e seguiu seu caminho, tentando ignorar Axel chamando. Ele chamou mais uma vez, mas não obteve resultado. Ela não parou, ela não queria parar, ou queria? Ela nem sabia mais.

- Taylor, fica comigo! – Ele gritou, sentia que não controlava mais sua boca.

Ela parou, finalmente. Seus olhos arregalaram, o que ele tinha acabado de dizer? Ela não esperava por aquilo, de jeito nenhum, achava que estava enlouquecendo por querer ficar perto dele e lutar com ele, e pensar nele, dar prioridade. Mas ela ainda não era humana, como ele pôde dizer aquilo? Ela nem sabia em que sentido sua frase estava.

Taylor virou pra ele, com medo.

- Por favor... – Ele pediu de novo, seus olhos pareciam implorar.

Então, ela entendeu. Aquele olhar não mentia. Ele queria que ela ficasse, mas será que queria tanto quanto ela? Ela realmente queria? Se queria, por que relutava tanto?

- Axel, eu não... Eu não posso ficar.

- Por que?

- Por isso – Ela levantou a mão esquerda e suas unhas saíram.

Axel engoliu em seco, achou que seu corpo estava começando a dizer para ele deixá-la ir, mas sua mente não queria. De algum jeito, ele queria que ela ficasse. Mesmo estando com unhas gigantescas, dentes de tubarão, um apetite para sangue ou qualquer outra coisa. Mas o olhar dela era revelador. Ele podia ver que ela estava tentando fazê-los não se encher de lágrimas.

Taylor viu que Axel não estava reagindo e abaixou a mão, ela desistiu. Virou de costas e voltou a andar. Ele deixou, não sabia mais o que fazer, estava se sentindo um idiota. Ela abriu a porta e olhou pra trás, ele ainda estava parado em frente a fogueira, olhando para ela. Taylor balançou a cabeça negativamente, estava tentando esquecer que tudo aquilo tinha acabado de acontecer. Entrou na casa e fechou a porta. Escorou-se nela depois de fechada e fechou os olhos. Um suspiro bastou para ela se achar a garota/criatura mais burra da face da Terra. E por que isso? Simplesmente porque ela tinha sentimentos por um cara que não conseguia nem chegar perto dela por ser uma criatura. Mas, ela pelo menos já conseguia assumir isso para si mesma, só que isso não melhorava em nada.

De repente, seu olfato notou a presença de Axel mais perto. Ela sentiu que ele estava atrás da porta, bem perto dela. Ela abriu a porta e olhou pra ele, estava lá, parado, com aquele mesmo olhar de duvida e desespero ao mesmo tempo e era muito estranho vê-lo com qualquer outro olhar que não fosse impenetrável. Então, ela entendeu. E queria estar certa quando pensou que ele sentia o mesmo. Porque se não estivesse, seria humilhante demais.

- Droga, eu faço isso – Ela disse e pulou encima dele, imediatamente seus lábios juntaram-se.

Ele no começo ficou sem ação, mas depois percebeu o que tinha que fazer. Era o que ele queria, certo? Se estivesse certo sobre o que sentia. Era assustador, era errado, mas não podia fazer nada. Segurou na cintura dela e correspondeu seu beijo molhado.

Não demorou muito para os dois se sentirem bastante à vontade com aquilo. Axel não lembrava nem a ultima vez em que havia beijado e Taylor lembrou-se como aquilo era bom. Alguns segundos com os lábios em sincronia, eles se afastaram. A respiração de ambos estava ofegante, seus corações estavam prestes a explodir e só o que pensavam era que queriam mais.

Axel avançou em Taylor de um jeito bruto e a jogou na parede da casa. Colocou a mão em sua bunda e a beijou, selvagemmente. Taylor não pôde nem respirar, mas era exatamente o que ela queria, correspondeu o beijo de Axel da mesma forma enquanto passava a mão em sua costa. Eles paravam alguns segundos pra respirar, sentiam o ar um do outro, estavam tentando pegar fôlego para depois embarcar de novo naquele beijo selvagem.

Caminharam pela casa se beijando, foram em direção ao quarto e entraram. Não deu tempo nem de trancar a porta, eles deitaram na cama, já chutando seus sapatos para o lado.

Taylor subiu encima de Axel e tirou sua blusa, foi o único momento em que pararam de se beijar. Ela ajudou Axel a tirar sua camisa e se beijaram novamente. Por sorte, ambos sabiam que se continuassem o que estavam fazendo, não teria mais volta, e nenhum deles estava dando a mínima.

CAPÍTULO 14: Queime Comigo - Parte 1

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3 comentários:

  1. O trailer de 'Mirror, Mirror' legendado: http://www.youtube.com/watch?v=GsA0TEA1bNU

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  2. E o caçador se apaixona pelo monstro... kkkkk
    Pena q tá chegando ao fim...

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  3. Taylor é minha bitch favorita *-*

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